90 anos da morte de V.I.
Lênin:
Nossa singela homenagem ao grande
chefe Bolchevique
Nossa singela homenagem ao grande
chefe Bolchevique
Hoje (21/01/2014)
completa- se 90 anos da morte de nosso grande chefe Bolchevique, Lênin, o
dirigente Marxista que lançou as bases do partido revolucionário centralizado
como um exército do proletariado para demolir violentamente as instituições do
estado capitalista. Ganhou o justo ódio da burguesia mundial que o rotulou como
um "verdadeiro demônio da classe operária". Também nas hostes da
esquerda internacional Lênin granjeou a fúria de todos os reformistas e
revisionistas que o enxergam como um " ditador autoritário ". Nós da
LBI prestamos este pequeno tributo ao nosso chefe "eterno", o maior
de todos os revolucionários que já povoaram nosso planeta. Passados 90 anos de sua morte suas estátuas continuam
a serem derrubadas, como recentemente ocorreu na Ucrânia, pelo ódio de classe
dos inimigos viscerais da revolução socialista, como símbolos de que o
Leninismo continua vigente e seu legado deve ser combatido sem trégua. Quando
aconteceu a destruição imperialista de sua maior obra, a URSS, pensavam as hienas
da reação que o Leninismo havia sido tombado junto com suas estátuas, crasso
engano. Lênin está mais vivo agora, quando as novas gerações
"descobrem" acidamente que não pode haver revolução vitoriosa sem a
construção do partido bolchevique como vanguarda das massas. Quando a crise do
capital financeiro mundial atingiu seu "pico" em 2008, não nos
cansamos de repetir que a tarefa fundamental era construir o partido Leninista,
e que sem a existência desta ferramenta do proletariado o capitalismo conseguiria
recompor suas bases de acumulação. Passados cerca de seis anos do crash
financeiro internacional, a história novamente deu razão a Lênin! Como afirmou
Trotsky, discípulo de Lênin, quando soube da morte do grande chefe: Perdemos Lênin, mas sem o Leninismo não somos
absolutamente nada!
Lênin lançou as bases da política revolucionária da época atual, a fase do capitalismo imperialista. A sua vida representou a fusão da teoria e da prática revolucionária marxista. “Quando a tarefa dos socialistas consiste em ser os dirigentes ideológicos do proletariado na sua luta real contra os inimigos reais, erguidos na via real de um desenvolvimento social e econômico dado, o trabalho teórico e o trabalho prático são apenas um, segundo a fórmula tão exata de Liebknecht, veterano da social-democracia alemã: Estudar, Propagar, Organizar”1. A vida e a obra de Lênin transformaram o século XX, educando o proletariado para sua grande missão histórica: a Revolução Socialista Mundial!
OS PRIMEIROS PASSOS NA
FORMAÇÃO DO DIRIGENTE REVOLUCIONÁRIO
Lênin concretizou o
ideal de Marx e Engels, instaurando o primeiro Estado operário a partir da
vitória da Revolução de Outubro, e ampliou o marxismo. Coube a ele formular a
teoria de um partido revolucionário rigorosamente centralizado, disciplinado e
conspirativo da vanguarda consciente do proletariado; consolidar o conceito de
Estado como uma máquina de dominação de classe, defendendo a ditadura do
proletariado — instrumento indispensável para a construção do socialismo — e
caracterizar o imperialismo como última etapa do desenvolvimento capitalista.
Sem Lênin, o proletariado russo não teria conquistado o poder político, dando
início à era da revolução mundial.
Vladimir Ulianov, nasceu
em Simbirsk, a 10 de abril (22 pelo calendário atual) de 1870 em uma família de
classe média. Seu pai, Ilya Nikolaievitch Ulianov, exercia o cargo de inspetor
e, mais tarde, diretor das escolas públicas. Sua mãe, Maria Alexandrovna Blank,
era filha de um médico da província de Kazan. Dos seis irmãos que tinha, foi
Alexandre Ulianov quem mais influenciou a trajetória política de Vladimir. Aos
vinte anos, Alexandre começara a estudar as obras de Marx, chegando a traduzir
para o russo a Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel.
Em 1887, aos 21 anos,
Alexandre foi preso e condenado à morte por enforcamento após o fracasso de um
atentado terrorista contra o czar Alexandre III. O irmão de Lênin pertencia à
Narodnaia Volia (Vontade do Po-vo), organização secreta populista, que
congregava elementos da intelligentsia russa e que, sob o regime de opressão,
encarava o terror como a única forma de ação imediata contra a autocracia
czarista. Essa organização já havia sido quase que completamente esmagada pelo
governo após o assassinato do czar Alexandre II (1 de março de 1881).
A morte do irmão levaria
o jovem Lênin a desenvolver uma reflexão crítica sobre o terrorismo como método
impotente de luta contra a opressão política e buscar na organização e
mobilização das massas exploradas o caminho para a derrubada do regime
czarista.
A primeira manifestação
dessa crítica foi o folheto “Quem são os Amigos do Povo e como lutam contra os
social-democratas?”, escrito em 1894, quando Lênin surgiu no cenário político
atacando os narodnikis (populistas), principalmente K. Mikhailovsky (1842-1904)
e Nikolai F. Danielson (1844-1918). Em seus primeiros anos, a social-democracia
russa não hostilizava o movimento narodniki. A partir de 1894, a
social-democracia entrou em um processo de diferenciação definitiva com os populistas
e de consolidação como tendência política no movimento revolucionário russo.
Nesse documento, Lênin
reafirmava os princípios fundamentais do socialismo científico, da sociologia e
da economia política de Marx, contra a subjetividade dos chamados populistas -
narodnikis. Enfatizava que o capitalismo convertera os mais importantes ramos
da atrasada indústria russa em grandes indústrias mecanizadas e, socializando a
produção, criou ao mesmo tempo a força social capaz de destruí-lo: o
proletariado urbano. A nova realidade russa revelava-se na organização burguesa
da sociedade e no caráter de classe do Estado, que não era mais que um órgão de
dominação a serviço dos capitalistas, deixando, portanto, como principal
conflito social “a luta de classes do proletariado contra a burguesia”.
Para defender a doutrina
de Marx e Engels, além dos narodnikis, teve de combater também os inimigos
internos, partidários do marxismo legal,
os intelectuais burgueses, liderados por Peter Struve, que de dentro da social-democracia
procuravam transformá-la em um produto aceitável pelas classes dominantes.
Em fevereiro de 1894,
Lênin conheceu Nadezhda Konstanti-nova Krupskaia com quem, em 1898, ao se
reencontrarem na Sibéria condenados à pena de desterro pelo regime czarista, se
casaria. Devido aos contatos que mantinha com os operários, como professora,
Krupskaia pôde colaborar com Lênin na formação de diversos grupos
social-democratas, em Petersburgo.
Aos 25 anos, em abril de
1895, Lênin saiu da Rússia pela primeira vez. Esteve na Suíça, França e
Alemanha, estabelecendo contatos com os núcleos de marxistas na emigração.
Nesta viagem houve o primeiro encontro com Plekhanov. Apesar de Lênin o ter com
uma grande simpatia, o jovem Ilitch não se resignou em polemizar com o velho
revolucionário. Lênin defendia que o desenvolvimento do capitalismo cria o
proletariado urbano que, aliado ao campesinato, deve protagonizar a luta pela
revolução democrática, derrotando o czarismo e a burguesia. Enquanto Plekhanov
caracterizava a burguesia liberal como força motriz de uma futura revolução
democrática, cabendo ao proletariado segui-la como mero coadjuvante.
Ao retornar, em setembro
de 1895, Lênin deu um passo fundamental para transformar profundamente a
social-democracia russa ao criar a “União de Luta pela Emancipação da Classe
Operária”. Dirigida por Lênin, a “União” seria o embrião do partido por ele preconizado.
