63 ANOS DO ASSALTO AO QUARTEL DE MONCADA: DEFENDER O ESTADO OPERÁRIO BUROCRATIZADO CUBANO CONTRA O IMPERIALISMO E SUA “REAÇÃO DEMOCRÁTICA” PARA HONRAR OS HEROICOS COMBATENTES EM 26 DE JULHO
Essa data deve ser comemorada hoje à luz da inflexão política da Casa Branca em direção a Cuba hoje, 63 anos do assalto ao quartel de La Moncada. Esse movimento não possui nenhum caráter progressista, representa a outra face “democrática” da mesma ofensiva reacionária imperialista contra os povos. Na Ilha operária os planos do Pentágono de impulsionar uma “revolução popular” de milícias fascistas de direita, ao estilo Líbia, Síria, Ucrânia e Venezuela não conseguiu sucesso, forçando Obama a utilizar a velha tática da “reação democrática”. Cuba avançou na expropriação do capital e apesar das deformações burocráticas ainda mantém sua estrutura de poder estatal lastreada em conselhos populares e não na formalidade da democracia burguesa e do sufrágio universal, este elemento fundamental obriga o imperialismo a readequar sua estratégia para levar adiante sua ofensiva contra as conquistas da revolução cubana. Entretanto os objetivos globais do imperialismo para a América Latina permanecem os mesmos. Enquanto ataca ferozmente o regime nacionalista burguês da Venezuela, oferece crédito e investimos em Cuba, não há contradição alguma nestas duas linhas de ação do imperialismo. Um exemplo é que enquanto aqui no Brasil o quadro é de intensa polarização política entre esses dois polos burgueses em conflito, vários porta-vozes desses distintos espectros políticos saudaram a ida de Obama a ilha e apoiam a política de aproximação levada a cabo pelos irmãos Castro com os EUA, aplaudindo-a como exemplo de “maturidade política” e “avanço da democracia”. Para os Marxistas Revolucionários não há nada de progressivo neste processo, o oposto do que ocorreu com o assalto ao quartel de La Moncada. Ao contrário, ela significa que o imperialismo ianque impõe oficialmente as garras sobre o Estado operário para incrementar a restauração da ilha em parceria com a burocracia estalinista, que continua avessa a estratégia da revolução permanente.
A aposta da Casa Branca é estabelecer vínculos mais profundos com a burocracia castrista e a oposição interna pró-imperialista nos próximos meses, apesar do embargo econômico que o Congresso se nega por enquanto a revogar por ser de maioria republicana, para aprofundar essa política de cooptação a partir de 2017 com Hillary Clinton na Presidência dos EUA. O anúncio da retomada das relações diplomáticas entre Cuba e os EUA, além da possibilidade futura do fim do bloqueio comercial que já dura mais de 50 anos, colocou o debate sobre a restauração capitalista na Ilha operária no centro da pauta política da esquerda “socialista” mundial. De imediato podemos afirmar como defensistas incondicionais do Estado Operário Cubano que a iniciativa da Casa Branca está inserida neste momento no contexto da própria crise que atravessa a ofensiva imperialista contra os povos, em particular no impasse militar no “Mundo Árabe” após o êxito inicial contra o regime Kadafista na Líbia. O empantanamento da invasão contra a Síria e as dificuldades de iniciar a estratégica operação contra o Irã, sem falar na impossibilidade de “dobrar” a influência militar da Rússia na região, obrigaram o Império a voltar o “foco” do Departamento de Estado para Cuba. Na arena diplomática os gestos de “boa vontade” do governo Obama servem como uma luva para tentar aplacar sua própria crise interna e impulsionar a candidatura de Hillary contra a linha de Donald Trump, abertamente belicista de intervenção militar direta. Hoje a “mão estendida” de Obama para o regime Castrista tem por objetivo liberar as forças até então represadas de uma restauração capitalista no mesmo modelo da chamada “via chinesa”. Como declarou Obama no discurso que anunciou sua decisão de ir a Cuba “Vamos discutir as diferenças diretamente - como vamos continuar a fazer sobre as questões relacionadas com a democracia e os direitos humanos em Cuba. Mas eu acredito que podemos fazer mais para apoiar o povo cubano e promover os nossos valores por meio do engajamento. Afinal de contas, estes 50 anos têm demonstrado que o isolamento não tem funcionado. É hora de uma nova abordagem. Eu acredito que as empresas americanas não devem ser colocadas em desvantagem, e que o aumento do comércio é bom para os americanos e para os cubanos. Então, vamos facilitar as transações autorizadas entre os Estados Unidos e Cuba. Instituições financeiras dos EUA serão autorizados a abrir contas em instituições financeiras cubanas. E vai ser mais fácil para os exportadores dos EUA para vender bens em Cuba”. O porto de Mariel em Cuba, construído pela empreiteira Odebrecht e financiado pelo governo Dilma via empréstimo de 800 milhões do BNDES, tem um papel importante na abertura da Ilha para produtos do EUA. A principal agenda do governo brasileiro em Cuba é aprofundar as relações econômicas tendo por base o processo de restauração capitalista em curso promovido pela burocracia castrista, principalmente após o último congresso do PCC, em que copia parcialmente a chamada “via chinesa”. Trata-se da entrega de setores da economia para o controle de grupos capitalistas, estreitando cada vez mais os vínculos da casta dirigente com grandes empresas estrangeiras que investem no país, ao mesmo em tempo que se fragiliza e ataca conquistas históricas da revolução. Na atual conjuntura internacional o principal ponto de “travamento” da ofensiva imperial encontra-se no receio de um enfrentamento direto com o poderio militar russo, herdado do antigo Exército Vermelho. Putin pretendia estender a influência militar russa para Cuba, com a instalação de uma moderna base naval no Caribe, seria um duro golpe