SUMÁRIO DA REVISTA MARXISMO
REVOLUCIONÁRIO Nº 16
APRESENTAÇÃO
NATIMORTO IMPEACHMENT
CONTRA DILMA
“Feliz ano velho”... Para enterrar o impeachment, Dilma
promete à burguesia aprofundar receita neoliberal com novos ataques covardes
aos trabalhadores
Golpe mortal do STF no Impeachment: a posição da burguesia
continua sendo "sangrar" Dilma por mais tempo
Golpe parlamentar para derrubar Dilma ou ofensiva neoliberal
do governo contra os trabalhadores: Qual a ameaça real a combater?
PT defende “mobilização pela democracia” implementando
“ajuste” receitado pela direita contra os trabalhadores
“Smia, Caudam Tuam Custodi”: MRT/LER critica PSTU por
“flertar com a direita” ao defender eleições gerais porém propõe pior, entregar
o poder a reação burguesa via uma assembleia constituinte
Polêmica PCO versus PSTU: "Golpismo ou Dilmismo",
pode haver outra alternativa para os trabalhadores?
Família morenista (PSTU, CST, MRS) “flerta” com o Fora
Dilma! Os genuínos trotskistas defendem defenestrar as manifestações
reacionárias e derrotar o ajuste neoliberal!
ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS 2014
Quarta "gerência" estatal consecutiva revela plena
confiança da burguesia nacional no PT
Dilma e Aécio, duas faces da ofensiva burguesa contra os
trabalhadores!
Eleições: Um verdadeiro balcão de negócios que atravessa
desde a esquerda reformista até a direita fascistizante
Apesar da ofensiva da “nova” direita (PSDB, PSB e REDE)
contra o PT, Dilma ainda mantém o apoio da maioria da burguesia nacional
No combate à democracia dos ricos, construir os Comitês
Ativos pelo Voto Nulo!
Três candidaturas revisionistas, mas apenas um único
programa que legitima a farsa eleitoral da democracia dos ricos
Borón, o apoio muitíssimo “crítico” ao PT e seu “sonho” do
capitalismo finlandês
O chamado ao Voto Nulo realmente favorece a direita? Uma
resposta classista a Breno Altman
O “acidente” fatal de Campos e a “operação” embuste Marina:
Teoria da conspiração ou uma exigência do imperialismo?
Porque os Trotskistas apoiaram Maduro para derrotar a
direita golpista e não votam em Dilma contra a Tucanalha? Semelhanças e
diferenças entre o nacionalismo Chavista e os neoliberais de esquerda do PT
ATAQUE A PETROBRAS
Ofensiva imperial para destruir a Petrobras
O verdadeiro caráter da crise da Petrobras, uma polêmica com
os revisionistas da LER e afins
"Petrolão": A "descoberta da roda" pelos
vestais tucanos ou uma manobra para paralisar o refino do petróleo nacional?
Petrobras entra no centro da polarização eleitoral: Afinal o
“pré-sal” é uma bandeira nacionalista que Marina quer desprezar?
OPERAÇÃO LAVA JATO
Lava Jato não é uma operação anticapitalista e nem pretende
fazer justiça contra grandes burgueses, seu objetivo é favorecer oligopólios
imperialistas criminalizando o PT
Os 10 anos do “Mensalão”, a atual Operação Lava Jato e a
perseguição a Dirceu e dirigentes históricos do PT: Covardia política de lula
abriu caminho para a ofensiva reacionária contra toda a esquerda e o movimento
operário
“Operação Lava Jato” e Marcha do 15 de Março: Duas faces da
ofensiva para privatizar a Petrobras e criminalizar o PT
INTERNACIONAL
As eleições na América Latina expressam a fadiga crescente
dos governos da “centro-esquerda” burguesa
Direita vence eleições parlamentares na Venezuela:
Encruzilhada para o chavismo, ou expropria os capitalistas sabotadores ou será
varrido do poder pela via da democracia burguesa
Macri triunfa prometendo atacar a Venezuela, porém
Morenistas e Altamiristas comemoram afirmando "que será um governo mais
débil para aplicar o ajuste"
EUA e Cuba reabrem suas embaixadas: Enfrentar o "abraço
de urso" restauracionista que Obama deseja impor ao estado operário com a
redobrada defesa da revolução e das conquistas sociais frente a
"nova" tática do imperialismo ianque
Acordo nuclear: “Recuo” atual do imperialismo ianque tenta
ganhar tempo para desarmar o Irã
Vitória do Syriza: Mais uma gerência socialdemocrata de
“esquerda” à serviço da Troika! Convocar o KKE, principal referência da
esquerda classista, a encabeçar Oposição Operária ao governo Tsipras!
