O “silêncio” de Lula e
Dilma frente à prisão dos “mensaleiros” do PT
Diante da prisão de
Genoino, Dirceu e Delúbio a mando do presidente do STF Joaquim Barbosa com o
voto da maioria dos ministros (muitos deles indicados por Lula e Dilma)
“ouviu-se” muitas críticas sobre o “silêncio” da gerentona petista no Palácio
do Planalto. Blogueiros “chapa branca” como Paulo Henrique Amorim (PHA)
chegaram a reclamar da “solidariedade silenciosa” de Dilma, afirmando que “a
militância do Partido está ‘inquieta’ e ‘revoltada’ com a omissão do Governo
Dilma diante do que se passa com Genoino, Dirceu e Delúbio”. A inação da
Presidente da República se tornou escancarada quando no ato político do PCdoB,
realizado em pleno 15 de novembro, um dia após a decretação da prisão pelo STF,
Dilma manteve-se calada sobre o tema, mesmo quando instigada pela fala de
Renato Rabelo. Apesar das críticas, a postura de Dilma é absolutamente coerente
com a conduta adotada por ela durante todo o julgamento do “mensalão”, ou seja,
desmoralizar o núcleo histórico do PT (Dirceu e Cia.) acusado de corrupção na Ação
Penal 470 para garantir sua indicação à reeleição presidencial pelo partido,
estratégia que foi vitoriosa quando Lula nas comemorações dos 33 anos do PT
afirmou oficialmente que a “gerentona” seria a candidata em 2014,
desautorizando o chamado movimento “volta Lula”. O que poucos falam, porém, é
que o “silêncio” da presidente foi uma ação coordenada por Lula e Rui Falcão e
não um ato isolado de Dilma. O próprio Lula, após sair de uma reunião com Dilma
e quando questionado sobre a prisão de Dirceu declarou: “Eu acho que quem tem
que discordar ou não são os advogados, que juridicamente tem que saber o que
pode fazer ou não. Como eu posso ter uma opinião sobre o julgamento da Suprema
Corte, gente? Não tem sentido” (G1, 14/11). A afirmação retumbante foi feita na
saída do Planalto da Alvorada, residência oficial de Dilma. No carro, com Lula
estava o presidente do PT, Rui Falcão e o diretor-presidente do Instituto Lula,
Paulo Okamotto. Mais claro impossível!
A determinação de Dilma em levar até as últimas consequências o linchamento público da direção petista, teve como ponto limite a isenção da figura de Lula em todo o processo judicial do “Mensalão”. Lula só não irá acompanhar Dirceu, Delúbio e Genoino no cárcere em função de sua enorme representatividade social, mas certamente não ocupará mais nenhuma função executiva no staff da burguesia nacional. A “revelação” de um esquema de corrupção estatal que deixa de fora o principal “gestor” do “Mensalão”, já demonstra o caráter completamente fraudulento deste processo. A tentativa do ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, de incluir a participação dirigente de Lula no esquema de compra da base parlamentar “aliada” foi rechaçada unanimemente pela burguesia e seus organismos de difusão. Lula deveria ser preservado, como foi de fato em 2006, ao contrário das figuras emblemáticas que simbolizavam o controle do aparelho petista. Partindo deste patamar de “acordo”, o governo Dilma liberou as hienas raivosas da mídia “murdochiana” para exorcizarem os fantasmas de um passado recente do país da emergência social. O resultado veio agora com a prisão de Dirceu, Genoino e Delúbio. Caberia a Dilma e a Lula falarem alguma coisa? Alguns setores petistas e seus apoiadores teimam que sim. Ainda segundo PHA, “A pressão debaixo para cima no PT se tornou, neste momento, muito forte e é possível que a liderança seja obrigada a atender à demanda da base e soltar um documento duro, que denuncie as arbitrariedades de Joaquim Barbosa. Diz a fonte: ‘a situação na militância é de comoção com o que fizeram com o Genoino’. E o PT vai pressionar o Lula para defender o Genoino?, perguntou o ansioso blogueiro. A fonte preferiu calar-se”. No mesmo sentido, vai a carta intitulada “A prisão de Dirceu e as esquerdas” publicada no blog Viomundo e assinada por militantes como Takao Amano, ex-Militante da ALN, Artur Scavone, ex-Militante da ALN e membro do PT/SP e Lincoln Secco, Professor da FFLCH-USP. Lá se pode ler que “A maioria dos atuais líderes petistas teme defender aquele que viabilizou as práticas que garantem ainda hoje suas posições adquiridas. Que agora se escondam covardemente diante da sua casuística condenação é inaceitável. Abandonar Zé Dirceu é trair o seu próprio partido. Conclamamos a direção do PT e suas figuras históricas como Lula e Dilma Rousseff à defesa pública de todos os companheiros petistas que acabam de sofrer uma injusta condenação. É inadmissível que sejam presos políticos de uma democracia que eles arduamente ajudaram a construir. Exigimos que o presidente eleito Rui Falcão se pronuncie de maneira clara e inequívoca contra o atual estado de exceção que se instala neste momento. Não bastam notas de solidariedade da Executiva Nacional sem uma ampla campanha pela libertação dos companheiros presos. A prisão de Zé Dirceu, José Genoino e demais lutadores sociais é apenas o início de uma perseguição a toda a esquerda”.
