sábado, 30 de julho de 2016

22 ANOS DA FUNDAÇÃO DO PSTU: CELEBRANDO “MAIS” UMA RUPTURA MORENISTA QUE NASCE SOB O SIGNO DA CAPITULAÇÃO AO IMPERIALISMO E A “SAGRADA” DEMOCRACIA BURGUESA

Neste sábado o PSTU completa 22 anos, “celebrando” o racha que sofreu como produto direto da adaptação da corrente morenista ao imperialismo e a democracia burguesa, o “MAIS”. Apesar da LBI ser adversária programática do PSTU desde a sua fundação em 1994, não temos o que comemorar, não estamos “alegres” com a ruptura ocorrida, porque caracterizamos que a dinâmica política do bloco comandado por Valério Arcary busca atacar o que, mesmo tenuemente, ainda existia de progressivo nesse partido: a defesa formal do leninismo e do centralismo democrático, a necessidade em sí da construção de um partido revolucionário bolchevique para a revolução socialista que pretende ser substituído por uma amalgama social-democrata à sombra do PSOL. Por trás das críticas pontuais “corretas” à linha de adaptação a ofensiva direitista da direção majoritária morenista, reside uma profunda adaptação à Frente Popular e principalmente a defesa da “democracia” burguesa nos marcos institucionais do parlamento. O móvel da ruptura do grupo com o PSTU, o equivocado “Fora Todos” foi apenas um pretexto para abraçarem com vigor o regime da democracia dos ricos, e logo saltarem para reivindicar “Eleições Gerais”, uma inflexão bem distante da ruptura com a forças políticas da direita que continuam a admirar e aplaudir no resto do mundo, como na contrarrevolução ocorrida na Líbia. O popularesco slogan de não “MAIS” aceitarem o suposto sectarismo impregnado no PSTU, representou apenas uma senha para um futuro próximo de fusão com o PSOL. O mais sintomático é que o “racha” não relacionou conscientemente a linha política nacional direitista com a posição revisionista da LIT pelo mundo, ao contrário, se afirma fiel a Internacional morenista. Esse tratamento próprio dos centristas visa encobrir que as posições do PSTU no Brasil fazem parte da plataforma pró-imperialista escandalosa que a LIT adotou no mundo. Ao festejar o afastamento de Dilma pelas mãos da direita, o PSTU acrescentou o Brasil na longa lista de países em que sua corrente internacional, a LIT, estabeleceu no último período unidade política com o imperialismo e a reação burguesa contra governos frente populistas, reformistas e nacionalistas. Líbia, Síria, Ucrânia, Egito e recentemente o Brasil segundo as alucinações do PSTU-LIT deram passos importantes rumo ao socialismo! Não importa que esse caminho tenha sido aberto pelas bombas da OTAN para assassinar Kadaffi, pelas mãos dos rebeldes terroristas financiados pela CIA contra Assad, pelos fascistas em Kiev, os generais golpistas assassinos que derrubaram o governo da Irmandade Muçulmana e aqui pelos coxinhas “verde-amarelos” anticomunistas apoiados pela FIESP e a Rede Globo. Afinal de contas “a revolução está na esquina” para esses revisionistas vulgares que maculam o nome do trotskismo. Para celebrar o aniversário da corrente morenista no Brasil, reproduzimos o artigo “O Fim da URSS, a divisão da LIT e o legado de Moreno” elaborado pela LBI em 2003 e publicado em forma de brochura, que mantém plenamente sua vigência programática, aborda desde o surguimento da LIT até sua crise política a partir do balanço da queda da URSS e do Muro de Berlim ocorrido entre 1989-1991, um dos temas que o “MAIS” cita em seu manifesto de ruptura, cinicamente “lamentando” a restauração capitalista enquanto o novo agrupamento de fato adere ao conceito de lutar pela democracia como um valor universal, para eles um bem “MAIS” superior politicamente a qualquer regime dos Estados Operários, considerados como o foco da falta de liberdades e irradiador do pensamento dogmático, centro irradiador do “autoritarismo estalinista”, assumindo para si o discurso próprio da pequena-burguesia democrática.

               
O FIM DA URSS, A DIVISÃO DA LIT E O LEGADO DE MORENO
(01.07.2003)

INTRODUÇÃO

Após mais de uma década da morte do dirigente trotskista argentino Nahuel Moreno, quando sua principal herança, a Liga Internacional dos Trabalhadores, encontra-se completamente fracionada e imersa em sucessivas crises internas, ainda existem correntes como o Centro Internacional do Trotskismo Ortodoxo, uma das frações que se desgarraram da LIT, que se proclama o mais fiel herdeiro de seu legado, persistindo em apresentar Moreno como um grande teórico principista. O CITO reivindica o mesmo conceito de ortodoxo que serviu para Moreno, após fundar o SLATO (Secretariado Latino-Americano Trotskista Ortodoxo), camuflar sua política de entrismo profundo no nacionalismo burguês, reinvindicando estar "sob as ordens do General Perón e do Conselho Superior Peronista". A suposta ortodoxia de Moreno também não o impediu de nos anos 60, após o triunfo da revolução cubana, apresentar a política foquista do castrismo como um novo caminho para a revolução latino-americana, ou mesmo de apoiar as guerrilhas fundamentalistas patrocinadas pela CIA contra a URSS no Afeganistão nos anos 80, uma ponta de lança do imperialismo contra o Estado Operário soviético.

Sob esta política, Moreno assentou as bases para que todos os distintos herdeiros de sua corrente viessem a saudar a restauração capitalista na URSS e no Leste europeu como grandes revoluções triunfantes. Embora todas as variantes morenistas concordassem com esta caracterização sobre os principais acontecimentos das últimas décadas, a desmoralização que se abateu sobre amplas parcelas da vanguarda de esquerda mundial não pouparam as fileiras do próprio partido de Moreno de pagar caro por esta política, partindo-se quase na mesma quantidade de pedaços que o Muro de Berlim, a que tanto saudaram a queda.

"O Fim da URSS, a Divisão da LIT e o Legado de Moreno" é uma contribuição para clarificar as divergências entre a Liga Bolchevique Internacionalista e as diversas variantes do morenismo e estabelecer um debate franco com os militantes que equivocadamente se referenciam em sua política e em seu programa. Neste sentido, a nossa corrente elaborou esta crítica, onde avaliamos a trajetória do morenismo à luz do verdadeiro trotskismo, como um combate fundamental por um programa revolucionário internacionalista.

AS ORIGENS DO MORENISMO

As origens do morenismo remontam de meados da década de 40, com o surgimento no cenário político argentino do Grupo Operário Marxista, liderado pelo assessor sindical Nahuel Moreno, que prestava serviço para o Sindicato dos Têxteis (AOT) e o Sindicato dos trabalhadores em Frigoríficos Anglo-Ciabasa. O GOM nasce caracterizando o peronismo sectariamente como um fenômeno "semi-fascista" submisso ao imperialismo inglês, defendendo também a destruição da CGT.

Quase dez anos depois, Moreno vem revisar esta tática, partindo para um entrismo profundo no peronismo em 1956, quando o grupo chega a obter um crescimento significativo. Neste período, o GOM, agora vibrante "peronista obrero" edita o jornal Palabra Obrera (PO), que reivindica estar "sob a disciplina do Gal. Perón e do Conselho Superior Peronista".

No campo organizativo internacional, Moreno alinha-se com as posições do grego Michel Pablo, principal dirigente da IV Internacional desde o seu II Congresso. Pablo, impressionado com o prestígio da burocracia soviética após a vitória do Exército Vermelho sobre o nazismo e a criação dos Estados operários no Leste europeu, defendia a dissolução dos partidos trotskistas nos PC's para pressioná-los à esquerda, vendo no stalinismo um substituto para a construção do partido revolucionário na luta contra o imperialismo (embora em alguns países, como na Alemanha e na Inglaterra, a tática entrista de Pablo tivesse sido aplicada à social-democracia).

Esta escandalosa revisão liquidacionista do trotskismo foi questionada por vários setores da Internacional, particularmente, pela maioria da seção francesa do Partido Comunista Internacionalista, liderada de Pierre Lambert, que logo é expulsa e acaba levando consigo a seção inglesa, Socialist Labour League (SLL), dirigida por Gerry Healy e o Socialist Workers Party (SWP) norte-americano de James P. Cannon, dando origem à primeira grande cisão da IV Internacional. Os anti-pablistas fundaram o Comitê Internacional (CI) que apesar de se apresentar como uma alternativa ao revisionismo do Secretariado Internacional (SI) pablista, caracterizavam-se pela frouxidão organizativa (eram uma mera federação de partidos sem nenhum centralismo), e por herdar os velhos desvios pablistas de procurar substitutivos para o partido revolucionário. O CI afirmava que Tito e Mao não eram stalinistas, mas revolucionários capazes de evoluir progressivamente, política que servia para justificar a negativa em construir seções trotskistas na China e Iugoslávia.

Na prática, tanto as correntes do SI como do CI já haviam capitulado a direções estranhas aos interesses históricos do proletariado, tornando-se aduladores 'de esquerda' do stalinismo, da social-democracia e do nacionalismo, como no caso do peronismo de Moreno, na Argentina, ou do apoio ao governo do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), em 1952 na Bolívia, prestado pelo POR (Partido Operário Revolucionário) de Guillermo Lora, que, na época, possuía uma importante insersão sobre a Federação mineira, a vanguarda da luta, mas desarmando o combativo proletariado boliviano para a tomada do poder, reivindicando um governo da ala esquerda do MNR, vinculada ao burocrata sindical Juan Lechín.

Em 1953, no III Congresso Mundial da IV Internacional, Pablo resolve entregar a direção do Bureau Latino Americano (BLA) da Internacional ao argentino J. Posadas. O fato levou Moreno, que comungava de vários desvios políticos do pablismo, a se alinhar com o Comitê Internacional, formado pelos anti-pablistas, e fundar o seu próprio bureau, o Secretariado Latino-Americano do Trotskismo Ortodoxo (SLATO).

Os trotskistas ortodoxos do SLATO qualificaram de direitista o movimento guerrilheiro 26 de julho contra Batista, e o seu dirigente Fidel Castro de "gorila", assim como eram chamadas as ditaduras latino-americanas. Mas o próximo reagrupamento internacional e a onda foquista que se seguiu à Revolução cubana viriam a mudar radicalmente as posições de Moreno sobre a questão.

