terça-feira, 30 de abril de 2013

Leia o Editorial do Jornal Luta Operária nº 256, 2ª Quinzena de Abril/2013
Resgatar a tradição histórica de luta proletária: Por um 1º de Maio operário, internacionalista e anti-imperialista

No momento em que celebramos o 1º de Maio, Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores, nos deparamos com o avanço da ofensiva política e militar do imperialismo em nível mundial. As provocações da Casa Branca contra o Estado operário norte-coreano, a intervenção militar francesa no Mali com o aval da ONU, a rapina imposta a Líbia após dois anos da agressão da OTAN em apoio aos “rebeldes” mercenários e os preparativos da guerra ao Irã, antecedidos de uma política de desestabilização criminosa da Síria, demonstram que a etapa histórica em que vivemos é de ataque profundo aos povos oprimidos e suas conquistas sociais, assim como de investidas contra as nações e regimes que tem fricções com os interesses dos grandes monopólios capitalistas e dos governos das metrópoles que lhes representam. Mais de vinte anos após a liquidação contrarrevolucionária do Muro de Berlim e da restauração capitalista da URSS e do Leste Europeu podemos caracterizar que se consolidou um maior controle das potências capitalistas sobre as riquezas minerais do planeta, havendo um incremento da indústria bélica para assegurar a dominação do grande capital sobre o mundo. A chave para entender esse processo contrarrevolucionário é justamente o aspecto ideológico, onde a “democracia” burguesa se consolidou como o regime político que mais garante estabilidade para a burguesia mundial, amortecendo a luta de classes e, principalmente, cooptando as direções políticas e sindicais do movimento operário que sabotam qualquer perspectiva de ruptura com a ordem vigente pela via da revolução proletária comunista.

Para combater o capitalismo e seus agentes políticos e ideológicos, como os grandes meios de alienação de massa, devemos ter claro os enormes desafios que a vanguarda do proletariado enfrenta em pleno Século XXI. Desgraçadamente, o conjunto da esquerda, inclusive as correntes que se proclamam revolucionárias, tornaram-se forças políticas que não passam de apêndices da burguesia e do imperialismo, como vemos no apoio que prestam a fantasiosa “Revolução Árabe” no Oriente Médio e no Magreb africano. Por sua vez, essas forças que bradaram contra a “ditadura sanguinária” de Kadaffi e agora fazem o mesmo com Assad, não vacilando em se aliar taticamente com a OTAN contra os regimes da Líbia, Síria e futuramente o Irã, em nome da “defesa da democracia”, são as mesmas que fazem o jogo do imperialismo e da direita reacionária contra governos da centro-esquerda burguesa na América Latina, como na Argentina ou mesmo na Venezuela. Esta realidade vem se impondo porque houve um profundo processo de social-democratização dos partidos que se dizem revolucionários, com uma completa adaptação à democracia dos ricos. Tanto que esses revisionistas se somam aos ataques da Casa Branca contra Cuba, vociferando que a ilha operária é o “país do medo” como chegou a afirmar escandalosamente a LIT.

Os trabalhadores e sua vanguarda classista neste 1º de Maio devem postar-se em defesa de uma frente única militar com a Coreia do Norte, a Síria e o Irã contra a agressão imperialista, sem depositar nenhuma confiança nos seus governos e com total independência em relação aos regimes dominantes. Desta forma, estaremos honrando no terreno vivo da luta de classes os mártires de Chicago e seu combate contra os capitalistas que completam neste 1º de Maio 127 anos, sabendo enfrentar os exploradores e sua ofensiva contra os povos. Para nós, o 1º de Maio simboliza a luta encarniçada do proletariado mundial contra os patrões, a burguesia de conjunto e seu Estado capitalista. Em 1886, ao travarem um combate heroico pela redução da jornada de trabalho, os trabalhadores de Chicago foram golpeados pela fúria patronal, através de sua justiça de classe, que condenou cinco operários à morte. A I Internacional, fundada por Marx e Engels, adotou esta data como a representação de todas as batalhas de classe e em homenagem aos mártires de Chicago. Eram tempos de profunda reação e a classe operária não dispunha de uma direção revolucionária com influência de massas, como tragicamente também ocorre na atualidade.

No Brasil, as greves operárias nas obras do PAC, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, reprimidas pela famigerada Força Nacional de Segurança desmascararam a nefasta política de colaboração de classes das centrais “chapa branca” com o governo Dilma e as grandes empreiteiras, implodindo o mal-chamado “compromisso nacional” assumido pelas direções sindicais (CUT, FS, CTB, UGT, CGTB, NCST), inclusive vergonhosamente pela própria CSP-Conlutas. As demissões sem resistência, primeiro na Embraer e agora na GM de São José dos Campos, assim como a sabotagem à resistência do Pinheirinho e a escandalosa política de contenção nas mobilizações operárias nas obras do PAC, apostando todas suas fichas na justiça burguesa e nas comissões tripartites com o governo petista e os empresários em busca de um “compromisso nacional”, são exemplos desta política no campo “doméstico”. Já em nível internacional, o imperialismo prepara uma nova investida neocolonialista contra a Síria e o Irã, tentando reproduzir a barbárie que impôs na Líbia sob o pretexto de apoiar a fantasiosa “revolução árabe” no Oriente Médio. Esses extremos da luta de classes estão umbilicalmente ligados porque em ambos os casos os trabalhadores tem que enfrentar as direções traidoras e a esquerda revisionista que busca sabotar suas lutas para melhor servir aos patrões e aos amos imperialistas. Por esta razão, devemos lutar para que este 1º de Maio tenha um caráter classista e anti-imperialista, que empunhe a bandeira do combate contra a política de colaboração de classe com o governo Dilma e lute para que a OTAN tire suas garras assassinas do Mali, Síria e Irã!