A rigorosa disciplina e a estreita ligação com os operários se baseavam no
princípio do centralismo. O centralismo permitiu subordinar as lutas grevistas
da classe operária a uma pequena e jovem
vanguarda, demonstrando a necessidade da construção de um partido
revolucionário que utilizasse as vitais reivindicações das massas, educando-as
politicamente para derrubar o czarismo e o sistema capitalista. Como forma de
desenvolver a unificação desse trabalho e estender a sua influência, Lênin e os
dirigentes da “União” resolveram editar um jornal que ligasse os vários
círculos social-democratas que estavam dispersos pelo país. Porém em 8 de
dezembro de 1895, Lênin e os dirigentes da “União” foram presos pela polícia,
sendo apreendidos os materiais do jornal.
A experiência da “União”
foi um exemplo para vários círculos operários que iniciaram sua unificação,
servindo de base para a futura criação do Partido Operário Social-Democrata
Russo e de sua fração leninista.
Lênin passou mais de um
ano no cárcere, de 1895-1897, sendo em seguida deportado para a Sibéria. Na
prisão, iniciou um rigoroso estudo sobre a economia e a sociedade russa.
Precisava demolir as concepções dos populistas, que ainda mantinham ilusões no
agrarismo, acreditando no papel fundamental do camponês e da comuna rural no
processo de transformação social, não enxergando as mudanças nas relações de
produção, que alteravam os lineamentos feudais da sociedade russa.
A obra de Lênin, “O
Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia”, iniciada em 1896, foi publicada em
1899, quando ele ainda se encontrava na Sibéria. Analisava a formação do
mercado interno e sua estreita ligação com o desenvolvimento da grande
indústria na Rússia; mostrava as características da evolução capitalista na
agricultura, onde o campesinato cada vez mais se dividia em grandes
latifundiários, camponeses pobres e proletários rurais, favorecendo o êxodo
rural e substituindo as relações servis do sistema feudal pelas relações
capitalistas de produção. Ressaltava o caráter progressista do capitalismo no
país, sem que isto significasse sua apologia. Esse caráter progressista
consistia no aumento das forças produtivas do trabalho social a partir da
introdução da grande indústria mecanizada, concentrando o jovem proletariado
russo nos principais centros urbanos, aumentando sua socialização nas grandes
plantas industriais.
A existência da Rússia
enquanto semicolônia das grandes potências imperialistas, com seu
desenvolvimento desigual e combinado, permitindo a coexistência dos mais adiantados
ramos da indústria com formas semifeudais da agricultura, plantou as bases para
que as tarefas históricas da revolução burguesa só pudessem ser resolvidas
através da revolução proletária.
“SEM TEORIA
REVOLUCIONÁRIA NÃO HÁ MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO”
Tendo em vista a
necessidade de combater o revisionismo que se difundia no movimento
social-democrata e superar o amadorismo, o culto ao espontaneismo e o
tradeunionismo (sindicalismo) nas questões da agitação política e nas tarefas
de organização, Lênin propôs um plano para a criação de uma organização de
combate de revolucionários profissionais para a toda a Rússia.
No outono de 1901,
começou a escrever o livro “Que Fazer?”, onde faz um vigoroso ataque contra os
defensores da “liberdade de crítica”, palavra-de-ordem lançada pelos que
pretendiam, como Bernstein2, proceder à revisão dos princípios fundamentais do
marxismo, ou seja, rejeitar a luta pelo socialismo, a revolução e a ditadura do
proletariado. Aquela tendência, para Lênin, não passava de mais um matiz do
oportunismo
Publicada em março de
1902, a obra denunciava os revisionistas de todos os matizes, a exemplo dos
adeptos da “liberdade de crítica” na Rússia, que corrompiam a consciência
socialista aviltando o marxismo, pregando a atenuação das contradições sociais,
proclamando que é absurda a idéia da revolução social e da ditadura do
proletariado e limitando o movimento operário à luta por algumas reformas
graduais com o fim de melhorar as condições econômicas dos operários sob o
capitalismo.
Nela, Lênin clarificava
as divergências, não permitindo que persistisse o clima nebuloso, confuso,
vago, ideal para o florescimento do revisionismo oportunista e ressaltava a
importância da teoria revolucionária: “Sem teoria revolucionária não pode haver
também movimento revolucionário. Nunca se insistirá demasiadamente nesta idéia
num tempo em que a prédica em voga do oportunismo aparece acompanhada de uma
atração pelas formas mais estreitas da atividade prática” (“Que Fazer?”).
O partido revolucionário
precisa, portanto, conformar sua própria fisionomia, delimitando-se
politicamente de todas as tendências que traficam as concepções políticas e
ideológicas da burguesia dentro do movimento de massas e ameaçam desviar o
proletariado de seu objetivo histórico. Neste terreno, a função do partido é
combater particularmente as correntes oportunistas e demagogas que são “os
piores inimigos do proletariado” (Idem), sobretudo, porque apresentam maiores
possibilidades de enganar e arrastar as massas para outro caminho que não o da
revolução social. Nesse sentido, “um erro, ‘sem importância’ à primeira vista,
pode levar às mais deploráveis conseqüências e é preciso ser míope para
considerar como inoportunas as discussões de fração e a delimitação rigorosa
dos matizes. Da consolidação deste ou daquele ‘matiz’ pode depender o futuro da
social-democracia russa por muitos longos anos” (Idem).
A importância da luta
ideológica e da teoria revolucionária torna-se fundamental para a vanguarda do
proletariado e “tudo o que seja inclinar-se perante a espontaneidade do
movimento operário, rebaixar o papel do elemento consciente, a importância da
social-democracia, afastar-se da ideologia socialista, equivale – independente
da vontade de quem o faz – a fortalecer a influência da ideologia burguesa
sobre os operários” (Idem). Por isto repelia a idéia de rebaixar as tarefas
políticas e de organização ao nível dos interesses imediatos, à luta pelas
reivindicações meramente econômicas, perdendo a perspectiva revolucionária.
Para Lênin o movimento
operário espontâneo não poderia ultrapassar o mero tradeunionismo
(sindicalismo), “isto é, a convicção de que é necessário agrupar-se em
sindicatos, lutar contra os patrões, conseguir do governo a promulgação de tais
ou quais leis necessárias para os operários, etc” (Idem). No máximo, como
demonstraria a experiência da revolução de 1905, a luta espontânea das massas
poderia chegar à constituição de sovietes. Mesmo assim, a luta operária, por si
mesma, não pode levar o proletariado a romper com a política e a ideologia
burguesas.
Visto que sob o
capitalismo a ciência constitui um monopólio da classe dominante, não se pode
falar de uma ideologia independente, elaborada pelas próprias massas
proletárias no curso do seu movimento espontâneo. Portanto, “a consciência
política de classe não pode ser levada ao operário senão do exterior, isto é,
de fora da luta econômica, de fora da esfera das relações entre operários e
patrões” – insistia no Que Fazer? – para concluir que o portador desta
consciência é o partido.
A doutrina do socialismo
científico surgiu de teorias filosóficas, históricas e econômicas elaboradas
por intelectuais revolucionários, a exemplo de Marx e Engels. Constitui,
portanto, a ciência do movimento operário, fundamentada num profundo conhecimento
das leis gerais do desenvolvimento da sociedade humana.
A tarefa do partido é
elevar ao máximo possível o nível de consciência dos operários em geral, a fim
de que eles consigam dominar a ciência do marxismo. A imprensa do partido, seus
quadros de propagandistas, agitadores e organizadores devem explorar cada acontecimento
da luta de classes para educar as massas para a atividade revolucionária.