Em 1963, o CI sofre uma cisão, Moreno e o SWP americano resolvem se reunificar com o SI, com o qual haviam rompido dez anos antes, passando a se chamar Secretariado Unificado da IV Internacional. O SU tem como principal dirigente Ernest Mandel, a quem Moreno acusava de "pablista" na década anterior; agora apresentado pelo mesmo Moreno como "revolucionário"! Permanecem no CI os partidos do francês P. Lambert, a Organization Communiste Internationaliste, (ao qual é ligada a corrente O Trabalho no Brasil) e do inglês G. Healy.

O CI adota uma posição sectária em relação a Cuba após a revolução, não reconhecendo-a como um Estado operário, mas sim como um país capitalista governado pela ala nacionalista da burguesia. O SU, por sua vez, vai ao outro extremo, considera Castro como um "trotskista inconsciente" e Cuba como um "Estado operário são". Por sua vez, o ex-anti-castrista Moreno passa a defender a construção de partidos castristas em todo o continente, aspirando a tornar-se uma agência da OLAS (Organização Latino-Americana de Solidariedade, criada por Castro para difundir movimentos foquistas na América Latina) na Argentina, defendendo o foquismo como uma nova via para a revolução e apresentando o castrismo como uma alternativa ao stalinismo.

Em 1964, Moreno encerra sua fase peronista e, através de sua aproximação com os movimentos guerrilheiros, vem a fundir o PO com a FRIP (Frente Revolucionária Indoamericana Popular, liderada por Mario Santucho), dando origem ao PRT, Partido Revolucionário dos Trabalhadores. Mas esta experiência não dura mais do que quatro anos. A direção do SU, em sua adesão febril ao guerrilheirismo pró-cubano passa a privilegiar o agrupamento de Santucho no interior do PRT, provocando um racha no partido onde o PRT-Santucho (depois rebatizado como ERP, Exército Revolucionário do Povo, nome que tornou este agrupamento conhecido mundialmente, por suas ações foquistas ), passa a ser reconhecido como seção oficial do SU, enquanto o PRT-Moreno é rebaixado à condição de mero simpatizante.

Em 1972, o morenismo vem dar uma nova guinada, ligando-se desta vez ao Partido Socialista Argentino, social-democrata, que já na década de 40 aliava-se às oligarquias locais e aos agentes imperialistas na Argentina em nome de combater o peronismo, para fundar o Partido Socialista dos Trabalhadores, que nas eleições do ano seguinte chega a obter 180 mil votos. A fórmula eleitoral de unidade com a social democracia tem como exemplo de partido os PS's português e espanhol, que serviram de modelo para criar ou fazer crescer as futuras seções morenistas latino-americanas. O PST passa a assumir então características marcadamente neo-esquerdistas, torna-se um ferrenho crítico do guerrilheirismo, democratizante e defensor da unidade de todos os socialistas num único partido (aspiração contida no nome de batismo da seção brasileira do morenismo, a Convergência Socialista).

Em 1979, quando sua brigada "Simon Bolivar"enviada à Nicarágua é duramente reprimida e presa pela Frente Sandinista de Libertação Nacional, Moreno descobre que o seu até então camarada Mandel apoiou firmemente as medidas repressivas da FSLN contra os morenistas. A partir da "traição" de sua própria Internacional, Moreno passa rapidamente a qualificar o mandelismo como "centro do revisionismo mundial" e ao próprio Mandel como um elemento sem nenhum caráter.

Após adquirir influência sobre a maior parte das seções do SU na América Latina, rompe com Mandel e meses depois funde-se com o agrupamento internacional dirigido pela OCI de Lambert. O novo agrupamento de Moreno-Lambert, a "IV Internacional — Comitê Internacional", adota uma Tese Política que se auto-proclama, "o documento mais importante do marxismo desde 1938". A durabilidade do novo agrupamento sem princípios é inversamente proporcional ao tamanho do seu messianismo auto-proclamatório; não durou um ano, para novamente romper com Lambert pelo fato do segundo ter se integrado organicamente à Frente Popular de Miterrand na França.

Para os que reivindicam o legado de Moreno como exemplo de ortodoxia trotskista, como o CITO, a história de sua corrente internacional está recheada de ziguezagues adaptando-se e transmutando-se rapidamente a cada nova situação, como um verdadeiro camaleão político, sendo antiperonista nos anos 40; pablista até 1952, depois anti-pablista; "peronista obrero" a partir de 1956; ortodoxo entre 54 e 63 (mesmo sendo peronista na Argentina); anti-castrista a princípio dos 60; mandelista a partir de 1963 e logo pró-castrista e guerrilheirista; democratizante e anti-guerrilheirista nos 70; apóia a guerrilha fundamentalista islâmica financiada pela CIA no final da década de 80, ao mesmo tempo em que capitula aos fenômenos da moda, como o lulismo no Brasil.

O SURGIMENTO DA LIT

Em janeiro de 1982, Moreno funda a LIT, Liga Internacional dos Trabalhadores, e, alguns meses depois, muda o nome do seu partido argentino, o PST, para MAS, Movimiento al Socialismo. Naquele ano, Moreno vem anunciar que a Argentina passava pelo seu mais extraordinário ascenso revolucionário, argumentando que a transição da ditadura para o novo governo conservador de Alfonsin era uma revolução como a ocorrida em fevereiro de 1917 na Rússia. Sob estas caracterizações, o morenismo preparou-se para uma iminente Revolução de Outubro que o levaria ao poder. Neste mesmo período, Moreno havia escrito suas "Teses de atualização do Programa de Transição", em que revisa os conceitos fundamentais do legado teórico deixado por Trotsky. Em 89, na Conferência Mundial da LIT foi aprovado que a Argentina era "o país onde estão dados todos os elementos para que triunfe a Revolução de Outubro" (A situação mundial, 1989, LIT).

Hoje, a LIT continua reivindicando as Teses de Moreno que veio a falecer em 1987, mas, ao contrário do que prognosticava, sua corrente não dirigiu nenhuma revolução na Argentina ou em qualquer outra parte do planeta, não chega perto de fazê-lo, pior, nem sequer consegue resistir coesa à prova de fogo da restauração capitalista nos Estados operários deformados europeus, ou tampouco suporta os balanços das sucessivas capitulações ao eleitoralismo frente populista do MAS, que tenta chegar ao poder pela via mais fácil. No seu interior, se acirraram profundamente as lutas fracionais, provocando rupturas atrás de rupturas. Os distintos ramos morenistas são quase unânimes em apontar que as causas da explosão residem, em última instância, na própria morte de Moreno, na incapacidade da direção da LIT em substituí-lo e também nas profundas pressões sociais surgidas com os acontecimentos do Leste europeu e URSS de 89 a 91.

A EXPLOSÃO DA LIT

Em 1988, uma importante fração estudantil rompe com o MAS, dando origem ao que hoje é o PTS, que embora reivindique uma crítica ao legado teórico de Moreno, possui o mesmo desvio comum a seus antigos companheiros de partido, sendo um dos setores que mais entusiasticamente saudou como revolução a destruição contra-revolucionária da URSS e dos Estados operários deformados do Leste europeu.

Em 1992, ocorreu uma das maiores rupturas do MAS, encabeçada por sua principal figura pública, o parlamentar Luís Zamora, que dirige hoje o MST, seção da Unidade Internacional dos Trabalhadores. A UIT caracteriza-se pelo extremo exitismo, acompanhado das mais descaradas capitulações a correntes nacionalistas, reformistas e centristas de todas as espécies que lhe cruzarem o caminho. O setor que se aliava com as posições de Zamora no interior da seção brasileira da LIT (a Convergência Socialista, que posteriormente deu origem ao PSTU), adotou o nome de CST, Corrente Socialista dos Trabalhadores, voltou para dentro do PT e tem na manutenção de seus cargos parlamentares a sua razão de existir. Hoje, a corrente de Zamora dá mais uma guinada à direita, aliando-se com a CIO (Comitê por uma Internacional Operária), cuja principal seção, o Partido Socialista inglês (antigo The Militant), um agrupamento centrista que reiteradas vezes capitulou à sua própria burguesia, seja na Guerra das Malvinas, ou na questão irlandesa, além de defender a existência do Estado racista sionista de Israel.

Em 1994, ocorreu outra cisão no MAS e na LIT, desta vez encabeçada pelo PST colombiano, dando origem ao Centro Internacional do Trotskismo Ortodoxo, que a princípio estabeleceu críticas de esquerda aos desvios da LIT no plano internacional (capitulação ao imperialismo na Somália e na Guerra dos Bálcãs), como também no método oportunista de construção do PSTU. A questão é que a corrente dirigida pelo partido colombiano não entende que tais desvios partem dos desdobramentos da política empregada por Moreno e não do "abandono de seu legado teórico", o qual o CITO reivindica como o representante mais ortodoxo.

O CITO reconhece que passamos por um período de intensa reação e "ofensiva imperialista", mas, ao mesmo tempo, caracteriza que a etapa atual está marcada pelo "grande triunfo democrático que significou a derrubada dos regimes estalinistas na Rússia e na Europa Oriental". No mesmo parágrafo desta citação, conclui que este acontecimento que denomina de "triunfo" foi "o início de maneira direta e aberta da restauração capitalista na Rússia e nos Estados operários da Europa Oriental, [que] significa um retrocesso para o proletariado mundial" (Panorama Internacional, nº 2). Esta caracterização acaba por levar a CITO ao outro extremo da desmoralização política, incapaz de conviver com a confusa afirmação de que o "grande triunfo democrático" impulsionou uma ofensiva reacionária imperialista.

Estes senhores podem nos objetar que se trata de um processo dialético e contraditório, onde "as direções traidoras lograram desviar a luta das massas, iludindo-as com os mecanismos da democracia burguesa e impondo a elas planos pró-capitalistas" (idem). Mas não podem esconder que eles próprios participaram entusiasticamente do bloco que alimentou estas ilusões democratizantes, festejando o "triunfo democrático", ou seja, a 'grande vantagem' que os trabalhadores do Leste teriam a partir da queda das burocracias, para desfrutarem de todas as 'benesses' da democracia capitalista (fome, miséria, desemprego em massa, analfabetismo, destruição dos serviços públicos estatais de saúde e educação, dependência econômica do imperialismo), quando tinha "início de maneira direta e aberta a restauração capitalista".