Outro debate importante a se fazer é do quadro político- eleitoral nacional. Enquanto a frente popular se prepara para em 2014 manter-se na gerência do governo burguês por mais quatro anos diante da débâcle da oposição conservadora demo-tucana, a chamada “oposição de esquerda” já anuncia o desejo de estabelecer um “terceiro campo” que incluiu a eco-capitalista Marina Silva e seu Rede. Devemos, ao contrário, denunciar o circo eleitoral e apostar na luta direta contra os ataques do governo Dilma, denunciando as candidaturas do regime, sejam de esquerda, direita e centro! Entretanto, nesse combate precisamos sempre nos postar contra as investidas para recrudescer o regime e avançar contra o movimento de massas, como foi a farsa do julgamento do “mensalão” e agora as novas provocações do STF. A postura covarde ou mesmo de cumplicidade de Lula e Dilma diante da ofensiva reacionária da direita demo-tucana e do STF, indica que os oprimidos não poderão contar com o PT para combater a criminalização dos lutadores do povo. Os que pensam ser a prisão da histórica cúpula petista um gesto de resgate da “cidadania” por parte da “corte suprema”, no mínimo se equivocam. Agindo desta forma, a esquerda “moralizante” do regime burguês atravessou o “rubicão de classe” ao legitimar a farsa montada pelo STF, com objetivo de “enquadrar” as lideranças identificadas com a esquerda, mostrando sua integral adaptação às instituições do Estado burguês. A vanguarda classista do proletariado deve se armar de um programa revolucionário diante da conjuntura política que se abre com o julgamento do “mensalão”, construindo um tripé de reivindicações que inclua o combate radical aos monopólios capitalistas de comunicação, a derrota das investidas autoritárias e golpistas do STF e, por último, a ação direta pela reposição salarial, passando por cima dos aparelhos sindicais burocratizados. Com esta plataforma devemos avançar na perspectiva socialista de consolidar um poder dos trabalhadores, completamente autônomo destas instituições apodrecidas do regime capitalista e do Estado burguês.

Por fim, como ficou demonstrado com a marcha a Brasília do dia 24 de abril, nos próximos meses haverá um calendário de falsas mobilizações de massas que antecederão as campanhas salariais corporativas do segundo semestre. Neste ato de 1º de Maio na Praça da Sé, a Conlutas, Intersindical, PSTU, PCB e PSOL juntos com setores da reacionária Igreja Católica se restringirão a pedir ao governo Dilma para “mudar a política econômica”, transferindo a disputa que realmente lhe interessa para as eleições de 2014, quando a “oposição de esquerda” ficará completamente refém da candidatura burguesa de Marina Silva. De nossa parte, denunciamos que longe do lobby sobre o Congresso, como é a campanha pelo “Fora Feliciano” ou de alimentar o “terceiro campo” com Marina Silva, está colocado ao movimento de massas irromper nesta conjuntura apresentando uma alternativa independente, radicalmente oposta a da “moralização” das instituições apodrecidas deste regime da democracia dos ricos, de seu circo eleitoral e aos pedidos que o governo do capital financeiro e do agronegócio “mude de rumo”. A chave para a mudança qualitativa da situação política consiste na entrada em cena dos batalhões pesados do proletariado, empunhando bandeiras históricas da classe em sua ação direta nos grandes centros urbanos, nas concentrações fabris e ocupando os grandes latifúndios produtivos e as agroindústrias.

Passados mais de 127 anos do combate em Chicago, em um momento dramático da luta de classes, a LBI conclama neste 1º de Maio que lutemos para derrotar as investidas das grandes potências capitalistas contra os povos oprimidos. Esta bandeira é o melhor método para que cada proletariado nacional combata sua própria burguesia “doméstica”, como o governo de frente popular no Brasil, cúmplice do imperialismo e sua ofensiva contra os povos. Compreendemos que a recomposição ideológica do proletariado, ou seja, a retomada de suas tradições classistas e dos seus métodos de ação direta não se dará de forma mecânica, ou por puro desejo de um grupo de iluminados. As dispersas reações, em nível mundial, à profunda crise capitalista que castiga o conjunto da classe operária, dimensionam o quanto estamos distantes do exemplo dado pelos mártires de Chicago. Assim como Marx entendeu brilhantemente a necessidade de “recuar” em tarefas propagandistas a ter que dirigir uma organização oportunista para “milhões”, os marxistas revolucionários de hoje compreendem as limitações e alcances de suas proposições para o movimento de massas, embriagado pelas ilusões na centro-esquerda burguesa. Neste 1º de Maio se faz necessário dizer a verdade, por mais amarga que seja ao proletariado, que a crise capitalista só terá um desfecho progressista, isto é, a possibilidade da classe operária impor um novo regime social, superando os entraves da atual etapa política, abertamente reacionária. Um bom recomeço se dará na luta por forjar a reconstrução física e programática da IV Internacional, legítima herdeira dos organismos internacionais revolucionários, como as internacionais fundadas por Marx, Engels e Lênin.

LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA