Neste 29 de novembro, em homenagem ao Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, republicamos o artigo histórico da LBI lançado no Jornal Luta Operária de novembro de 1995
A Questão Palestina à
Queima Roupa!
Os "Acordos de
Paz", celebrados entre a OLP e o Estado de Israel na capital
norte-americana em 1993, e ratificados este ano com a "devolução" de
algumas cidades ocupadas pelo exército israelense na faixa de Gaza e na
Cisjordânia, longe de colocarem um fim aos graves conflitos que assolam esta
região, como tenta passar o imperialismo e suas agências de propaganda, apenas
reacenderam com mais força ainda, as profundas tensões que cercam a luta heróica
do povo palestino contra o enclave sionista de Israel.
O ASSASSINATO DE RABIN
Os assassinatos do líder
máximo do Jihad, Fathi Chqaqi e o premier Yitzhak Rabin, neste momento, são a
demonstração prática que a resolução da "questão palestina" passa bem
longe da farsa montada pelo imperialismo ianque, com o aval da direção da OLP,
para montar um fantoche sob o controle de Israel chamado ironicamente de
"autoridade nacional palestina".
Rabin, que há poucos
dias tinha organizado o atentado terrorista que resultou na morte do dirigente
do Jihad, organização islâmica que se opõe aos acordos de paz, foi assassinado
quando saía de um comício do partido trabalhista que governa Israel desde 92. O
ato público convocado com o lema em defesa do "processo de paz", na
verdade era um comício eleitoral em função do enorme crescimento da direita
israelense - o Likud, principal força da oposição - que exigia a antecipação
das eleições parlamentares previstas para o próximo ano. O líder do Likud,
Bynyamin Netanyahu, iria apresentar nesta semana ao Knesset (parlamento) uma
"moção de desconfiança", caso fosse aprovada, seriam antecipadas as
eleições gerais, com fortes chances de uma retumbante derrota trabalhista.
A grande imprensa e a polícia de Israel apresentaram o assassino, Nigal Amyr, como integrante do grupo Eyal, organização de extrema-direita. A viúva de Rabin responsabilizou o Likud pelo clima de terror instalado em Israel, no que rapidamente foi contestada sob a acusação de instigar uma guerra civil entre os próprios judeus. A única certeza comprovada é que o assassino pertencia ao establishment sionista, o que lhe serviu livre trânsito para disparar com grande facilidade contra o primeiro-ministro.
Apesar de várias
manifestações de apoio ao assassinato de Rabin, oriundas principalmente de
religiosos ortodoxos e colonos judeus dos territórios ocupados que o
consideravam um traidor, o clima de comoção provocado pela forte pressão dos
órgãos nacionais e internacionais de comunicação, levaram com que o Likud
apoiasse a formação do novo gabinete, encabeçado pelo antigo chanceler Shimon
Perez, assegurando desta forma a manutenção do cronograma eleitoral já
estabelecido anteriormente e por, consequência, a permanência dos trabalhistas
no poder.
O imperialismo tratou
rapidamente de assegurar a continuidade dos "acordos de paz" como um
caminho irreversível entre a OLP e Israel, apresentando Rabin como o grande
artífice e mártir da paz, o que foi prontamente seguido pela
"esquerda" de todo o mundo. Gorbatchev declarou: "o povo de
Israel perdeu um líder de dons excepcionais" (OESP, 08/11/95). Por sua
vez, Lula, no Brasil, foi até a embaixada de Israel para chorar pela perda
"do maior nome da paz mundial" (FSP, 09/11/95).
Já o povo palestino,
saiu às ruas, desde os territórios ocupados, passando pelo Líbano e Egito, para
comemorar a morte do carrasco sionista que conheciam muito bem. Foi Rabin quem
comandou o exército sionista na ocupação dos territórios palestinos na guerra
dos seis dias. Mas não parou por aí, quando ministro da defesa em 1984,
decretou a lei que determinava quebrar os ossos das mãos das crianças
palestinas que atirassem pedras contra os soldados israelenses. E, para não
pairar nenhuma dúvida sobre uma possível regeneração no período mais recente,
foi o próprio Rabin, que em meio às negociações para selar o acordo de paz em
93, lançou um bombardeio nos acampamentos palestinos do sul do Líbano, matando
mais de 150 civis e pondo 300 mil refugiados na estrada, em fuga da covarde
artilharia sionista.
Foi um comunicado da
Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), uma facção de esquerda da
OLP, que melhor sintetizou o sentimento do povo palestino: "Estaríamos
mais felizes se tivéssemos podido matá-lo nós mesmos".
A FORMAÇÃO DE ISRAEL
COMO ENCLAVE DO IMPERIALISMO NO ORIENTE MÉDIO
O fim dos constantes
massacres do povo palestino, assim como a realização da sua justa aspiração
nacional para a constituição de uma verdadeira pátria, não passa, como já dissemos,
pelos reacionários "acordos de paz" e a criação de um protetorado
palestino sob as botas do Estado terrorista de Israel. Para os marxistas
revolucionários, a caracterização de Israel como um enclave do imperialismo
estabelecido contra a luta das massas árabes do Oriente Médio é fundamental
para defendermos a sua destruição, como parte de um programa revolucionário
para os trabalhadores palestinos.
Recuando um pouco na
história da criação do Estado de Israel no território palestino, iremos compreender
o real conteúdo desta operação, dirigida inicialmente pelo imperialismo inglês
e finalizada pelo imperialismo ianque com o objetivo de extender
definitivamente seu domínio sobre uma região estratégica, de vários ângulos:
econômico, político e militar.
A maquiagem ideológica,
que justificasse a criação de um país, a partir do quase nada, foi tomada
emprestada ao movimento sionista pelo imperialismo britânico na primeira década
deste século. O sionismo (referência à colina de Sion em Jerusalém) proclamava
a necessidade de uma "regeneração" do povo judeu, que após a grande
diáspora da Palestina, por volta do ano 70 da era cristã, teria se afastado de
suas raízes produtivas, ligando-se exclusivamente as atividades comerciais e
pecuniárias. Theodor Herzl, um dos fundadores do movimento, propõe "a
conquista do trabalho pelo povo judeu" no retorno "à terra
prometida" já em 1901. Sob o slogan "uma terra sem povo para um povo
sem terra", os sionistas ‘esqueceram’ um ‘pequeno detalhe’, a existência
de um milhão de palestinos que já habitavam aquela região há mais de 18
séculos!
O contexto histórico que
marca a ascensão do sionismo é exatamente a profunda crise da economia
capitalista, mergulhada em sua primeira grande guerra pela disputa de mercados,
assistindo ao ressurgimento do nacionalismo exacerbado, colocando os judeus,
particularmente os comerciantes e usurários em uma situação bastante delicada.
Por outro lado, a vitória da revolução russa colocava objetivamente a
possibilidade da absorção da cultura milenar do povo judeu em um patamar muito
superior ao capitalismo, a construção solidária e multiétnica de uma nova ordem
social, pondo um fim à discriminação nacional assassina que imperava na velha
Rússia. O movimento sionista, que representa socialmente os interesses da
grande e média burguesia judaica tenta responder a estas duas grandes questões
- o colapso capitalista que elevava cada vez mais a segregação e o
anti-semitismo e, ao mesmo tempo, a necessidade de uma profunda demarcação com
os revolucionários russos, que abriram a possibilidade de uma assimilação pela
via do socialismo debutante justamente em um país largamente povoado por
judeus.