Enquanto Trotsky caracterizava que só um partido revolucionário defensista era capaz de dirigir a revolução política num Estado operário degenerado, o CITO chama de revolução política a todos os processos restauracionistas ocorridos no Leste europeu. Fica claro que esta corrente está completamente perdida diante dos principais acontecimentos da luta de classes quando afirma, em pleno maio de 1997, que a "Albânia é um Estado operário degenerado" (Panorama Internacional, nº 6), ou seja, 5 anos após os estalinistas terem entregue o governo para o Partido Democrático, que em 1992 estabeleceu uma constituição capitalista, restaurou a economia de mercado, a propriedade privada e filiou o país ao FMI. Mas os equívocos não param por aí, em seguida caracterizam que a rebelião espontânea das massas contra o golpe das pirâmides da fortuna aplicado pelo governo restauracionista de Berisha, que possibilitou aos estalinistas voltarem ao poder, através de um governo dirigido pelo Partido Socialista (ex-PTA do burocrata Ever Hoxa), seria uma "revolução política" (!?)(idem). Por outro lado, prosseguem, "isto é parte do processo de revolução política que vem se dando nos últimos 20 anos nos Estados operários degenerados, como o Solidariedade na Polônia, Ceaucescu na Romênia, e a queda do PCUS na URSS" (idem).

Primeiro demonstram que perderam completamente a noção de qual seja a distinção entre um Estado operário e um Estado capitalista. Só para recordar o que é um Estado operário, vamos à definição que Trotsky utilizou para a URSS e que se aplica também para a Albânia: "A nacionalização do solo, dos meios de produção, dos transportes e de troca, e também o monopólio do comércio exterior formam parte da sociedade soviética. E esta aquisição da revolução proletária é a que permite definir a URSS como um Estado proletário" (A Revolução Traída, 1936). Nenhum trabalhador albanês vai negar que, ainda sob o peso da degeneração burocrática, a coletivização das terras, o pleno emprego, a saúde e educação gratuitas faziam com que as condições de vida do passado fossem imensamente melhores do que a absoluta miséria a que foi condenada metade da população economicamente ativa, a destruição do incipiente parque industrial, da agricultura coletivizada e de todas as conquistas da revolução albanesa. Tudo isto foi promovido em menos de uma década em que instaurou-se no poder uma mafiosa burguesia nascente a serviço do imperialismo. Não é por acaso que o regime capitalista atual, diante da rebelião popular, buscou contornar a crise, colocando no governo justamente o partido dos odiados burocratas, o PS, que os trabalhadores identificam (ainda que de maneira falsa, saudosista e pela ausência de um partido revolucionário com influência de massas) com as condições de vida que possuíam no Estado operário.

Em segundo lugar, o CITO defende justamente o oposto do que defendia Trotsky; afirma que qualquer um, absolutamente qualquer um agente restauracionista pró-imperialista, nacionalista ou clerical, que tenha conseguido acaudilhar o movimento de massas e substituído a burocracia stalinista nos últimos 20 anos é capaz de dirigir a revolução política.

O que o CITO não desconfia é que a crítica relativamente acertada que faz às outras correntes morenistas pela sua capitulação ao imperialismo na Iugoslávia e Somália serve a ele próprio no caso da URSS e todos os demais processos restauracionistas do Leste europeu. Esta flagrante repetição dos mesmos erros que critica nos seus antigos companheiros de partido deve-se aos profundos desvios teóricos da herança que reivindica, pois traça apenas delimitações empíricas e pontuais, sem buscar as raízes teóricas e de classe dos desvios da LIT.

Diante desta contradição, o CITO encontra-se em crise permanente, paralisado diante das próprias conclusões políticas a que leva o legado teórico que reivindica e assumindo uma posição abstencionista diante dos principais acontecimentos da luta de classes hoje. Não as causas, mas esta conseqüência da política morenista ortodoxa, é reconhecida pela última ruptura que sofreu o CITO, que levou consigo parte da seção Argentina e toda a seção brasileira desta corrente. A cisão argentina, o PRS–Avanzada Socialista, justifica a ruptura, alegando que "a direção do CITO e do PRS deixou de atuar na luta de classes"(Avanzada Socialista, nº 0, dez/97), destacando como exemplo a paralisia política diante dos acontecimentos na Albânia, da intervenção imperialista na Bósnia e por "não denunciar nem chamar a combater Fujimori pelo assassinato a sangue frio do comando guerrilheiro que havia ocupado a embaixada do Japão no Peru" (Suplemento Especial de Avanzada Socialista nº 0). Embora importantes, as críticas limitam-se ao campo do empirismo e a nova fração acaba voltando para a estaca zero: "lamentavelmente, nossa organização internacional começou a alijar-se do morenismo" (idem). Por fim, o acirramento da crise interna levou esta corrente a cisões atrás de outras sem que nenhuma das frações consiga explicar as causas político-teóricas que motivaram a ruptura.

Uma das frações que compunham a LIT é capitaneada pela corrente Socialismo Revolucionário italiana que arrastou consigo quase todas as seções morenistas européias. O SR levou ao extremo as revisões do trotskismo já realizadas por Moreno, sem que para isso fosse preciso buscar em outra matriz teórica as bases para uma profunda adaptação à social democracia, e acabou por romper formalmente com o trotskismo e o bolchevismo em busca de uma "renovação ideológica". Os 'eseristas' acreditam que um dos principais erros da esquerda neste século foi ter adotado a revolução bolchevique como "modelo", o que "confinou o marxismo em uma posição fatalmente minoritária" (Teses sobre a Nova Época, SR). Renegam a tomada do poder e a expropriação da burguesia através da revolução proletária como exemplos, para abraçar o "novo modelo" de "revolução", majoritariamente saudado pela burguesia mundial, pela esquerda reformista (e também pelo morenismo), quando em nome do combate à burocracia stalinista tem início a destruição contra-revolucionária das conquistas históricas dos trabalhadores da URSS e do Leste europeu. Os "eseristas" também trataram de aprimorar sua concepção revisionista de partido, criticando a concepção de construção de partidos para a tomada do poder, e substituindo-o por outros "sujeitos sociais", como a "opinião pública" e da "sociedade civil organizada", ou seja, a mídia imperialista e a defesa da democracia burguesa. Não é à toa que o SR destaca como "aspecto crucial pelo qual tem fracassado o movimento tem sido a reprodução (...) das concepções de Vladimir Ilitch: a construção de partidos para a revolução e não para a revolução socialista e o socialismo"(Inter [ ] nº 0, maio/97, SR). Só para avisar aos leitores, o SR entende que a restauração capitalista comandada por Ieltsin, que no dicionário morenista conceituou-se de "revolução democrática", foi a primeira etapa de sua "revolução socialista".

Hoje, o MAS, que segundo sua direção chegou a possuir quase 10 mil militantes em meados de 80, após ter perdido 4/5 de seus antigos quadros, sofrido quase uma dezena de grandes rupturas, é mantido formalmente no interior da LIT por um acordo sem princípios com o PSTU, o atual partido madre, para evitar provavelmente a liquidação daquele que foi outrora a maior seção da LIT.

A explosão que vitimou a LIT e, como num efeito atômico, vem atingindo todos os seus ramos, reside no próprio legado teórico de Moreno que, em sua revisão do trotskismo, desarmou e confundiu a militância.

O PAPEL DAS DIREÇÕES CENTRISTAS PARA MORENO E TROTSKY

Moreno comungou dos mesmos desvios comuns a todo o resto do centrismo trotskista desde o II Congresso da IV Internacional, distorcendo as caracterizações do Programa de Transição, das Teses da Revolução Permanente e todo o rico legado deixado por Trotsky, abandonando-o teórica e politicamente e acabando por capitular a direções estranhas aos interesses históricos do proletariado.

A integração de Moreno ao Comitê Internacional (CI) da IV Internacional não serviu para corrigir seu curso de adaptação ao peronismo, mas ao contrário, o novo trotskista argentino tratou de fazer sua própria teoria do papel das direções burguesas e pequeno-burguesas que melhor servisse aos seus interesses, sem que por isso deixasse de usufruir do prestígio político do fundador do Exército Vermelho. E foi assim que a concepção de revolução de Trotsky foi completamente distorcida para se assemelhar ao ponto de vista de Moreno acerca dos processos revolucionários no pós-guerra.

Se para Trotsky a regra é que somente um genuíno partido do tipo bolchevique seja capaz de orientar as massas à tomada do poder e à ditadura do proletariado e, na sua ausência, as direções centristas e reformistas traem ou sabotam os processos revolucionários, e que apenas sob condições excepcionais (ofensiva revolucionária das massas, boicote da burguesia ao chamado a conformar a frente popular, pressão do imperialismo, crise econômica, guerra etc.) os centristas seriam capazes de ir mais além de onde pretendiam numa ruptura com a burguesia, para Moreno (e não por coincidência, também para todo o arco pablista) era o oposto.

"O mais importante dentre os novos problemas do pós-guerra é a existência de novos Estados Operários surgidos graças à mobilização das massas que obrigou às direções pequeno-burguesas e burocráticas contra-revolucionárias a romper com a burguesia, expropriá-la e tomar o poder. Em outras palavras, a variante que Trotsky qualificava de 'altamente improvável' é a única que tem se produzido até o momento" (Teses de Atualização do Programa de Transição, N.Moreno, pág.191). Em outras palavras, o que para Trotsky era exceção, foi tornado regra por Moreno.

Mas de longe, a história dos últimos 50 anos deu razão a Trotsky que morreu 5 anos antes do fim da II Guerra, e não a Moreno que teve a possibilidade de verificar com seus próprios olhos a confirmação do prognóstico do Programa de Transição. Se contarmos a quantidade de processos revolucionários abortados neste período (França, Espanha, Grécia, Itália, Bolívia, Argélia, Portugal, Indonésia, Chile, Camboja, Nicarágua, Peru, Guatemala, El Salvador, só para citar alguns exemplos clássicos) em comparação aos países onde a burguesia foi expropriada por correntes centristas e estalinistas (Europa Oriental, Iugoslávia, China, Vietnã, Cuba, Coréia do Norte), veremos com toda a clareza que os primeiros casos são a esmagadora maioria e que os segundos apenas ocorreram pela combinação de circunstâncias extremamente excepcionais que empurraram as direções destes processos, que têm orientações estranhas aos interesses históricos do proletariado, a romper com sua própria estratégia.

Mas deixemos a história real de lado para acompanhar o método utilizado por Moreno. Se a regra é que as direções centristas (os partidos pequeno-burgueses, inclusive os estalinistas), ao contrário de abortar, são capazes de levar adiante os processos revolucionários (como defendia Pablo), caberia aos morenistas estabelecer uma frente com elas para impulsionar o que o dirigente da LIT denominou de "revolução democrática" ou "de fevereiro".

Como veremos a seguir, o desdobramento prático das premissas de Moreno em sua caracterização do papel das direções centristas no pós-guerra é uma concepção etapista particular de revolução.

"REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA E "REVOLUÇÃO DE FEVEREIRO"

Para dar uma justificativa teórica à sua adaptação aos fenômenos pequeno-burgueses ou burgueses, como o foquismo, nacionalismo, a social democracia e o centrismo estalinista, Moreno afirmou que Trotsky havia deixado lacunas teóricas que ele se incubiria de preenchê-las. Por exemplo, de "que também nos países coloniais e semi-coloniais era necessário fazer uma revolução no regime político: destruir o fascismo para conquistar as liberdades da democracia burguesa, embora fosse no terreno dos regimes políticos da burguesia e do Estado burguês. Concretamente não propôs que era necessário uma revolução democrática que liquidasse o regime totalitário fascista, como parte ou primeiro passo da revolução socialista e deixou pendente este grave problema teórico" (Revoluções no Século XX, Nahuel Moreno). De fato, Moreno tem razão, Trotsky não propôs uma revolução democrática para estabelecer um regime democrático burguês contra o regime totalitário fascista, como parte ou primeiro passo da revolução socialista, não por descuido teórico, como tenta passar Moreno, mas porque advogava justamente o contrário, e travou uma luta encarniçada contra o stalinismo porque se opunha à 'teoria etapista' da revolução que justificava as frentes populares com os ditos setores progressistas e democráticos da burguesia, em contraposição à construção da frente única operária. Para o fundador da IV Internacional, a revolução democrática só poderá triunfar por meio da ditadura do proletariado, do contrário "uma revolução democrática ou um movimento de libertação nacional podem dar à burguesia a possibilidade de intensificar e extender a exploração da classe operária. A intervenção do proletariado como força autônoma na luta política pode evitar completamente toda a possibilidade da burguesia de continuar com a exploração" (Stálin, o grande organizador de derrotas, L. Trotsky).

A teoria da revolução democrática de Moreno coloca-se abertamente contra as Teses da Revolução Permanente de Trotsky. Na revolução democrática cabe ao proletariado respeitar os limites da primeira fase da revolução que situa-se "no terreno dos regimes políticos da burguesia e do Estado burguês", o que não é outra coisa que o etapismo utilizado de forma mecânica tanto pelos mencheviques, quanto pelo stalinismo. A diferença é que a teoria etapista para os mencheviques e, depois, para o stalinismo se justificava por razões econômicas, no sentido do desenvolvimento do capitalismo em relação aos modos de produção atrasados (feudalismo, escravismo), pois advogam que enquanto um determinado país ainda não tiver eliminado os resquícios de etapas pré-capitalistas era preciso que atravessasse por uma revolução democrático-burguesa, onde o proletariado jogaria um papel subordinado à burguesia liberal nativa.

Já o morenismo justifica o seu etapismo do ponto de vista do desenvolvimento do regime político burguês em direção à democracia. Se a teoria da Revolução Permanente sustenta que nos países atrasados a burguesia local é incapaz de avançar rumo à resolução das tarefas democráticas e toda conquista democrática faz parte da luta anti-capitalista, que tem de ser levada a cabo pelo proletariado através de sua vanguarda consciente, o partido marxista revolucionário, contra os capitalistas nativos; Moreno descarta o elemento subjetivo e cai num claro desvio objetivista, advogando que qualquer transição democrática dirigida por quem quer que seja, independente de ter sido protagonizada pelo proletariado, orientada por um partido bolchevique, já é uma revolução democrática e faz parte objetivamente de uma primeira etapa da luta pelo socialismo. A mesma concepção é utilizada pelo morenismo para apoiar os processos contra-revolucionários no Leste.

Moreno reivindica as teses do Oriente da III Internacional que defende a tática da Frente Única Antiimperialista. As teses do Oriente sustentam a necessidade de desenvolver uma revolução por etapas nos países atrasados, através de uma frente única entre o proletariado e a burguesia nativa por todo um longo período histórico, com o objetivo de impulsionar as tarefas democráticas pendentes e a espera de que ocorra a revolução nas metrópoles imperialistas para só então impulsionar a ditadura do proletariado nas colônias e semi-colônias. Em oposição a esta teoria etapista, que serviu de base para desviar a luta do proletariado e dezenas de revoluções para sangrentas derrotas das capitulações das direções operárias às burguesias nativas sob a orientação do stalinismo, as Teses da Revolução Permanente reivindicam que a realização das tarefas democráticas (revolução agrária, fim do analfabetismo, das desigualdades regionais, atraso e dependência econômica frente ao imperialismo) só é possível através da ditadura do proletariado, dirigida pela vanguarda proletária organizada no Partido revolucionário que deverá orientar o operariado numa aliança com o campesinato pobre e contra a influência da burguesia liberal nativa. Isto se dará unicamente pela via de uma revolução que combine as tarefas democráticas com as socialistas. O fundador da IV Internacional alertava: "Para os partidos revolucionários dos países atrasados da Ásia, América Latina e África, a compreensão clara da relação orgânica entre a revolução democrática e a ditadura do proletariado e, por conseqüência, com a revolução socialista internacional, é uma questão de vida ou morte" (90 anos do Manifesto Comunista, Leon Trotsky). Esta afirmativa dá uma explicação contundente para entendermos a falência da Internacional fundada por Moreno.

A TEORIA DA REVOLUÇÃO DE FEVEREIRO NA ARGENTINA

Por mais de uma década, o morenismo caracterizou a situação na Argentina como revolucionária. Chegou a sustentar primeiro que a substituição da ditadura militar de Videla pelo regime democrático conservador de Alfonsin já era uma Revolução de Fevereiro como na Rússia de 1917 e que a Argentina chegaria rapidamente a uma nova Revolução de Outubro que levaria seu partido ao poder. Depois fez o mesmo ao caracterizar o governo Menem como um governo do tipo Kerenski. Em 1989, o governo Menem era caracterizado como "um governo reacionário causado por uma mobilização revolucionária e que tem todas as debilidades e características típicas do governo de Kerenski" (Correio Internacional, 11/89).

Mas tanto Menem como Alfonsin nada tinham em comum com as características fundamentais de um governo tipo Kerenski. Trotsky caracterizava o Kerenkismo como um regime político burguês parido em uma situação de profunda instabilidade que não pode manter-se por muito tempo no poder, devendo ser derrubado pelo fascismo ou pelo poder operário. Esse regime nasce fruto de um grande ascenso de massas e de uma situação de grave crise política, sendo sua existência marcada fundamentalmente pela presença constante da dualidade de poder, ou seja, do confronto aberto entre o poder estatal burguês fragilizado e organismos soviéticos de poder operário. O governo Kerenski, era composto pela direção reformista do movimento operário russo em coalizão com os partidos burgueses radicais, nasceu da Revolução Russa de Fevereiro, de 1917, parida a partir de uma greve geral liderada pelos sovietes. Sua marca era a instabilidade política, fruto da situação constante de dualidade de poderes, onde quem de fato detinha o poder eram os sovietes de operários e soldados e não durou oito meses.

Os dois governos argentinos tinham como base de sustentação os mesmos agrupamentos burgueses, grupos econômicos e políticos que já governam o país há quase cinco décadas, e nem de longe possuíam as características de um regime Kerenkista, mas sim de governos pró-imperialistas. Apesar da grande combatividade do proletariado argentino, que em grandes manifestações, greves com ocupação de fábricas e cortes de rua se bateu tanto contra a ditadura Videla, quanto contra Alfonsin e vem resistindo com todas as suas forças contra os ataques de Menem, nunca existiram sovietes ou um exército proletário armado na Argentina e, muito menos, a dualidade de poder durante as últimas décadas, além da direção do movimento operário se encontrar a meio século nas mãos do peronismo. Diferente do Kerenkismo, que não pode perdurar por um tempo prolongado, Alfonsin governou com uma relativa estabilidade por mais de 5 anos e foi sucedido por Menem, que está no poder até hoje, inclusive em seu segundo mandato. Nenhuma das previsões da LIT encaixam-se com as caracterizações de Trotsky que eram bastante precisas: "O Kerenskismo é o regime que surge quando o aparato de repressão burguês escapou das mãos da própria burguesia ou esse processo está em marcha. Está claro que o Kerenkismo não pode manter-se um espaço de tempo prolongado."(Sobre a Europa e os Estados Unidos, Leon Trotsky).

Todavia, se para o MAS o governo argentino era kerenkista, sua política nem de longe era bolchevique. Já há décadas, o PO reivindicava estar sob as ordens do general Perón e seu partido sucessor, o MAS, apesar de caracterizar a existência de governos kerenkistas e pregar a chegada da Revolução de Outubro sob a sua direção, nunca impulsionou a formação de sovietes e muito menos a conformação de um exército operário como coroamento de uma realidade de duplo poder. Ironicamente, o MAS, que via a iminência da revolução socialista, não teve em nenhum momento, como partido dirigente desse processo, a coragem de levar à prática as conclusões de sua própria política.

Muito pelo contrário... Na década passada, conformou várias frentes populares com os estalinistas do PC argentino e burocratas e dirigentes peronistas, como a FREPU ("Frente do Povo do Peronismo dos trabalhadores com a Esquerda"), em 1985; as "Frentes del Pueblo", em 1988; ou a Esquerda Unida (IU), encabeçada por um velho político burguês, Nestor Vicente. Após várias rupturas que reduziram o MAS a algumas dezenas de militantes, este partido vem, no último período, adotando uma política ultra-esquerdista chamando os trabalhadores a furar as paralisações convocadas pelas centrais peronistas pelegas, voltando as costas para intervir na evolução da consciência do proletariado para que rompa com o peronismo. Tanto no passado sob a política abertamente oportunista e frente populista, como agora sob o viés sectário ou abstencionista, o MAS auxilia os capitalistas portenhos a engessar as forças e a confundir o proletariado argentino.

LUTA DE CLASSES OU DE REGIME?

Através da teoria da revolução democrática, os morenistas tratam de abstrair o conteúdo social de uma revolução. A evolução desta concepção é a principal geradora de terríveis equívocos e capitulações nas fileiras do morenismo. Passam a chamar a qualquer coisa que vêem pela frente de revolução democrática ou de fevereiro, desde os processos de expropriação das burguesias nos Estados operários surgidos no pós-guerra, até a transição pactuada da ditadura à pseudo-democracia no Brasil, batizada pelos próprios generais de abertura lenta e gradual, passando ainda pelas revoluções abortadas pela frente popular na Nicarágua ou pelo fundamentalismo reacionário do Irã. Os processos democratizantes latino-americanos ou a chegada da frente popular ao poder, na melhor das hipóteses, não passaram de abortos prematuros de revoluções proletárias insuficientemente maduras.

