quinta-feira, 13 de novembro de 2025

EDUARDO BARRAGÁN E A DISSOLUÇÃO DO CITO: QUANDO UM DIRIGENTE CAMINHA PARA FRENTE E DEPOIS RETROCEDE DEZ PASSOS ATRÁS * 

O histórico dirigente morenista, Eduardo Barragán, faleceu na tarde deste último dia 11 de novembro em Buenos Aires. Barragán era colombiano e integrou ativamente a equipe de quadros dirigentes de Nahuel Moreno ainda nos anos 1970. Juntos, fundaram a Tendência Bolchevique e, posteriormente, a Fração Leninista Trostsquista, ainda nos marcos da batalha interna dentro do Secretariado Unificado (SU). No começo dos anos 1980, foi deslocado para a Argentina, onde participa da fundação da LIT-QI em 1982, permanecendo neste país até a sua morte. Conheci pessoalmente Barragán somente em 1995, quando eu e o camarada Marco Queiroz(recém tínhamos fundado a LBI, em conjunto com um pequeno punhado de quadros rompidos com a OQI)estávamos em Buenos Aires para às atividades políticas do Primeiro de Maio. Fomos então até a um ato do PRS, constituído recentemente nesta época durante a explosão política do MAS, realizado em um clube da periferia da capital portenha e que contou com a presença de cerca de 200 militantes. Já conhecíamos algumas posições programáticas corretas do CITO(Centro Internacional do Trotskysmo Ortodoxo), do qual o PRS era sua seção nacional. Eduardo, em sua intervenção de encerramento da atividade do Primeiro de Maio, causou-me uma excelente impressão ao denunciar a capitulação da LIT diante da ofensiva militar da OTAN contra a extinta Iugoslávia. Nós da LBI decidimos iniciar um processo de debates com o CITO, culminando com o deslocamento de um dirigente do PST colombiano, Omar H, até a cidade de Fortaleza. Desgraçadamente no curso das discussões programáticas entre nossas organizações, tomamos conhecimento da deliberação da direção do CITO em retornar ao leito orgânico da LIT, jogando literalmente no lixo as “posições ortodoxas” que tinham formulado, como a caracterização da aniquilação da antiga URSS, como sendo um processo histórico contrarrevolucionário, abrindo uma etapa mundial de grandes derrotas para o proletariado mundial.

Em 1994, havia ocorrido outra cisão na LIT, desta vez encabeçada pelo PST colombiano, dando origem a formação do Centro Internacional do Trotskismo Ortodoxo, e também ao próprio PRS argentino, dirigido por Barragán. O CITO a princípio estabeleceu críticas de esquerda aos desvios da LIT no plano internacional (capitulação ao imperialismo na Somália e na Guerra dos Bálcãs), como também no método oportunista de construção do PSTU brasileiro, completamente integrado ao regime democrático burguês.

O CITO reconhecia que passávamos por um período de intensa reação ideológica e "ofensiva imperialista". Na mesma tonalidade política concluiu que os acontecimentos ocorridos na URSS: “Foi o início de maneira direta e aberta da restauração capitalista na Rússia e nos Estados operários da Europa Oriental, [que] significa um retrocesso para o proletariado mundial".(Panorama Internacional, nº 2).

Porém, enquanto Trotsky caracterizava que só um partido revolucionário defensista era capaz de dirigir a revolução política em um Estado Operário degenerado, o CITO insistia em chamar de “revolução política” a todos os processos restauracionistas ocorridos no Leste europeu. Ficava claro então que esta corrente morenista, apesar de progressista em relação a outros agrupamentos que romperam com a LIT, estava completamente perdida programaticamente diante dos principais acontecimentos da luta de classes, o que culminou com a brusca decisão de reingressar na LIT pela “porta dos fundos”.

O que o CITO não “desconfiava” que a crítica relativamente acertada que fazia às outras correntes morenistas pela sua capitulação ao imperialismo na Iugoslávia e Somália, deveria servir também a sua própria organização, no caso da questão soviética e de todos os demais processos restauracionistas do Leste europeu. Entretanto a “confusão” dos dirigentes do CITO, com um grande peso de responsabilidade política para Barragán, acabou se cristalizando em uma vergonhosa claudicação diante dos burocratas da LIT, pondo um ponto final na breve trajetória de existência partidária do CITO e do PRS argentino.

Candido Alvarez expõe ao dirigente do PST colombiano,
Oomar H, posições da LBI

* CANDIDO ALVAREZ - SECRETÁRIO GERAL DA LBI