domingo, 13 de janeiro de 2013



Morre o companheiro “Padre Haroldo”, um vigoroso combatente anti-imperialista nos atuais tempos de reação neoliberal!

Morreu no último dia 11 o companheiro “Padre Haroldo”, como era conhecido pela militância de esquerda no Ceará. Haroldo Coelho com sua larga trajetória de lutas ao lado dos movimentos sociais cravou história na esquerda marxista ao abraçar corajosamente sua opção de dirigente nacional do então PRC no início dos anos 80, mesmo na condição de sacerdote de uma instituição ultrarreacionária e inimiga visceral dos povos. Ombro a ombro, a militância da LBI esteve ao lado dele na luta política contra a intervenção imperialista a Líbia pela OTAN. Tantas vezes nos reunimos, em sua casa ou realizamos atividades públicas para denunciar a nefasta ação das potências capitalistas ao povo líbio, discutindo como era possível que setores da “esquerda” apoiassem tal investida reacionária que levou inclusive ao assassinato do coronel Kadaffi. Militante aguerrido, “Padre Haroldo” escreveu vários artigos desmascarando a farsesca “revolução árabe” e, por diversas vezes, contribuiu em nossa campanha para realizar atos políticos contra a agressão aos países do Oriente Médio comandados por regimes nacionalistas, como a Síria e o Irã. No final do ano passado, em novembro, nos encontramos em um debate sobre Marighella e conversamos sobre a investida que a Casa Branca preparava contra o Irã e discutimos quais iniciativas tomar. Sempre discutimos vivamente e, apesar das diferenças programáticas, ele dizia que éramos os trotskistas mais coerentes que conhecia, defensores de Cuba e da necessidade de construir um partido revolucionário internacionalista. A sua crença em um Deus como porta-voz dos pobres e oprimidos, tantas vezes motivo de calorosos debates conosco, que somos além de marxistas necessariamente ateus, não reduzia o nosso respeito por sua conduta militante. Agora, este vigoroso combatente anti-imperialista, que se notabilizou por defender a Nicarágua na década de 80, já não está entre nós. Faleceu deixando fortes lembranças de sua determinação na luta anti-imperialista e em defesa dos explorados, de sua fala cortante e sempre presente na denúncia do capitalismo e de sua ação decidida pelos trabalhadores!

José Haroldo Bezerra Coelho, mais conhecido na esquerda como “Padre Haroldo” nasceu em 24 de março de 1935 e ordenou-se padre no emblemático ano de 1964, meses após o golpe militar contra João Goulart. Cursou Ciências Sociais e fez pós-graduação na Universidade de Sorbonne, na França. Viveu exilado durante oito anos na Europa na década de 1970 e voltou ao Brasil apenas em 1979, depois da Anistia. Lecionou na Universidade Estadual do Ceará (UECE) e agora era professor aposentado. Aproximou-se da Ação Popular (AP), corrente criada por atuação dos militantes estudantis da Juventude Universitária Católica (JUC) e ingressou no PCdoB quando grande parte da AP aderiu a este partido. Rompeu com o PCdoB como parte do movimento de cisão que deu origem ao Partido Revolucionário Comunista (PRC). A formação do PRC resultou da aglutinação de dissidentes conhecidos como a Esquerda do PCdoB. Desligados do partido no final dos anos 1970 em função de divergências quanto ao balanço da experiência da guerrilha do Araguaia e ao próprio stalinismo, atuavam desde o início dos anos 1980 tanto no PT quanto no PMDB. “Padre Haroldo” então se vinculou ao núcleo do PRC no Ceará, dirigido por Jorge Paiva, Rosa Fonseca e a então deputada Maria Luiza Fontenelle. Maria foi eleita prefeita de Fortaleza pelo PT em 1985, mas acabou por romper com o PRC e ajudou a fundar o Partido da Revolução Operária (PRO). “Padre Haroldo” seguiu as posições do PRO como um colaborador ativo e na década de 80 também se dedicou a defender a Nicarágua. Antes fez ampla campanha no Brasil em apoio da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional na Nicarágua (FMLN). Em 1986 foi candidato ao governo estadual do Ceará pelo PT na sequência do peso do PRO no interior do petismo, mas a campanha eleitoral do PT naquele ano fora manchada pelo apoio financeiro recebido pelo PT (incluindo todas suas tendências internas) por parte dos “coronéis” do PFL, interessados na derrota de Tasso Jereissati. Neste período o PRO e uma ala da “Articulação” (Gilvanistas) saíram do PT em função das denúncias realizadas pelo então dirigente do PT Candido Alvarez, que quase isoladamente conseguiu reunir as provas da corrupção praticada pelos integrantes do PRO ao aceitar a “ajuda” econômica do PFL. Quando posteriormente o agrupamento liderado por Maria Luiza, Rosa Fonseca e Jorge Paiva (PRO) rompeu abertamente com o marxismo em 2000, criando um movimento social-democrata “Crítica Radical”, o velho combatente afastou-se definitivamente destas posições anticomunistas. Havia se filiado ao PSOL recentemente e, no interior deste partido, adotava posições anti-imperialistas e críticas à política de sua direção nacional. Atualmente era dirigente do Movimento Democracia Direta (MDD) e da Universidade de Políticas do Movimento Popular (UNIPOP).

Em artigo escrito em seu blog em meados de 2011, Padre Haroldo nos dizia “Não é segredo para ninguém que todas as tensões e tentativas de desestabilização dos países do norte na África e do médio oriente são provocadas pelas riquezas petrolíferas ou, também, pela conquista de territórios estratégicos no jogo de influência das nações imperialistas. Os acordos de Paz ente o Egito e o Estado sionista, só serviram aos interesses imperialistas e em detrimento do povo palestino. Praticamente, o povo palestino ficou sem defesa e entregue aos ataques de Israel”. Além de estarmos juntos no combate contra a agressão a Líbia, desenvolvemos com ele em 2011 uma intensa campanha nacional pela liberdade de Cesare Battisti. Quando conquistamos a liberdade de Battisti, estivemos com o Padre Haroldo e o ativista italiano em um debate em Fortaleza, onde reivindicamos juntos a necessidade da defesa da revolução socialista, combate abandonado pelo próprio Cesare. Essas fortes e vivas lembranças, de resistência em tempos de reação ideológica e de adaptação da esquerda a democracia burguesa nos faz afirmar: Padre Haroldo, presente! Na luta sempre!

Direção Nacional da LBI