HÁ 80 ANOS DE FUNDAÇÃO
DA IV INTERNACIONAL: UMA HISTÓRIA
DE PRINCÍPIOS E FRAGMENTAÇÃO REVISIONISTA
A IV Internacional foi fundada no dia 3 de setembro de 1938
em uma conferência realizada na casa de um de seus militantes, Alfred Rosmer,
localizada no subúrbio parisiense de Périgny. Reuniram-se 21 delegados,
representando 11 seções na plenária de fundação. Não poderia haver tempos mais
difíceis para se fundar uma nova internacional. Foi precisamente um ano antes
do início da II Guerra Mundial, em plena “meia noite” do século XX. O
stalinismo executara os dirigentes da revolução bolchevique nos chamados Processos
de Moscou enquanto, simultaneamente, sabotava os processos revolucionários na
China, França e Espanha com suas frentes populares, deixando o caminho livre
para a consolidação do nazi-fascismo na Europa.
OS PRINCÍPIOS MARXISTAS GANHAM FORMA ATRAVÉS DA COMUNA, DOS
SOVIETES, DO ARMAMENTO DO PROLETARIADO, DO BOLCHEVISMO E DE OUTUBRO
Tanto a I como a III Internacionais também embrionariamente
haviam nascido da convicção militante de pequenos núcleos de revolucionários
nadando contra a corrente. A primeira, também chamada Associação Internacional
dos Trabalhadores, nasceu em 1864, na época progressista do capitalismo
(1789-1871), quando o marxismo se afirma como teoria de libertação do
proletariado combatendo os socialistas utópicos e os anarquistas, teorias
hegemônicas até o primeiro assalto dos trabalhadores ao poder, a Comuna de
Paris. Os communards são derrotados e caçados por todo o continente europeu. 30
mil são executados e outros 100 mil presos. Tem início uma profunda reação
ideológica. A Internacional desaparece completamente.
Desenvolve-se uma camada burocrática no movimento operário
que passa a controlar os sindicatos, partidos da classe e a hegemonizar a II
Internacional após sua fundação (1889). Pela primeira vez na história os
socialistas e dirigentes operários ingressam em ministérios burgueses, se
deslumbram com a eleição de seus parlamentares e passam a defender uma
transição pacífica e por etapas para o socialismo. O reformismo, uma expressão
da influencia burguesa sobre o movimento operário, inimigo mortal da luta pela
insurreição e ditaduras proletárias, assumirá a partir de então as mais
diversas roupagens (parlamentarismo, stalinismo, guerrilheirismo), como veremos
mais adiante.
Na Rússia atrasada, a revolução de 1905 apresenta ao mundo
uma forma mais aprimorada do que na Comuna parisiense de uma estrutura de
governo baseado na ditadura revolucionária do proletariado, os conselhos
operários e populares, os sovietes que não derrotaram o czarismo no início do
século e que viriam a reaparecer nas Revoluções Russa (1917), Húngara (1919),
Italiana (1919-1920), Alemã (1918 e 1919)... No entanto, como comprovaram, pela
positiva (Rússia) e pela negativa (todos os outros exemplos citados), por si
só, e apesar de serem organismos de governo genuíno da classe, mesmo quando se
instaura uma situação de duplo poder, com as massas organizadas em conselhos
operários, o triunfo da revolução exige uma ferramenta especial de vanguarda
como agente político ativo do assalto ao poder, um partido de revolucionários
profissionais, que fora proposto por Lênin em 1903, na contramão de toda social
democracia mundial.
A I Guerra Mundial (1914-1918) marca o início da era
decadente do capitalismo, o imperialismo e desmascara o chauvinismo dos
dirigentes da Internacional Socialista, profundamente integrados aos interesses
de suas burguesias. Os líderes socialistas ajudam o patronato a promover uma
carnificina usando os trabalhadores como bucha de canhão, jogando uns contra os
outros, pisoteando a ideia mais elementar do internacionalismo marxista:
“proletários de todo mundo uni-vos!”.
