quinta-feira, 11 de abril de 2013


Há 11 anos do golpe de abril na Venezuela: a tarefa agora é derrotar o imperialismo nas ruas e nas urnas, apoiando Maduro para forjar uma via independente da burguesia no movimento de massas

Entre os dias 11 e 12 de abril de 2002, há exatamente 11 anos, a Venezuela foi palco de um golpe de estado orquestrado pelos EUA, que apontava para a instauração de uma brutal ditadura cívico-militar a la Fujimori. O golpe fracassou, mas demonstrou a disposição do então governo Bush de apostar em aventuras golpistas para aumentar seu controle econômico, político e militar sobre suas semicolônias. Hoje, com a morte (assassinato) de Chávez e às vésperas das eleições presidenciais, a melhor maneira de rechaçar os que tramaram o golpe de abril, os mesmos que estão agrupados na candidatura da direita reacionária de Henrique Capriles, é potenciar o justo ódio das massas exploradas ao imperialismo, apoiando a tendência de giro à esquerda do movimento operário. No dia 14 de abril, data das eleições presidenciais venezuelanas, a vanguarda do proletariado deve adotar uma política de “estimular” as tendências de radicalização do setor popular e camponês do nacionalismo burguês, estabelecendo uma unidade tática eleitoral com o chavismo contra a candidatura de Capriles e sua “oposição unificada” dos “esquálidos”, arquitetada e dirigida desde a Casa Branca, unidade tática que deverá ser materializada no apoio crítico à candidatura de Maduro, sem capitular politicamente ao “chavismo” e seu programa. Para os revisionistas, agora travestidos de "puristas", trata-se somente de repetir à exaustão que o “Socialismo do Século XXI” é o capitalismo maquiado de algumas salvaguardas sociais... corretíssimo e isto a LBI foi a primeira a caracterizar quando estes afirmavam que a Venezuela atravessava uma revolução... mas que proposta de ação vamos levar às massas que seguem com Maduro na perspectiva de derrotar o imperialismo e a burguesia nativa? Diremos simplesmente ao proletariado que Maduro representa as mesmas forças sociais de Capriles e que devem “aguardar” a construção do partido revolucionário para combater nas ruas o imperialismo? Ou junto a sua ação concreta iremos forjando no calor de cada combate anti-imperialista a necessidade de uma alternativa independente da classe operária. O apoio tático e pontual a Maduro não representa um “cheque em branco” ao Chavismo, ao contrário, é um passo na direção da superação das ilusões do nacionalismo burguês, baseado em uma plataforma radicalmente anticapitalista.


Incrivelmente, quase todas as explicações para o fracasso do golpe de estado apontaram que o erro dos golpistas foi ter “rompido com as instituições democráticas”, algo que não seria mais admissível nos tempos atuais etc., o que não passa de uma balela democratizante para consumo da “opinião pública”. Os próprios EUA trataram de espalhar a versão de que torciam pela derrubada de Chávez, “mas apenas por vias democráticas”. Na verdade, a recondução de Chávez à presidência da Venezuela se deveu à sequência de atropelos cometidos pelo efêmero governo golpista encabeçado pelo presidente do sindicato patronal Federação de Câmaras, Pedro Carmona, em composição com a cúpula militar venezuelana, apoiados pelo imperialismo ianque. Decisivo para o fracasso, não foram o fechamento da Assembleia Nacional, a dissolução da Suprema Corte Venezuelana, e muito menos o alijamento da Central dos Trabalhadores Venezuelanos do governo, como destacam a mídia burguesa. Apesar destas medidas contribuírem para o isolamento da cúpula dos golpistas, é exatamente com elas que se iniciam quase todos os golpes. O problema residiu na fragilidade econômica do Estado venezuelano para suportar o aumento do parasitismo imperialista.

A base material da torpeza do golpe foi o excesso de medidas entreguistas tomadas em favor dos interesses do imperialismo, mas que ao mesmo tempo atentavam contra a existência do próprio Estado já bastante debilitado financeiramente, provocando a vacilação e retrocesso no golpe por parte da casta militar diretamente vinculada ao caixa do Estado. A principal estupidez cometida pelo novo governo foi o afastamento da Venezuela da OPEP, rompendo com sua política de preços e de cotas de produção, o que fez despencar o preço do produto no mercado mundial. Pois o “governo” Carmona cometeu este ato de loucura que precipitou seu fim. O benefício imediato dos EUA não pagava o risco de matar a galinha dos ovos de ouro, o Estado venezuelano. E sem ele, quem patrocinaria as FFAA venezuelanas? Estas medidas provocariam uma desvalorização absurda do petróleo exportado pelo país, e levariam a bancarrota financeira do Estado venezuelano em curtíssimo prazo. Os resultados desta abrupta desvalorização se alastrariam por todo o mercado mundial e poderia abalar profundamente ao conjunto dos países fornecedores de hidrocarbonetos. Por sua vez, a eliminação dos poderes do legislativo, da Constituição e do judiciário pelo governo provisório, instaurando um governo ultradireitista, assustou as burguesias latino-americanas, criando um grave precedente golpista, apontado contra elas mesmas, fato que contribuiu para a reprovação diplomática de quase todos os governos do continente, a exceção dos próprios EUA e da Colômbia. O golpe foi uma patetada da cúpula militar venezuelana, conduzida por um setor ultraentreguista das FFAA e pelo empresariado ligado à petroleira Venoco e à Fedecámaras, que se deram conta do “ato de loucura” que estavam praticando só depois de tê-lo iniciado.

O fenômeno do chavismo nasceu como uma alternativa política burguesa para o esgotamento de exploração imperialista baseada exclusivamente no modelo monoprodutivo petroleiro e para o esgotamento do regime das oligarquias, o bipartidarismo (revezamento no poder dos partidos AD e COPEI) que governou o país durante mais de três décadas. Desde o levante popular do Caracazo em 1989, nenhum governo conseguiu reestabilizar a democracia venezuelana e com a eleição de Chávez, dez anos depois a burguesia pretendia canalizar o descontentamento popular para o terreno da institucionalidade. O chavismo surgiu prometendo eliminar a corrupção, desenvolver outros ramos industriais e salvar o Estado da bancarrota, aumentando a arrecadação de impostos sob a exploração local e os preços do produto em nível internacional, mas fracassou em todos os terrenos. O alto custo do parasitismo das oligarquias capitalistas locais e estrangeiras impede qualquer alívio nos cofres estatais mesmo quando sobe o preço do barril. A incapacidade do chavismo ou de qualquer setor da burguesia nacional de resolver minimamente as tarefas democrático-burguesas de desenvolvimento nacional pendentes, dada a dependência pusilânime que lhes mantêm atados ao imperialismo, colocou o governo Chávez num impasse e, ao invés de diminuir a dependência do país em relação ao petróleo, Chávez aprofundou o caráter petrolífero da economia. Tratou-se de mais uma demonstração inequívoca de que não há saída progressista para a exploração e opressão nacionais fora do caminho da revolução proletária.

Se o golpe de 2002 fracassou pela falta de respaldo de setores do imperialismo, agora com a oposição tendo ampliado sua base social e eleitoral, gestam-se as premissas para a Casa Branca impor uma alternativa ao “Socialismo do Século XXI” pela chamada via democrática. O povo venezuelano que apesar da mediação chavista, se confrontava com os fundamentos do establishment capitalista, deverá agora enfrentar mais duramente a oligarquia “crioula”, pela qual responde a chamada oposição liderada pelo multimilionário fascistizante Henrique Capriles, o herdeiro político dos golpistas de 2002. Por isto, diante do ascenso multitudinal das massas venezuelanas após a morte provocada de Chávez (desde a Guerra Fria a CIA vem trabalhando com afinco para desenvolver substâncias que podem matar líderes “inconvenientes” de países não-alinhados sem deixar qualquer vestígio ou provas de envenenamento), as ameaças declaradas do monstro imperialista e da “oposição” golpista a soldo da Casa Branca e uma possível “mobilização democrática” organizada pela CIA, nada mais correto do que os genuínos revolucionários lançarem a palavra de ordem de acompanhar o apoio a Maduro sem capitular ao chavismo. Com o objetivo de impulsionar e dar vazão às enormes expectativas anti-imperialistas das massas em relação ao futuro político da Venezuela, deve-se apontar o voto crítico no PSUV. Isto porque sob a intensa pressão das massas o regime chavista foi obrigado a se confrontar, em certa medida, com os interesses políticos do imperialismo, como o apoio dado a Líbia e a Síria contra a intervenção militar da OTAN, apesar de nunca ter rompido os laços comerciais com os EUA (fornecimento do óleo cru às petrolíferas ianques).