Potências imperialistas fecham cerco contra os “rebeldes” na
Ucrânia: Miram nas “Repúblicas Populares”, mas o verdadeiro alvo é Moscou!
Governo pró-imperialista de Kiev e a CIA tentaram atingir
avião de Putin e acabaram matando civis
Manifestações “pela democracia” em Hong Kong estão a serviço
de abrir uma cunha imperialista em toda a China
FBI assume papel de “xerife” no bang-bang entre as máfias
corruptas da FIFA: Quem o imperialismo ianque prenderá amanhã sob o pretexto de
“combater a corrupção”?
ATENTADOS EM PARIS
Jihadistas do EI assumem ataques terroristas na França: Uma
“boa” justificativa para a ação da OTAN na Síria e em todo Oriente Médio. Não
ao Estado de Exceção decretado por Hollande!
Esquerda revisionista que hoje condena os “bárbaros e
reacionários fundamentalistas” que atacaram Paris, ontem os qualificava de
“bravos rebeldes da Primavera Árabe”
Assassinato de chargistas no jornal Charlie Hebdo: Um
atentado organizado pela CIA e MOSSAD sob encomenda da extrema direita francesa
Direita e extrema direita disputam a hegemonia da
"comoção nacional" francesa: Repudiamos o ataque terrorista e não
somos "Charlie"!
Frente estatal terrorista para combater o “extremismo
islâmico”? O proletariado europeu não pode cair nesse engodo político!
ESPECIAL – SÍRIA
Rússia bombardeia bases do EI e rebeldes “made in USA”! Todo
apoio a Frente Única entre Putin e Assad contra os terroristas armados pelo
imperialismo e Israel!
Caiu a máscara na derrubada do caça russo e os EUA e Turquia
revelam quem é seu verdadeiro aliado: EI!
CST e Morenistas convocam encontro internacional em apoio a
contrarrevolução da OTAN na Síria. Os trotskistas estão ao lado do regime Assad
contra o imperialismo e seus grupos terroristas!
Kobani e Síria: Por uma posição justa e revolucionária para
combater a ofensiva imperialista e sua criatura, o EI
Novos bombardeios dos EUA: Nenhum “cheque em branco” para
Obama atacar o EI!
"Serviço de Inteligência" de Israel derruba avião
civil russo, porém quem assume a autoria do atentado é o EI... Aliança
Putin-Assad deve organizar resposta ao terrorismo assassino!
PARTIDO
REVOLUCIONÁRIO
CARTA PERSPECTIVA AOS TROTSQUISTAS NA VIRADA DO ANO: Apesar
dos enormes retrocessos na consciência e organização do proletariado a tarefa
vital que se impõe é o combate a ofensiva neoliberal com a construção do
Partido Marxista Revolucionário
Há dezenove anos da ruptura revolucionária com o
revisionismo de Causa Operária era fundada a LBI: Uma “necessidade histórica”
para o reagrupamento da vanguarda comunista no Brasil
HISTÓRIA MARXISTA
98 anos da tomada do poder pelo Partido Bolchevique: As lições
de Outubro e a luta contra o Revisionismo do Marxismo em nossos dias
91 anos da morte de V. I. Lenin: Nossa reverência militante
ao chefe exemplar do Partido Bolchevique!