Os poucos sociais democratas que não capitularam ao
patriotismo e se opuseram aos oportunistas reuniram-se nas Conferências de
Zimerwald e Kienthal, onde todos os verdadeiros internacionalistas do mundo
“cabiam em quatro carros”. Porém, para fundarem uma nova internacional, teriam
ainda que romper com os centristas pacifistas encabeçados por Kautsky.
Em todo continente, os sociais democratas integram governos
de reconstrução burguesa no pós-guerra. Na Rússia, os bolcheviques sob a
orientação de Lênin e Trotsky derrotam a contra-revolução kornilovista,
conquistam a maioria dos sovietes e organizam a tomada do poder contra o
governo socialista burguês de Kerensky, uma clássica frente popular de
conciliação de classes contra as massas trabalhadoras.
A Internacional Comunista (IC), foi fundada em 1919, tinha o
lastro da revolução bolchevique, mas o refluxo da luta de classes mundial após
a I Guerra, nos anos 20, não lhe permitiu dirigir a revolução em nenhum outro
país. A formação de uma URSS exaurida pela I Guerra Mundial e em seguida pela
batalha por expulsar os exércitos de 14 países capitalistas ansiosos por
liquidar com o mau exemplo bolchevique, originou um “Estado operário com
deformações burocráticas”. Isto, somado a enfermidade que levou ao afastamento
de Lênin do poder, influiu para o declínio das concepções bolcheviques e
possibilitou que a III Internacional orientasse uma política de conciliação de
classes na Alemanha em 1923. O PC Alemão ingressou em governos burgueses
regionais (Saxônia e Turingia), confundiu o proletariado e deixou passar a
primeira situação revolucionária aberta naquele país após a traição da social
democracia que, em aliança com a burguesia, afogou em sangue uma potencial
revolução soviética de 1918 e executou Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo.
O isolamento internacional da URSS favoreceu a vitória da
contra-revolução política stalinista após a morte de Lênin, em 1924, e sela a
burocratização do Estado operário soviético. Para cobrir seu flanco esquerdo
das críticas da oposição trotskista, a burocracia desenvolve inicialmente uma
linha ultraesquerdista que por meio de um putch iria abortar o processo
revolucionário das comunas chinesas de Cantão e Xangai, hostiliza o
campessinato pobre russo através da coletivização forçada dos campos soviéticos
e, por fim, nega-se a realizar uma frente única operária para deter o ascenso
nazista. Estas tragédias convencem a oposição de esquerda que não mais está
diante de uma camarilha centrista, mas já de uma incurável casta
contra-revolucionária que precisa ser apeada do poder político por uma nova
internacional e novos partidos leninistas através de uma revolução política
proletária. O stalinismo realiza um giro em direção ao oportunismo, advogando a
conciliação de classes por meio da revolução e frentes populares, a convivência
pacífica com o imperialismo e a revolução por etapas.
A LUTA POR UMA NOVA INTERNACIONAL REVOLUCIONÁRIA DEPOIS DA
DEGENERAÇÃO STALINISTA
A IV Internacional nasceu quando o proletariado sofria suas
piores derrotas no século XX. Mas poderia ser diferente, poderia se esperar
mais? Não. Seria um crime não apontar outro caminho à falência da IC
stalinizada. O acontecimento decisivo que fez a Oposição de Esquerda
Internacional concluir que não havia possibilidade alguma de continuar a luta
pela regeneração da IC foi a negativa desta última em estabelecer uma frente
única operária com a social-democracia contra Hitler. Pois, de todas as
possibilidades abertas à esquerda alemã, onde, segundo Trotsky, se encontrava
“a chave da situação internacional”, a guerra civil, que poderia ter impedido a
ascensão do nazismo ao poder, era o caminho menos arriscado, o único que
poderia ter poupado a Alemanha e o mundo do terror do III Reich e o cataclismo
de uma guerra mundial. “Se não fosse por Stalin (por exemplo, a fatal política
da IC na Alemanha), não haveria Hitler.” (Trotsky, A questão ucraniana,
22/04/1939). A ascensão dos nazistas ao poder em janeiro de 1933 sob a passividade
criminosa do PCA representou para a Internacional Comunista uma traição à causa
do proletariado semelhante ao que o voto social-democrata em favor dos créditos
de guerra em 1914 significou para a II Internacional, a falência completa
destes organismos para a causa revolucionária. A Oposição de Esquerda
Internacional compreendia com toda justeza que o nazismo era uma criatura do
imperialismo destinado a desencadear uma guerra civil internacional preventiva
contra a revolução proletária.
