Disputa de “cartas
marcadas” no PED prepara PT para um giro mais à direita do governo neoliberal
da “gerentona” Dilma
Em meio a denúncias de
compra de votos, filiações em massa, pagamento coletivo de contribuições, o PT
realizará no próximo dia 10 de novembro o chamado PED (Processo de Eleição
Direta) para as escolhas de suas direções municipais, estaduais e do diretório nacional
em todo o país. Seis Candidatos estão inscritos para participar do PED: Rui
Falcão, do chamado Campo Majoritário (CNB), antiga Articulação, Paulo Teixeira,
ligado ao agrupamento Mensagem ao Partido, apoiado pela DS, Renato Simões,
porta-voz de uma série de grupos de centro dentro do PT que se articulam em
torno do amálgama Militância Socialista, Valter Pomar, da Articulação de
Esquerda, Markus Sokol (O Trabalho) e Serge Goulart representando a Esquerda
Marxista. Também estão inscritas oito chapas para o Diretório Nacional em uma
prova das barganhas internas na direção. O próprio PED é a expressão que o PT
rompeu há tempos com qualquer estrutura militante e a substitui por um partido
de filiados (900 mil) que são controlados no processo de disputa interna pelos
diversos grupos de parlamentares e gestores burgueses, sendo a moeda de troca
os cargos nos governos petistas e aliados da frente popular. O alinhamento
entre as diversas correntes políticas, divididas entre sua ala direita, o “centro”
e a chamada esquerda petista não se move por diferenças programáticas
estratégicas, mas em função das alianças que as camarilhas que o controlam
fazem ou deixam de fazer para garantir o controle de prefeituras, governos
estaduais, postos parlamentares e cargos de confiança. Não poderia ser
diferente, o PT hoje é o principal pilar de sustentação do regime político
burguês, tanto que controla o governo federal e, em aliança com as oligarquias
mais reacionárias, mantém sua estabilidade capitalista. A atual estrutura burguesa
do PT é financiada tanto pelo Fundo Partidário (o partido recebeu no ano
passado o total de aproximadamente R$ 53 milhões) como por “contribuições” das grandes
empresas e bancos que patrocinam seus candidatos de todas as alas do partido
aos cargos eletivos. O PED é uma reprodução menor deste balcão de negócios
próprio do circo eleitoral.
Apesar de seis candidatos a presidente nacional, a eleição já está decidida: Rui Falcão será reeleito para levar adiante a política de alianças burguesas do partido, em especial com o PMDB, como garantia da reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Sua candidatura agrupa as “correntes” CNB, PTLM, MPT, EPS, Socialismo XXI, Contraponto, Tribo e Novo Rumo, sendo o núcleo fundamental de apoio ao governo federal. É o agrupamento de Lula, Dilma e todos os principais dirigentes do PT. A anturragem dilmista conseguiu inclusive excluir da chapa do próximo diretório nacional, nomes de petistas históricos como o de José Dirceu, foi sem duvida alguma uma demonstração de força e um aviso para o movimento “volta Lula” em uma prova de que o PT seguirá inexoravelmente com Dilma e na tentativa inútil de agradar o “mercado” o governo da Frente Popular aprofundará ainda mais seu curso neoliberal, promovendo ataques às conquistas da classe operária. O “debate” entre os candidatos e as chapas se resume aos “limites” desta aliança, mas nenhuma corrente, inclusive as que representam sua ala “esquerda” como “O Trabalho”, se opõe a elas por princípio. Marcus Sokol, em debate entre os presidenciáveis, chegou a defender a aliança com “setores do PSB e PDT” declarando: “Sim, as alianças são necessárias para governar, mas com partidos como o PCdoB e setores populares de partidos como PDT e PSB, comprometidos com os interesses da maioria oprimida”, como se estas legendas não representassem setores da burguesia e tivesse algum caráter progressivo. Já a DS, em crise em nível nacional desde a derrota na prefeitura de Fortaleza, apoia oficialmente a candidatura de Paulo Teixeira, ligado ao Ministro da Justiça Eduardo Cardoso, o mesmo que vem articulando com Alckmin e Cabral com o objetivo de recrudescer a ofensiva contra os protestos populares. Seu eixo na disputa é cinicamente “qualificar as alianças com o PMDB e demais partidos”, tanto que onde tempo peso, como no Ceará, defende candidato próprio como parte da negociação para apoiar a candidatura de Eunício Oliveira (PMDB). Já a Esquerda Marxista, de Serge Goulart, tem se demonstrado a mais exímia defensora da democracia burguesa, desatando uma campanha reacionária contra os “Black Bloc” que consideram estarem a serviço de um “golpe fascista”... contra o governo do PT!