75 anos do assassinato de Trotsky: Na luta para derrotar a
contrarrevolução e o reformismo, levantamos a bandeira da IV internacional para
honrar o vivo legado de nosso chefe bolchevique!
25 anos da derrubada do Muro de Berlim: O início da
contrarrevolução capitalista aberta comemorada como uma “vitória” pelos
revisionistas do trotskismo!
23 Anos do Golpe de Agosto: Os trotskistas na barricada da
defesa da URSS contra a restauração capitalista encabeçada por Yeltsin
Viva os 70 anos da vitória soviética sobre os nazistas em
Berlim: Uma lição heroica de como a classe operária deve enfrentar a ofensiva
mundial capitalista em nossos dias
O outro 11 de setembro: 42 anos do golpe no chile, abstrair
as lições da trágica experiência da “via pacífica ao socialismo”
11 de setembro nos EUA: Um balanço revolucionário dos
desdobramentos da ofensiva reacionária mundial após 14 anos do ataque ao
coração do monstro imperialista
Há quatro anos do assassinato de Kadaffi pela OTAN e seus
“rebeldes”: Não permitiremos que o imperialismo faça da Síria uma “nova Líbia”
mergulhada na barbárie capitalista
Há 60 anos do “suicídio” de Vargas e dez dias do “acidente”
de Campos: Duas mortes e um único responsável!
Há 143 anos o primeiro governo operário da História era
esmagado pela violenta reação burguesa: A Comuna de Paris e suas lições
político-programáticas para a luta dos comunistas pela Ditadura do Proletariado
90 anos do nascimento de Nahuel Moreno: O grande mestre
latino do revisionismo que “inspirou” de Lora a Altamira
40 anos da “Revolução dos Cravos”: Uma transição “não
pactuada” da ditadura de Salazar-Caetano para a democracia burguesa operada
pelas mãos dos militares “progressistas”
50 anos do golpe militar de 1964: Derrotar a reação
capitalista de ontem e de hoje, construir uma alternativa revolucionária do
proletariado contra a direita fascista e a política de colaboração de classes!
O Golpe de 64 tem hoje fortes “ramificações” políticas do PT
ao Tucanato
A torpe “autocrítica” do reconstruído PCB em relação à
vergonhosa posição do velho “Partidão” durante o golpe militar de 1964
CULTURA & LUTA DE
CLASSES
Vito Giannotti: Uma vida integralmente dedicada à causa da
emancipação do proletariado
Galeano presente! Um intelectual progressista que não
colocou a venda sua história de vida
Gabo até a morte na defesa de Cuba... junto a Fidel nos
acertos e também nos graves erros cometidos
Criatura da ditadura militar, Rede Globo chega aos 50 anos
celebrando a imbecilização de nosso povo, sempre ativa no golpismo mas
"jurando amor" pela democracia dos ricos!
Carnaval do “face” e sua falsa euforia: a vazia
espetacularização da vida a serviço da dominação cultural e ideológica de nosso
povo!
____________________________________________________________
Reproduzimos o artigo publicado na MR nº16 “Borón, o apoio muitíssimo 'crítico' ao PT e seu 'sonho' do capitalismo finlandês” elaborado durante as eleições
presidenciais de 2014 mas que diante da polêmica “democracia versus golpe da
direita” está plenamente atual nos dias, onde o mito de democracia burguesa infectou a esquerda revisionista.