para o Pentágono e a OTAN que hoje sequer conseguem impor um recuo de seus adversários no leste europeu. Com uma possível “cooptação” de Cuba os EUA de uma só tacada podem conseguir neutralizar a Venezuela e impedir a entrada da Rússia na geopolítica latino-americana. No mesmo compasso Obama tentará ganhar pontos na disputa eleitoral contra o Partido Republicano (Trump) nas eleições presidenciais de novembro de 2016, já que os Clinton apoiam integralmente a “jogada” de aproximação com Cuba, o que não pode ser dito da política para o Oriente Médio onde Hillary defende uma imediata e agressiva ação militar contra Assad. Como Trotsquistas não podemos rejeitar possíveis manobras diplomáticas de um Estado Operário no contexto de um mundo hegemonizado pelo capital financeiro, reconhecemos o direito de Cuba exigir o fim do criminoso bloqueio comercial, porém não somos “ingênuos” ao ponto de desconsiderar os objetivos estratégicos do imperialismo ianque. Como nos ensinou Lenin que pessoalmente em sua época celebrou vários acordos comerciais com o imperialismo europeu, é necessário aproveitar as fissuras da crise imperialista sem “baixar a guarda” de uma política que convoque permanentemente a mobilização do proletariado mundial contra a atual ofensiva neoliberal contra os povos. Nesta perspectiva revolucionária não podemos confiar plenamente na burocracia Castrista, que busca conservar o atual regime estatal cada vez mais sob as bases de concessões econômicas e políticas. Frente a esta disjuntiva histórica, está colocado a construção do genuíno Partido Operário Revolucionário na Ilha com o objetivo de avançar nas conquistas sociais e do chamado a expropriação da burguesia mundial, se opondo a política de colaboração de classes das direções reformistas, rompendo desta forma o isolamento de Cuba por meio da vitória da revolução proletária em outros recantos do planeta!
A burocracia castrista instalada na cabeça do Estado operário cubano optou por um caminho de sucessivas concessões políticas ao imperialismo ianque, ainda que mantendo as principais bases da economia socializada. Com a eleição da ala “democrata” do império em 1992 (Clinton), o próprio Fidel Castro alimentou enormes expectativas na melhoria do relacionamento político com os ianques, o que resultou em um retumbante fracasso, levando inclusive ao relaxamento de normas de segurança que facilitaram a prisão de militantes dos serviços de inteligência cubana em Miami, como atesta o recente livro do escritor “progressista” Fernando Morais (Os últimos soldados da Guerra Fria). Com a posse de Obama, o “fenômeno” da empatia dos stalinistas cubanos com os carrascos “democratas” se repetiu. Nunca é demais lembrar que Cuba chegou a demonstrar inicialmente simpatia com os “rebeldes” monárquicos da Líbia. Somente quando se delineou a intervenção militar da OTAN, Raul percebeu que o “conto” da tal “revolução árabe” estava voltado a dar uma cobertura “humanitária” a mais uma invasão ianque, e o que é pior, o próximo alvo “democrático” do imperialismo poderia ser a própria Cuba! Os “ziguezagues” do castrismo diante da ofensiva mundial do imperialismo ianque colocam em risco a defesa das conquistas históricas da revolução cubana, que mesmo debilitadas por um bloqueio criminoso, permanecem socialmente vigentes para o proletariado da ilha operária. Agora o mesmo se repete com a aproximação entre os EUA e Cuba pelas mãos de Obama.
A opção do imperialismo ianque em um futuro breve é fomentar a “reação democrática”, ou seja, minar as bases do Estado operário “por dentro”. Inspira-se na própria dinâmica política da mal chamada “Revolução Árabe”. Fornecendo milhões de dólares a grupos contrarrevolucionários (Igreja católica, Damas de Branco, Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional etc.), o Pentágono pretende criar em breve uma alternativa política ao castrismo capaz de se alçar como direção do processo de restauração capitalista em Cuba, para transformá-la em mais um território aberto para seu capital. Suas iniciativas acenam também para a aproximação com setores da própria burocracia castrista que cada vez mais se acercam do imperialismo europeu almejando transformar-se em novos ricos diante de uma futura queda de Cuba. As bases materiais da divisão da burocracia são as próprias relações comerciais de Cuba com os Estados capitalistas que fortalecem no interior da camarilha burocrática a tendência a que em pouco tempo um setor desta rompa com o aparato central do castrismo e se lance em luta aberta pela restauração capitalista do Estado operário. Esse perigo torna-se ainda maior diante da avançada idade de Fidel e Raul Castro. Por essa razão, a burocracia castrista tenta aparentemente copiar parcialmente a “via chinesa” de restauração capitalista, em um processo ordenado e centralizado de medidas que, levadas a frente sob seu controle político, avançam o ritmo da restauração capitalista.
Para os Marxistas Revolucionários faz-se necessário hoje 63
anos do assalto ao quartel de La Moncada enfrentar o “abraço de urso”
restauracionista que Obama e o Papa Francisco desejam impor ao Estado Operário
com a redobrada defesa da revolução e das conquistas sociais frente à “nova”
tática do imperialismo ianque. A destruição do Estado operário cubano seja pela
via da agressão militar ou da contrarrevolução “democrática” como deseja Obama
e o Papa, inspirada na farsesca “revolução árabe” apoiada por todo arco
revisionista, não por acaso os mesmos canalhas de “esquerda” que clamam pela
“derrubada da ditadura dos irmãos Castro”, representará uma enorme derrota para
o proletariado da América Latina, abrindo um período sem precedentes de avanço
imperialista. Por isso, nossa resposta continua sendo a defesa incondicional de
Cuba e das conquistas da revolução!