O capitalismo cria, em
seu desenvolvimento, as condições objetivas materiais para a revolução, que
dependerá da ação consciente e organizada das massas. Mas só o partido
revolucionário poderá assegurar a vitória da insurreição, a tomada do poder
político pelo proletariado.
A estrutura de partido
que Lênin propunha era uma organização de revolucionários profissionais, que
superasse os métodos artesanais de trabalho, empregados pelas organizações
isoladas e locais, a fim de dar estabilidade e continuidade ao movimento.
Somente uma organização de combate, forjada no centralismo e na disciplina
hierárquica, constituída por “agentes” preparados por uma longa aprendizagem nas
diversas artes da atividade revolucionária, pode preservar o movimento de sua
degeneração e destruição, ao mesmo tempo em que o prepara para uma ofensiva que
obtenha a vitória sobre a burguesia.
A luta por organizar a
tomada do poder e edificar a revolução socialista, ao contrário da luta
econômica contra os patrões e o governo, exige qualidades especiais, requer
pessoas, que tenham como profissão a atividade revolucionária, uma organização
de revolucionários profissionais que dediquem ao trabalho cotidiano do partido
todo o seu tempo e não apenas seus momentos de folga. Trata-se de um partido,
cujos membros são rigorosamente selecionados. Como sentenciava Lênin, “é muito
mais difícil [à polícia política] caçar uma dezena de homens inteligentes do
que uma centena de patetas” (Que Fazer?).
Lênin concebia que o
caráter das organizações de massas, sindicais, devia ser o mais amplo e o menos
clandestino possível. Enquanto a organização da vanguarda, ou seja, o partido,
devia ser composto fundamentalmente por militantes cuja profissão fosse a
atividade revolucionária, regido pelo centralismo democrático.
Por revolucionários
profissionais entende-se aqueles que consagram a vida à construção do partido
da revolução. E se, como é freqüente, faz-se necessário outro ofício para
viver, é o de revolucionário o que preenche a vida e o outro não passa de algo
acessório. Era assim que viviam os dirigentes do POSDR. O próprio Lênin fazia
traduções, escrevia artigos e recebia uma pequena ajuda da mãe para viver. As
cotizações dos militantes nunca foram suficientes para cobrir as atividades do
partido. Só muito depois do surgimento do Iskra o partido obteve algumas
finanças para sustentar seus profissionais, através da assinatura do jornal, da
contribuição de burgueses liberais e expropriações. Os profissionais do partido
recebiam no máximo de 3 a 30 rublos por mês, e passavam às vezes vários meses a
espera do salário, mas os que obtinham dinheiro às custas ou donativos da
família nada recebiam e, pelo contrário, destinavam ao partido um pouco de suas
economias.
Em resposta aos seus
opositores que exigiam uma “ampla democracia” como princípio de organização da
social-democracia russa, Lênin postulava, como únicos princípios sérios de
organização, o mais severo segredo conspirativo, a seleção rigorosa dos membros
e a preparação de revolucionários profissionais, qualidades que asseguram a
plena e fraternal confiança mútua entre os revolucionários. Sob a base dessa
confiança mútua se assentam as relações de camaradagem, em que está inserida a
verdadeira democracia.
O plano de organização
de Lênin incluía a criação de um jornal
clandestino, destinado a toda a Rússia, como ferramenta de construção
partidária, desempenhando o papel de agitador e organizador coletivo. Com esse
objetivo, criara o Iskra (Centelha) em 1900. Quando encontrava-se em Londres,
em 1902, dedicado à publicação do Iskra, a ele se juntou outro jovem
revolucionário que acabava de fugir da Sibéria, Leon Trotsky, brilhante e
dinâmico orador, que se tornou um dos mais ardorosos partidários de Lênin.
Entretanto, o Iskra esteve sob a direção
leninista somente até 1903, quando caiu em poder dos mencheviques.
A CISÃO ENTRE
BOLCHEVIQUES E MENCHEVIQUES: DUAS TÁTICAS, DUAS ESTRATÉGIAS
No II congresso do
Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR) que se iniciou a 17 de julho de
1903, em Bruxelas e, depois, devido às perseguições por parte da polícia se
transferiu para Londres, ocorreu o fato que dividiria definitivamente a
social-democracia russa. Os debates sobre o estatuto causaram logo de início as
primeiras divergências. No primeiro artigo, que definia o conceito de
militante, Lênin propôs uma definição que refletia toda a doutrina do “Que
fazer?”: “Considera-se membro do partido todo aquele que aceita seu programa e
apóia o partido tanto materialmente como por meio da participação pessoal em
uma de suas organizações”. Martov opôs-se a Lênin, apresentando outra fórmula:
“Considera-se membro do partido todo aquele que aceita seu programa, paga suas
cotizações e coopera regularmente no trabalho do partido, sob a direção de uma
de suas organizações”.
As divergências, no
fundo, exprimiam profunda diferença de concepção da estrutura partidária. Um
setor desejava o partido restrito a militantes profissionais, preparados para
as situações mais adversas da luta de classes. O outro, defendia o partido
aberto a todos que aceitassem seu programa.
A partir de então se
formaram as duas frações no interior do POSDR, os bolcheviques liderados por
Lênin e os mencheviques chefiados por Martov. Os leninistas obtiveram a maioria
dos votos e aprovaram a nova concepção de organização. O congresso elegeu para
o comitê de redação do Iskra, Plekhanov, Lênin e Martov. Inicialmente, Lênin
havia proposto a ampliação do comitê de seis membros para sete com o intuito de
incluir Trotsky. Como Plekhanov não aceitou, preferiu sugerir um comitê de três
membros. Martov, entretanto, não aceitou o cargo, contrariando a decisão do
congresso.
Os mencheviques se
recusaram a cumprir as decisões do congresso, não aceitaram a nova concepção de
partido, boicotaram o Iskra e formaram um comitê central para dirigir sua
fração. Influenciaram simpatizantes e colaboradores a negar qualquer auxílio à
direção de Lênin. Plekhanov, vacilando diante da pressão de seus antigos
camaradas, resolveu convocálos novamente para a redação do jornal. Lênin não
aceitou essa manobra e abandonou a redação do jornal em 1o de novembro de 1903.
A partir do nº 52, o Iskra tornou-se órgão de imprensa dos mencheviques.
No Comitê Central do
POSDR, Lênin continuaria sua luta contra o oportunismo menchevique. As
divergências no campo organizativo evoluiriam para o terreno político logo no
primeiro teste da social-democracia russa na arena da luta de classes.
A revolução de 1905, o “Ensaio Geral” para a revolução de
1917, demonstrou o papel que cada classe possuía no contexto político, sendo
possível avaliar sua força e expressão social, indicando o comportamento que
deveria adotar a vanguarda do proletariado. As frações do POSDR, mencheviques e
bolcheviques, traçariam suas estratégias de revolução a partir daquelas
experiências. Os delegados bolcheviques reuniram-se em abril daquele ano no III
Congresso do POSDR em Londres, enquanto os sabotadores mencheviques, ao mesmo
tempo, realizaram sua conferência em Bruxelas.
O congresso aprovou a
palavra-de-ordem “ditadura democrática do proletariado e do campesinato”
lançada por Lênin desde fevereiro, que traduzia sua análise do processo
revolucionário russo, diferenciada da que faziam os mencheviques e a maioria
dos socialdemocratas no Ocidente.
Lênin dava uma
demonstração de como se deve utilizar o marxismo de forma criadora e não como
dogma. Marx e Engels haviam previsto a revolução proletária como conseqüência
do desenvolvimento capitalista nos países mais avançados. Entretanto, a Rússia,
no início do século XX, ainda era um dos países mais atrasados da Europa,
embora combinasse o seu atraso econômico com as formas mais adiantadas do
capitalismo, que se desenvolveram naquele país mantendo intacta a estrutura
fundiária herdada do feudalismo e o Estado absolutista. O caráter da revolução
que deveria se processar era, portanto, democrático, ou seja, uma revolução
burguesa pelo conteúdo de suas tarefas: o fim da autocracia czarista e do
latifúndio. Porém essas tarefas já não podiam ser realizadas sob a direção da
impotente burguesia russa. Assim a revolução só poderia se concretizar sob a
base de uma aliança entre o proletariado e o campe-sinato, através do
estabelecimento de uma ditadura dessas duas classes, que abria caminho para o
socialismo.
Os mencheviques, por
outro lado, acreditavam que, estando a revolução ainda na sua etapa burguesa, o
regime autocrático só poderia dar lugar a uma república democrática, parlamentar
e constitucional. A luta pelo socialismo só poderia ter início depois de
ultrapassada a etapa de desenvolvimento do capitalismo. Defendiam que enquanto
durasse a ilegalidade política – para evitar que a burguesia se assustasse
diante da ameaça do proletariado e passasse abertamente para o campo da reação
czarista – não se deveria mencionar a luta direta do proletariado pelo poder
político, e que as condições históricas colocavam o proletariado russo em
colaboração inevitável com a burguesia. Dessa forma, dividiam a revolução em
duas etapas.
A fórmula de Lênin,
“ditadura democrática do proletariado e do campesinato”, apesar de contrapor-se
à colaboração com a burguesia liberal, posição reivindicada pelos mencheviques,
não precisava, entretanto, qual das duas classes, proletariado ou campesinato,
teria o papel determinante na condução do processo revolucionário.
Trotsky viria a
responder essa incógnita através de sua caracterização de que seria
necessariamente a ditadura do proletariado que realizaria as tarefas
democráticas, arrastando sob sua direção o campesinato. Segundo a teoria do
desenvolvimento desigual e combinado, a Rússia necessariamente passaria por uma
revolução proletária sem a obrigação de uma revolução democrática, mesmo que
liderada pelos setores oprimidos. Desenvolvia a partir dessas premissas a sua
teoria da Revolução Permanente.
A política que o partido
seguiu de seu III congresso até abril de 1917 se baseou na palavra-de-ordem da
“ditadura democrática do proletariado e do campesinato”, que segundo Lênin,
cumpriu sua fase histórica e envelhecera sob o governo provisório de Kerensky,
com a dualidade de poder entre este e os sovietes. Em abril de 1917, Lênin
elabora as “Teses de Abril” onde proclama que o governo democrático surgido da revolução
de fevereiro não responde às tarefas essenciais para o proletariado,
devendo-se, então, passar
definitivamente para a revolução socialista e a ditadura do proletariado.
MATERIALISMO DIALÉTICO
VERSUS EMPIRIOCRITICISMO
Após a derrota da
Revolução de 1905, uma onda de abatimento atingiu as massas. O governo czarista
dissolveu a II Duma3, em 1907, promulgando uma nova lei eleitoral ainda mais
reacionária e desencadeou uma violenta perseguição aos social-democratas,
enchendo os cárceres de militantes. Para escapar dessas perseguições, Lênin
refugiou-se clandestinamente em Kuokalla (fronteira da Finlândia), de onde
partiu para o exílio em Genebra (Suíça), em dezembro de 1907.
A repressão atingiu
profundamente o partido, seus militantes foram perseguidos e presos, suas
organizações desmanteladas pela polícia. Após os extraordinários esforços das
lutas de 1905, as massas estavam cansadas. Muitos perdiam a fé na revolução e
capitulavam diante da reação ideológica burguesa, que se manifestou como uma
onda de religiosidade e misticismo sobre a sociedade russa.
Lênin teve que enfrentar
o refluxo revolucionário dentro das fileiras de seu próprio agrupamento
político. Dessa vez a ofensiva ideológica contra o marxismo partia de
dirigentes bolcheviques como Alexandre A. Bogdanov, que em 1908 dirigiu uma
tendência revisionista, inspirada nas idéias de Ernst Mach4, para ressuscitar o
idealismo filosófico contra o materialismo dialético. Dentre vários escritos
sobre o assunto, destacou-se uma coletânea de artigos intitulada “Ensaios sobre
a Filosofia do Marxismo”, como a mais importante obra dos adeptos da “nova”
filosofia “machista” contra os ensinamentos de Marx e Engels.
Empiriocriticismo era
como se chamava essa filosofia. Para os empiriocriticistas, a consciência é que
imprime qualidades à matéria – tamanho, forma, cor, odor, etc. Era essa
completa refutação dos princípios mais elementares da doutrina de Marx e Engels
[de que é a existência quem determina a consciência] que queriam apresentar
como a última palavra sobre o marxismo.
Lênin combateu os
“machistas” em sua obra “Materialismo e Empiriocriticismo: notas críticas sobre
uma filosofia reacionária”, escrita entre fevereiro e outubro de 1908. Em junho
de 1909 se realizaria uma conferência ampliada da redação do jornal Proletári5,
ocasião em que poderia demolir as posições de Bogdánov e de sua corrente.
Através de “Materialismo
e Empiriocriticismo”, Lênin revela a sua capacidade como filósofo marxista,
reafirmando e consolidando os princípios elementares do materialismo dialético.
Seguindo o método materialista, deixava claro que as coisas existem fora e
independentemente da consciência do homem, que é também produto da matéria. De
pleno acordo com a evolução das ciências da natureza, o materialismo considera a
matéria como o elemento primário e a consciência, o pensamento, as sensações,
como o elemento secundário. A matéria – expunha – “suscita a sensação, atuando
sobre os nossos órgãos dos sentidos” (Materialismo e Empiriocriticismo). São
essas sensações que uma determinada parte da matéria, o cérebro humano, capta e
produz a partir delas todas as idéias e a consciência sobre o mundo que nos
cerca.
No debate sobre qual é o
critério da verdade Lênin concebia que a verdade objetiva, absoluta,
independentemente do homem, conhecida através dos órgãos dos sentidos, não é
senão uma soma de verdades relativas. “Cada etapa do desenvolvimento das
ciências acrescenta novas parcelas de conhecimentos a essa soma de verdade
absoluta.” Logo, “o critério fundamental
da verdade é a prática” (Idem).
A QUESTÃO NACIONAL E O
INTERNACIONALISMO PROLETÁRIO
Pouco antes de eclodir a
I Guerra Mundial, Lênin dirigiu suas atenções para o problema das
nacionalidades. O Império russo era um Estado que controlava um vasto
território, onde as nacionalidades oprimidas, não russas, constituíam 57% da
população.
A autodeterminação das
nações, defendida por Lênin, consiste no direito das nações oprimidas de
formarem um estado nacional independente. Os revolucionários devem emprestar
seu apoio aos movimentos nacionais, democráticos, de uma nação oprimida pelo
direito à sua autodeterminação contra a nação
capitalista opressora. Entretanto, essa atitude não pode ser confundida
com o apoio ao nacionalismo militante da burguesia, que embrutece, engana e
submete os operários aos interesses dos capitalistas.
O direito à autodeterminação
nacional subordina-se aos interesses gerais da luta de classes do proletariado,
que deve buscar a união dos operários de todas as nações, desenvolvendo o
sentimento internacionalista em oposição ao nacionalismo burguês e ao
chauvinismo.