Após ter se oposto a construir a frente única proletária para frear o fascismo, o stalinismo realiza um profundo giro em direção ao oportunismo e adota a política das frentes populares, ou seja, a conformação de governos de colaboração de classes entre os partidos operários e capitalistas, o último recurso contra a revolução proletária. “A questão das questões atualmente é a Frente Popular. Os centristas de esquerda procuram apresentar esta questão como tática ou mesmo como uma manobra técnica, a fim de poder vender as suas mercadorias na sombra da Frente Popular. Na realidade, a Frente Popular é a questão principal da estratégia da classe operária nesta época. Também oferece o melhor critério para diferenciar o bolchevismo do menchevismo.” (Trotsky, ‘O POUM e a Frente Popular’, 1936).
A DEFESA DA URSS E A CISÃO DA MAIOR SEÇÃO DA IV
INTERNACIONAL
A guerra foi o primeiro teste ácido da nova internacional e
suas débeis seções. O Secretariado Internacional se transferiu para os EUA,
onde seu principal partido, o SWP, se vê consumido por uma dura luta fracional.
Os setores mais pequeno-burgueses e intelectuais dirigidos por Shachtman e
Burnham, impactados com o pacto de Stalin com Hitler e com a invasão da Polônia
e da Finlândia pelo Exército Vermelho, mas no fundo capitulando à propaganda
anti-soviética do imperialismo, passam a contestar a caracterização de Estado
operário para a URSS e a sua defesa. A fração recusa-se a defender as bases
sociais de propriedade conquistadas pela revolução adotando um abstrato
terceiro campo (Nem Washington nem Moscou), rompendo assim com o materialismo
histórico e a concepção da sociedade dividida em classes sociais. Por fim,
aderem à teoria que define o regime stalinista como “coletivismo burocrático”,
teoria originalmente criada pelo ex trotskista italiano, Bruno Rizzi que
acreditava ser a burocracia uma nova classe exploradora. Os processos de
restauração capitalista nos estados operários oprimidos por burocracias
comprovou a inconsistência desta teoria e comprovou a plena vigência das
caracterizações de Trotsky. Esta tendência anti defensista que confunde
propositadamente o Estado operário e as conquistas da revolução com sua direção
burocrática é um vírus reincidente em toda história da IV Internacional.
Trotsky e Cannon travam uma dura batalha (reproduzida na
coletânea de cartas e textos reunidas no livro ‘Em defesa do Marxismo’, de
1940), derrotando a oposição antidefensista. Esta acaba rompendo com o SWP,
arrastando consigo quase 40% do partido e aderindo abertamente à reação
imperialista, uma tendência natural de vários stalinofóbicos
terceiro-campistas.
Burnham torna-se colaborador da CIA, do macarthismo, se opôs
ao direito de voto para os negros, defendeu que os EUA deveriam lançar uma
guerra atômica contra a URSS e depois contra o Vietnã, tendo sido condecorado
por Reagan pouco antes de morrer. Schachtman torna-se um burocrata sindical
anticomunista, apóia a tentativa derrotada de esmagamento da revolução cubana
pelos EUA através da invasão militar da Bahia dos Porcos (1961). O curso
asquerosamente reacionário de Schachtman não para por aí, completamente corrompido
por seu próprio imperialismo ele ainda defende também a intervenção ianque no
Vietnã. Historicamente, o antidefensismo se converte no mais abjeto
pró-imperialismo. Para Trotsky “o dever dos revolucionários é defender toda
conquista da classe trabalhadora ainda que tenha sido desfigurada pela pressão
das forças hostis. Aqueles que são incapazes de defender as posições
conquistadas, nunca conquistarão outras novas.” (Em defesa do marxismo, 1940).
Poderíamos acrescentar que estes renegados, como muitos schachtmanistas
modernos, passam-se para o outro lado e a apoiar os que atacam e assaltam as
conquistas históricas do proletariado.