Borón, o apoio muitíssimo “crítico” ao PT e seu “sonho” do
capitalismo finlandês
(22 DE OUTUBRO DE 2014)
(22 DE OUTUBRO DE 2014)
O laureado sociólogo argentino Atilio Borón, simpatizante do
Partido Comunista e um dos principais dirigentes do movimento latino-americano
de apoio a Cuba, acaba de lançar um artigo sobre o segundo turno das eleições
brasileiras (A esquerda e o segundo turno) onde defende de forma muito bem
fundamentada o apoio crítico a candidatura do PT contra o que define como:
"A versão dura do neoliberalismo", representada pelo Tucano Aécio
Neves. O texto de Borón tem influenciado politicamente militantes dos
movimentos sociais e até mesmo organizações "marxistas" que
inicialmente proferiram uma disposição pelo voto nulo, particularmente no arco
da chamada "ala esquerda" do PSOL. Borón começa por estabelecer um
paralelo histórico entre as desastrosas posições da III Internacional, em seu
"terceiro período" ultra-esquerdista, e a recusa de setores do
"campo revolucionário" em chancelar eleitoralmente o PT nesta eleição
bastante polarizada entre "esquerda versus direita". Logo de cara
Borón nos brinda com a seguinte lógica da clássica chantagem da ameaça de um
Golpe de Estado, não por acaso a forçada simetria entre a Alemanha de Hitler e
o Brasil da Frente Popular: "Da mesma forma que a desastrosa política do
‘socialfascimo’, que pavimentou o caminho de Hitler ao poder, a tese de que
Aécio e Dilma ‘são o mesmo’ vai provocar, caso triunfe o primeiro, terríveis
consequências para as classes populares do Brasil e de toda a América Latina,
para além da obviedade de que Aécio não é Hitler e de que o PSDB não é o
Partido Nacional Socialista Alemão". A "tese" de Borón não
consegue passar na primeira prova da rigorosa análise marxista, vejamos porque:
nosso país está bastante distante de um acirramento revolucionário da luta de
classes, onde o proletariado ameace o poder de Estado da burguesia.
Contra-revoluções sangrentas são necessariamente uma resposta militar (e também
política) dos capitalistas a uma possibilidade concreta da perda do seu
"status quo". Foi assim na própria Alemanha, na Espanha e também no
Brasil e Chile mais recentemente. Estamos assistindo a uma acirrada polarização
eleitoral, repetimos com todas as letras maiúsculas, ELEITORAL! Borón até
talvez pudesse ter um “fio de razão” se as eleições burguesas no Brasil
correspondessem a um estágio superior de radicalidade da luta de classes, como
ocorreu na Venezuela com o assassinato de Chaves pela CIA e a posse de Maduro,
onde a questão do Golpe de Estado não era um simples demagogia midiática. O
movimento operário hoje não vive um assenso de massas no Brasil, muito pelo
contrário atravessamos um refluxo das lutas diretas (campanhas salariais
abortadas para estrear o circo da democracia) e um enorme retrocesso na
consciência de classe do proletariado, produto de mais de setenta anos de
embotamento reformista! Somente completos idiotas de esquerda (como os
revisionistas) podem afirmar que não existe o crescimento da chamada "onda
conservadora", ou como nós definimos sob a ótica do Marxismo, uma etapa de
reação política em toda linha. As tão mitificadas "Jornadas de Junho", que tiveram
como centro principal São Paulo e Rio, acabaram por reconduzir os próprios
facínoras que as reprimiram selvagemente aos governos estaduais, isto porque
careciam de um claro programa socialista e de uma direção operária. Não custa
lembrar aos ufanistas da "revolução dobra a esquina" que não é
possível romper a ordem burguesa apenas com um programa sindical e sem um