Os processos de transição democrática ou a instauração de um governo de frente popular são táticas burguesas para desviar a luta de classes e restabelecer a estabilidade capitalista sobre bases "democráticas", substituindo o desgastado governo anterior. Nesta manobra, para obter êxito, a burguesia terá de conseguir cooptar a direção do movimento operário para limitar a luta "no terreno dos regimes políticos da burguesia e do Estado burguês". Obviamente que os reformistas cooptados, maravilhados com as possibilidades de exercer plenamente seu cretinismo parlamentar na democracia, tratam de pintar com cores revolucionárias a manobra burguesa, embora tentem consolar as massas insatisfeitas com a continuidade da escravidão capitalista, propagandeando que a verdadeira revolução estaria reservada para a posteridade.

A concepção morenista de revolução democrática, segundo a qual a substituição de um governo fascista por um de características pseudo-democráticas, ou seja, "uma revolução no regime político" é o prenúncio da Revolução de Outubro é oposta pelo vértice à teoria da Revolução Permanente, defendida por Trotsky. Para o dirigente do Exército Vermelho, o proletariado deve estar na linha de frente da defesa das tarefas democráticas e mesmo das liberdades democráticas contra o fascismo, inclusive sem negar as frentes únicas pontuais com agrupamentos burgueses de oposição. Porém, o partido revolucionário deve nessa luta democrática ter seu próprio programa e, mantendo sua independência de classe, apontar que a defesa mais conseqüente da democracia é através da vitória da revolução proletária, ou seja, da classe operária construir seu próprio poder.

Segundo Trotsky "para os países de desenvolvimento atrasado, e em particular, para os países coloniais e semi-coloniais, a teoria da revolução permanente significa que a verdadeira e completa solução das tarefas democráticas e de libertação nacional, não pode ser outra que não seja a ditadura do proletariado, que se coloca à cabeça da nação oprimida, e em primeiro lugar, das suas massas camponesas" (Tese 2 da Revolução Permantente). Apesar dos primeiros objetivos da revolução socialista serem os democráticos em países atrasados ou governados sob o fascismo, o proletariado tem que estar à cabeça dessa luta para superar o próprio regime burguês e só dessa forma estará trabalhando pela vitória da Revolução de Outubro. Nada disso tem a ver com o estapismo que prega Moreno, que vê um setor burguês civil oposicionista chegar ao poder após o fim de uma ditadura como uma revolução democrática, alegando o erro de Trotsky que "Concretamente não propôs que era necessário uma revolução democrática que liquidasse o regime totalitário fascista, como parte ou primeiro passo da revolução socialista e deixou pendente este grave problema teórico" (Revoluções no Século XX, Nahuel Moreno).

O que Trotsky não defendeu foi que a luta democrática estivesse dissociada da tarefa do proletariado em instaurar seu próprio poder, como prega Moreno, e sim "que a vitória da revolução democrática só é concebível por meio da ditadura do proletariado, que se apóia na sua aliança com o campesinato e que, em primeiro lugar, decide as tarefas da revolução democrática"(Tese 4 da Teoria da Revolução Permanente).

Está claro que a revolução democrática de Moreno está muito mais próxima das idéias dos renegados da social democracia européia do que do marxismo. "A democracia idealizada pela burguesia não é, como pensam Bernstein e Kautsky, uma casca vazia que se pode, tranqüilamente, encher sem se importar com o conteúdo. A democracia burguesa só pode servir à burguesia" (90 anos do Manifesto Comunista, L. Trotsky).

Mas se já é criminoso chamar de revolução a uma revolução abortada, é ainda muito mais grave chamar de revolução a própria contra-revolução ocorrida na URSS e no Leste europeu. Para a LIT, a burocracia soviética e as ditaduras militares latino-americanas estão no mesmo saco, ambas como regimes totalitários, por isso era necessário uma revolução democrática que liquidasse o regime stalinista na URSS para impor a democracia burguesa ao lado de Ieltsin. Ao contrário dos oportunistas, o marxismo revolucionário se opõe à idéia de que a democracia burguesa é antagônica ao fascismo do mesmo modo que não admite a caracterização burguesa de que o mundo se divide em Estados totalitários e democráticos.

COMBATE ANTIFASCISTA E REVOLUÇÃO PROLETÁRIA

Diante do ascenso do nazismo na Alemanha, Trotsky combateu a política abstencionista ultra-esquerdista do stalinismo que caracterizava como igualmente contra-revolucionários os reformistas e os nazistas, mas não caiu no desvio oposto, oportunista, de ver os dois regimes burgueses fascismo e democracia como antagônicos. Ambos os desvios fortalecem a reação e obstacularizam a luta revolucionária. O método do fundador da IV Internacional era o da construção de frentes únicas sob a regra de 'golpear juntos e marchar em separado', para liquidar inclusive fisicamente o fascismo. O único método capaz de derrotar o fascismo é o método da insurreição e ditadura proletárias e não o da frente popular baseada numa concepção etapista de, primeiro, impulsinar uma revolução de fevereiro, numa aliança com os democratas, deixando para um futuro longínquo a Revolução de Outubro. "A revolução espanhola revela, uma vez mais que é impossível defender a democracia contra as massas revolucionárias, senão com métodos de reação fascista. E inversamente, é impossível travar uma verdadeira luta contra o fascismo de outro modo que não sejam os métodos da revolução proletária" (Espanha: última advertência, L Trotsky).

O fascismo é uma guerra civil preventiva, movida pelo grande capital que apóia-se no desepero diante da crise social e nas tendêncais mais reacionárias das classes médias, para operar uma profunda contra-ofensiva na luta de classes e garantir a manutenção de seu poder, esmagando a organização e a resistência dos trabalhadores. "O fascismo é uma reação burguesa, não feudal, e o menchevismo, ramo do pensamento burguês, não quer nem pode fazer sua a noção de que contra essa reação burguesa não se pode lutar com êxito sem lançar mão da força e os métodos da revolução proletária" (idem).

Não é possível combater o fascismo e a ditadura militar respeitando a legalidade democrático-burguesa. Diante da reação fascista é preciso que as forças do proletariado passem também à luta armada preventiva, através da construção de milícias de autodefesa, impulsionando uma frente única proletária com o conjunto das organizações de esquerda que se reivindicam dos trabalhadores para esmagar o 'ovo da serpente', liquidando com o fascimo ainda em sua forma embrionária, num combate sem tréguas, dispersando suas marchas, atacando suas sedes e através da mobilização popular, como os bolcheviques enfrentaram o golpe de Kornilov em 17. A política morenista de respeitar os limites da revolução democrática é, portanto, incompatível com a orientação trotskista de combate decidido à contra-revolução burguesa, que tem de ser travado não por etapas, mas por um processo ininterrupto da revolução permanente, combinando a luta antifascista com a tomada do poder pelas massas, através da revolução e ditadura proletárias.

FUR E CONCEPÇÃO DE PARTIDO

Em 1985, a LIT aprova a impulsão da FUR, Frente Única Revolucionária como uma "tática para construir partidos revolucionários". Desde então, a tática que supunha-se temporária tem justificado toda a política frentista da LIT e de suas seções por mais de uma década e, portanto, transformado-se em estratégia. O objetivo é construir um agrupamento heterogêneo baseado numa aliança estratégica sobre um programa de menor denominador comum para formar um partido propositadamente não trotskista. Assim, a LIT, que reivindica o Programa de Transição, abandona-o na prática por um programa mínimo-democrático para a ação (voltado para a revolução democrática) e um programa máximo-socialista de propaganda. O programa mínimo rebaixado serve para construir frentes sem princípios com os setores oposicionistas burgueses ou pequeno burgueses. O programa máximo serve apenas para consumo interno e, em dias de festa, é utilizado pela direção para convencer aos militantes de que a prática externa oportunista não passa de uma tática e que o partido se mantém dentro da ortodoxia teórica. De fato, a FUR é um 'aliança' programática entre organizações de esquerda, onde o suposto partido trotskista que a impulsionou renuncia a seu direito de crítica contra os aliados e a diferenciação política, dissolvendo-se no meio de uma salada de ex-estalinistas, social-democratas, sindicalistas e centristas de todo o gênero.

Diante da FUR, os que se reivindicam revolucionários honestos, ao contrário de verem seus esforços empenhados na construção de um verdadeiro partido revolucionário, acabam por desperdiça-los, contribuindo para a edificação de novos obstáculos à revolução proletária. A força do capitalismo não reside apenas nas instituições diretamente ligadas à burguesia, mas sobretudo nas que trafegam a política burguesa junto ao proletariado. É na influência ideológica que exerce sobre as organizações dos trabalhadores que o regime encontra sua base de apoio político contra a revolução. Assim, grande parte da batalha pelo socialismo reside no combate à influência da burguesia nas organizações operárias e, em particular, no partido, pela sua clareza programática e inconciliável delimitação com o reformismo. Como assinala Trotsky, "quaisquer que sejam as fontes sociais e causas políticas dos erros e desvios oportunistas, elas sempre se reduzem ideologicamete a uma compreensão errônea do partido revolucionário, de sua relação com outras organizações proletárias e para com a classe como um todo" (Os erros dos Elementos Direitistas da Liga Comunista sobre a questão dos Sindicatos, 1931, L. Trotsky). A capitulação morenista ao democratismo burguês não é abstrata, ela se concretiza através das instituições e organismos do regime: sindicatos conciliadores, partidos reformistas e blocos sem princípios com as direções frente populistas do movimento de massas.

O PSTU, A APLICAÇÃO DA FUR ORGANIZATIVA E PROGRAMATICAMENTE

Para Moreno era preciso construir grandes partidos de massas, orientados por programas mínimos, que teriam por objetivo pressionar os partidos majoritários do movimento operário a irem a esquerda. Estas organizações não se reivindicam trotskistas, para não afastar elementos estranhos e avessos ao trotskismo e seu programa. O PSTU, por exemplo, abrigou desde os restos do stalinismo "reciclado", vindo do PFS (ex-PLP), e todos os tipos de burocratas sindicais desgarrados do lulismo, defensores do socialismo e da democracia em geral.