A guerra mundial,
deflagrada em agosto de 1914, dividiu a socialdemocracia e arrastou a grande
maioria dos líderes da II Internacional para o completo servilismo diante da
burguesia de seus países, fato que assinalou a morte da Internacional
social-democrata. Dirigentes históricos como Plekhanov (Rússia), Guesde
(França), Vandervelde (Bélgica), Scheidemann (Alemanha) capitularam ao
patriotismo e defendem os governos de seus respectivos países na guerra
interimperialista, são os “defensistas” ou “social-chauvinistas”. Outros se
acovardaram adotando uma postura conciliadora. Dentre estes pacifistas se
encontra Karl Kautsky6. Uma pequena minoria critica o pacifismo sentimental
pequeno-burguês e convoca os trabalhadores à guerra revolucionária pela derrota
de suas respectivas burguesias. Estes últimos, denominados “der-rotistas”,
agrupam Lênin e os bolcheviques, Trotsky, Martov e alguns mencheviques (Rússia)
e Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e Franz Mehring (da ala revolucionária da
social-democracia alemã) que chamam a construção de uma nova Internacional.
Esta posição irá frutificar na Revolução de Outubro, onde os bolcheviques de
fato transformaram a guerra imperialista em guerra civil contra a sua
burguesia.
A guerra de 1914
resultava das próprias necessidades do capitalismo, da sua luta pelos mercados
e pelas fontes de matéria prima. A luta contra a guerra não pode ser colocada
na base de simples manifestações de protesto pacifistas ou de apelos
sentimentais. Apenas pela via revolucionária, o proletariado poderá libertar-se
– e a toda humanidade – do sangrento e contínuo caos imposto pelo capitalismo
decadente. A única política justa para os trabalhadores consiste, portanto, na
transformação da guerra imperialista de rapina em guerra civil revolucionária.
Lênin liderava, a partir
daquele momento, não apenas uma facção da socialdemocra-cia russa (os
bolcheviques), mas uma minoria valorosa da Internacional que se manteve fiel ao
marxismo. Confrontava-se com Kautsky,
que através de seu pacifismo conciliara com os social-chauvinistas
traidores do internacionalismo proletário.
Entre 5 a 8 de setembro
de 1915, realizou-se na pequena aldeia suíça de Zimmerwald, a Conferência
Socialista Internacional, onde reuniram-se 38 delegados internacionalistas
de 12 países. Em minoria na conferência,
Lênin e Trotsky se aproximam, compreendendo que a reivindicação de paz só
adquire sentido quando se reivindica a luta revolucionária. Formou-se, então, a
Esquerda de Zimmerwald.
O IMPERIALISMO E A
GUERRA
O caráter imperialista
daquela guerra foi vigorosamente denunciado por Lênin. Mas era ainda necessário
esclarecer à vanguarda sobre o significado do imperialismo na história da
humanidade. Em junho de 1916 concluiu a mais importante contribuição para o
desenvolvimento da economia política depois de “O Capital” de Marx, o livro “O
Imperialismo – etapa superior do capitalismo”.
O imperialismo é, na
definição de Lênin, “o capitalismo no seu mais alto grau” (O imperialismo...),
quando os grupos monopolistas (cartéis, sindicatos, trustes) repartem entre si,
em primeiro lugar, o mercado interno, apoderando-se da produção dos seus países
de origem e, em seguida, impulsionados pela elevada concentração de capitais e
pela sede incessante de lucros, buscam a partilha do mundo.
Na fase imperialista do
capitalismo, que se consolidou entre o fim do século XIX e princípio do século
XX, os cartéis estabelecem entre si acordos sobre preços, condições de venda,
prazos de pagamentos, áreas do mercado, etc, monopolizam as fontes de
matéria-prima, a mão-deobra especializada, os meios de transporte e de
comunicação, convertendo-se em base de toda a vida econômica. O capital
financeiro surgiu a partir da fusão do capital bancário com o capital
industrial, sob essa base, nasceu a oligarquia financeira. Ao lado da
exportação de mercadorias que caracterizava o capitalismo da livre
concorrência, surgiu com maior intensidade a exportação de capitais excedentes
dos países imperialistas.
A disputa por colônias
entre os grupos monopolistas visa arrancar do adversário todas as
possibilidades de concorrência. Apropriam-se do solo, das jazidas de ouro,
ferro, petróleo, etc. O poder da oligarquia financeira subordina “inclusive os
Estados que gozam de uma independência política completa” (Idem), mantendo
estreitas relações com os governos dos países semicoloniais e coloniais. Para
impedir que uma fonte de matériaprima caia nas mãos de um concorrente, um
truste pode levar o governo do país a nacionalizá-la, estabelecendo o monopólio
do Estado. A luta encarniçada entre as potências imperialistas pelo domínio das
colônias provoca inevitavelmente a guerra.
Nos países
imperialistas, a oligarquia financeira, às custas da exploração dos
trabalhadores das colônias e semicolônias, corrompe um setor do proletariado,
aburguesando-o e formando uma aristocracia operária, base social do reformismo,
do oportunismo e do social-chauvinismo que infestaram a II Internacional.
Travando o
desenvolvimento das forças produtivas, o capitalismo monopolista produz crises
cada vez mais profundas. A cada crise reduzem-se as possibilidades de solução
nos marcos do próprio sistema. O imperialismo é o “capitalismo parasitário ou
em decomposição” (Idem). Como última etapa de desenvolvimento do modo de
produção capitalista, o imperialismo é a época de guerras, revoluções e
contra-revoluções, torna-se, também, na acepção de Lênin, a “ante-sala do
socialismo”.
ABAIXO A POLÍTICA DE COLABORAÇÃO DE CLASSES:
“TODO PODER AOS SOVIETES”
No início de 1917, o
descontentamento generalizado causou a queda do czarismo. Lênin estava em
Zurich quando soube da Revolução de Fevereiro. Começou imediatamente a
articular o seu retorno à Rússia através da Alemanha.
O governo do kaizer
Guilherme II, que tinha interesse que a Rússia saísse da guerra, aprovou a
passagem de Lênin pelo território alemão. Várias organizações operárias e
socialistas de diversos países divulgaram uma declaração de apoio à atitude de
Lênin. Porém, os seus adversários aproveitaram a sua jogada para caluniá-lo,
acusando-o de estar a serviço de Guilherme II.
Lênin chegou à estação
da Finlândia, no dia 3 de abril (16 de abril no calendário gregoriano adotado
na Europa ocidental), e é recebido por uma grande multidão de operários e
soldados. Logo subiu em um carro de combate e, dirigindo-se aos operários,
soldados e marinheiros, pronunciou um discurso que denunciava o governo
provisório e conclamava o proletariado à revolução socialista.
Antes de chegar à
Rússia, ainda no exílio, Lênin já vinha defendendo, através de uma série de
artigos intitulados “Cartas de Longe”, a linha política que o partido deveria
adotar: denunciar o caráter de classe do governo provisório; impulsionar a
criação de milícias operárias cuja missão seria converter-se em órgão executivo
dos sovietes, organismos de poder do
futuro Estado operário e preparar imediatamente a tomada do poder pelo
proletariado.
Essas posições provocaram a reação dos dirigentes
locais do partido, que compunham a redação do Pravda: Kalinin, Muranov,
Olminsky, Stalin e outros. Lênin abandonava a palavra-de-ordem de “ditadura
democrática de operários e camponeses” e advogava a passagem para a revolução
socialista. O Pravda, publicando a primeira dessas cartas, cortou parágrafos essenciais, que definiam o caráter
contrarevolucionário do governo provisório e a traição dos líderes
mencheviques. Stalin, Kamenev, Olminski e os demais integrantes da redação do Pravda
inclinavam-se para o apoio condicional ao governo provisório, julgavam que pela
pressão poderiam modificar a sua política e articulavam a unificação com os
mencheviques.