Valter Pomar e Renato
Simões representam a cínica política de fazer críticas pontuais ao Campo
Majoritário (CNB) sendo defensores da piada de apresentar o PT como partido
estratégico para o socialismo. Segundo a Articulação de esquerda “...o em si
positivo crescimento institucional foi acompanhado da domesticação do Partido,
com a adesão de crescentes setores do petismo à norteamericanização da política
(dinheiro, mídia, marketing eleitoral) por isso devemos defender e reafirmar
nosso passado e os êxitos de nossos governos, defender nossa ação presente, mas
reconhecendo as contradições, equívocos e debilidades”. Sobre as alianças, só
diz que existem “alianças intragáveis”, mas Valter Pomar tem explicado nos
debates que no 1º turno devem ser feitas alianças de cunho
“democrático-popular” com PCdoB, PSB, PDT, etc., e no 2º turno pode reeditar a
aliança com o PMDB e outros. Como se o PSB e o PDT não fossem partidos do capital.
Já segundo Renato Simões “É necessário reconhecer as conquistas do lulismo no
campo econômico e social: combate à pobreza; redução da desigualdade;
valorização do mercado de trabalho e do salário mínimo; ampliação da rede
pública federal de educação; e constituição de um amplo mercado de consumo de
massas”, obviamente sem nenhuma uma palavra sobre as privatizações neoliberais
ou a Reforma da Previdência.
Após 10 anos da gestão
da frente popular e em meio ao PED que vai eleger a direção nacional do PT é necessário
compreender que a completa integração do partido ao regime burguês, com a
expulsão na década de 90 da Convergência Socialista e da Causa Operária, para
pavimentar sua direitização, agora dá um novo passo. A direção nacional petista,
depois do silêncio covarde de Lula após a condenação de Dirceu pelo STF, não
deseja de forma alguma se indispor com a “gerentona” Dilma. Esta já demonstrou
que deseja ver Dirceu e o núcleo histórico do PT sem nenhuma influência em seu
governo e mantém uma relação de “paz e amor” com a mídia murdochiana. Lembremos
que em um ato em defesa do PT realizado no final de 2012 Dirceu declarou: “Como
foram derrotados no campo político e social, e também no campo eleitoral, eles
criaram outro campo, o da judicialização da política, com a instrumentalização
da mídia” no que foi complementado por Marcos Sokol, dirigente de OT: “Os
setores que se identificam com o PT têm que mostrar a cara. Depois do PT, irão
contra a CUT e os movimentos sociais”. O que Dirceu e Sokol encobrem em suas
falas é que a ofensiva contra os dirigentes históricos do PT, sem dúvidas
envolvidos em negociatas e favores durante o governo Lula, porém, obviamente,
não condenados em função disso, fato corriqueiro na república burguesa, só
foram defenestrados porque o STF (que tem a maioria de juízes indicados nas
três gestões da frente popular) está levando adiante a tarefa de “limpar” o
partido do núcleo ligado a Lula por encomenda de Dilma, justamente para impedir
que o ex-metalúrgico pudesse ser candidato a presidente em 2014 como era seu
plano original via mandato “tampão” da ex-poste, agora a candidata oficial do
partido com uma política cada vez mais à direita.
A consolidação política
do modelo de gestão da Frente Popular do Estado burguês desde 2002 é reflexo
direto da própria etapa de correlação mundial das forças sociais. A derrota
histórica do proletariado, com a supressão de suas conquistas paridas com a
revolução bolchevique de 1917, abriu caminho para uma ofensiva reacionária
global em toda linha, ou melhor, em todos os terrenos da vida humana: social,
econômica, política e cultural. A “evolução” do PT representa a própria
degeneração de lideranças operárias que fazem de sua vida um tributo ao modo de
produção capitalista. As variantes pequeno-burguesas em oposição ao lulismo no
PT já se mostraram fracassadas, com sua política centrista, desde há mais de 33
anos, quando aderiram ao PT de forma absolutamente acrítica. Mais que nunca,
apesar das condições extraordinariamente adversas do ponto de vista da
consciência das massas, está colocada a necessidade da construção de um genuíno
partido operário que, desde seu berço político, adote sem mediações
oportunistas o programa da revolução proletária fincada na Rússia há 96 anos,
tarefa que passa por um combate revolucionário ao PT e a frente popular!