O PSTU diz que a orientação que adota frente às direções tradicionais do movimento operário é "de exigências e denúncias". Segundo este partido sua tática baseia-se na política de Lenin, que nos primeiros meses do Governo Provisório, exigia dos mencheviques a ruptura com os ministros burgueses, para que, diante de sua negativa em romper com a burguesia, as massas tirassem as lições necessárias, fazendo avançar sua consciência revolucionária, superando suas ilusões com o menchevismo. O problema é que esta orientação tem sido utilizada de forma completamente independente da integração das direções reformistas ao regime e do papel ativo que devem cumprir os revolucionários na evolução da consciência das massas. Se era correto chamar o PT e a candidatura Lula a romper com a burguesia até o final da década passada, quando o lulismo ainda contava com um expressivo apoio dos explorados, para acompanhar e tensionar a evolução da consciência das massas à esquerda; quase uma década depois, quando o PT completou seu ciclo de integração ao regime capitalista, quando em diversas administrações o PT demonstrou-se continuísta do mesmo ataque promovido por todos os governos capitalistas (e até com maior eficiência nas privatizações e destruição das conquistas que as próprias administrações burguesas tradicionais), continuar chamando o lulismo a romper com a burguesia é nada menos que camuflar o seu caráter reacionário, contribuindo já para o atraso da consciência das massas. Os morenistas transformaram uma caricatura da tática utilizada por Lenin em estratégia; neste sentido, eles próprios convertem seus partidos em obstáculos a que os trabalhadores rompam suas ilusões nos partidos reformistas tradicionais.

Desde o seu surgimento, o PSTU se proclama como uma alternativa ao PT, mas até hoje não conseguiu se desapegar das saias da Frente Popular encabeçada pelo lulismo, isto porque, em princípio, a política morenista não se distingue muito da política reformista da frente popular, de limitar-se a democratizar o Estado burguês, ao invés de lutar para destruí-lo. Diante dos principais fatos da luta de classes nacional, o PSTU prima por ser a pata esquerda da frente popular, como veremos a seguir.

Para a seção brasileira da LIT, a revolução democrática aconteceu no Brasil com o fim da ditadura militar, mas a Convergência Socialista, no passado, e o PSTU, atualmente, se opõem a levantar consígnias transicionais para passar da "etapa de fevereiro, ou democrática" à "etapa da Revolução de Outubro", muito pelo contrário, as consígnias transicionais são secundarizadas em função de bandeiras democrático-burguesas, ou seja, do programa mínimo.

A concepção de Governo Operário e Camponês do PSTU não corresponde a uma forma popular para a ditadura do proletariado como nos ensinou Trotsky. Na verdade, este partido, que não quer e talvez nem possa mais se desapegar da cauda da frente popular, durante as crises do regime ou em períodos pré-eleitorais, tem apresentado o próprio governo do PT como saída para a crise do regime, "um Governo dos Trabalhadores". Foi assim no Fora Collor, onde a CS apresentou a consígnia "Que Lula governe". Nas eleições de 1994, diziam: "nossa proposta é que Osmarino Amâncio (conhecido dirigente camponês apontado pelo PSTU à época como sucessor do seringueiro Chico Mendes) seja candidato a vice, ao lado de Lula, no sentido de personificar a aliança entre os trabalhadores da cidade e do campo, entre o proletariado e o campesinato contra o conjunto da burguesia" (Ante-Projeto de Tese sobre a Frente Popular da CS, boletim internacional da LIT).

Com argumentos similares, em novembro de 1997, ou seja, há quase um ano antes das eleições, o PSTU lança a proposta de "Lula presidente com um vice do MST" (Jornal Opinião Socialista, nº 44), ou de uma "Frente dos Trabalhadores encabeçada por Lula" (idem, nº 50), a qual denomina de "Frente Classista", como alternativa à Frente Popular. Estas consígnias justificadas como uma forma popular de apresentar às massas um governo operário e camponês, além de esvaziar todo o conteúdo revolucionário da palavra-de-ordem de governo operário e camponês, substituída por uma mera fórmula eleitoral, embeleza de classismo e tons avermelhados o rosa anêmico da frente popular petista, uma candidatura burguesa com um programa pró-imperialista.

NADA MAIS QUE SAÍDAS DEMOCRATIZANTES PARA A CRISE DO REGIME

Foi assim no 'Fora Collor', quando o PSTU se opôs a apresentar uma saída operária para a crise do regime burguês, como a greve geral por exemplo, para defender "eleições gerais, que Lula governe". Todos sabem que os resultados eleitorais são um instrumento que a burguesia manipula como melhor convém à disputa interna entre suas distintas frações. No 'Fora Collor' não existiu diferenças de classe entre a consígnia morenista e o impeachment do arqui-reacionário movimento pela Ética na Política, da frente burguesa anti-Collor em conjunto com a Frente Popular. Se o PT chamou as massas a confiar no regime e a aguardar as eleições de 1994, para só então manifestarem estritamente nas urnas seu descontentamento, o PSTU se limita a propor a antecipação do calendário eleitoral e chama os trabalhadores a terem no PT uma alternativa à burguesia.

No Plebiscito constitucional de abril de 1993, onde o regime concede às massas o direito de escolher de que forma preferem ser exploradas, através da manutenção do Presidencialismo, da troca pelo Parlamentarismo ou pela implementação na Monarquia, os morenistas declaram alegremente no panfleto de sua campanha acerca do Plebiscito que "dentro dos sistemas burgueses, sem dúvida, nós da Convergência Socialista, defenderíamos o parlamentarismo, mas, pura e exclusivamente sob a condição de que este fosse acompanhado de reformas democráticas profundas. Do contrário, chamamos o Voto Nulo". No mesmo documento, a CS chama o PT e o PCdoB a construir "uma terceira frente em defesa das bandeiras da democracia radical". O Voto Nulo da CS nada tem a ver com uma campanha de protesto de classe contra uma manobra do regime, não propõe nenhuma alternativa operária ou mobilização contra a farsa do plebiscito, apenas reivindica mais democracia burguesa dentre os estreitos marcos do capitalismo, ou seja, mais do mesmo.

Tanto no Fora Collor, quanto no Escândalo da Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados em 93, dos Precatórios em 96, no recente caso do deputado Sérgio Naya e em todos os momentos em que vem à tona o lamaçal de corrupção sobre o qual se assenta o regime, a CS, e agora o PSTU, limita-se à política de 'CPI prá Valer' da frente popular, onde não propõe nada mais do que uma frente popular ampla (OAB, SBPC, UNE, CUT...) com os partidos de oposição para engrossarem a CPI oficial, fiscalizando a 'transparência' do julgamento de um corrupto pelas instituições apodrecidas do regime, iludindo os trabalhadores de que a corrupção é um desvio excepcional e não um mal inerente do capitalismo e que sua extinção não se dará com a limpeza do Congresso ou pela moralização do Estado patronal, mas unicamente pela sua destruição.

AUTODEFESA, SINDICALISMO E GREVE DAS PM'S

As coisas pioram quando se trata do enfrentamento direto entre os explorados e seus inimigos de classe, onde o PSTU se mostra completamente acorrentado à democracia dos patrões. Frente aos sucessivos massacres aos trabalhadores rurais, o PSTU reivindica, o que seria patético, se não fosse trágico: "direito de porte de armas, de colete a prova de balas para todos os dirigentes ameaçados de morte. Significa o direito que o movimento tem a autodefesa" (Jornal do PSTU, nº 62). Para qualquer trabalhador que sofreu ameaça ou corre o risco de morte pela violência patronal, esta proposta sinistra revela a face mais grotesca da "política de exigências" dos morenistas, porque cria ilusões suicidas que as Secretarias de Segurança, dirigidas pelos assassinos permitam o direito ao armamento das vítimas, em substituição a reivindicação histórica do movimento de massas de comitês de auto-defesa armados e dirigidos pelos partidos e organizações de massas dos trabalhadores.

Para os morenistas, qualquer luta de massas ou um grande movimento grevista já possui por si só um conteúdo revolucionário, este desvio espontaneísta revelou-se de forma escandalosa na greve das PM's. Num quadro de refluxo do movimento de massas e declínio do movimento grevista, graças à paralisia da CUT e do PT, e logo após a realização de manifestações reacionárias em movimentos como o Reage Rio e Reage São Paulo, patrocinados pela burguesia e pela pequena burguesia, reivindicando maior repressão do governo à violência urbana, tem início uma onda de manifestações policiais por todo o país, reivindicando melhores condições de policiamento e aumento dos soldos. Isto foi a greve das PM's. Este movimento organizado pelos gendarmes que cumprem a função cotidiana de ser o braço armado da burguesia, em nenhum momento questionou a truculência e as chacinas promovidas pela corporação contra a população indefesa, muito pelo contrário, as principais reivindicações da greve policial eram justamente aumento dos soldos e melhoria das condições de policiamento (modernização do armamento, mais munição e viaturas, etc), ou seja, reivindicavam melhores condições para incrementar o terrorismo estatal contra os trabalhadores e a população pobre marginalizada.

O PSTU caracterizou as greves como "verdadeiras rebeliões que explodiram pelo país"(Opinião Socialista, nº 39), as quais com um imenso orgulho o partido prestou "apoio integral" (OS, nº 37). A CST afirmou categoricamente que, como resultado da greve, "é certo que uma parte do principal pilar do estado capitalista ficou ferido de morte" (Combate Socialista, nº 58). O Dep. Estadual (PA) Babá, dirigente da CST, chega a reivindicar "a solidariedade e o comprometimento da CUT para forçar uma urgente definição a favor do justo aumento reivindicado" (Combate Socialista, nº 56). No dia 26 de março deste ano, os sem-terra do Estado em que o Deputado foi eleito, sentiram na pele e pagaram com suas vidas as conseqüências do abono salarial extra que receberam os 10 PM's para participar da chacina contra os líderes do MST do Pará. No periódico destes morenistas brasileiros não havia uma única palavra reivindicando a consígnia que é o ABC do marxismo sobre a questão do Estado, a destruição das FFAA, ambas as correntes não reivindicaram nada mais do que a democratização do aparato repressivo.

A LBI foi a única corrente no país a se opor abertamente à greve reacionária dos PM's, ao contrário das correntes embriagadas no mero sindicalismo que domina a esquerda nacional. Reivindicamos que os critérios para a aferição de um movimento como este nunca podem ser exclusivamente econômicos, como reivindicações de aumento salarial, mas fundamentalmente políticos. "As regras do sindicalismo tradicional não podem ser aplicadas quando se trata de uma 'categoria' na qual repousa a sustentação da dominação de classe. Soldados e cabos devem ser cooptados para uma política revolucionária sem necessariamente passarem pelos estágios tradicionais da luta economicista, como lutar por melhores salários e condições de trabalho ou mesmo passar por uma experiência de representação sindical unitária que abarque a totalidade de sua categoria, etc. (...) Devem passar da etapa do arco e flecha ao fuzil, do qual já manejam, em um mesmo e único período histórico, porque isto corresponde à própria passagem repentina de uma etapa não-revolucionária a uma outra, superior na luta de classes, na qual começam a surgir os fenômenos do tipo da aliança revolucionária entre soldados e operários. Cabe ao partido revolucionário preparar as condições de um amplo trabalho de organização política e difusão programática na base das FFAA, sem fazer nenhum fetiche da luta sindicaleira que só poderá retardar a evolução da consciência proletária dos soldados e cabos" (Jornal Luta Operária nº 21, 07/97).