partido Leninista com influência de massas. Se o resultado das eleições são um
produto muito deformado da luta de classes (quando não uma fraude completa) não
podemos dizer o mesmo da total ausência no cenário nacional de organismos independentes
da classe operária! Mas voltando a
Borón, vamos admitir só por uma abstração teórica que a tática correta a ser
seguida no Brasil fosse a de Dimitrov, o expoente da internacional stalinista
que "destruiu" politicamente o sectarismo do "III período"
com sua elaboração acerca da necessidade de se impulsionar "frentes
amplas" contra o fascismo e governos de "Frente Populares", como
o que encabeça o PT nos últimos doze anos. Segue Borón: "A Terceira
Internacional abandonou esta postura (esquerdismo) em seu VII e último
congresso, em 1935, para adotar as teses das frente populares ou frentes únicas
antifascistas. Mas já era tarde demais". Não Borón, não era tão tarde
assim... Esta política com outro formato, mas tão criminosa como a anterior foi
levada a cabo pelo partido "comunista" na Espanha, resultando na
integração das massas ao governo republicano de Largo Caballero, em nome de
"baixar as bandeiras" para evitar o triunfo da extrema-direita, o
desfecho de outra trágica derrota histórica do proletariado já é bem conhecida
de todos. Trotsky analisa assim a suposta "correção" do rumo
stalinista, tão festejada retrospectivamente por Borón, "Do ponto de vista
da nova teoria, o que choca sobretudo na política de Stalin é o completo esquecimento
do ABC do leninismo. Com um atraso de algumas dezenas de anos – e que anos! –,
a Internacional Comunista restabeleceu completamente em seus direitos a
doutrina do menchevismo. Mais ainda, esforçou-se para dar a esta doutrina uma
expressão mais ‘conseqüente’ e, por isso mesmo, mais absurda. Na Rússia
czarista, no início de 1905, a fórmula ‘revolução puramente democrática’ tinha
a seu favor, em todo caso, infinitamente mais argumentos que em 1937 na
Espanha. Não é de se espantar que, na Espanha contemporânea, a política
‘operária liberal’ do menchevismo tenha se tornado a política anti-operária,
reacionária do stalinismo. De um golpe, a doutrina do menchevismo, esta
caricatura do marxismo, foi, por sua vez, caricaturizada. Seria, no entanto,
ingenuidade pensar que, na base da política do Comintern na Espanha estivessem
alguns ‘erros’ teóricos. O stalinismo não se guia pela teoria marxista, nem por
qualquer teoria que seja, mas, empiricamente, pelos interesses da burocracia
soviética. Entre eles mesmos, os cínicos de Moscou riem-se da ‘filosofia’ da
Frente Popular à la Dimitrov . Eles têm, porém, à sua disposição, para enganar
as massas, numerosos quadros de propagandistas desta fórmula sagrada, sinceros
ou canalhas, ingênuos ou charlatães. Louis Fischer, com sua ignorância e
auto-suficiência, seu estado de espírito de argumentador provinciano
organicamente surdo para a revolução, é o representante mais repugnante desta
confraria pouco atraente. A política da ‘união das forças progressistas, o
‘triunfo das idéias da Frente Popular’, o ‘dano causado pelos trotskistas à
unidade das fileiras antifascistas’... Quem acreditaria que o Manifesto
Comunista foi escrito há 90 anos?” (L.Trotsky, Menchevismo e Bolchevismo na
Espanha). Nosso caro sociólogo, que tem a honestidade intelectual de não
esconder suas simpatias com o stalinismo, não pode ter a "ousadia" de
tentar imiscuir uma política policlassista fracassada historicamente (do ângulo
do proletariado é claro!) com o programa revolucionário que tem como base
fundamental a independência de classe seja qual for a conjuntura política.
