sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

PUTIN RENEGA LENIN: ATAQUE VISA ENCOBRIR QUE O ATUAL GOVERNO BURGUÊS É HERDEIRO DO BANDO RESTAURACIONISTA RESPONSÁVEL PELA DESTRUIÇÃO DA URSS. EM DEFESA DO LENINISMO E DO PARTIDO BOLCHEVIQUE!


Ganhou grande destaque na mídia mundial a entrevista em que Vladimir Putin acusa Lenin de ser responsável pela destruição da URSS, ainda mais quando a declaração ocorreu no dia em que se celebravam os 92 anos da morte do principal dirigente bolchevique responsável por edificar a União Soviética e não destruí-la! Segundo a imprensa russa (Russia Today – RT, Interfax) no contexto da discussão sobre um verso do poeta russo Boris Pasternak, na qual Lenin é mencionado como uma pessoa que pode “controlar o fluxo de pensamento e, portanto, conseguiu controlar o país” Putin atacou Lênin. Segundo o presidente russo, “Controlar o fluxo de pensamento é bom, mas este pensamento deve trazer um resultado correto, e não como o fez Vladimir Ilyich Porque como resultado seu pensamento levou à queda da União Soviética, havia muitas ideias incorretas. A criação de autonomias nacionais, e assim por diante. Eles colocaram uma bomba atômica sob o edifício chamado Rússia e este finalmente explodiu” (RT, 21.01). Como se observa, a crítica de Putin, ex-agente da KGB formado na escola do stalinismo, é contra a posição de Lenin em defesa da autonomia das repúblicas soviéticas na URSS, plataforma também defendida por Trostky em oposição às teses defendidas a época por Stálin. Além da mídia venal, os revisionistas do trotskismo (PSTU, CST) aproveitaram a declaração de Putin para defender suas atuais posições pró-imperialistas em defesa da “autonomia” da Ucrânia, governada hoje pelos golpistas-fascistas de Kiev em oposição a Moscou. Como Marxistas-Leninistas defendemos as posições de Lênin e Trotsky e rechaçamos categoricamente os ataques de Putin ao edificador da URSS e dirigente maior do Partido Bolchevique. As críticas de Putin demonstram uma visão que muito se aproxima do stalinismo, em defesa da “grande pátria mãe” própria do nacionalismo russo, plataforma duramente criticada por Lenin. Essa crítica é condensada no artigo “A RESPEITO DO PROBLEMA DAS NACIONALIDADES OU SOBRE A ‘AUTONOMIA’” (1922) em que Lenin chega a seguinte conclusão “A responsabilidade política de toda esta campanha de verdadeiro nacionalismo russo deve fazer-se recair, é claro, sobre Stalin e Dzerzhinski” complementando que “Nestas condições é muito natural que a ‘liberdade de separar-se da união’, com que nós nos justificamos, seja um papel molhado incapaz de defender os não russos da invasão do russo genuíno, chauvinista, no fundo um homem miserável e dado à violência como é o típico burocrata russo. Não há qualquer dúvida de que a insignificante percentagem de operários soviéticos e sovietizados afundariam nesse mar de imundícia chauvinista russa como a mosca no leite. Em defesa desta medida diz-se que foram segregados os Comissariados do Povo que se relacionam diretamente com a psicologia das nacionalidades, com a instrução nas nacionalidades. Mas a respeito disto ocorre-nos uma pergunta, a de se é possível segregar estes Comissariados por completo, e uma segunda pergunta, a de se temos tomado medidas com a suficiente solicitude para protegermos realmente os não russos do esbirro genuinamente russo. Eu acho que não as tomamos, embora pudéssemos e devêssemos tê-lo feito. Eu acho que neste assunto exerceram uma influência fatal as pressas e os afãs administrativos de Stalin, bem como a sua aversão contra o decantado ‘social-nacionalismo’. Via de regra, a aversão sempre exerce em política o pior papel”. Referindo-se a esta polêmica entre Lenin e Stálin, Trotsky lembrou no texto “A QUESTÃO UCRANIANA” (1939) que “Após a tomada do poder, teve lugar no partido uma séria luta pela solução dos numerosos problemas nacionais herdados da velha Rússia tsarista. No seu carácter de comissário do povo para as nacionalidades, Stalin representou invariavelmente a tendência mais burocrática e centralista. Isto tornou especialmente evidente na questão da Geórgia e na da Ucrânia. Até hoje, a correspondência não foi publicada. Esperamos poder editar a pequena parte de que dispomos. Cada linha das cartas e propostas de Lenine vibra com a urgência de conformar na medida do possível aquelas nacionalidades que tinham sido oprimidas no passado. Em troca, nas propostas e declarações de Stalin, salientava invariavelmente a tendência para o centralismo burocrático. Com o fim de garantir ‘necessidades administrativas’, quer dizer, os interesses da burocracia, as mais legítimas reclamações das nacionalidades oprimidas foram declaradas manifestações de nacionalismo pequeno-burguês. Estes sintomas já podiam perceber-se bem cedo, em 1922-1923. Desde essa altura, tiveram um monstruoso crescimento, levando a uma completa asfixia qualquer tipo de desenvolvimento nacional independente dos povos da URSS.” Como se observa, hoje Putin defende historicamente as mesmas posições nacionalistas de Stálin contra a defesa do internacionalismo e da solidariedade de classe entre os povos proclamada por Lenin e Trotsky. Lembremos que Lenin e Trotsky defendiam o direito a autonomia no marco da defesa da URSS e de sua economia planificada e obviamente não para facilitar a restauração do capitalismo. Esta posição fica clara quando Lenin no mesmo texto (A RESPEITO DO PROBLEMA DAS NACIONALIDADES OU SOBRE A ‘AUTONOMIA’) afirma “Por isso, neste caso, o interesse vital da solidariedade proletária e, portanto da luta proletária de classe, requer que jamais olhemos formalmente o problema nacional, senão que sempre levemos em conta a diferença obrigatória na atitude do proletário da nação oprimida (ou pequena) para a nação opressora (ou grande).Quê medidas prática se devem tomar nesta situação? Primeira, cumpre manter e fortalecer a união das repúblicas socialista; sobre isto não pode haver dúvida”. Trotsky vai no mesmo sentido no artigo “A INDEPENDÊNCIA DA UCRÂNIA E A CONFUSÃO SECTÁRIA” (1939) em que pontua “A necessidade de um compromisso, ou melhor, de vários compromissos, se coloca de maneira similar no tocante à questão nacional, sendas que não são mais retilíneas que as da revolução agrária. A estrutura federada da União Soviética é fruto de um compromisso entre o centralismo que exige uma economia planificada e a descentralização necessária para o desenvolvimento das nações que no passado estavam oprimidas. Construído o Estado operário sobre o princípio de compromisso de uma federação, o Partido Bolchevique inscreveu na sua constituição o direito das nações à separação completa, indicando desta maneira que não considera resolvida de uma vez e para sempre a questão nacional.”. Mesmo rechaçando publicamente as posições de Putin, a LBI de forma alguma se embloca hoje com os agentes do imperialismo de Kiev contra a Rússia para aprofundar a recolonização capitalista na ex-república soviética, posição assumida pelos revisionistas do Trotskismo. Ao contrário, defendemos a unificação da Criméia com a Russia e apoiamos o direito à separação das "repúblicas populares" do Leste ucraniano.

Não por acaso o mesmo Putin que ataca Lênin acaba a entrevista dizendo que não tem o objetivo de recriar a URSS: “O Ocidente teme a recriação da URSS, embora ninguém planeja” (RT, 21.01.2016), uma declaração claramente voltada a tranquilizar o imperialismo e exorcizar qualquer referência ou saudosismo do “bolchevique” no Kremlin dos dias atuais. Ainda que estejamos no campo político e militar de uma frente única com entre Putin contra o imperialismo, como Marxistas Revolucionários militamos neste terreno de luta com total independência política e de classe diante do governo burguês de Putin. A Rússia, desde sua “reconstrução” capitalista vem se configurando como uma semicolônia do imperialismo europeu, fornecedora de commodities agrominerais de baixo valor agregado. Apesar disso a Rússia capitalista herdou um arsenal bélico da era soviética e todos seus projetos militares, sua força atual advém deste legado fundamental e não de uma “ousadia” particular de Putin. Isto permitiu que o país tenha se reafirmado como força regional que tenta resistir à política ofensiva das potências ocidentais sob sua esfera de influência mais próxima, com uma série de iniciativas limitadas como a União Alfandegária Euroasiática ou mesmo subsidiando o preço do gás para aliados, embora de nenhuma maneira se transformasse em uma grande potência capitalista: sua economia é cada vez mais rentista e dependente do preço do petróleo e do gás, regido pela especulação do mercado capitalista internacional. Apesar de Putin ter retomado o controle de setores estratégicos da economia nacional desde que ascendeu ao Kremlin, na condição de representante da nova burguesia ele manteve intocável o modelo de restauração capitalista que colocou as finanças do país nas mãos dos grandes bancos privados nacionais e internacionais (rentistas) e aprofundou as relações comerciais dependentes com o imperialismo (particularmente a Alemanha e França) importando grande parte dos produtos industrializados, o que tem gerado um gigantesco rombo em sua balança comercial e provocado recessão com a alta do dólar e a desvalorização do rublo. Putin não reestatizou a economia e muito menos avançou em qualquer medida que se chocasse com os interesses da “nova burguesia” restautacionista. Na verdade, a camarilha de Putin, apesar de ser herdeira política direta da contrarrevolução social comandada por Boris Yeltsin, que colocou a “grande Rússia” de joelhos diante dos EUA, pensa em retomar o velho projeto nacionalista de um setor da burocracia stalinista, só que agora não mais voltado a Europa do Leste e sim ao lado oriental e asiático. Denunciando estes limites de classe do governo burguês de Putin que via de regra deseja chegar a um acordo "soberano" com o imperialismo, os revolucionários estão no campo de batalha político-militar, ombro a ombro com o proletariado russo e seus aliados, forjando as condições para edificar um partido revolucionário internacionalista capaz não só de derrotar o imperialismo na Síria, mas para fundamentalmente reerguer a bandeira soviética na pátria de Lenin, superando o programa de Putin que se limita a patrocinar o sonho nacionalista-burguês da "Grande Rússia" como um herdeiro burguês que copia a utopia reacionária do stalinismo em pleno século XXI!

Lembramos que 20 de agosto de 1991 um golpe militar dirigido por generais stalinistas e setores da KGB tentou barrar a divisão da URSS um dia antes da celebração do chamado "Tratado da União" que criava uma Federação de Repúblicas Independentes, com ampla autonomia para seus presidentes levarem a cabo a restauração capitalista. Sob o comando do então vice-presidente da União Soviética, Gennady Yanaiev, esta ala da burocracia prendeu Gorbachev com o objetivo de retomar o controle do aparelho central do então Estado operário soviético. O golpe foi derrotado militarmente e de seu fracasso surgiu como novo ícone da restauração capitalista o "herói" Boris Yeltsin, então presidente da Federação Russa, que tratou de dar curso ao processo de liquidação contrarrevolucionária da URSS. Yeltsin comandou um setor restauracionista que havia rompido com o aparato estatal do PCUS, se alçou à condição de representante direto do “mercado” e venceu, com a ajuda da burguesia mundial, o golpe de estado liderado pelos burocratas stalinistas do Comitê de Emergência. Os restauracionistas tomaram o poder de estado, instaurando um governo capitalista na Rússia, disposto a destruir as antigas bases sociais do Estado operário através da autonomia total das então repúblicas soviéticas, privatizar a economia estatizada e a restaurar o capitalismo na região, transformando a antiga URSS numa semicolônia capitalista, condição na qual atualmente se encontra a Rússia, apesar de uma certa recuperação econômica atual. Yelstin e seu bando restauracionista foram de fato os responsáveis pelo fim da URSS e não Lênin como cinicamente acusa Putin, herdeiro direto do bando restauracionista que se alinhou em 1991 ao imperialismo.

Trotsky definiu o stalinismo como um fenômeno diretamente ligado à degeneração do Estado Operário soviético, uma casta que parasitava as enormes conquistas da revolução de Outubro como a estatização e a planificação da economia. Neste sentido, o combate mortal dos revolucionários ao stalinismo se desenvolveria nos marcos da defesa incondicional do Estado operário, ou seja, eliminar o câncer que o acometeu preservando a vida do paciente, no caso, a própria URSS. A tarefa central do proletariado era o de restabelecer seu poder através de uma revolução política que de forma alguma alteraria as bases econômicas do Estado soviético conforme afirmou Trotsky da seguinte forma: “Frente à URSS, um operário tem o direito de dizer que os bandidos da burocracia transformaram o Estado operário em algo que só o diabo saberá dizer o que é isso! Porém, quando passa a sua reação explosiva para a solução do problema político, vê-se obrigado a reconhecer que tem diante de si um Estado operário estropiado, cujo motor econômico está danificado, mas ainda continua funcionando e que pode ser completamente recondicionado com a substituição de algumas peças” (Em defesa do Marxismo, Léon Trotsky). Para os autênticos trotskistas a liquidação da burocracia stalinista levada a cabo não pela classe operária e seu partido revolucionário, mas sim por um setor da própria burocracia, apoiada diretamente pelo imperialismo, que se lança como classe capitalista para apropriar de forma privada os meios de produção, destruindo assim o Estado operário e todas as conquistas da Revolução de Outubro jamais poderá ser qualificada como uma “revolução operária democrática” ou qualquer outro termo inventado pelos revisionistas do trotskismo como o PSTU e a CST.

Não nutrimos a menor simpatia política pelos bandos mafiosos restauracionistas que se instalaram no poder na Rússia desde a contrarrevolução de agosto de 1991, ao contrário, nos postamos ao lado da ala da burocracia stalinista (Bando dos 8) que tentou barrar a seu modo torpe esse processo então comandado por Boris Yeltsin e depois levado adiante por Putin. Porém não apoiamos qualquer “movimento” de fachada democrática patrocinado pelo Departamento de Estado ianque que tenha como objetivo preparar as condições para defenestrar Putin pelas mãos de uma ofensiva imperialista para impor um nome ainda mais alinhado com a Casa Branca. Para derrotar os bandos restauracionistas agrupados em torno da dupla Putin-Medvedev é necessário uma nova revolução social que faça da construção de uma nova Rússia soviética uma realidade política concreta, erguendo um Estado operário capaz de enfrentar a máquina que guerra do imperialismo ianque em unidade com as ações de massas do proletariado mundial.