REVOLUÇÃO DE OUTUBRO E ILUSÕES DEMOCRATIZANTES

Apenas formalmente os morenistas ainda reconhecem que a democracia burguesa é a ditadura da burguesia de forma dissimulada. Na prática, estes senhores buscam ser os campeões do anti-autoritarismo, e para eles a democracia funciona como um elixir milagroso. Assim como o Rei Midas que a tudo transformava em ouro, o PSTU tenta travestir todos os conceitos marxistas sob a ótica da democracia burguesa. Então o socialismo ganha a adjetivação de "socialismo com democracia", para tentar distinguir o seu socialismo da idéia negativa apregoada tanto de forma subestimada pela burguesia mundial, como de forma superestimada pelo stalinismo dos Estados operários burocratizados. Aqui reside uma imensa ignorância do marxismo e uma ainda maior concessão dos morenistas ao stalinismo e também ao imperialismo em reconhecer que o regime transitório e deformado comandado pela burocracia era alguma forma de socialismo. Para os verdadeiros trotskistas, o socialismo nunca existiu e só existirá como um fenômeno histórico quando a luta de classes alcançar a fase inferior da sociedade comunista. Os que acreditam que é possível coabitarem o socialismo e a democracia no mesmo período histórico terão de renunciar primeiro ao marxismo, que provou cientificamente que estes dois elementos são historicamente incompatíveis. É a mesma coisa que acreditar que o homo sapiens e o Tiranossauro conviveram na mesma época. Para Lenin "a extinção do Estado implica a destruição da democracia (...) a democracia não é idêntica à subordinação da minoria à maioria. Democracia é o Estado que reconhece a subordinação da minoria à maioria, ou seja, uma organização chamada a exercer a violência de uma classe contra a outra, de uma parte da população contra a outra" (Capítulo IV.6, Engels e a superação da democracia, em O Estado e a Revolução). No socialismo, o Estado, como um instrumento de dominação de classes, "se extingue porque já não há capitalistas, já não há classes e, por isso mesmo, não tem cabimento reprimir nenhuma classe" (Cap. V.3, Primeira fase da sociedade comunista, idem).

Se, como vimos, as "revoluções de fevereiro" de Moreno nada têm a ver, em suas várias facetas em que é aplicada a analogia, com a derrubada do Czar e ascensão ao poder de Kerenski, a idéia de "Revolução de Outubro" morenista, utilizada como consolo diante das limitações de seus fevereiros, nem de longe encontra similar na tomada de poder ou tampouco no governo dirigido por Lenin e Trotsky. Segundo o PSTU, "o Estado Proletário, (...) é um Estado baseado na mais ampla liberdade de organização e expressão para todas as correntes e partidos políticos. (...) A todos, inclusive aos partidos burgueses que tenham apoio entre a massa trabalhadora, devem ser garantidas as liberdades democráticas de associação, reunião e expressão de suas posições, desde que não defendam a luta armada contra o regime" (Programa para a Revolução Proletária, ante-projeto de programa para o PSTU, março de 1994). Isto nada tem a ver com ditadura do proletariado, trata-se, melhor dizendo, de sua negação. É a confissão adiantada do PSTU que caso "sob condições (muito) excepcionais" chegasse ao poder, daria todas as garantias "democráticas" para que a burguesia tivesse plenas condições para reorganizar-se e afogar em sangue qualquer processo revolucionário.

Em sua Pré-Tese para o I Congresso do PT, a CS, referindo-se ao tipo de Estado descrito acima argumenta que "é o socialismo das mais amplas liberdades de imprensa, de organização, de liberdade de pensamento, (...) um regime assim não é utópico, ele existiu de forma pioneira e embrionária durante um curto período, depois da revolução russa de 1917. Foi o regime de Lenin e Trotsky, antes de ser destruído pela contra-revolução stalinista" . Não pode existir algo tão fantasioso da realidade como as ilusões democratizantes de um pequeno-burguês acerca do socialismo ou do paraíso celestial. O período em que a URSS foi dirigida por Lenin e Trotsky, que corresponde ao comunismo de guerra, quando foi empregado o terror vermelho contra o terror branco, para o PSTU é algo tão fictício que certamente não encontraríamos paralelo nem nas fantasias de Alice no País das Maravilhas. O PSTU pretende conciliar o inconciliável, a ditadura proletária com a democracia burguesa. Deixemos que o velho Engels responda ao PSTU: "Estes senhores nunca viram uma revolução? Uma revolução é, indiscutivelmente a coisa mais autoritária que existe; é um ato mediante o qual uma parte da população impõe sua vontade a outra parte por meio de fuzis, baionetas e canhões; meios mais autoritários não existem; e o partido vitorioso, se não deseja ter lutado em vão, tem que manter este domínio pelo terror que suas armas inspiram aos reacionários. A Comuna de Paris duraria mais de um dia, se não houvesse empregado esta autoridade do povo armado frente aos burgueses? Não podemos, pelo contrário, reprovar-lhe o não haver-se servido o bastante dela? Assim, pois, de duas uma: ou os antiautoritários não sabem o que dizem, e neste caso não fazem mais que semear confusão; ou sabem e, neste caso, traem o movimento do proletariado. Num ou noutro caso servem à reação" (Sobre o Autoritarismo, artigo escrito para o Almanaque Republicano, 1847).

"REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA" E RESTAURAÇÃO CAPITALISTA

Em 1990, logo após o seu III Congresso Mundial, no início da década em que explodiria em quase uma dezena de partes, a direção da LIT, euforizada pela onda restauracionista que varria o Leste europeu declara que "do mesmo modo em que os últimos meses significaram uma virada histórica para a humanidade, eles foram para a LIT-QI o salto para ganhar influência em setores de massas. Os dois acontecimentos estão relacionados. O trotskismo está vivo porque a revolução mundial matou o stalinismo e colocou em marcha uma grandiosa luta de massas, e porque a LIT-QI analizou corretamente os acontecimentos e atuou coerentemente de acordo com eles" (Correio Internacional, julho de 1990). Lamentavelmente não foi a revolução mundial que derrubou o stalinismo, mas sim a contra-revolução imperialista, naquela parte do planeta onde os trabalhadores já haviam expropriado os capitalistas. Bandos políticos abertamente burgueses, agentes diretos do imperialismo tomaram o poder e deram início a maior pilhagem das condições de vida que os trabalhadores daqueles países já viram, arrancaram seus direitos de pleno emprego, a saúde, moradia e educação gratuitas, converteram a segunda maior potência do planeta numa semi-colônia escravizada pelo imperialismo. O remédio (a restauração burguesa) foi pior do que a enfermidade (a burocracia stalinista) e matou o doente (Estado Operário degenerado). Por sua vez, a caracterização impressionista e completamente invertida dos processos contra-revolucionários do Leste foram para a LIT a prova de fogo em que a corrente de Moreno saiu reprovada, atomizou-se e vem definhando até hoje. O documento prossegue em suas "análises corretas dos acontecimentos": "Quando a revolução política triunfou na Polônia, derrubou o Muro de Berlim e liquidou as ditaduras de partido único na Alemanha, Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária, Romênia e, por fim, na URSS, para a LIT-QI já não houve a menor dúvida. A virada histórica das massas estava enterrando o stalinismo e abrindo no mundo uma nova etapa da revolução socialista. Está se abrindo a hora do socialismo com democracia. Sobre o Leste, o Congresso definiu que, depois da fase democrática da revolução, esta segue em frente" (idem).

A LIT justifica a posição que a coloca objetivamente na trincheira da contra-revolução a partir do legado de Moreno: "Trotsky acreditava, e assim escreveu muitas vezes, que só um partido revolucionário (um partido da IV Internacional) poderia dirigir uma revolução vitoriosa contra o stalinismo. Nahuel Moreno pôde apoiar-se nas primeiras tentativas (derrotadas) de revolução política para prever teoricamente um desenvolvimento diferente da mesma através de fases que, por analogia, chamou de 'fevereiro' e 'outubro'" (idem). É escandaloso o malabarismo oportunista que a partir desta caracterização tenta justificar a oposição da LIT ao defensismo revolucionário estabelecido no Programa de Transição, buscando camuflar que o "desenvolvimento teórico diferente" de Moreno é justamente o oposto do que defendia Trotsky. A partir da teoria de que a chegada dos agentes da contra-revolução ao poder se tratava de uma revolução de fevereiro, a LIT justifica sua concepção etapista também nos Estados operários deformados e por sua vez propõe uma frente popular com todos que defendem a democracia contra a ditadura da burocracia stalinista. Sob a caracterização de que qualquer direção de massas que se enfrente com o stalinismo é progressiva, a LIT aprofunda ainda mais o seu revisionismo anti-marxista para impulsionar uma aliança com as direções burguesas e pequeno-burguesas restauracionistas através de um programa que tenta conciliar o "socialismo com a democracia". Não por acaso, os morenistas reivindicam a legalização de todos os partidos no Estado operário deformado, ou seja, o direito de organização política dos restauracionistas em oposição à defesa de legalização apenas dos partidos soviéticos, como defendia Trotsky. Além de que os marxistas sempre se opuseram a que o socialismo fosse adjetivado (com democracia, real, etc), desmascarando o revisionismo dos que assim o fizeram, está claro também que a democracia defendida pelos morenistas não é a democracia operária, mas a democracia burguesa, que é diametralmente oposta ao socialismo.

Sob a escaramuça de defender uma revolução de fevereiro também nos Estados operários, a LIT reivindica um programa democratizante restauracionista oposto à revolução política. Trata de esclarecer que "o primeiro movimento da revolução política esteve regido por uma tarefa central: acabar com o regime totalitário do stalinismo. Todas as demais reivindicações, algumas de importância determinante, como as nacionais ou as de caráter econômico-social, estavam combinadas e subordinadas ao combate contra a dominação dos partidos comunsitas" (idem). Assim estabelece a priori um programa mínimo para a frente popular restauracionista sob a consígnia de "todos juntos contra o stalinismo".

A caracterização etapista da contra-revolução vem mais uma vez acompanhada com tudo que tem direito, caracterizando os novos governos como "novos regimes e governos kerenkistas declaradamente restauracionistas" (idem). Os governos restauracionistas, nem de longe se assemelham a um governo do tipo kerenkista e a situação que os pariram muito menos, enquanto a derrubada do czar e a instabiliade política baseada na dualidade de poderes impulsionaram as condições para a Revolução de Outubro, a volta da burguesia ao poder, mais de 70 anos após ter sido expropriada, a instauração de governos mafiosos, anti-operários nada tem de progressivo, muito pelo contrário, significa um profundo retrocesso sob um terreno que já havia sido conquistado pelo proletariado mundial. Contra este tipo de malabarismo, o grande fundador do Exército Vermelho alertava que "de trágicas circunstâncias históricas não é possível sair-se com estratagemas, frases ocas e pequenas mentiras. Devemos dizer às massas a verdade, toda a verdade e nada menos que a verdade" (Conversando com L. Trotsky, por Mateo Fossa, 1938).