Ao chegar em Petrogrado,
Lênin reorienta o partido, expondo aos delegados bolcheviques da Conferência
Panrussa dos Sovietes suas famosas “Teses de Abril”, em que defendia que o
Governo Provisório, por seu caráter burguês, não podia realizar nenhuma das
reivindicações das massas trabalhadoras. Era inconcebível “exigir” que aquele
governo assinasse a paz e renunciasse às anexações, como fazia o Pravda
(dirigido por Kamenev e Stalin). A situação política peculiar no país consistia
no fato de que a Revolução de Fevereiro havia dado o poder à burguesia, em
função da imaturidade de consciência e organização do proletariado para tomar
todo o poder em suas mãos. Portanto, a orientação correta para o partido
deveria ser o “desmascaramento, em vez da ‘exigência’ inadmissível e semeadora
de ilusões de que este governo, governo de capitalistas, deixe de ser
imperialista” (Teses de Abril). Suas teses sustentavam que os sovietes de
operários eram a única forma possível de governo revolucionário, mas enquanto
os bolcheviques ali estivessem em minoria, só poderiam desenvolver um trabalho
de crítica e esclarecimento. Tratava-se de desmascarar a direção menchevique e
socialista-revolucionária (Cheidze, Tseretelli, etc.) como cúmplices da
contra-revolução e mostrar a necessidade de que todo o poder de Estado passasse
para os Sovietes de deputados operários.
Stalin e Kamenev se
opunham a Lênin, dizendo que este estava mal informado e que as Teses exprimiam
opiniões pessoais, contrárias à política adotada pelo Pravda até então. Para
combater estas posições centristas e rotineiras, Lênin teve que recorrer às
bases do partido, à discussão aberta, para derrotar os apologistas do governo
provisório e conseguir a aprovação de suas concepções. As bases, que desde o
início, reagiam à orientação direitista e semimenchevique desses dirigentes,
aprovaram toda a linha das Teses de Abril. Lênin conseguiu ainda o ingresso no
Partido Bolchevique da Organização Interdistrital, cujo líder era Leon Trotsky,
que desde 1905 afirmava que somente a revolução proletária na Rússia poderia
concluir as tarefas democráticas burguesas e iniciar as tarefas de construção
do socialismo.
Também em suas Teses,
Lênin declara a bancarrota de Zimmerwald e convoca a sua Esquerda a fundar a
III Internacional. No mesmo documento propõe a mudança do nome do partido, de
social-democrata para comunista, como se definiram Marx e Engels em seu
Manifesto.
“O ESTADO E A REVOLUÇÃO”: DESTRUIR A MÁQUINA
DE DOMINAÇÃO BURGUESA, CONSTRUIR O PODER PROLETÁRIO
Com a queda do czarismo,
estabeleceu-se a dualidade de poderes: de um lado, o governo da burguesia, o
Governo Provisório do príncipe Lvov, Miliukov, Kerensky & Cia; de outro, o
Soviete de Operários e Soldados de Petrogrado, apoiado na maioria do povo e nas
milícias operárias. Essa dualidade de poderes era característica de uma
situação revolucionária que não se definira, revelando um impasse na luta de
classes. Um dos poderes teria que triunfar sobre o outro.
Diante de tal situação,
as massas agitavam-se, procurando realizar suas reivindicações. Na frente de
batalha, os soldados desertavam; nas fábricas e oficinas, os operários
chocavam-se com os patrões e os camponeses apossavam-se das terras.
Em maio, a primeira
crise eclodiu. Miliukov, líder da burguesia liberal, renunciou ao cargo de
ministro das Relações Exteriores e o Soviete de Petrogrado votou por um governo
de coalizão, onde os socialistas (mencheviques e socialistas revolucionários,
os SR´s) possuiriam cinco membros num total de quinze. Kerensky assumiu o
Ministério da Guerra. O povo continuou sem paz, sem pão, sem terra. A
inquietação crescia entre as massas que para Lênin, “estavam mil vezes à
esquerda dos socialistas-revolucionários e dos mencheviques e cem vezes à
esquerda dos bolcheviques”.
Nos dias 3 a 5 de julho
(16 a 18), milhares de operários e soldados realizaram espontaneamente
manifestações armadas que o Partido Bolchevique considerou prematuras. O
partido interveio, organizando uma retirada ordenada, evitando assim, a derrota
das massas como resultado de um assalto precoce ao poder, que à época
limitar-se-ia à “Comuna” de Petrogrado, preservando a revolução do isolamento e
dos erros que levaram ao estrangulamento da Comuna de Paris.
Após as “jornadas de
julho”, o governo Kerensky desencadeou as perseguições aos bolcheviques.
Trotsky, Kamenev e outros são detidos, mas a maioria dos militantes, portando
documentação falsa, volta à clandestinidade em que se encontrava até fevereiro.
Lênin foi acusado de estar a serviço do governo alemão e o Comitê Central do
Partido Bolchevique decide preservá-lo, escondendo-o na Finlândia, onde ficará
até início de outubro. O líder bolchevique sabia de sua importância vital para
o partido, não podia deixar-se cair nas mãos da repressão.
Neste momento, Lênin
avalia que: “‘Todo poder aos sovietes!’ era palavra-de-ordem de desenvolvimento
pacífico da revolução, que de 27 de fevereiro até 4 de julho foi possível e,
como é natural, o mais desejável a todos, porém hoje já é absolutamente
impossível” (A respeito das palavras-de-ordem). Após a reação subseqüente às
jornadas de julho, manter esta palavra-de-ordem “significaria enganar o povo”
(idem). Não seriam os sovietes dirigidos por partidos que conspiravam contra a
revolução proletária e conciliavam com a burguesia que tomariam o poder. Para
isto, era preciso derrotar os mencheviques e os SR´s nos Sovietes e fortalecer
as milícias armadas, construindo na fusão destes organismos um Estado maior da
Revolução sob direção bolchevique.
Na Finlândia, traçou o
plano de assalto ao poder estatal para realizar imediatamente a revolução,
estudando como estabelecer a ditadura do proletariado e qual seria a estrutura
que viria a ter o futuro Estado operário. Escreveu, então, “O Estado e a
Revolução”.
Baseado nas observações
de Engels, Lênin concluía que o Estado é um órgão de dominação e opressão de
uma classe sobre outra, constituído, antes de tudo, de destacamentos de homens
armados com certos suplementos materiais, como, por exemplo, os cárceres.
Expunha assim, a essência da questão do Estado que separaria definitivamente os
revolucionários dos reformistas.
Todo Estado,
independentemente da forma de governo, mantém o monopólio da violência e a
repressão organizada a serviço da ditadura de uma classe. Embora possa revestir-se
das mais distintas formas (república democrática, monarquia, etc.) a ditadura
da burguesia será sempre a imposição da vontade social da burguesia sobre o
proletariado.
A democracia burguesa “é
o melhor invólucro do capitalismo e por isso o capital, depois de se ter
apoderado desse invólucro, alicerça o seu poder tão solidamente, tão
seguramente, que nenhuma substituição, nem de pessoas, nem de instituições, nem
de partidos na república democrática burguesa pode abalar este poder” (O Estado
e a Revolução), afirmava Lênin para concluir que o sufrágio universal, que
tanto seduz os democratas pequeno-burgueses e reformistas e embeleza a
democracia burguesa, é mais um instrumento de dominação burguesa, servindo, no
melhor dos casos, para os revolucionários medirem o grau de maturidade da
classe operária. O proletariado não pode apossar-se simplesmente do velho
aparelho de dominação da burguesia, precisa destruí-lo e instaurar a sua
própria ditadura, o seu próprio Estado: “A substituição do Estado burguês pelo
proletário é impossível sem revolução violenta” (Idem).
