PROTESTOS “CONTRA A CORRUPÇÃO” NA ROMÊNIA: UM PRETEXTO PARA
IMPOR UM GOVERNO AINDA MAIS ALINHADO COM O IMPERIALISMO IANQUE EM UM ANTIGO
ESTADO OPERÁRIO ESTRATÉGICO DO LESTE EUROPEU, HOJE BASE MILITAR DA OTAN
Sete dias de protestos consecutivos em Bucareste, capital da Romênia. Parte dos romenos protestam pela retirada da polêmica lei que descriminalizava abusos de poder cujos prejuízos financeiros fossem menores do que 44 mil euros. O Partido Social Democrata (PSD), do primeiro-ministro Sorin Grindeanu, havia decretado novas regras para a punição de crimes, incluindo os de corrupção. Pelo decreto agora revogado, crimes de corrupção envolvendo quantias menores que € 44 mil não seriam punidos com prisão. Diante da reação o projeto foi retirado. Mas é realmente apenas isso o que está por trás das manifestações contra o governo social-democrata eleito em dezembro na Romênia, um antigo Estado Operário deformado que veio abaixo em 1989 como parte da restauração capitalista no Leste Europeu? O PSD venceu as eleições com promessas de aumentar o salário mínimo. Seus dirigentes não esperavam despertar tão depressa um movimento de protesto “contra a corrupção” com as maiores manifestações desde a queda do regime stalinista em 1989 que levou a morte de Ceausecu e sua companheira, Elena. Os dois principais partidos da oposição (de direita) já disseram que vão apresentar uma moção de censura, e também o Presidente do país, Klaus Iohannis, se mostrou contra: “hoje é um dia de luto para o Estado de Direito”. Iohannis é um neoliberal declarado, antes de assumir seu cargo atual, foi presidente do Fórum Democrático dos Alemães na Romênia. Como aqui no Brasil nas manifestações da direita verde-amarela contra o PT, bonecos de membros do governo, vestidos de presidiários, podem ser observados em diversos pontos da multidão, que entoa gritos de ordem, pedindo a deposição do governo. A agência Mediafax revelou que os participantes dos protestos entregaram flores à polícia, em sinal de paz. Não foram registrados incidentes violentos. A agência Agerpres notou que famílias inteiras participam do ato e que há muitas crianças. Lembremos que Ceausescu foi fuzilado em 1989, na esteira de um golpe pro-imperialista que depôs o governo em nome da “democracia” que atirou o país em uma situação de extrema pobreza. A Romênia é a segunda nação mais pobre da Europa, em seguida à Bulgária, e um dos mais atingidos pela crise econômica. Nos últimos quatro anos, os romenos foram golpeados por um devastador plano econômico que cortou despesas públicas sociais - saúde e educação -, aumentou impostos, cortou salários e aposentadorias. Tudo para obter um novo empréstimo de 4 bilhões de euros do FMI, o que aumentou ainda mais o descontentamento social. O país integra a UE e agora é base do escudo anti-mísseis da OTAN. A Romênia entrou, com a Bulgária, para a União Europeia em 1° de janeiro de 2007. Desde então a UE vem investindo milhões de euros no país, em todas as suas frentes, e companhias e companhias desembarcam nesse novo território de conquista. A rentabilidade parece fantástica: muitas empresas que ali se instalaram têm índices de produtividade e de lucro exponenciais, perto de suas matrizes que ficam alhures, na Europa. No final de 2016 houve o envio da primeira de quatro brigadas que a OTAN prevê manter na Polônia e nos três países bálticos, bem como na Romênia, Bulgária e Hungria, concretiza a decisão tomada na cimeira da Aliança Atlântica, realizada em julho de 2016 na capital polaca, Varsóvia. Quando estiver completa a operação, o bloco político-militar passará a contar naqueles territórios com um total de quase quatro mil homens, cerca de 90 tanques de guerra e 650 veículos de combate pesados e ligeiros (Bradley e Humwee). A maior mobilização militar dos EUA para o Leste da Europa desde o fim da chamada guerra fria, ocorre a pretexto da intervenção de Moscou na Crimeia e do envio de mísseis Iskander para o enclave russo de Kaliningrado, situado nas proximidades da Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia. O Kremlin, porém, contra-argumenta lembrando que as suas decisões foram implementadas após a ingerência do eixo euro-norte-americano na Ucrânia e da cavalgada da OTAN para junto das fronteiras da Federação Russa, no quadro do qual será instalado na Polônia e na Romênia um sistema de mísseis. A Aliança Atlântica tem também reforçado os meios envolvidos em jogos de guerra e promovido a sua proliferação no flanco oriental europeu, avolumando os protestos do Kremlin que enquadra a corrida do bloco político-militar imperialista para Leste como uma ameaça. Meses atrás, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, alertou a Romênia e a Polônia de que os dois países poderiam se ver na mira de foguetes russos porque eles estão recebendo elementos do escudo antimísseis dos Estados Unidos, considerado por Moscou uma ameaça a sua segurança; "Se ontem nessas áreas da Romênia as pessoas simplesmente não sabiam o que significava estar na mira, então hoje nós seremos forçados a tomar certas medidas para assegurar a nossa segurança". (Brasil 247, maio/2016). Tudo indica que por trás das manifestações “contra a corrupção” estão forças pró-imperialistas que desejam reforçar os vínculos do país com a UE, o imperialismo ianque e a OTAN em um antigo estado operário estratégico do Leste Europeu para incrementar o cerco a Rússia.