Porém Borón também deixa escapar em sua repercutida matéria que não acredita na
possibilidade da instauração do socialismo revolucionário em países
capitalistas periféricos e neste aspecto é coerente com a defesa eleitoral
"crítica" que fez de governos burgueses de esquerda em nosso
continente, como na Argentina, Uruguai e agora no Brasil. Para Borón:
"Dizer que Aécio e Dilma são políticos burgueses é uma caracterização tão
grosseira como dizer que o capitalismo brasileiro é o mesmo que existe na
Finlândia ou na Noruega – os dois países mais igualitários do planeta e com
maiores índices de desenvolvimento humano, segundo diversos informes produzidos
pelas Nações Unidas". Aqui Borón deixou cair o "véu" que lhe
cobria como teórico marxista para advogar a caracterização liberal de que o
capitalismo dos países imperialistas, ou subimperialistas, não tem a menor
relação com os do capitalismo atrasado, seria como afirmar o
"estapafúrdio" que tanto Dilma e Aécio "são políticos
burgueses". Lembremos ao "olvidado" portenho que tanto na
Suécia, Finlândia ou Noruega, países nórdicos tão celebrados pela ONU, a
dinâmica essencial da acumulação capitalista é a mesma que na Etiópia, as
enormes e brutais diferenças sociais são decorrentes do caráter imperialista
dos primeiros e semi-colonial do último. As grandes conquistas operárias e
sociais dos países capitalistas centrais não podem ser implementadas nos
periféricos, não porque não sejam capitalistas mas porque pertencem a uma
cadeia mundial de divisão das forças produtivas onde seu papel econômico é
"alimentar" as "metrópoles imperiais", com a rapinagem de suas riquezas naturais e também com a
mais-valia do seu proletariado urbano e rural. Quase com o mesmo método podemos
caracterizar cabalmente que Dilma e Aécio são duas expressões políticas da
burguesia, sem que isto signifique que não há enormes diferenças na forma (e
não no conteúdo) no qual se apresentam para gerir o Estado capitalista. Afinal
para que serve a definição de Marx sobre a total unidade das classes dominantes
quando se trata de explorar a força de trabalho do proletariado e atacar suas
conquistas e lutas, como fazem PT e PSDB juntos no parlamento, talvez para
Borón esta caracterização não sirva para a política concreta dos comunistas,
mas somente para ser "manejada" nas palestras e conferências da
academia...
Engels gostava de declarar que: "Os socialistas de
ocasião tem a memória muito curta", este mal parece acometer de forma
intensa nosso caro Borón. Não faz tanto tempo assim, no final de junho do ano
passado, o sociólogo que hoje escolheu o "mal menor" para justificar
o seu apoio a candidata do PT afirmava o seguinte sobre o governo Dilma:
"As massas que saíram às ruas em mais de cem cidades brasileiras podem,
talvez, não saber aonde vão, porém em sua marcha podem acabar com um governo
que, claramente, escolheu se colocar a serviço do capital"(Atilio Borón,
Brasil: Um novo ciclo de lutas populares?). As posições do
"jornadista" Borón sofrem de impressionismo crônico, primeiro no
fetiche político construído acerca das "Jornadas de Junho", que
estiveram bastante distantes de "acabar com o governo a serviço do
capital", e mesmo que remotamente isto viesse a ocorrer seria por uma inflexão
à direita, nada a festejar! Em segundo lugar o mesmo impressionismo político de
Borón, fruto da intensa pressão eleitoral, agora se manifesta no sentido
oposto, ou seja, no apoio crítico a este mesmo "governo a serviço do
capital". Nas duas situações, "Jornadas de Junho" e eleições
presidenciais, existe um elemento político em comum: a ausência de um projeto
independente de poder da classe operária, o que permitiu uma gama reacionária
de desdobramentos na conjuntura nacional. As "Jornadas" desembocaram
no enorme fortalecimento político dos Tucanos em São Paulo, e as eleições
gerais devem parir um governo central petista ainda mais comprometido com a
ofensiva neoliberal contra os trabalhadores.
A disjuntiva apresentada pelo "bloco progressista"
ao campo da esquerda revolucionária, escolher entre a opção "branda"
do neoliberalismo contra sua versão mais "dura", ainda que tenha
alguma consequência política no plano imediato significa abandonar para as
calendas gregas (ou renunciar definitivamente) a estratégia socialista
revolucionária, posto que neste regime democratizante temos eleições de dois em
dois anos. Se em cada período eleitoral seguirmos a "receita
programática" de Borón, nunca o proletariado poderá aspirar por articular
seu próprio projeto político, no sentido mais amplo da concepção marxista,
partindo da premissa que somos obrigados a reconhecer que este projeto partirá
de um patamar orgânico no mínimo muito debilitado. Porém o mais importante
neste debate passa quase que desapercebido dos entusiastas do "voto
crítico" no governo da Frente Popular, a cada recuo "tático" da
esquerda classista em nome de fortalecer o bloco progressista as forças da
direita avançam significativamente, alheia ao resultado eleitoral, seja no caso
de sua vitória ou derrota institucional.