A Ditadura do
Proletariado é uma forma de Estado, uma forma de “violência organizada e
sistemática” (Idem). Porém, enquanto a democracia capitalista serve a uma
insignificante minoria, é a “democracia para os ricos”, a ditadura do
proletariado realiza, pela primeira vez, a democracia para os pobres, impondo
uma série de restrições à liberdade dos antigos opressores e exploradores, para
libertar a humanidade da escravidão assalariada. “Democracia para a imensa
maioria do povo e repressão, pela força, isto é, exclusão da democracia, para
os exploradores, para os opressores do povo, eis a modificação que sofrerá a
democracia na transição do capitalismo para o comunismo” (Idem).
Ao final, Lênin evoca os
ensinamentos de Marx e Engels no que diz respeito ao destino do Estado
operário. Após a ditadura proletária, a expansão mundial da revolução
socialista suprime as diferenças de classes, resultando então na própria
extinção do Estado a partir do desenvolvimento da sociedade comunista. “O
proletariado toma o poder de Estado e começa por transformar os meios de
produção em propriedade do Estado. Mas, com isto, suprime a si próprio como
proletariado, com isto suprime também o Estado como Estado. (...) O Estado não
é ‘abolido’, extingue-se”7.
A VITÓRIA DA REVOLUÇÃO
BOLCHEVIQUE
A reação às Jornadas de
Julho animaram a burguesia e um setor do Exército a concluírem que chegou o
momento de aplicar um golpe decisivo ao processo revolucionário. O responsável
pela missão de organizar o golpe de Estado bonapartista contra o governo
provisório e instaurar um governo decidido a afogar em sangue a revolução é o
próprio general de Kerensky, Kornilov. Mas em uma das lições mais brilhantes da
revolução, os bolcheviques derrotam o golpe de Kornilov sem, no entanto, apoiar
Kerensky, ao qual acusam de propiciar o golpe. Com esta política principista,
os bolcheviques organizam dentro dos sovietes a reação proletária armada ao
golpe, constituindo destacamentos de guardas vermelhos, a greve dos
ferroviários e o motim dos soldados contra seus generais. Esmagam o
bonapartismo e enfraquecem ainda mais o governo provisório.
A partir daí os
bolcheviques conquistam a maioria nos sovietes de soldados e operários de
Moscou e Petrogrado, elegendo Trotsky presidente deste último no dia 9 de
setembro (22).
Chegara o “momento da
viragem da história da revolução ascendente, em que a atividade revolucionária
do povo é mais forte, em que as hesitações são mais fortes nas fileiras do
inimigo e nas dos amigos vacilantes da revolução” (Carta ao CC do Partido
Bolchevique, Marxismo e a Insurreição). Mas o fato de estarem dadas as
condições objetivas para a revolução não significa que os bolcheviques que
dirigiam os sovietes pudessem se furtar da imprescindível tarefa de organizar a
tomada efetiva e imediata do poder, rompendo com as ilusões que este viesse a
ser transferido pacificamente para os sovietes.
A decisão de realizar a
insurreição armada havia sido tomada pelo Comitê Central do Partido Bolchevique,
em reuniões realizadas em 10 de outubro (23), por proposta apresentada por
Lênin. A partir das resoluções do CC, criou-se dois dias depois o Comitê
Militar Revolucionário, junto ao Soviete de Petrogrado, sob o comando de
Trotsky. A situação de dualidade de poderes alcançara o seu limite. Lênin via a
necessidade imperiosa da insurreição, sob pena de triunfar a contra-revolução.
Na madrugada de 24 para
25 de outubro (6 e 7 de novembro), operários, soldados e marinheiros
deslocaram-se sob o comando do Comitê Militar Revolucionário do Soviete de
Petrogrado, ocupando usinas de energia elétrica, centrais telefônicas, estações
ferroviárias, armazéns, arsenais, tipografias, o banco oficial, enfim,
transferindo todas as bases materiais do Estado e da ordem burguesa, que foram
tomadas para o controle do Soviete.
O partido precisava
passar imediatamente ao ataque decisivo. A demora na insurreição equivale à
morte da revolução.
Pela manhã do dia 7, o
Partido Bolchevique declarou ao mundo que havia tomado o poder em nome do
proletariado. O governo provisório fora deposto. Seu principal representante,
Alexandre Kerensky fugira, enquanto seus ministros o esperavam atônitos no Palácio
de Inverno, último reduto do governo burguês que cairia sob o poder dos
bolcheviques nas próximas horas.
A ofensiva final sobre o
Palácio de Inverno teve início durante a noite do dia 7 com os disparos de
festim do cruzador Aurora, que Trotsky ordenara para intimidar os ministros ali
refugiados. No Smolny, ao mesmo tempo, se iniciava o II Congresso dos Sovietes
e os mencheviques, assustados, ouviam os tiros. Estavam inquietos. Trotsky
subiu à tribuna e incisivamente denunciou-os:
— “Sois uns miseráveis indivíduos
isolados. Estais em bancarrota. Desempenhastes o vosso papel. Ide para o lugar
que vos pertence: para a lata de lixo da história”.
Lênin só subiu à tribuna
na sessão do dia seguinte. Leu a Proclamação aos Povos e aos Governos de todos
os Países Beligerantes, propondo a abertura de negociações para o
estabelecimento de uma paz democrática, justa, imediata e sem anexações.
Anunciou o fim da diplomacia secreta e que publicaria todos os decretos feitos
pelo Governo Provisório até 7 de novembro, denunciando todas as suas cláusulas
que visavam a proporcionar vantagens aos grandes capitalistas e latifundiários.
A República dos Sovietes
não proferia ultimatos. Estava disposta a examinar todos as propostas que se
lhe fizessem para uma saída do conflito. Lênin sabia que os governos das
potências imperialistas se oporiam à sua proposta. Seu objetivo, na verdade,
era ganhar politicamente os operários das três nações mais adiantadas:
Inglaterra, França e Alemanha, de quem esperava obter apoio incondicional ao
nascente governo soviético.
A insurreição
bolchevique havia triunfado, mas o governo dos sovietes ainda precisava
consolidar seu poder e estendê-lo ao resto do país. Mencheviques e
socialistas-revolucionários exigiam um governo de coalizão com os bolcheviques,
sem Lênin e Trotsky. A burocracia de dezesseis ministérios entrou em greve.
Sabotagem e boicote ameaçavam a existência do Estado operário. Os junkers,
filhos da aristocracia que estudavam na academia militar, promoveram a luta
contra-revolucionária nas ruas de Petrogrado. A imprensa venal imperialista
desenvolvia em nível mundial uma campanha de calúnias e de mentiras contra a
nascente República dos Sovietes. Disseminavam grotescamente que a insurreição
não passava de um jogo político do kaizer para que a Rússia se retirasse da
guerra para favorecer a Alemanha. Lênin e Trotsky seriam agentes do
imperialismo alemão! Kerensky e Kaledin, chefe dos cossacos na região do Don,
começam a articular a guerra civil.
A LUTA PELA REVOLUÇÃO
PROLETÁRIA MUNDIAL
A guerra imperialista
impunha às massas a morte em defesa dos interesses dos capitalistas e da
decadente nobreza russa.
A simples possibilidade
de aliviar uma frente de batalha, para concentrar as forças onde a
contra-revolução ameaçava, justificaria a política de Lênin para obter a paz de
Brest-Litovsk. A defesa intransigente de sua posição salvou o Estado operário.
A República Soviética pôde reorganizar suas forças e triunfar heroicamente
sobre os exércitos de 14 países que a invadiram.
O sucesso da revolução e
do socialismo na Rússia, entretanto, dependeria da vitória da revolução
mundial. Na Alemanha, somente o pequeno grupo de Rosa Luxemburgo e Karl
Liebknecht apoiou a revolução de Outubro.