Trotsky, desmascarando
as tentativas de apresentação do sionismo, como um movimento de características
comuns ao socialismo, o define como um instrumento que estava sendo utilizado
pelo imperialismo inglês: "mas os fatos de cada dia nos mostram que o
sionismo é incapaz de resolver a questão judaica. O conflito entre judeus e
árabes na Palestina adquire um caráter cada vez mais trágico e ameaçador. Eu
não acredito de forma alguma que a questão judaica possa ser resolvida nos
quadros do capitalismo decadente sob o controle do imperialismo britânico"
(León Trotsky, Sobre a Questão Judaica).
A vitória da aliança
franco-britânica sobre os alemães e seus aliados, entre os quais a Turquia na
Iª guerra mundial, torna o imperialismo inglês o grande herdeiro do imenso e
secular Império Otomano, que engloba todo o Oriente Médio. Em 1917, com o
objetivo de estabelecer uma ‘cabeçeira de ponte’ na região, o governo inglês
apóia a "construção do lar nacional para o povo judeu" na Palestina,
através da célebre declaração de "Balfour". Toda a região é repartida
entre Inglaterra e França, através dos acordos secretos de
"Sykes-Picot", denunciados publicamente pelo partido bolchevique como
a "partilha do covil sobre as nações oprimidas". São desenhadas
fronteiras, criados países artificialmente como a Transjordânia (atual
Jordânia) em 1921, tudo em função dos interesses econômicos do imperialismo
europeu.
Mas a Palestina é a
única nação que permanecerá sem qualquer rasgo de autonomia, ou seja, uma nação
sem Estado, sem fronteiras nacionais, ficando sob o mandato inglês, confiado
pela Liga das Nações em 1922. A partir daí o imperialismo britânico, através de
magnatas do petróleo como o Barão de Rotchild, começa a financiar a emigração
massiva de judeus na Palestina, que antes somavam apenas 25 mil, iniciando o
processo de ocidentalização de um enclave, no meio do Oriente, em uma região que
despontava pela riqueza do ouro negro e por sua localização estratégica do
ponto de vista militar.
Com a ascensão do
nazismo na Europa, em meados da década de trinta, o povo judeu assiste a
vigorosa reaparição do anti-semitismo na sua forma mais violenta. Por sua vez,
a União Soviética, dirigida pela burocracia stalinista, não mais representava
uma alternativa de integração para o povo judeu. Muito pelo contrário, sob o
tacão termidoriano, os revolucionários assistem ao renascimento do
anti-semitismo em uma forma que não deixava muito a dever aos velhos pogrons
tzaristas. A Oposição Unificada de Esquerda, formada por Trotsky, Zinoviev e
Bukarin, entre outros, era definida pelo stalinismo como "união de judeus
sujos vendidos a Gestapo". É neste marco que o sionismo, antes visto com
muita desconfiança pelos trabalhadores judeus que o consideravam uma
capitulação aos racistas, que preconizavam a expulsão dos judeus da Europa, vai
afirmar-se como um grande movimento nacional de alcance de massas.
Na década de trinta,
ocorre o grande fluxo migratório; em 1935, os judeus na Palestina já somavam
quase 400 mil. A cidade de Haifa, a beira do Mediterrâneo, mais parecia uma
cidade completamente europeia, no meio da cultura milenar do deserto. O
objetivo imperialista inglês havia conseguido consolidar-se a passos largos. Os
judeus, financiados com aportes massivos de capitais, formaram um verdadeiro
Estado dentro do protetorado britânico na Palestina, inclusive com a criação de
um exército próprio, as milícias do Irgun e Haganá encarregadas do extermínio
de palestinos e árabes. Seu lema era "cem mil vidas árabes não valem a
unha de um judeu". O sionismo transformou-se na reprodução do nazismo
contra os povos árabes em seu próprio território.
Neste mesmo ano, explode
a grande revolta palestina, com a deflagração de uma greve geral, que durou
quase um ano. Somente em 37, o governo inglês consegue uma trégua, em função da
vergonhosa traição do alto comitê árabe. Neste período, é enviada da Inglaterra
a "Comissão Peel", encarregada de investigar os conflitos na região,
concluindo pela primeira vez a necessidade da partilha da Palestina em dois
Estados.
A iminente eclosão da II
guerra mundial obriga a Inglaterra, ameaçada diretamente pelo nazismo, a
procurar o apoio dos países árabes contra a Alemanha. Para atrair sua simpatia,
em 1939, adota o chamado "livro branco", limitando a entrada de
judeus na Palestina. Tarde demais, o imperialismo norte-americano, emergente no
cenário mundial, abraça a causa sionista, passando a fornecer armamento pesado
às milícias sionistas que ameaçam até o próprio exército inglês. Com a vitória
dos aliados e o despontar da hegemonia norte-americana só resta à Inglaterra
sua retirada do cenário. A recém-fundada Organizações das Nações Unidas,
substituta da antiga Liga da Nações, através da iniciativa dos Estados Unidos,
e com o apoio entusiástico da URSS, decreta em 1947 a divisão definitiva da
Palestina entre um Estado judeu e outro árabe palestino. O stalinismo, após os
acordos de Yalta, deixará o Oriente como uma área de influência do imperialismo
ianque, além da consideração do sionismo, em sua versão trabalhista como um
aliado político, com o qual desenvolverá uma frente popular em Israel. O velho
partido comunista palestino logo mudará seu nome para israelense por considerar
as massas árabes e palestinas como atrasadas e feudais.
Antes mesmo da
oficialização do Estado de Israel, as tropas do Irgun retomam os massacres aos
palestinos, como a chacina da aldeia de "Deir Yassin". Era o prenúncio
do terrorismo sionista que irá assolar o povo palestino até hoje.
Exatamente no dia da
proclamação oficial do Estado de Israel, 15 de maio de 1948, é declarada a Iª
guerra aos países árabes. O novo exército de Israel, agora batizado
"Tzahal", é abastecido belicamente pela Tchecoslováquia (membro do
Pacto de Varsóvia) e Estados Unidos. Conseguindo uma triunfal vitória, alarga,
desta forma, em três vezes o seu território traçado inicialmente pela ONU. O
Estado árabe palestino estipulado pelo plano de partilha não consegue sair do
papel, já estava morto antes de nascer. Restando ao Egito à anexação da faixa
de Gaza e à Jordânia a anexação da Cisjordânia. Um milhão e meio de palestinos
deixam o agora chamado Estado de Israel, expulsos de suas terras sob o
bombardeio da aviação sionista, espalham-se pelo Líbano, Egito, Jordânia,
Síria. 600 mil palestinos permanecem no Estado sionista, sem nenhum direito
civil, tratados como cidadãos de segunda categoria em seu antigo território
nacional, servindo de mão-de-obra barata que irá mover a engrenagem capitalista
do enclave militar de Israel.