Como último argumento, e sem sombra de dúvidas o mais
importante para além da já surrada dicotomia burguesa "esquerda versus
direita”, Borón coloca a questão da geopolítica regional e o peso da possível
vitória de um governo ultraconservador no Cone Sul. "No plano
internacional o triunfo dos tucanos teria gravíssimas consequências porque
colocaria no Planalto a uma força política submetida por completo aos ditames
da Casa Branca; sabotaria os processos de integração supranacional em andamento
como o Mercosul, a UNASUL e a CELAC; serviria como ponta de lança para atacar a
Revolução Bolivariana e os governos de esquerda e progressistas da região; para
isolar a Revolução Cubana e para oferecer apoio material e humano do Brasil
para as infinitas guerras do império" (Borón, A esquerda e o segundo
turno), os Marxistas não se devem refutar a relevância do Brasil no palco
político das operações do imperialismo na região, no entanto as seguidas
"gerências" petistas nunca se posicionaram a favor de nenhum
"processo revolucionário" no continente, a não ser que Borón conceba
como "apoio revolucionário" a concessão de crédito estatal para que
nossa burguesia nacional possa "investir" (sem margem para
prejuízos!) em países como Cuba e Venezuela. Por sinal tem sido assim desde os
governos Tucanos de FHC, quando aplicaram recursos privados, com suporte
"público", na exploração e construção do gasoduto Bolívia-Brasil. No
caso do porto de Mariel, em Cuba, edificado pela poderosa empreiteira Odebrecht
(que apóia financeiramente Dilma), os lucros da oligarquia ultrapassam bilhões
de Reais. Este "apoio" comercial a Cuba foi o mesmo dado pelo governo
imperialista do PSOE espanhol, investindo bilhões de Euros na implantação de
uma rede turística internacional na Ilha, contribuindo em muito não com a
revolução mas sim com os rumos da restauração capitalista do Estado Operário.
Quando Chavez propôs a Lula a parceria na exploração dos recursos energéticos da
região, através da formação de uma empresa estatal binacional, para livrar o
continente da influência dos trustes imperialistas, o governo da Frente Popular
respondeu negativamente abortando inclusive o projeto comum na construção da
refinaria Abreu Lima. Hoje a refinaria em Pernambuco encontra-se bastante
atrasada e o que é pior associada a empresas transnacionais de petróleo. O
único interesse "revolucionário" dos governos petistas na região
parece ser o de " impulsionar" a covarde burguesia nacional na conquista
de "novos mercados". Mas quando a questão é fornecer suporte político
em solidariedade as lutas antiimperialistas do continente, o PT logo aconselha
os "governos amigos" a terem muita prudência e jamais romperem com a
ordem capitalista.
Por fim não se trata de equacionar este debate
"teórico" nem pela ótica puramente eleitoral e tampouco pelos avanços
no alargamento das fronteiras do mercado de consumo aferidas no Brasil. Neste
horizonte proposto por Borón os Marxistas nunca sairão "ilesos" do
labirinto das alternativas burguesas, e o proletariado muito menos se
constituirá historicamente em classe para sí. Para muito além do voto, o que
está realmente colocado neste momento para a vanguarda Comunista é iniciar a
resistência classista das massas a ofensiva imperialista do capital financeiro,
recuperando as melhores tradições ideológicas do Partido Bolchevique,
soterradas pela malta de oportunistas que cretinamente afirmam que o
"modelo Leninista" não tem mais lugar neste "mundo neoliberal"
de valores espirituais e materiais de mercado.