Uma frente reacionária
foi erguida pelos chefes social-chauvinistas da II Internacional, que através
de Karl Kautsky, passaram a atacar abertamente o bolchevismo, o Estado
soviético e a ditadura do proletariado. Lênin tinha, então, de combater a
contra-revolução não apenas nas frentes da guerra civil, mas, também, no campo
político e ideológico.
Para condenar a
Revolução de Outubro, Kautsky desenvolveu uma falsificação grosseira do
marxismo, afirmando que Marx, ao utilizar a expressão ‘ditadura do
proletariado’, referia-se a uma situação que deveria decorrer da “democracia
pura”. Se o proletariado constituísse a maioria política estaria assegurada a
transformação social “pacificamente, portanto, por via democrática”.
Lênin em seu livro “A
Ditadura do Proletariado e o Renegado Kautsky” desmascara o chefe da II Internacional
como um renegado do marxismo ao demonstrar que este “deturpou de forma mais
inaudita o conceito de ditadura do proletariado, transformando Marx num vulgar
liberal, isto é, desceu ele próprio ao nível do liberal que lança frases
vulgares acerca da ‘democracia pura’, escondendo o conteúdo de classe da
democracia burguesa, opondo-se acima de tudo à violência revolucionária por
parte das massas oprimidas”.
Enquanto existirem
classes diferentes, é claro que não se pode falar de “democracia pura”, na
verdade, uma frase vazia que revela uma profunda ignorância da luta de classes
e da essência do Estado, pois “na sociedade comunista a democracia,
modificando-se e tornando-se um hábito, extiguir-se-á, mas nunca será uma
democracia pura” (A Ditadura do Proletariado e o Renegado Kautsky). O Poder
Soviético, baseado na organização direta dos trabalhadores possibilita que as
próprias massas organizem o Estado e participem da sua administração. Portanto,
a democracia proletária, “é um milhão de vezes mais democrática que a mais
democrática república burguesa” (Idem).
O que o
social-chauvinista Kautsky temia, na verdade, era o surgimento de sovietes na
Alemanha e em outros países europeus, ou seja, o desenvolvimento da revolução
mundial. Para evitar isso, copiava servilmente as lamentações dos mencheviques
(Martov, Axelrod, Stein, etc.) de que os sovietes não deveriam aspirar a tomar
o poder e tornar-se organizações estatais.
Entretanto, enquanto os
oportunistas russos podiam fundamentar suas súplicas, afirmando que a Rússia
era um país atrasado que necessariamente teria de passar por uma etapa
democrática, burguesa, Kautsky não podia dizer o mesmo da Alemanha, de capitalismo
desenvolvido.
A vitória do
proletariado na Rússia favoreceu o desenvolvimento da revolução proletária
mundial, que amadurecia a olhos vistos não só na Europa, mas em todo o mundo.
Em 9 de novembro de 1918, Lênin tomou conhecimento do início da revolução na
Alemanha, com a formação de sovietes em várias cidades. Porém, o poder foi
usurpado pelos social-democratas de direita que, liderados por Scheidemann8,
aliaram-se aos militares do antigo regime e enterraram a revolução. Em 15 de
janeiro de 1919, liquidaram a insurreição de Berlim, assassinaram Rosa
Luxemburgo e Karl Liebknecht, que haviam rompido com a social-democracia e
fundado a Liga Spartacus, e três meses depois, derrotaram e massacraram os
combatentes da jovem República Soviética de Munich, na Baviera.
Na etapa revolucionária
que se seguiu ao pós-guerra, a experiência vitoriosa do bolchevismo no processo
revolucionário russo apontava o caminho a ser seguindo pelo proletariado
mundial. A Internacional Comunista, nasceria após a vitória bolchevique na
Revolução de Outubro, em março de 1919, quando se instalou em Moscou o
congresso de fundação da III Internacional, mais um importante passo na vida do
velho militante bolchevique em sua luta pela revolução proletária
internacional.
Além de delimitar-se com
o oportunismo, era necessário que a jovem internacional, impulsionada pelo
bolchevismo, também combatesse os desvios dos esquerdistas influenciados pelo
anarquismo. Em 1921, Lênin escreve “Esquerdismo: doença infantil do comunismo”
contra os que se opunham por princípio a fazer qualquer tipo de compromisso, a
intervir nos sindicatos burocratizados, nas eleições e no parlamento burguês,
levando o movimento à esterilidade. Recomendava, porém, consagrar “todos os
esforços para que a cisão dos esquerdistas não dificulte, ou dificulte o menos
possível a fusão necessária, inevitável, num futuro próximo, num só partido de
todos que tomam parte no movimento operário e são partidários sinceros e de
boa-fé do Poder dos Sovietes e da ditadura do proletariado” (idem).
LÊNIN CONTRA A
BUROCRACIA STALINISTA
A última batalha de
Lênin em defesa do partido e da revolução dirigiu-se contra a burocratização do
Estado soviético, o enfraquecimento do monopólio do comércio exterior e o
fortalecimento das tendências nacionalistas no partido. Dirigiu-se, então,
contra Stalin que como secretário-geral do Partido Comunista concentrara em
suas mãos um enorme poder. Nas páginas de sua Carta ao XII Congresso do PC, que
ficaria conhecida como seu Testamento, deixou clara a sua posição: “Stalin é
demasiado rude e este defeito, perfeitamente tolerável nas relações entre
comunistas, é intolerável no posto de secretário-geral. Proponho, portanto, aos
camaradas que vejam o modo de retirar Stalin desse posto e nomeiem outro homem
que o supere em todos os sentidos, isto é, que seja mais paciente, mais leal,
mais afável e mais atento com os camaradas”.
Após a morte de Lênin,
em 21 de janeiro de 1924, sob a direção de Stalin, operou-se na URSS uma
contra-revolução política baseada nas concepções antimarxistas de “socialismo
num só país” e de “coexistência pacífica” com o imperialismo. Para concretizar
esta política, a burocracia perseguiu e assassinou milhares de bolcheviques. Em
1943, Stalin liquidou a III Internacional, fundada por Lênin e Trotsky, para
tranqüilizar os blocos imperialistas beligerantes, dando uma demonstração
efetiva de seus propósitos de deter a revolução mundial.
A VIGÊNCIA DO LEGADO
TEÓRICO LENINISTA
A defesa da revolução
proletária internacional e a luta para construir o partido mundial do
proletariado – objetivos que orientaram toda a vida de Lênin – ficaram
inteiramente sob a responsabilidade de Leon Trotsky que, em 1938, fundou a IV
Internacional, contrapondo-se à degeneração stalinista que impôs sucessivas
derrotas ao proletariado mundial com sua desastrosa política de Frente Popular,
uma reedição da política de colaboração de classes da social-democracia e do
menchevismo.
Hoje, passados 90 anos
da morte de Lênin, a sua principal obra, o Estado operário soviético, já não
existe mais. Foi destruído pelo golpe contra-revolucionário e pró-imperialista
encabeçado por Boris Yeltsin, em 1991, que restaurou o capitalismo na URSS,
abrindo uma etapa histórica de profundo retrocesso ideológico e político,
marcada pela quebra das conquistas sociais dos trabalhadores em todo o mundo e
por um processo de ofensiva imperialista
cada vez mais amparado na agressão militar contra os povos e as nações
oprimidas.
Para os Marxistas
Revolucionários, que não se curvaram diante da ofensiva ideológica do
imperialismo, cabe a tarefa de resgatar o legado teórico e político de Lênin
como ferramenta elementar na construção do partido revolucionário para libertar
o proletariado da influência dos agentes da burguesia ( reformistas e
revisionistas) e do imperialismo, colocando o movimento operário internacional
novamente sob a bandeira da revolução proletária mundial e do socialismo.