domingo, 17 de novembro de 2013


Eleições presidenciais: Há quarenta anos do sangrento golpe o Chile está muito distante do caminho “socialista e popular”

Hoje (17/11) o Chile realiza suas eleições presidenciais, onde muito provavelmente elegerá a favorita Michelle Bachelet já no primeiro turno. A ex-presidenta Bachelet, militante do Partido Socialista, integra uma ampla coalizão política denominada “Nova Maioria”, ainda mais abrangente que a antiga “Concertação Democrática” (incluindo desta vez o Partido Comunista) que praticamente foi vitoriosa em todas as eleições gerais desde a saída de cena do chacal Pinochet em 1990. A exceção fica por conta do atual presidente Sebastian Piñera, herdeiro político do regime militar, eleito no final de 2009 finaliza seu governo direitista completamente desgastado e sem chances de “emplacar” um sucessor com o mesmo perfil ideológico. Bachelet enfrenta como principal adversária Evelyn Mattei, ex-ministra do trabalho de Piñera, escolhida candidata governista após a desistência consecutiva de dois nomes do fascista “Partido Renovação Nacional” e da “UDI”. Além de Bachelet e Matthei, outros sete candidatos disputam a presidência, quantidade inédita na recente história eleitoral chilena. Os 120 assentos da Câmara dos Deputados serão renovados nesta eleição, assim como 20 dos 38 postos do Senado. Mas o fato mais relevante desta “morna” eleição de cartas marcadas, onde pela primeira vez o voto não será obrigatório, é a paternidade de ambas candidatas, filhas de militares que se perfilaram em campos opostos durante o sangrento golpe militar de 1973.

As duas postulantes majoritárias ao Palácio de La Moneda passaram parte da infância juntas, em um condomínio para membros da Força Aérea no norte do país. Seus pais, oficiais de alta patente, eram grandes amigos, até que a ditadura pinochetista os colocou em lados opostos: Alberto Bachelet foi preso, torturado e morto, enquanto Fernando Matthei se aliou à junta militar de Pinochet. Mas Michelle prefere contemporizar os bárbaros crimes da ditadura, traindo a memória não somente de seu próprio pai e do presidente deposto Salvador Allende, como também de todos os milhares de militantes da esquerda que tombaram na heroica luta contra o fascismo no Chile. Em agosto de 2012, a mãe de Bachelet chegou a afirmar que o general Matthei: “sempre foi um amigo nosso, eu o estimo muito e tenho certeza de que ele não estava na Academia de Guerra na época em que meu marido esteve lá.”

Nestas eleições a candidata da “Nova Maioria”, reproduz de forma ainda mais neoliberal o programa dos quase vinte anos de governo da “Concertação Democrática”, prometendo um alinhamento econômico preferencial com o bloco comercial liderado pelos EUA. Não é de se estranhar que renegue politicamente a história da própria Unidade Popular que pretendia chegar ao socialismo no Chile pela “via pacífica”. O fracasso político da “experiência reformista” do Partido Socialista custou a vida de milhares de combatentes, desarmados bélica e programaticamente diante da ofensiva mortal dos militares gorilas orientados pelo imperialismo ianque.

O retorno de Bachelet, que deixou a presidência com índice recorde de cerca de 80% de aprovação, mas que não pôde concorrer à reeleição devido ao impedimento dentro da constituição chilena, realinharia o Chile, politicamente, com os demais países sul-americanos governados pela centro-esquerda burguesa. As exceções ficariam a cargo da Colômbia, governada pelo facínora Juan Manuel Santos, que é apoiado pelo Partido Conservador e o Paraguai que realizou eleições recentemente, com a vitória do corrupto Horácio Cartes, do Partido Colorado ligado às oligarquias mais reacionárias do país. No bojo da hegemonia estatal de partidos sociais democratas, nacionalistas burgueses e reformistas o Cone Sul vem aumentando seus índices de concentração de renda e exclusão social, mas gerando uma nova elite econômica comprometida com a estabilidade política e a colaboração de classes (cooptação das direções operarias). Neste “clube” neoliberal os herdeiros políticos dos genocidas fascistas não são bem-vindos, embora não se estabeleça nenhuma ameaça aos golpistas ainda vivos (sequer do ponto de vista historiográfico) ou aos seus “filhotes” em plena atividade. Desgraçadamente este parece ser o caso atual do Chile, que apesar da retórica populista de Bachelet segue firme no mesmo caminho da impunidade.