O LIQUIDACIONISMO PABLISTA
Pode-se compreender o momento extremamente difícil de
perseguição e pressão que sofreram os trotskistas após a morte de Trotsky, mas
isto não justifica a renúncia a todos os elementos que constituíam o ABC do
trotskismo, porque existia uma base teórica e programática prévia que servia
para armar a IV Internacional. A geração de 40 tratou de incorporar ao
trotskismo antigas concepções reformistas, como a subordinação da concepção de
luta de classes pela da luta entre o imperialismo e o stalinismo ou contra as
direções nacionalistas, alinhamento oportunista com os campos burgueses
progressivos, negação da crise de direção, renuncia à luta pela revolução
política...
Em meio a um terreno de profunda desestruturação e
desmoralização emerge como principal dirigente do II Congresso (1948) da IV
Internacional o grego Michel Raptis (Pablo). O III Congresso da IV (1951)
consolida a revisão do programa sobre o stalinismo. Pablo, impressionado com o
prestígio capitalizado pelo stalinismo após a vitória do Exército Vermelho
sobre o nazismo, a criação dos Estados operários no Leste europeu e as
revoluções iugoslava e chinesa, defendia a dissolução dos partidos trotskistas
nos PCs para pressioná-los à esquerda, vendo o stalinismo como um substituto
para a construção do partido revolucionário na luta contra o imperialismo. A IV
Internacional já não se reconstruiu em nenhum Estado operário após os anos 30.
Menos pela força da repressão burocrática que pelo liquidacionismo pablista.
Esta política resultou em desastrosas consequências para a luta pela revolução
política operária na Alemanha Oriental (1953), Hungria (1956), China (1966),
Tchecoslováquia (1968), Polônia (1968, 1970, 1980), China (1989).
No III Congresso, Pablo secundarizou as teses da Revolução
Permanente em favor do culto a “Frente Única Anti imperialista”, que nos anos
seguintes camuflaria a submissão dos trotskistas aos movimentos nacionalistas
burgueses, como o peronismo na argentina e o MNR na Bolívia.
Pablo retoma as concepções superadas pela Oposição de
Esquerda Internacional no início dos anos 1930, segundo as quais o stalinismo
poderia ser reformado, e decide então que os trotskistas deveriam também
retroceder organizativamente fazendo entrismo nos PCs (embora em alguns países,
como na Alemanha e na Inglaterra, a tática de Pablo tivesse sido aplicada à
social democracia e no trabalhismo). Esta orientação significou uma capitulação
à burocracia stalinista, que se estenderia também pouco depois a outras
direções burguesas e pequeno-burguesas, como fizeram Moreno e Posadas na
América Latina. Isto provocou a quase extinção do trotskismo na Europa e o domínio
tranqüilo do movimento operário por direções populistas burguesas, como é o
caso argentino em que o peronismo segue à cabeça da quase totalidade das
direções sindicais nas últimas seis décadas.
A derrota da revolução na Bolívia converte-se na expressão
maior da traição contra-revolucionária do revisionismo sobre a IV
Internacional. O POR boliviano possuía uma grande influência sobre o
proletariado, a ponto do Congresso da Federação Sindical dos Trabalhadores
Mineiros da Bolívia (FSTMB), a principal organização do proletariado do país,
reunida em novembro de 1946 na cidade de Pulacayo, aprovar em suas teses
concepções baseadas na revolução permanente e no Programa de Transição da IV
Internacional. Em 1952, o proletariado boliviano destruiu o exército burguês,
constituiu milícias operárias e camponesas de poder operário e organizou a
Central Operária Boliviana (COB). Mas sob a orientação de Posadas e Pablo, o
POR Boliviano adotou uma linha menchevique, apoiou o governo burguês do MNR.
Por fim, o próprio Pablo abandona formalmente o trotskismo e
assume um ministério do governo burguês nacionalista do antigo Ceilão, hoje Sri
Lanka. A deserção de Pablo abre caminho para que Mandel assuma a vanguarda do
revisionismo do trotskismo mundial vindo a fundar o Secretariado Unificado em
1963.
