A greve dos caminhoneiros, uma categoria heterogênea que
engloba motoristas autônomos e empregados de grandes empresas de transporte de
cargas, além de paralisar parcialmente o país, ameaçando o fornecimento de
combustíveis e alimentos, abriu um importante debate no interior da esquerda:
devemos apoiar ou não a paralisação dessa categoria? Há uma justa desconfiança
entre a vanguarda classista em apoiar a greve dos caminhoneiros, tanto porque o
grosso da categoria apoiou o golpe parlamentar em 2016, como por seu histórico
no Brasil e no mundo em ser uma marionete da reação burguesa. Devemos ter claro
que essa categoria é tradicionalmente manipulada pela direita e também
controlada por empresas do setor de transporte, ainda que nesse momento seja
porta-voz da justa denúncia do aumento dos combustíveis. Possui um peso social
e econômico enorme, sobretudo num país continental como o Brasil, ultra
dependente do transporte rodoviário para circular as mercadorias. Nestas condições,
podem tornar-se um fator de desestabilização política agora e até mesmo nas
vésperas das eleições presidenciais de outubro, ainda mais que o movimento é
controlado por uma burocracia mafiosa dirigida por setores direitistas. Nesse
sentido é necessário que os trabalhadores com tradição de luta entrem em cena,
para protestar contra o aumento do custo de vida para colocar nas mãos dos
lutadores sociais o combate direto contra a carestia, acaudilhando atrás de si
os setores mais atrasados e desorganizados do povo trabalhador. Entretanto é
preciso reconhecer que o protesto contra o aumento dos combustíveis ganhou
rapidamente a simpatia popular, na medida em que o povo trabalhador sente na
pele e no bolso que a elevação dos preços da gasolina, álcool, Diesel e do Gás
de cozinha geram o aumento do custo de vida das massas, capitalizando o ódio
popular contra o governo Temer. Os caminhoneiros lutam pela redução do preço do
Diesel, não encamparam a bandeira popular de baixar os preços dos demais
derivados do petróleo, justamente porque são uma categoria cortada pelos
interesses patronais. Limitam-se a reivindicar o corte de impostos para que o
Tesouro Nacional absorva a redução do Diesel na bomba. Apesar disso, sua pauta
não é reacionária, mas limitada porque não aponta a necessidade da redução e
congelamento do preço de todos os combustíveis, do Gás de cozinha e muito menos
se colocam contra a privatização da Petrobras, em resumo, não chamam a unidade
popular para derrotar o governo golpista neoliberal. Nesse sentido, suas reivindicações
devem ter o apoio crítico e parcial dos trabalhadores no embate com o cartel
dos combustíveis controlado pelo imperialismo ianque e europeu. A esmagadora maioria das
direções dos caminhoneiros são direitistas e devem ser combatidas vigorosamente
pelos lutadores de esquerda. Para que esse movimento não caia completamente nas
mãos da direita reacionária é preciso que os trabalhadores organizados entrem
em cena, particularmente os petroleiros e os sem-terra, com bloqueios das
estradas e a ocupação das refinarias, o que coloca concretamente a questão da
unidade com os caminhoneiros, que terão que se unir aos operários e explorados
ou se voltar unicamente a sua limitada pauta corporativa. O movimento operário
não pode ficar alheio e vendo “de camarote” a conjuntura nacional se
polarizando. Tem de entrar neste movimento com suas pautas e seus métodos de
luta. Os sindicatos operários tem de mobilizar sua base agora, sobretudo CUT,
apesar do grau de burocratismo, para levantar a luta pela derrubada do governo Temer
e a demissão imediata de Pedro Parente, para que a Petrobras seja controlada
pelos trabalhadores. Como o PT somente aposta no circo eleitoral apesar da
prisão de Lula, vem tendo um papel completamente nulo diante dessa conjuntura,
com grande parte de seus apoiares acusando a greve de ser um “Lockout”
reacionário, o que não é verdade. A entrada do movimento operário pode levar essa
greve dos caminhoneiros a dar um giro a esquerda, inclusive com potencial para
uma Greve Geral. As pautas principais tem de estar relacionadas a estatização
completa da Petrobras, fim da emissão de seus papéis nas bolsas, ligando a
outras pautas como cancelamento da reforma trabalhista etc. A direção pelega
defende uma pauta pró-patronal em muitos pontos mas em parte deles há concordância com vários anseios populares, no entanto, se o movimento operário entrar em luta,
pode levá-la para um curso progressivo, com as pautas operárias, ligando a
questão da estatização completa e de fato da Petrobras a demandas proletárias.
Os trabalhadores não podem ficar alheios: tem de disputar a direção, ou pelo
menos buscar influenciar este movimento, tirando-o da influência patronal e
pequeno-burguesa. Existem claramente contradições no movimento dos
caminhoneiros. Mas o efeito mais importante dela é certamente, ter colocado em
crise a política de Temer-Parente de completa entrega da Petrobrás. Para a LBI,
esse é uma posição justa e revolucionária diante da greve dos caminhoneiros,
nem virar as costas para o movimento (como defendem setores do PT) nem apoiá-lo
acriticamente (como faz o PSTU), manter uma linha principista “no fio da
navalha” nesta complexa conjuntura, o que passa pela denúncia vigorosa da Lava
Jato patrocinada pela Casa Branca e apoiada por grande parte dos caminhoneiros,
uma operação político-judicial que contribuiu em muito nos últimos anos por
manter o Brasil um país eternamente submisso a política e economicamente as
potências imperialistas e as “Sete Irmãs” (cartel das transnacionais do
petróleo). Ao mesmo tempo é preciso se colocar frontalmente contra a repressão
das FFAA e das “forças federais” (PF, PRF) anunciada hoje contra os
caminhoneiros em greve, porque uma investida repressiva contra o movimento
reforça o ataque da burguesia e seu Estado policial contra o conjunto do
movimento operário e camponês, pavimentando as condições para no futuro ser
desatado um golpe militar no país.