Eleições presidenciais: Há
quarenta anos do sangrento golpe o Chile está muito distante do caminho “socialista
e popular”
Hoje (17/11) o Chile
realiza suas eleições presidenciais, onde muito provavelmente elegerá a
favorita Michelle Bachelet já no primeiro turno. A ex-presidenta Bachelet, militante
do Partido Socialista, integra uma ampla coalizão política denominada “Nova
Maioria”, ainda mais abrangente que a antiga “Concertação Democrática”
(incluindo desta vez o Partido Comunista) que praticamente foi vitoriosa em
todas as eleições gerais desde a saída de cena do chacal Pinochet em 1990. A
exceção fica por conta do atual presidente Sebastian Piñera, herdeiro político
do regime militar, eleito no final de 2009 finaliza seu governo direitista
completamente desgastado e sem chances de “emplacar” um sucessor com o mesmo
perfil ideológico. Bachelet enfrenta como principal adversária Evelyn Mattei,
ex-ministra do trabalho de Piñera, escolhida candidata governista após a
desistência consecutiva de dois nomes do fascista “Partido Renovação Nacional”
e da “UDI”. Além de Bachelet e Matthei, outros sete candidatos disputam a
presidência, quantidade inédita na recente história eleitoral chilena. Os 120
assentos da Câmara dos Deputados serão renovados nesta eleição, assim como 20
dos 38 postos do Senado. Mas o fato mais relevante desta “morna” eleição de
cartas marcadas, onde pela primeira vez o voto não será obrigatório, é a
paternidade de ambas candidatas, filhas de militares que se perfilaram em
campos opostos durante o sangrento golpe militar de 1973.
As duas postulantes majoritárias ao Palácio de La Moneda passaram parte da infância juntas, em um condomínio para membros da Força Aérea no norte do país. Seus pais, oficiais de alta patente, eram grandes amigos, até que a ditadura pinochetista os colocou em lados opostos: Alberto Bachelet foi preso, torturado e morto, enquanto Fernando Matthei se aliou à junta militar de Pinochet. Mas Michelle prefere contemporizar os bárbaros crimes da ditadura, traindo a memória não somente de seu próprio pai e do presidente deposto Salvador Allende, como também de todos os milhares de militantes da esquerda que tombaram na heroica luta contra o fascismo no Chile. Em agosto de 2012, a mãe de Bachelet chegou a afirmar que o general Matthei: “sempre foi um amigo nosso, eu o estimo muito e tenho certeza de que ele não estava na Academia de Guerra na época em que meu marido esteve lá.”
Nestas eleições a
candidata da “Nova Maioria”, reproduz de forma ainda mais neoliberal o programa
dos quase vinte anos de governo da “Concertação Democrática”, prometendo um
alinhamento econômico preferencial com o bloco comercial liderado pelos EUA.
Não é de se estranhar que renegue politicamente a história da própria Unidade
Popular que pretendia chegar ao socialismo no Chile pela “via pacífica”. O
fracasso político da “experiência reformista” do Partido Socialista custou a
vida de milhares de combatentes, desarmados bélica e programaticamente diante
da ofensiva mortal dos militares gorilas orientados pelo imperialismo ianque.
O retorno de Bachelet,
que deixou a presidência com índice recorde de cerca de 80% de aprovação, mas
que não pôde concorrer à reeleição devido ao impedimento dentro da constituição
chilena, realinharia o Chile, politicamente, com os demais países sul-americanos
governados pela centro-esquerda burguesa. As exceções ficariam a cargo da Colômbia,
governada pelo facínora Juan Manuel Santos, que é apoiado pelo Partido
Conservador e o Paraguai que realizou eleições recentemente, com a vitória do
corrupto Horácio Cartes, do Partido Colorado ligado às oligarquias mais
reacionárias do país. No bojo da hegemonia estatal de partidos sociais
democratas, nacionalistas burgueses e reformistas o Cone Sul vem aumentando
seus índices de concentração de renda e exclusão social, mas gerando uma nova
elite econômica comprometida com a estabilidade política e a colaboração de
classes (cooptação das direções operarias). Neste “clube” neoliberal os
herdeiros políticos dos genocidas fascistas não são bem-vindos, embora não se
estabeleça nenhuma ameaça aos golpistas ainda vivos (sequer do ponto de vista
historiográfico) ou aos seus “filhotes” em plena atividade. Desgraçadamente
este parece ser o caso atual do Chile, que apesar da retórica populista de
Bachelet segue firme no mesmo caminho da impunidade.