Desde a LBI concordamos
com o último trecho da carta. O julgamento “espetaculoso” do “mensalão” contra
o PT foi montado sob encomenda pela mídia “murdochiana” como parte desta
ofensiva da burguesia, nada tem a ver com nenhuma inflexão “moralizadora” do
regime vigente. Disseminar a ilusão de que o STF está “abrindo uma nova página
na história”, ao condenar dirigentes corruptos de um partido governante, como
fazem os canalhas do PSTU, significa colaborar com um ataque aos mais
elementares direitos democráticos da classe operária, que em um futuro breve se
voltará contra o conjunto das lideranças da esquerda classista. Para nós, é uma
verdade insofismável que a direção histórica do PT enveredou pela senda da
completa degeneração programática e moral, estabelecendo acordos com a
burguesia para assaltar o botim estatal, através de generosas comissões
recebidas em cada transação comercial estabelecida entre o estado nacional e os
grandes grupos econômicos privados, questão fulcral que, aliás, passou bem
longe dos olhares “éticos” dos ministros togados do STF ou mesmo pela sórdida
mídia “murdochiana”. Mas, para os marxistas revolucionários a corrupção material
dos “gestores” (gerentes) reformistas a frente da administração do Estado
burguês não se trata de um “desvio ético”, a integração da esquerda reformista
ao modo de produção capitalista e seu Estado (gerando corrupção) é uma regra
histórica e deve ser respondida na arena da luta de classes e não em qualquer
instância jurídica do estado burguês. A
corrupção no regime capitalista não é um fenômeno conjuntural, faz parte de sua
estrutura de acumulação de valor e só poderá ser eliminada definitivamente pela
via da revolução proletária e a consequente demolição radical de todas as
instituições do Estado burguês. O contraponto que os comunistas estabelecem
para a corrupção estatal generalizada não é da formação de “tribunais e
julgamentos espetaculosos” como forma de educação das massas, mas sim a defesa
da estatização dos meios de produção (para acabar com a farra da parceria
“público-privada”) e o planejamento soviético da nova economia socialista. A
defesa desta plataforma propagandista (revolucionária) passou muito longe das
“brilhantes” mentes da esquerda revisionista, que se dividiu entre a vergonhosa
defesa da ofensiva reacionária do STF e a pudica reivindicação de um “tribunal
popular” para julgar a quadrilha de Dirceu e Cia.
A postura de prostração e
covardia política do PT, que joga na “fogueira” seus dirigentes para tentar
salvar o restante do cacife eleitoral de Lula, nos impede de estabelecer
qualquer iniciativa de unidade de ação contra a farsa reacionária do julgamento
do chamado “Mensalão”. O PT é ao mesmo tempo vítima e cúmplice desta ofensiva
burguesa da qual se mostra impotente. Também não se trata de defender a “honra”
de Dirceu, Delúbio e Genoino responsáveis, junto a Lula, pela decomposição
moral e ideológica do PT ao realizarem os acordos e negociatas mais sórdidas,
para um partido que se diz representar os trabalhadores. É óbvio que não está
em discussão “anistiar” as falcatruas políticas e materiais da tendência
Articulação na condução hegemônica do PT. Seria até cômico agora tentar esconder
(como tentam fazer os “pilantroskos” da corrente “O Trabalho”) a degeneração
ideológica de figuras como Dirceu, Lula e o restante da cúpula petista, mas
outra questão bem distinta é legitimar a “onda” fascistizante, sob a roupagem
da “ética” de uma corte que avalizou toda a “privataria” do Estado, ameaçando
as liberdades políticas de organização do conjunto do movimento de massas.
Longe de “defender o PT
das origens”, a tarefa colocada para os setores mais conscientes do ativismo
brasileiro neste exato momento é declarar que são os trabalhadores os únicos
que podem fazer o “ajuste de contas” com os burocratas vendidos da
“Articulação” no PT e na CUT e não o arquirreacionário STF ou a PF. Para tanto,
é necessário construir um partido operário revolucionário para superar o PT e a
frente popular, postando-se como uma alternativa revolucionária também a
corrompida “oposição de esquerda” encabeçada pelo PSOL-PSTU, que deseja ver
Lula, Dirceu e Cia. atrás das grades para tirar daí algum dividendo eleitoral,
quando na verdade tal ato não faz mais do que reforçar as tendências
fascistizantes do regime burguês contra os trabalhadores e suas conquistas
democráticas e sociais. A tarefa que se impõe no momento é da organização de
uma ampla campanha de massas pela liberdade de todos os presos políticos deste
regime burguês, unificando socialmente tanto a base petista, revoltada com a
traição de seus dirigentes, como os novos ativistas forjados na luta das “Jornadas
de Junho”.