Trotsky faz uma analogia no livro "Em defesa do Marxismo", comparando a defesa da URSS em escala mundial com a defesa da democracia em escala nacional. Em ambos os casos, assinala que é preciso combinar a tática da frente única (não descartando a possibilidade de fazer uma frente militar com a burocracia stalinista diante dos agentes restauracionistas internos ou externos) com a revolução proletária (no caso da URSS, revolução política). Moreno também faz a sua analogia, só que a utiliza num sentido bem distinto em que a revolução proletária é substituída pela revolução democrática e a frente única pela frente popular.

É preciso recordar que antes da destruição dos Estados operários, o morenismo apoiou a todos os movimentos que serviram de ponta de lança do imperialismo contra a URSS e os países do Leste europeu, desde o apoio à reacionária guerrilha islâmica impulsionada pela CIA no Afeganistão, até os burocratas nacionalistas da Lituânia (e também da Bósnia e Croácia, ainda durante a existência do Estado operário iugoslavo) que a LIT apoiou sob a consígnia de "independência das nacionalidades", sobrepondo a questão nacional e as reivindicações democráticas burguesas à defesa das bases sociais conquistadas pela expropriação da burguesia nos Estados operários.

Na Polônia, durante anos, tanto o morenismo como o altamirismo, do Partido Obrero argentino, reivindicavam um governo de Lech Walessa sob a palavra de ordem: "Todo poder ao Solidariedade!". Uma vez atendidas as preces morenistas em 1989, se mostra ainda mais descarada a capitulação de sua corrente à direção pró-imperialista do Sindicato Solidariedade, anunciando como uma revolução política a instauração de um governo lacaio da restauração burguesa, que assumiu o poder com as mãos livres para destruir as condições de vida dos trabalhadores polacos, após pactuar com a burocracia stalinista que esmagou a base do Solidariedade no golpe de dezembro de 1981. Aqui, mais uma vez , o morenismo vai ao extremo do oportunismo e à capitulação às direções pró-imperialistas. A política correta na Polônia era de colocar-se no campo da resistência operária protagonizada pelas bases do Solidariedade em oposição à orientação de sua direção de não enfrentar o golpe que conduziu à restauração capitalista, selada posteriormente por Walessa e Juaruselsky.

Se o morenismo capitulava à direção restauracionista do Solidariedade, não fizeram pior os que apoiaram a repressão às bases do Solidariedade promovida pela burocracia polaca com o aval da direção do Sindicato, como os espartaquistas e o PBCI, golpe responsável por destruir os embriões de organizações soviéticas que germinavam nos estaleiros, fábricas e universidades, quebrando a espinha dorsal de um movimento que em suas bases representava uma oposição operária à política pró-FMI da burocracia.

A REVOLUÇÃO POLÍTICA PODE PRESCINDIR DE UMA DIREÇÃO DEFENSISTA?

Revisando as Teses da Revolução Permanente, Moreno despreza o papel do elemento subjetivo nos processos revolucionários, afirmando que "esse foi um tremendo erro ... (porque no pós-guerra) ... houve processos de revolução permanente que expropriaram a burguesia, fizeram uma revolução operária e socialista sem ser liderados pela classe operária e sem partidos comunistas revolucionários. Quer dizer, os dois sujeitos de Trotsky, o social e o político faltaram ao encontro histórico. (...) temos que formular que não é obrigatório que seja a classe operária e um partido marxista revolucionário os que dirijam o processo da revolução democrática para a revolução socialista ..." (Escola de Quadros, Argentina, 1984, Nahuel Moreno). O centrista argentino tratou de fazer alguns acertos preventivos em sua própria teoria da revolução permanente, através de uma combinação de regras do senso comum com algo que se aproxima muito da crença da existência de um destino governante da história. Uma delas foi a de estabelecer que "nesta época revolucionária, todo avanço que não for seguido por outro avanço significa um retrocesso" (Tese II, Teses para a Atualização do Programa de Transição, N. Moreno). Outra que se desprende da primeira advoga que "enquanto o proletariado não superar sua crise de direção revolucionária, não conseguirá derrotar o imperialismo mundial e, em conseqüência, todas as lutas estarão pontilhadas de vitórias que inevitavelmente conduzirão a derrotas catastróficas" (idem). Estes silogismos absurdos deixados por Moreno tem sido muito útil dentro das fileiras do morenismo para desviar o debate acerca das posições desastrosas tomadas nos processos restauracionistas de 89 e 91, porque se as "derrotas catastróficas" já estavam reservadas para o futuro, não havia outra alternativa de ação do que apoiar as efêmeras "vitórias". Esta funesta correção no desvio objetivista de Moreno tem sido tirada da cartola, principalmente pelos morenistas ortodoxos, como a CITO, imediatamente após terem sido desmascarados pelos acontecimentos (a destruição das históricas conquistas revolucionárias dos Estados operários tão logo os democratas restauracionistas subiram ao poder), quando tentavam vender gato por lebre (restauração capitalista como revolução política) para, no maior caradurismo, tentar abafar a desmoralização e conter o espanto diante das conseqüências desastrosas de suas posições, tentando passar a idéia que 'tudo já estava previsto por Moreno'.

Embora mantendo a mesma posição criminosa que tiveram para a Europa Oriental e URSS também para os demais Estados operários ainda existentes, China, Cuba, etc, inclusive já caracterizando-os a priori de Estados capitalistas, muitos morenistas ficam se lamoriando que "infelizmente, as revoluções políticas não foram dirigidas por correntes trotskistas, e sim por direções restauracionistas, nacionalistas e pro-imperialistas. Ao triunfo revolucionário inicial das massas, seguiu-se e segue um processo regressivo em relação à vitória histórica de Outubro e à formação dos Estados operários assentados na propriedade socializada" (Documento apresentado pela TBI, hoje CITO, na última Conferência Nacional da Convergência Socialista, intitulado: "Posição sobre o PSTU"). Com 50 anos de antecedência, Trotsky já havia desmentido categoricamente a possibilidade de uma revolução política que não fosse dirigida por uma seção da IV Internacional, o que poderia ter livrado os militantes da LIT de chorar agora sobre o leite derramado, mas eles preferiram se aferrar a Moreno em oposição a Trotsky: "Somente o levantamento revolucionário vitorioso das massas oprimidas pode regenerar o regime soviético e assegurar seu futuro desenvolvimento em direção ao socialismo. Apenas o Partido da IV Internacional é capaz de conduzir as massas soviéticas à insurreição" (Programa de Transição). Ou em outras palavras: "O inevitável colapso do regime político stalinista levará ao estabelecimento da democracia soviética somente no caso de que a liquidação do bonapartismo seja produto da ação consciente da vanguarda proletária. Em qualquer outro caso, o lugar do stalinismo só poderá ser ocupado pela contra-revolução capitalista-fascista"(Estado operário, Termidor e bonapartismo).

Moreno reconhece que os centristas não são capazes de guiar a humanidade até o socialismo, tarefa que ficaria para a corrente morenista cumprir através de uma segunda revolução. Como consolo diante da fraude aos interesses do proletariado à sua "revolução de fevereiro", os morenistas apresentam a sua "Revolução de Outubro", como aqueles mercadores que vendem um produto fajuto e logo também tentam empurrar na venda um kit de ferramentas para consertá-lo.

Os morenistas não se contentam com a restauração na URSS e no Leste europeu e declaram criminosamente que "continua o combate pela derrubada dos regimes totalitários na China, Albânia, Coréia do Norte, Vietnã e Cuba (independentemente da forma que tome a revolução política em cada um deles), em todos os quais já começou a contagem regressiva" (Correio Internacional, julho de 1990). Nada mais sórdido e criminoso "os morenistas se colocam pela derrubada dos regimes burocráticos, inclusive, em favor da possibilidade mais factível que, pela ausência de um genuíno partido revolucionário, assumissem no seu lugar regimes capitalistas (a ditadura da burguesia) ávidos por liquidar com as condições de vida das massas. Mas, como se não bastasse tamanha manifestação de anti-defensismo, reivindicam esta via contra-revolucionária, "independentemente" da forma truculenta que venham assumir os novos regimes totalitários, que lançarão mão de todos os expedientes (terror das máfias, guerras fatricidas, privatizações, demissões em massa, etc) para reconquistarem o espaço expropriado dos capitalistas há várias décadas. Na verdade, ao contrário dos verdadeiros trotskistas que se colocam incondicionalmente em defesa dos Estados operários, os morenistas estão incondicionalmente pela restauração capitalista, ou seja, contra os Estados operários. Para os revolucionários, que mantêm um profundo compromisso com a classe operária mundial, diferente dos pequeno-burgueses apenas preocupados com o próprio umbigo e para os quais tanto faz o desdobramento da luta de classes no interior dos Estados operários, estava claro, há mais de 50 anos, o que prognosticava Trotsky em A Revolução Traída, "a queda da ditadura burocática atual, sem que fosse substituída por um novo poder socialista, anunciaria, também, o retorno ao sisema capitalista com uma baixa catastrófica da economia e da cultura" (China: capitalismo ou Estado operário degenerado?, Jornal Luta Operária nº 18, 05/97).

Tudo isto aponta que os que reivindicam o legado teórico de Moreno e sua trajetória política serão incapazes de evoluir rumo a uma corrente baseada no marxismo revolucionário. E não estão salvos os que se apegam ao 'verdadeiro morenismo' como tábua da salvação, muito pelo contrário, mergulham ainda mais profundamente no emaranhado de desvios anti-trotskistas criados por Moreno. O caminho para a revolução proletária é oposto e os abnegados militantes que se encontram nas fileiras das diversas correntes que reivindicam o morenismo devem buscar as raízes teóricas para a avalanche de equívocos pontuais e desvios empíricos que identificam na política de seus partidos e organizações. A LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA faz um chamado a todos os militantes e quadros que reivindicam o morenismo, que não suportam mais os desastres da política centrista e revisionista, buscando uma saída para a crise da humanidade e, portanto, para a crise de direção das massas exploradas no verdadeiro marxismo revolucionário, para que rompam com o morenismo e venham construir conosco, sobre bases principistas, o partido da IV Internacional.