Do velho Egito, surge um
setor de jovens oficiais, sublevados contra a vergonhosa traição do Rei Faruk,
que durante a guerra de 48 forneceu fuzis defeituosos ao seu exército. Tomam o
poder liderados por Nasser. É o início do nacionalismo árabe que logo se
espalha como um rastilho de pólvora pela Síria, Iraque e Líbano. Em 1956,
Nasser declara a nacionalização do Canal de Suez, que estava sob o controle das
grandes potências mundiais sendo o ponto econômico mais estratégico de todo
Oriente Médio, aonde transitam dois terços do petróleo destinado à Europa. A
reação do imperialismo é imediata, Inglaterrra e França preparam a operação
militar chamada "expedição de Suez". Cabe ao enclave de Israel,
desempenhar seu papel de gerdame do imperialismo na região. Seus tanques e
aviões bem mais sofisticados e em maior número que os da artilharia egípcia,
logo em dois dias ocupam o deserto do Sinai até as margens do canal. Em
seguida, passam o controle da região para as tropas da ONU, seguindo a
orientação direta do imperialismo ianque.
Passados quase 11 anos
da ocupação do Suez, novamente Nasser, agora apoiado por uma ajuda militar da
URSS, que se vê obrigada a interferir no palco das operações militares do
Oriente Médio, desta vez ao lado dos árabes, devido ao perigo de uma incursão
militar imperialista no seu território oriental, retoma a bandeira do Suez,
exigindo que tropas da ONU se retirem do Egito. É o motivo para que Israel entre
em cena, com o sinal verde dos EUA. A aviação israelense ataca, e em uma manhã
a guerra está ganha. Seus blindados são enviados para todos os frontes. Em seis
dias, o Egito perde Gaza e o Sinai até o Suez. A Síria perde as colinas de
Golan, também retomando da Jordânia a Cisjordânia anexada em 1948 e ocupa
definitivamente o lado palestino da cidade de Jerusalém, conseguindo
quadruplicar suas fronteiras iniciais. Sem uma ação direta das massas e devido
ao forte poderio militar imperialista é imposta uma nova derrota para as
burguesias árabes. Para o povo palestino é um desastre sem proporções, passando
a habitar os territórios ocupados na condição de prisioneiros políticos.
Segue-se uma luta de guerrilhas na região, a partir de bases militares
palestinas instaladas no sul do Líbano, que extende-se até hoje.
A essência de todos os
conflitos militares travados na região reside na própria arena da luta de
classes internacional, sendo a existência de Israel, um enclave militar
artificialmente implantado no coração do Oriente, fundamental na repressão dos
interesses do imperialismo mundial em uma região estratégica, pelas reservas
petrolíferas, para o funcionamento da economia capitalista no planeta. É uma
tarefa do conjunto do proletariado de todo mundo, inclusive o judeu, a
destruição deste gerdame imperialista, no sentido de impulsionar enormemente a
luta dos povos contra a exploração capitalista.
OLP DA RESISTÊNCIA
ARMADA AO PACTO COM ISRAEL
A luta do povo palestino
representa a vanguarda das massas árabes contra o enclave de Israel, abrindo
desta forma a perspectiva da revolução proletária em todo o Oriente Médio. São,
sem dúvida, as primeiras vítimas do sionismo, que pretende sua eliminação
física enquanto povo, mas também são alvo da opressão das burguesias árabes
que, ora os tem utilizado como bucha de canhão na barganha com os sionistas ora
como inimigos perigosos, descarregando sem hesitação sobre estes violentos
ataques.
O próprio surgimento da
OLP esteve condicionado à tentativa das burguesias árabes de manipularem em seu
benefício a luta dos palestinos. Encarregado por Nasser em 1964 de estruturar a
OLP, Ahmad Chukeiri, seu primeiro presidente, não escreve em seu programa
original a defesa de um Estado Palestino, nem tampouco a destruição de Israel.
Com o fracasso da via
nasserista, após a humilhante derrota dos países árabes em 67, ganha corpo a
organização militar palestina "Al Fatah", a Vitória, surgida no final
de 59, sob a direção de Yasser Arafat e Abu Lyad que proclamava abertamente a
necessidade da destruição de Israel, colocando-se politicamente à margem da OLP
oficial de Chukeiri.
É a "Al Fatah"
que vai dirigir a resistência à ocupação militar de Israel na faixa de Gaza.
Durante três anos, o exército sionista não consegue sufocar a rebelião popular
instalada na região. Logo depois, em 1968, na cidade jordaniana de Karameh, os
fedayin, ou seja, os guerrilheiros palestinos orientados pela "Al
Fatah", conseguem derrotar o exército sionista, criando pela primeira vez
o símbolo da resistência palestina vitoriosa.
No ano seguinte, Arafat
assume a direção da OLP, que adota em sua carta de constituição: "a
destruição do enclave do imperialismo como condição preliminar para a unidade
dos povos árabes". A partir daí, estrutura-se como um verdadeiro Estado
Palestino sem território, criando instituições como o Conselho Nacional
Palestino, um verdadeiro parlamento com representação das suas diversas facções
sociais e políticas.
Para os revolucionários,
uma caracterização correta da OLP deve começar pela consideração de seu caráter
de classe determinado pela adoção de um programa político democrático-burguês,
defensor da recomposição de uma economia capitalista na Palestina, ainda que a
representação social da burguesia no interior da OLP fosse extremamente minoritária,
em função da expropriação forçada levada a cabo pelo sionismo em 48 e 67. Mas a
questão chave é determinar o campo de luta da classe operária mundial no
enfrentamento entre as massas palestinas e o enclave sionista de Israel
subsidiado pelo capital financeiro internacional. Nesse caso, não pode haver a
menor hesitação entre os revolucionários, estamos no campo militar da OLP,
apesar da dinâmica imposta por sua direção apontar, caso triunfasse sobre
Israel, na instauração de um regime democrático-burguês, extremamente instável
em função do armamento das massas palestinas. Trotsky definia assim uma posição
justa diante da guerra civil espanhola: "O partido comunista devia lavar
as mãos frente ao conflito entre monárquicos e republicanos burgueses? A defesa
de semelhante política seria um suicídio... Nestas condições a luta heróica dos
operários teve inevitavelmente que fortalecer o governo republicano, pelo menos
temporariamente. Só pode negar isto gente que não tem nada na cabeça e sustenta
a análise dos acontecimentos em frases banais." (León Trotsky, A revolução
espanhola e a tática dos comunistas).
A OLP protagonizará a
maior oportunidade de encabeçar sua ‘revolução nacional’ na Jordânia, uma
criação completamente artificial do imperialismo britânico no antigo território
palestino, entregue à oligarquia beduína para que governasse sobre uma população
composta majoritariamente por palestinos. Em meados de 70, acusando o regime
"derrotista", uma alusão às constantes derrotas frente a Israel, do
Rei Hussein de acatar a resolução 242 da ONU, que reafirmava o direito à
existência de Israel, a OLP levanta a palavra-de-ordem de "todo poder à
resistência" tomando o controle das cidades do norte do país, assim como
os subúrbios de Aman. O Rei Hussein, com o apoio militar da Síria, lança seu
exército contra os fedayin, causando mais de 5.000 baixas nos combatentes
palestinos que, em setembro, são expulsos da Jordânia. A inferioridade militar
e fundamentalmente a ausência de uma estratégia proletária, são os fatores
determinantes pela derrota da OLP, que a partir de então privilegiará ações
terroristas contra Israel principalmente fora do Oriente Médio.