Os grupos pseudo-trotskistas (PTS, LIT, UIT, PCO), os mesmos que se aliaram a OTAN na Líbia e a seus “rebeldes” na Síria, chamam o voto nulo em 14 de abril, alegando que Maduro é o candidato de um partido burguês nacionalista, portanto apoiá-lo seria "capitular ao chavismo"! Mas a questão é justamente esta, ou seja, se é possível apoiar criticamente no terreno das eleições um candidato nacionalista burguês, se em determinado momento as massas usam esta candidatura para expressar, ainda que deformadamente, sua luta contra o imperialismo! Quando Chávez morreu, a população ocupou massivamente as ruas das principais cidades do país em reverência e memória ao líder bolivariano, em uma cristalina demonstração de seus sentimentos anti-imperialistas diante das incertezas para o próximo período, não obstante os obstáculos e limitações que o nacionalismo burguês lhes impunha. Neste 14 de abril este sentimento se expressa, independente da vontade destas seitas, na candidatura de Maduro, havendo espaço para que as massas seguiam adiante com sua ação independente no sentido de colocar o regime político na berlinda. Muitos desses grupos reconhecem inclusive que o candidato do PSUV tem origem no movimento operário (foi dirigente do sindicato dos metroviários de Caracas), porém argumentam que ele não estimula a “independência de classe”. Esses estúpidos revisionistas, que não se cansam em afirmar que estamos à beira da “revolução” e que apoiaram os mercenários da CIA na Líbia, agora fingem ser “puros” marxistas ortodoxos! Ao contrário desses embusteiros que se aliam a Obama e ao imperialismo mundial em nome da farsesca “revolução árabe”, apoiamos criticamente a Maduro não porque depositamos confiança ou ilusões nele, ao contrário, compreendemos perfeitamente seus limites programáticos. Porém, neste momento sua candidatura representa concretamente o apoio da parcela mais consciente da vanguarda no país, expressando mesmo contra a vontade de Maduro a radicalidade e o ascenso das massas exploradas em luta contra o imperialismo.

Para "celebrar" os 11 anos do golpe de abril, os trabalhadores venezuelanos devem intervir taticamente neste processo eleitoral de forma independente, apoiando criticamente a candidatura de Nicolás Maduro no sentido de se constituir como alternativa aos setores patronais do chavismo, sem capitular uma vírgula sequer ao seu programa nacionalista burguês, estabelecendo uma profunda demarcação de campos com a reação pró-imperialista. Ao mesmo tempo, não devem depositar nenhuma confiança nas direções “bolivarianas” que a qualquer momento podem ceder às investidas da Casa Branca e às pressões da “oposição”, uma vez que desejam manter o regime de exploração capitalista seja com matizes “nacionalistas” ou entreguistas. A senda correta a ser percorrida é a luta em defesa e ampliação das conquistas sociais da classe operária, forjando no calor da batalha um programa genuinamente comunista de completa ruptura com o nacionalismo burguês. Devemos convocar a vanguarda classista para a ação direta, contemplando uma plataforma de ocupações de fábricas, nacionalizações de grupos econômicos sob o controle dos trabalhadores e socialização do latifúndio. A tarefa que se impõe nesta polarizada conjuntura, acompanhando a evolução política das massas, é a construção do partido operário revolucionário, única forma de combate consequente ao Estado capitalista!