Refugiados no sul do
Líbano, espalhados em acampamentos próximos às principais cidades, os
palestinos estabelecem uma importante aliança com a resistência dos
trabalhadores libaneses em luta contra o regime títere do imperialismo francês.
Estava mais uma vez colocada a possibilidade de uma revolução, desta vez com
características nitidamente proletárias, já que a divisão social estabelecida
no Líbano, rotulada pela imprensa mundial como sendo entre cristãos versus mulçumanos,
refletia na verdade diretamente a luta entre explorados e exploradores.
Em função da ameaça da
perda do controle no Líbano, o imperialismo francês aciona seu enclave na
região, que sob o comando nazi-sionista Menahem Beguin desencadeia em junho de
82 uma operação militar de invasão do Líbano, chamada cinicamente de "paz
na Galiléia". Agindo em conjunto com os milicianos falangistas, o exército
sionista massacra mais de dois mil civis nos acampamentos palestinos de Sabra e
Chatila. É apenas um primeiro aviso de sua disposição em aniquilar a OLP. A
burguesia árabe não esboça a menor reação, e até colabora com a operação
militar. Apesar de um cerco impiedoso de dois meses sobre Beirute, fazendo
lembrar o cerco nazista no gueto de Varsóvia, as tropas da OLP conseguem uma
retirada honrosa. Mesmo com o estabelecimento da ocupação, o exército sionista
não consegue atingir seus objetivos, dizimar a OLP e assassinar Arafat. Ao
contrário, pela primeira vez em sua história, Israel é sacudido por manifestações
gigantescas, com mais de 300 mil pessoas nas ruas exigindo o fim da política
assassina do Likud, impulsionadas pela oposição pequeno-burguesa pacifista. É
neste momento que se faz sentir a ausência de um partido revolucionário que
chamasse a unificação dos trabalhadores judeus e palestinos para derrotar o
regime terrorista de Israel.
A direção da OLP começa
a dar os primeiros sinais de que estaria disposta a aceitar uma negociação com
Israel nos marcos dos acordos de "Camp David", (produto da nova
correlação de forças originada a partir da guerra de Yon Kippur) firmados por
Sadat e Beguin em 1978. Estes estipulavam a aceitação de uma autonomia relativa
nos territórios ocupados pelo exército sionista além da devolução do Sinai ao
Egito ocorrida de fato em 82.
Em dezembro de 87,
jovens palestinos deflagram nos territórios ocupados a "Intifada",
revolução das pedras, tomando de surpresa a própria OLP. Organizam-se greves e
barricadas que enfrentam as atrocidades do exército sionista, deixando um saldo
de mil mortos só no primeiro ano de combate. É neste contexto que surgirá a
organização Hamas, "resistência", questionando a linha de profunda
adaptação trilhada pela direção da OLP.
Utilizando-se da
Intifada, apoiada apenas formalmente, como arma de barganha internacional, a
direção da OLP em assembléia do Conselho Nacional Palestino, no ano de 88,
decide por aceitar a resolução 242 da ONU, admitindo oficialmente pela primeira
vez o direito de existência de Israel. Arafat inicia uma verdadeira cruzada
pelo mundo, para vender a imagem de uma nova OLP, aberta ao diálogo e à
colaboração com o sionismo. É a expressão da inconseqüência política de uma
direção pequeno-burguesa, carente de um programa revolucionário que conduza as
massas palestinas à vitória, adotando a linha pendular entre o foquismo
inconsistente e o oportunismo capitulador frente aos genocidas sionistas.
Dando continuidade à sua
nova política, denominada agora de "compromisso", tomando emprestado
o termo do eurocomunismo italiano, ocorrem uma série de negociações secretas,
entre a OLP e Israel que culminam com a realização das conferências pela paz em
Madri e Washington, onde finalmente, Arafat e Rabin assinam o célebre
"acordo de paz" que normatiza a formação de uma "autoridade nacional
palestina" sobre uma pequena parte dos territórios ocupados em 67. A OLP,
já totalmente fracionada, passa a ser encarada por setores cada vez maiores do
povo palestino como a velha burguesia árabe com seus rompantes nacionalistas,
mas sempre disposta a um acordo podre com os sionistas, desde que seus
interesses sejam preservados.
A VERDADEIRA NATUREZA
DOS "ACORDOS DE PAZ"
A burguesia mundial e o
sionismo apressaram-se em apresentar os acordos entre Israel e a OLP como uma
demonstração cabal da nova ordem mundial, estabelecida com a queda do muro de
Berlim. Os sionistas jactam-se de abrirem mão de territórios como prova
irrefutável de sua disposição de conviver pacificamente com o povo
árabe-palestino. Já a OLP, considera a "declaração de princípios"
firmada em Washington um primeiro passo no sentido da constituição de um Estado
nacional. Mas o que realmente têm em comum o sioniosmo e a OLP, além da farta
verborragia demagógica espalhada pelo mundo, é o temor que a luta das massas
palestinas evolua à uma situação revolucionária, fugindo de seus respectivos
controles. Qual é então a verdadeira natureza dos acordos de paz e seu
significado para a luta de classes mundial?
Para Israel, trata-se
fundamentalmente de debelar dois problemas vitais que ameaçam destroçar seu
regime social, montado sobre o militarismo e a espoliação sobre o povo
palestino. Quais sejam, a profunda crise econômica que atravessa e a
necessidade de pôr fim a intifada que já dura quase seis anos sem interrupção.
O colapso da economia
israelense, evidenciado na incessante queda dos índices da bolsa de valores e
no profundo retrocesso de investimentos imperialistas em seu parque industrial,
é o produto da própria crise capitalista internacional, em particular, do
gigantesco déficit orçamentário norte-americano, gerando uma considerável
redução do afluxo de capitais. Construído com enormes subsídios estatais do
imperialismo ianque, o enclave de Israel não sobrevive sem esta
"ajuda" voltada para o armamentismo como elemento propulsor de sua
economia. Com a derrubada da URSS, os EUA iniciam um processo de aproximação
com as burguesias árabes. A instalação de uma poderosa base militar na Arábia
Saudita, durante a guerra do golfo e os acordos de cooperação militar, firmados
com a Síria e o Egito, causaram em Israel a expectativa de um corte, ainda
maior do que o já existente, nos subsídios e investimentos dos EUA em sua
economia voltada para guerra.
A celebração dos
"acordos de paz" por parte de Israel, significa a exigência para
"distensionar" a região, abrindo, desta forma, a possibilidade de
atrair investimentos de outros blocos imperialistas, como o Japão, por exemplo,
além de facilitar a penetração de produtos israelenses nas economias árabes,
até então obstruída por sanções destes, em razão da ocupação do exército
sionista dos territórios palestinos.
A continuidade da
Intifada que toma conta dos territórios ocupados, apesar dos enormes recursos
destinados à sua repressão pelas tropas sionistas, são por outro lado, um dos
motivos pelos quais Israel busca sua "paz". O fechamento sistemático
de suas fronteiras para a força de trabalho palestina, bem mais barata e apta
aos serviços mais pesados, em virtude das constantes sublevações palestinas,
além de inúmeras greves que abarcam unitariamente trabalhadores árabes e
palestinos residentes nas grandes cidades israelenses, já deram um prejuízo de
cerca de 80 bilhões de dólares só nos últimos 5 anos.
A oposição estabelecida
pelo Likud, ao contrário do que é divulgado pela grande imprensa, não diz
respeito ao conteúdo dos "acordos de paz". Pelo contrário, foram eles
mesmos que os iniciaram com Begin, mas somente nos seus ritmos e garantias que
devem ser dadas aos colonos judeus situados em plena linha de fogo da
"intifada".
Yasser Arafat e a OLP,
manejando a justa aspiração do povo palestino para conquistar sua pátria,
esforça-se em demonstrar que a instauração da ‘autoridade nacional palestina’
em algumas cidades da Cisjordânia e na faixa de Gaza é apenas a primeira etapa para
a construção de um Estado soberano palestino. Nada mais falso e enganoso. Na
verdade, a tentativa de estabelecer um regime colaboracionista em uma pequena
faixa dos territórios ocupados pelos sionistas (representa cerca de 2% do
território confiscado dos palestinos pela ONU em 47) corresponde a uma
estratégia dos setores dominantes do povo palestino, altos comerciantes e
banqueiros no exílio, atraídos pelas promessas de investimento capitalistas na
região, cerca de 2 bilhões de dólares só dos EUA. A direção majoritária da OLP,
apesar de alguns focos de oposição como a FPLP de Geoges Habache, acabou por
selar um acordo renunciando a retomada dos territórios ocupados e pondo fim a
todas as ações militares contra Israel, significando a traição histórica da luta
do povo palestino pela destruição do enclave terrorista de Israel. A direção da
OLP, ao transformar-se em polícia de seu próprio povo, coloca-se neste momento
no campo militar de Israel para reprimir a intifada e todas as organizações
políticas que continuam a lutar pela vitória definitiva das massas palestinas.
Os "acordos de
paz" estabeleceram a ‘devolução’ de 7 cidades na Cisjordânia e toda a
faixa de Gaza. A cidade de Hebron, em razão da presença de judeus, cerca de 500
em um total de 100.000 habitantes, ficará sobre o controle misto entre a OLP e
o exército sionista. A "autoridade nacional palestina" não terá
status de Estado, ficando proibida de estabelecer bases militares nos
territórios ‘desocupados’. O exército Israelense continuará estacionado e com
todo o domínio das zonas rurais que rodeiam as cidades, além do controle de
todos os acessos por terra e mar. A maior cidade árabe-palestina da região,
Jerusalém, permanecerá sob a ocupação absoluta de Israel.
Será mantida a proibição
de qualquer retorno de refugiados palestinos, espalhados por todo o Oriente
médio, que representam mais do dobro da atual população dos territórios
‘devolvidos’. Nas cidades sob o controle da OLP foi formada uma polícia
palestina, tendo unicamente permissão para portar equipamento militar de baixo
impacto, encarregada da repressão a "manifestações contrárias aos
interesses de Israel". Sob nenhuma hipótese esta polícia poderá deter
cidadãos israelenses. Em casos onde a polícia palestina não tenha condições de
deter as revoltas populares, o exército sionista tem total liberdade para a
intervenção. Os "acordos de paz" também não prevêem a libertação de
prisioneiros políticos acusados de terem cometido "crime de morte" a
qualquer cidadão israelense, como é o caso da brasileira Lâmia Maruf, condenada
à prisão perpétua nos cárceres sionistas.
Falar de
"autonomia" ou "autoridade" palestina é no mínimo uma
grotesca farsa reacionária. Nem o direito mais elementar, como o do acesso às
reservas hídricas, em uma região desértica, economicamente agrária, onde a
população palestina é até proibida de cavar poços de água para consumo
doméstico, foi permitido por Israel. O único rasgo cênico da "autoridade
palestina" é a instalação de um Conselho Nacional, uma espécie de parlamento
composto por 82 membros eleitos nas cidades sob o controle da OLP. Acontece que
Israel terá o direito de veto, sobre qualquer decisão aprovada pelo
‘parlamento’ que venha ferir seus interesses.
Neste marco, a atual
política do Estado sionista, batizada como "pacifista" é muito
semelhante a do Apartheid na África do Sul em plena década de 50, quando criou
os famosos "bantustões", territórios chamados de "livres",
entregues a tribos colaboracionistas para que dessem cabo das revoltas do povo
negro.
Com a completa
desmoralização política da OLP, que passou ao papel de "polícia
sionista" nos territórios ocupados, chegando a encarcerar vários ativistas
contrários aos acordos de paz, as organizações que reivindicam a destruição de
Israel e a continuidade da intifada conheceram um enorme crescimento em sua
influência política, principalmente as de caráter fundamentalista islâmico,
ligadas às burguesias árabes ainda beligerantes com Israel (Síria e Irã), como
o Hamas, Jihad e Hezbolah, surgindo como uma alternativa radicalizada à traição
histórica cometida pela OLP.
A estratégia do Hamas e
Jihad consiste em converter o caráter da intifada a ações espetaculares de
terrorismo contra alvos sionistas espalhados no mundo inteiro. Agindo desta
forma debilitam a sublevação das massas palestinas, isolando-as cada vez mais
dos métodos de mobilização permanente, como as greves e marchas populares.
Estas organizações apostam em obter a ruptura dos acordos entre a OLP e o
sionismo, não pela ação das próprias massas insurgentes, mas por meio do
fortalecimento parlamentar da ultra-direita israelense, o que significa
objetivamente colaborar com a preparação de um ataque ainda mais brutal e
violento contra o povo palestino nos moldes do perpetrado pelo Likud em Sabra e
Chatila.
Somente a construção do
partido revolucionário, seção da IV Internacional, poderá dirigir o
proletariado e as massas palestinas em uma luta conseqüente contra o enclave
sionista de Israel e as direções colaboracionistas como a OLP. Esta é a tarefa
fundamental de todos aqueles que se reclamam da gloriosa luta do povo
palestino, ao longo deste século. Deixar essa tarefa nas mãos de direções
teocráticas e simétricas ao sionismo na questão do racismo, como o Hamas e o
Jihad, significa cometer outra traição, da mesma envergadura da cometida pela
celebração do pacto OLP-sionismo.
A ESQUERDA TROTSKISTA E
A QUESTÃO PALESTINA
As principaís correntes
que reivindicam de alguma forma o legado da IV Internacional em sua grande
maioria tem oscilado, ora entre a capitulação ao nacionalismo árabe ora ao
sionismo judeu. Uma das primeiras resoluções da IV Internacional dirigida por
Michel Pablo, após a partilha da Palestina pela ONU, era marcada pela ausência
de consignas revolucionárias adotando a democracia burguesa como alternativa ao
regime sionista de Israel, ainda que denunciasse corretamente o confisco dos
palestinos promovido pelo imperialismo com apoio da URSS, colocada da seguinte
forma: "Abaixo a partilha da Palestina; Por uma Palestina árabe, unida e
independente, com plenos direitos para a minoria nacional judia; Fora do país
os ‘mediadores’ e ‘observadores’ da ONU; Pela eleição de uma Assembléia
constituinte com sufrágio universal e secreto; Pela revolução
agrária!"(Quarta Internacional, junho de 48). Era muito compreensível que
as burguesias nacionalistas árabes e organizações como a OLP se mantivessem no
marco de uma "Palestina laica e democrática" como forma de
contraporem-se, à sua maneira e segundo seus interesses de classe, ao enclave
do imperialismo no Oriente Médio. Mesmo postando-se incondicionalmente no campo
de luta do povo palestino oprimido pelo imperialismo em sua justa aspiração
nacional, ou seja, a conquista de uma pátria, os revolucionários
internacionalistas não podem abster-se de levantar em alto e bom som que a
forma mais conseqüente para lutar por uma pátria palestina passa por derrotar o
imperialismo em seu enclave com o método da revolução socialista, e pela
instauração de uma ditadura do proletariado na Palestina, abrindo a perspectiva
da formação de uma Federação Socialista das Repúblicas Soviéticas Árabes.
A ótica do pablismo, no
comando da IV Internacional, era de contrapor um regime democrático-burguês
palestino, portanto capitalista, ao Estado racista, militarista e também
capitalista de Israel, tentando passar a idéia da defesa de um programa
democrático, através da convocação de uma constituinte, como uma justa
reivindicação transitória. A "leitura" revisionista do Programa de
Transição dava seus primeiros sinais. Em maio de 1948, Israel declarava sua
primeira guerra de anexação ao território palestino, caberia aos
revolucionários impulsionar prioritariamente não bandeiras democráticas, o que
até poderia ser correto em outra situação, mas adotar um programa que
potenciasse o povo palestino, em plena guerra civil, de uma estratégia para a
tomada do poder, por meio de uma insurreição popular armada nas principaís
cidades de Israel, ainda naquele período habitadas majoritariamente por
trabalhadores palestinos e árabes. Foi a falta de uma estratégia e de um
partido revolucionário no seio das massas palestinas que, sob a liderança de um
antigo colaborador dos nazistas, Mufit de Jerusalém, Aminal-Hussein, ficaram
subordinadas a impotência das burguesias árabes diante da ofensiva militar de
Israel, levando à retumbante derrota de 1948. Quanto a menção da defesa de uma
"revolução agrária" em plena etapa de decomposição capitalista, só
pode ser concebida, no mínimo, como parte integrante da revolução socialista,
que para a IV "pablista" não estava, nem de longe, colocada naquela
região.
Os herdeiros mais
ligados ao espólio do pablismo, reunidos no Secretariado Unificado, ao longo de
sua existência, sempre trataram de legitimar a existência de Israel, sob os
jargões do pacifismo pequeno-burguês. No mais recente conflito militar da
região, a guerra do golfo, quando o Iraque era covardemente bombardeado pelo
imperialismo ianque, murmuram o slogan da "paz", igualando uma nação
oprimida ao agressor imperialista, justificando essa política criminosa em nome
do caráter autoritário do regime de Sadam Hussein no Iraque. Trotsky definiu
assim a posição dos revolucionários diante de uma guerra dessas
características: "Em uma guerra entre uma república democrática
imperialista civilizada e uma monarquia bárbara e atrasada de um país colonial,
os socialistas devem estar inteiramente do lado do país oprimido, apesar de ser
monárquico, e contra o país opressor, por mais democrático que seja" (León
Trotsky, História da Revolução Russa, tomo 2). A derrota do Iraque, apoiado pelo
povo palestino, significou um grande avanço da penetração imperialista em todo
o Oriente Médio. Para o SU, o mais importante segue sendo a
"democracia" e a "pacificação" de todos os conflitos do
Oriente Médio. Não é nenhuma surpresa que estejam na linha de frente do apoio
aos "acordos de paz" com o sionismo, convertendo-se na cauda política
da OLP.
Os morenistas, agrupados
na cambaleante LIT, caracterizam-se pelas enormes capitulações às direções
nacionalistas e pequeno-burguesas dos povos árabes, o que, aliás, não é um
privilégio de sua política somente para esta região. Para Nahuel Moreno, até as
manifestações racistas da burguesia árabe são progressivas, chegando, ele mesmo
a afirmar: "Hoje o racismo árabe é progressivo, destrói o Estado sionista"
(Correio Internacional, nº 28). Até é possível afirmar que o nacionalismo árabe
pode ser uma expressão "progressiva", ainda que muito limitadamente,
quando se enfrenta com o imperialismo ou seu enclave sionista de Israel. Esta
posição é completamente oposta a apoiar as expressões mais reacionárias das
velhas classes dominantes do Oriente Médio, ou seja, o racismo e o
fundamentalismo islâmico, que embotam a consciência das massas em luta,
impedindo a unidade dos trabalhadores judeus e palestinos, para enfraquecer,
desde o seu interior, o Estado de Israel.
A LIT assume, como seu,
o programa de fundação da OLP, defendendo que "o estabelecimento de um
Estado Palestino, laico, democrático, e não racista, poderá extirpar do Oriente
Médio, a opressão, destruição e a guerra" (Correio internacional, nº 52).
Uma coisa é nos colocarmos do mesmo lado militar da OLP (evidentemente, antes
de sua capitulação ao sionismo) ou de qualquer outra organização que lute
contra o enclave imperialista de Israel e, nesse sentido, os revolucionários
não impõem nenhuma condição, política ou programática para estarem deste lado
da barricada. O que não significa de nenhuma forma que devam rebaixar ou mesmo
anular seu programa em favor da plataforma democrático-burguesa das direções
nacionalistas ou pequeno-burguesas do povo palestino.
O capitalismo em sua
atual fase de decadência imperialista concentra em uma única etapa, uma série
de questões do seu desenvolvimento histórico. A resolução de uma pendência
nacional milenar, como no caso da palestina, esbarra com os estreitos limites
do capitalismo dependente na região. É tarefa dos revolucionários a
incorporação das reivindicações nacionais, não a um programa burguês, como faz
a LIT, e sim à dinâmica geral da revolução socialista. O Programa de Transição,
analisando a tarefa dos trotskistas nos países atrasados, define da seguinte
forma suas responsabilidades: "Os países coloniais e semi-coloniais são,
por sua própria natureza, países atrasados, mas esses países são parte de um
mundo dominado pelo imperialismo... Do mesmo modo são determinados os esforços
políticos do proletariado dos países atrasados: a luta pelas tarefas mais
elementares da independência nacional e da democracia burguesa é combinada com
a luta socialista contra o imperialismo mundial." (Programa de Transição -
Os países atrasados e o programa de reivindicações transitórias, León Trotsky)
A falência, comprovada
historicamente, do conjunto das variantes nacionalistas e pequeno-burguesas
(nasserismo, OLP), fizeram crescer enormemente movimentos anti-sionistas de
caráter fundamentalista islâmico, reafirmando mais do que nunca a necessidade em
construir um partido que aspire elevar-se à condição de direção revolucionária
das massas palestinas. A maturação de um programa que inscreva a defesa de uma
Palestina Soviética, baseada em conselhos de operários e camponeses palestinos
e judeus é a única forma de soldar a aliança dos trabalhadores por cima das
nacionalidades no marco de um regime socialista que elimine a propriedade
privada dos meios de produção.
A capitulação dos
morenistas ao programa democrático-burguês significa, em última instância, uma
traição ao próprio povo palestino, já que a realização de sua pátria, não virá
pelas mãos do capitalismo putrefato, incapaz de satisfazer as reivindicações
mais elementares dos povos oprimidos.
Sem a menor sombra de
dúvidas, foi o Altamirismo quem mais operou ziguezagues no que tange à questão
palestina e ao Estado de Israel. A finada TQI (Tendência Quarta
Internacionalista), uma composição sem princípios entre o Partido Obrero e o
POR de Guillermo Lora, chegou a estabelecer um pequeno núcleo de militantes no
Oriente Médio, chamado de Liga Operária Palestina, LOP. Durante este período,
adotaram posições muito próximas do morenismo, quando afirmavam: "a única
saída histórica viável é uma república democrática na Palestina baseada na
destruição do Estado sionista" (Causa Operária, nº 76).
A inconsistência
política da TQI, logo a fez explodir, arrastando a LOP para o desaparecimento
enquanto organização trotskista na Palestina. Altamira e seu Partido Obrero
começaram também a mudar de posições, enxergando o sionismo com outros olhos...
Com a ascensão dos
grupos islâmicos como direção política da chamada "causa palestina",
protagonizando atentados terroristas no mundo inteiro, e em particular alguns
na Argentina, o Partido Obrero vê que seu apoio à destruição do Estado de
Israel, poderia afetar suas tão sonhadas pretensões eleitorais (Altamira é
eterno candidato do PO seja qual for a eleição). Quando do brutal atentado à
AMIA (Associação de Ajuda Mútua aos Judeus) em Buenos Aires, o PO não só
compareceu, como também convocou, entusiasticamente, em conjunto com a
embaixada israelense e os sionistas portenhos, uma caminhada em apoio ao Estado
de Israel, exigindo por parte do governo Menem medidas repressivas enérgicas
contra os possíveis responsáveis pelo atentado, ou seja, ativistas vinculados
de alguma forma a organizações que lutam contra o enclave terrorista de Israel.
Longe de ser uma calúnia
ou um exagero de nossa parte é o próprio PO que reivindica sua atitude: "O
Partido Obrero foi a única corrente de esquerda que não só participou do ato
contra o atentado, mas também chamou a fazê-lo com antecipação....No dia 20,
garantimos a mobilização do nosso partido no ato, destacando a consigna: ‘a
autêntica solidariedade é fazer justiça’, por sua relação com a consigna
histórica ‘ justiça e castigo para todos os culpados" (Prensa Obrera, nº
424). Parece inacreditável, mas o PO e Altamira exigem que Menem "faça
justiça" e o criticam pela lentidão como age no caso. Seria possível
acreditar que alguém que se diga "revolucionário" pode confiar ao
Estado burguês e seus tribunais a tarefa de "fazer justiça" contra
organizações ou militantes que se utilizam do método equivocado do terrorismo,
como forma de luta política? Parece que Menem ouviu os reclamos do PO,
utilizando o atentado da AMIA para criar a Super-Secretaria de Segurança, um
organismo voltado à repressão do movimento operário e popular argentino.
A posição assumida pelo
Partido Obrero no caso AMIA, gerou o repúdio da vanguarda de esquerda na
Argentina, o que lhe obrigou a uma série de retificações teóricas em seu
arsenal programático. Segundo Altamira, o Estado sionista de Israel não seria
mais um enclave do imperialismo na região, passando agora à condição de
semicolônia oprimida, da mesma forma que os outros países do Oriente Médio. Em
polêmica com o MAS, vejamos qual é a afirmação do PO sobre o caráter do Estado
de Israel: "Que Israel é um Estado terrorista como afirma o MAS, no
Solidariedade Socialista nº 479, é uma afirmação justa, mas dentro de determinadas
condições." (Prensa Obrera, nº 426) para depois concluir: "O Estado
de Israel é uma nação artificialmente criada por um acordo internacional entre
o imperialismo norte-americano e a burocracia russa, que nasceu como uma
semi-colônia ianque....É também o caso do Líbano que até 1975 foi uma colônia
do imperialismo francês."(idem)
É o caso mais
espetacular de mudança de posição que se tem conhecimento no movimento
trotskista dos últimos 50 anos. Israel passa a ser considerada como uma
semicolônia do imperialismo ianque, igual ao Líbano ou outros países oprimidos.
Desta forma, o conflito palestino versus Estado sionista torna-se um conflito
de iguais. "Pena" que os palestinos não tenham recebido mais de 500
bilhões de dólares em ajuda financeira e militar do imperialismo ianque, sem
falar das armas nucleares estacionadas em território israelense apontadas para
as cabeças de todos os povos árabes. Quais seriam as "determinadas
condições" que o Estado de Israel, após exterminar mais de cem mil palestinos
e árabes em todas suas beligerâncias pela região, deixaria de ser terrorista?
Cabe ao próprio PO responder aos combatentes palestinos que impunham a
resistência heróica da intifada.
Existem ainda alguns
setores revolucionários e verdadeiramente internacionalistas do movimento
trotskista, que a partir de uma crítica correta aos "acordos de paz",
considerados como incapazes em "eliminar o massacre palestino", sacam
conclusões equivocadas diante do embate real entre o povo palestino e suas organizações
com o enclave terrorista a serviço do imperialismo ianque. Acreditam que
"apoiar a substituição do Estado de Israel por um Estado burguês palestino
é equivalente à idéia de atirar judeus ao mar". Se dermos conseqüência a
afirmações desse tipo, concluiremos que a posição que o proletariado deveria
tomar diante de todas as guerras sionistas contra os povos árabes, assim como
da intifada dirigida hoje majoritariamente por organizações fundamentalistas
islâmicas, seria a posição do derrotismo, ou seja, a derrota de ambos os lados
em todos esses conflitos. Embora defendam a "necessidade de destruir o
Estado racista de Israel não "enxergam" de que ponto concreto
poderemos aplastar o Estado de Israel. Se é bem verdade que as burguesias e
monarquias árabes já mostraram-se completamente impotentes, do ponto de vista
político e militar para derrotar Israel, de modo algum significa que entre o
enfrentamento de uma nação oprimida e outra montada como máquina de guerra do
imperialismo na região podemos assumir a neutralidade ou o derrotismo. A
intifada, hoje, é a ponta de lança para o povo palestino derrotar o sionismo.
Renunciar nosso lado nessa trincheira, em nome do caráter reacionário do Hamas
ou do Jihad é colocar-se objetivamente, independentemente das proclamações
contra Israel, de malas e bagagens no campo militar do sionismo e seu regime
assassino. O apoio dos revolucionários à legítima reivindicação da pátria
palestina, que só poderá realizar-se plenamente sobre os escombros de Israel, é
incondicional e independente da sua direção política, por mais reacionária e
teocrática que esta seja.
Ficando à margem da luta
concreta do povo palestino, idealizando a "pureza" de uma revolução,
sem mediações táticas como a formação de frentes únicas de ação como fez Lênin
para aplastar Kornilov e a partir de abstrações como "Estado operário do
Oriente Médio", sem nenhuma referência à luta da nacionalidade oprimida, o
partido revolucionário jamais poderá credenciar-se como uma verdadeira direção
de massas que se reserva o direito de lutar com métodos próprios da classe
operária (greves, insurreições), mas a partir do mesmo campo militar da guerra
contra o gendarme imperialista de Israel.
A vitória do povo
palestino, mesmo na hipótese de uma direção burguesa, sobre Israel,
significaria um enorme impulso em todas as lutas proletárias do planeta contra
o imperialismo e, em particular, a ante-sala da revolução socialista no próprio
Oriente Médio.
POR UMA PALESTINA
SOVIÉTICA BASEADA EM CONSELHOS DE OPERÁRIOS E CAMPONESES PALESTINOS E JUDEUS
A "devolução"
de algumas cidades nos territórios ocupados pelo exército israelense para as
mãos da OLP, a converteu definitivamente em agência policial sionista do seu
próprio povo. Já são freqüentes os enfrentamentos entre a OLP e os ativistas da
intifada, resultando no encarceramento de várias lideranças do Hamas e Jirad. A
completa falência política da estratégia pequeno-burguesa da OLP evidencia
enormemente a necessidade da construção imediata de um partido operário
revolucionário no seio das massas palestinas, cuja primeira tarefa passa por
uma profunda delimitação programática com todas as variantes nacionalistas,
pequeno-burguesas e teocráticas.
A questão determinante
no atual momento, é saber qual será o destino da intifada, ou seja, como
transformá-la em um ponto de apoio na derrota do gendarme imperialista de
Israel, o que passa obrigatoriamente por sua capacidade em galvanizar um amplo
movimento de massas, combinando greves operárias, marchas populares, ações
militares, tendo como objetivo a sublevação das grandes cidades árabes e
israelenses e a conquista do poder.
Para que isto torne-se
uma possibilidade real, dois elementos são chaves. O primeiro, a saber, é a
edificação da unidade entre os trabalhadores palestinos dos territórios
ocupados com os trabalhadores árabes, palestinos e judeus das grandes
metrópoles israelenses como Jerusalém, Haifa e Tel Aviv. Os operários judeus
mais pauperizado são, na sua grande maioria, de origem sefaradim (árabes),
pouco integrados ao regime econômico sionista, ao contrário da aristocracia
arquenazim (judeus de origem européia) ou os colonos nazi-sionistas dos
assentamentos agrícolas. Esta unidade deve ser construída sob a base de
organizações operárias comuns, opostas pelo vértice à estrutura sindical
oficial, dominada pela burocracia do partido trabalhista. Sem a efetiva aliança
entre o proletariado árabe, palestino e judeu, tendo como eixo comum, a
demolição do regime capitalista e racista de Israel, a intifada pode estar
definitivamente condenada a ações isoladas, ainda que de brava resistência, mas
que nunca apontarão suas armas no coração do monstro.
O segundo elemento, diz
respeito à denúncia política sistemática das direções fundamentalistas
islâmicas ou frente-populistas guerrilheiras (FPLP), que hoje dirigem a
intifada, em função da capitulação histórica da OLP. Estes grupos, cada vez
mais isolados das ações de massas, compreendem a luta contra Israel única e
exclusivamente do ponto de vista de ações militares, servindo de barganha para
as burguesias árabes (Síria, Irã, Iraque) negociarem em melhores condições
acordos territoriais com o Estado de Israel, o que coloca a possibilidade de a
qualquer momento também aceitarem algum acordo podre como fez a OLP. Seu
objetivo em proclamar uma república fundamentalista da Palestina, é
completamente reacionário do ponto de vista dos interesses históricos do
proletariado, o socialismo, debilitando profundamente a unidade dos
trabalhadores de todo o Oriente Médio, independentemente da raça ou credo
religioso. Vale enfatizar, porém, que apesar da necessidade do estabelecimento
de uma vigorosa delimitação com estas organizações, os revolucionários as
combatem a partir do ângulo da inutilidade de suas ações para a revolução
proletária, e nunca ao lado do Estado sionista, nem tampouco do imperialismo
mundial. Condenamos energicamente a repressão descarregada por qualquer Estado
burguês, seja os EUA ou Argentina, sobre os ativistas destas organizações, mais
ainda, entre os constantes enfrentamentos do enclave sionista e o Hamas,
estamos no campo militar deste último, subordinados à disciplina do nosso
próprio programa e estratégia.
As ilusões que poderiam
ser despertadas com a farsa dos acordos de paz, sobre os setores da população
mais castigados e céticos por longos anos de sofrimento, se desfizeram antes
mesmo de alcançarem alguma envergadura. A humilhação permanente dos sionistas
sobre a malfadada "autoridade nacional palestina" tem contribuído em
muito para isso. A tensão revolucionária que permeia a Palestina ocupada não
conseguiu ser quebrada nem pela violenta reação militar, tampouco pelo pacto
OLP-sionismo. Está aberta toda uma etapa, marcada pela resistência e grandes
lutas que rapidamente porão abaixo o acordo traidor, colocando como centro a
conquista de um verdadeiro Estado nacional.
A única alternativa que
poderá dar uma resolução cabal à legítima reivindicação nacional do povo
palestino, assim como livrar as massas e trabalhadores da região de seus
gigantescos sofrimentos ao longo de vários séculos, é a defesa de uma Palestina
Soviética baseada em conselhos de operários e camponeses palestinos e judeus. A
expropriação do grande capital sionista, alimentado em décadas pelo
imperialismo ianque, impossível de ser conquistada sem a destruição do Estado
de Israel, garantirá a reconstrução da Palestina sob novas bases, trazendo para
seu povo o progresso e a paz tão almejada durante mais de 50 anos de guerra de
rapinagem imperialista na região.
O fracasso completo do
chamado pan-arabismo claudicante em relação a Israel, revelou a impossibilidade
em selar a unidade dos povos orientais sob a batuta do nacionalismo e do
capitalismo tardio, dependente do imperialismo mundial. O máximo aonde as
burguesias árabes chegaram foi na formação de um cartel petrolífero, a OPEP,
preocupada em cuidar de seus próprios interesses às costas das necessidades mais
elementares das massas exploradas. A verdadeira unidade de todos os povos
milenares que habitam esta região, só será possível no marco de uma Federação
Soviética das Repúblicas Socialistas Árabes. Cabe ao partido mundial da
revolução proletária, a IV Internacional, conduzir essa tarefa até a vitória
final.