A partir de 1953, os seguidores de Pablo e Mandel se
adaptaram ao stalinismo, ao nacionalismo, ao foquismo, ao eurocomunismo, ou
seja, às diversas formas do reformismo burguês. O posadismo quase nem existe
mais, foi um dos poucos ramos do trotskismo a existir no Brasil na década de
1960, mas hoje não passa de uma fantasmagórica corrente defensora dos governos
da centro-esquerda burguesa latino-americanos, como Lula, Chávez, Evo, etc. Não
por acaso, apesar de ainda possuírem peso político, tiveram o mesmo destino
político nos quais foram parar agrupamentos fundados por Lambert, Moreno e Ted
Grant.
O COMITÊ INTERNACIONAL ANTIPABLISTA
A revisão liquidacionista do trotskismo foi questionada por
setores minoritários da Internacional, particularmente, pelo SWP
norte-americano, pela maioria da seção francesa do Partido Comunista
Internacionalista, liderada de Pierre Lambert, que logo é expulsa e acaba
levando consigo a seção inglesa, Socialist Labour League (SLL), dirigida por
Gerry Healy, dando origem então a primeira grande cisão da IV Internacional em
1953. Os antipablistas fundaram o Comitê Internacional (CI), uma ruptura
progressiva na medida em que evitaram a desaparição programática completa do
trotskismo nos anos 50.
As seções que conformaram o CI reagiram tão tardiamente ao
pablismo, quanto abortaram prematuramente a luta no interior do SI, expressando
suas profundas limitações em superar a crise da Internacional, o que resultou
na repetição dos mesmos desvios pablistas em relação a outras direções contra
revolucionárias. O antipablismo empírico se revelou mais propriamente um
oportunismo stalinofóbico e predileção por fazer entrismo na social-democracia
do que qualquer traço de fidelidade à ortodoxia trotskista. Apesar de se apresentar
como uma alternativa ao revisionismo do Secretariado Internacional (SI)
pablista, caracterizava-se pela frouxidão organizativa (eram uma mera federação
de partidos sem nenhum centralismo) que na prática não assumia nenhuma tarefa
pela reconstrução da IV Internacional e por incorrer nas mesmas ilusões com o
stalinismo em relação a Tito e a Mao. Anos depois o SWP estende estas ilusões
ao castrismo, abandona o CI e reunifica-se com o SI.
O Comitê Internacional entre Lambert e Healy acaba por se
romper em 1971. Lambert e seu agrupamento francês, a OCI, lançaram o CORQUI
(Comitê de Organização e Reconstrução da Quarta Internacional), conjuntamente
com o nacional-trotskista POR boliviano de Guillermo Lora e Política Operária
(mais tarde conhecido como Partido Obrero) da Argentina, dirigido por Jorge
Altamira, tendo como eixo político a defesa da “Frente Única Anti
imperialista" que na Bolívia levou o POR a reivindicar a conformação da
mesma com os setores “nacionalistas” das FFAA. A OCI durante o maio de 1968 não
passou de agrupamento de pressão do PS e entusiasta da frente popular
encabeçada por este partido social democrata imperialista anos depois.
Inversamente proporcional à sua capitulação a ala esquerda da grande burguesia
francesa, Lambert impõe uma orientação sectária às seções do CORQUI, obrigando
o PO e o POR a romperem com os sindicatos “burgueses”.
O CORQUI se rompe, o PO segue construindo uma organização
federalista com o POR, a TQI, mas Altamira só vem a "descobrir" a
traição de Lora à revolução boliviana de 1952 quando o último, em uma
manifestação extrema de seu nacional-trotskismo, declara formalmente seu
desinteresse em continuar construindo a TQI, em meados da década de 1980.
Poucos anos depois do fracasso do CORQUI, a OCI, rebatizada
com o nome de PCI, busca uma aproximação com Moreno, recém rompido com o SU. Em
1980 formam o Comitê Paritário (CP), anunciado como o “maior fato da história
do trotskismo após a fundação da IV Internacional em 1938”, mas que não dura
mais que nove meses. O CP não consegue resistir à vitória eleitoral de
Mitterrand na França, inicialmente apoiada por Lambert e Moreno. O PCI defende
abertamente o governo imperialista de Miterrand e Moreno rompe o CP acusando a
OCI de traição ao trotskismo.
A LIQUIDAÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA DA URSS DESATA REAÇÃO
IDEOLÓGICA QUE FRAGMENTA O REVISIONISMO
O Comitê Paritário foi a última aventura dos grandes ramos
revisionistas por uma unificação. A partir dos anos 80 cada um dos caudilhos
revisionistas da IV Internacional (Mandel, Moreno, Healy, Lambert...) trata de
criar sua própria “internacional”.
Em 1993, a corrente de Lambert se autoproclama como a
própria IV Internacional refundada, impulsionando como colateral o Acordo
Internacional dos Trabalhadores, ACT, uma espécie de “entidade sindical” que
abriga, inclusive, membros da arquiburocrata AFL-CIO ianque.
Moreno funda a LIT e sua ufanista seção argentina, o
Movimento ao Socialismo (MAS), que se adaptarão mais profundamente ao programa
imperialista da reação democrática contra a URSS. Como as ideias dominantes são
as da classe dominante e nadar a favor da correnteza é sempre mais fácil, a
“stalinofobia” do MAS rendeu muita “simpatia e votos”, e a LIT tornou-se uma
das maiores correntes do trotskismo mundial na década de 80. Mas, ironicamente,
na década seguinte, a ofensiva ideológica anticomunista que se seguiu à
restauração capitalista na URSS e no Leste europeu produziu muita crise e
desmoralização, principalmente em correntes como a LIT que euforizava sua
militância afirmando que o fim dos Estados operários era uma grande vitória
para a humanidade e que a falência do aparato stalinista abriria “a vez do
trotskismo”. Em 2005 o balanço do período passado não poderia ser mais
catastrófico: “no total a LIT perdeu entre quatro e cinco mil militantes entre
eles possivelmente 80% dos quadros com mais experiência.” (Resoluções do VIII Congresso
Mundial da LIT). A restauração da propriedade privada nos Estados Operários
europeus e seu avanço na China, Cuba, Vietnã foi a principal derrota da classe
operária desde a ascensão do nazismo na década de 1930. A ofensiva ideológica
anticomunista que se seguiu não poupou nenhuma das correntes revisionistas,
atingindo mais acentuadamente, os anti defensistas que prometiam a chegada da
revolução socialista com a onda que derrubou o Muro de Berlim.
“A DERROTA DA URSS PODERIA PROLONGAR A AGONIA DA SOCIEDADE
CAPITALISTA POR MUITOS ANOS”
Para Trotsky “a derrota da URSS colocaria à disposição do
imperialismo novos recursos poderosos e poderia prolongar a agonia da sociedade
capitalista por muitos anos” (Em defesa do Marxismo, 1940). A contra revolução
no primeiro Estado Operário do planeta acelerou o declínio dos demais,
reincorporou milhares de trabalhadores ao tacão da exploração patronal,
incluindo posteriormente os chineses, expandiu os mercados e a apropriou-se de
imensos recursos naturais prolongando a agonia capitalista. No plano subjetivo,
a confusão ideológica e a dispersão que se processou na vanguarda acentuaram
ainda mais a crise de direção revolucionária. Nestas condições extremamente
desfavoráveis governos de conciliação de classes de partidos que controlam o
movimento de massas, espécies de frente populares sui generis, não são mais o
último recurso na luta da burguesia contra a revolução proletária, mas já se
alçam como a alternativa preferencial para aprofundar os ataques aos
trabalhadores.
O capitalismo aposta nos Obamas, Lulas, Evos e Chávez para
confundir a consciência das massas que se levantam desesperadamente contra o
recrudescimento da repressão e da exploração.
Em meio à falência de todos os projetos reformistas, da
frustração das expectativas em torno do cretinismo parlamentar e da impotência
do tradeunismo surge a panacéia da autoimplosão do capitalismo a partir da
crise financeira atual. Após terem renunciado historicamente a construir a
única ferramenta capaz de enterrar o imperialismo, os revisionistas apostam no
colapso do capitalismo e na crise financeira como sendo a onda que vai fazer
reverter o refluxo do movimento de massas e alçá-los à direção física de uma
insurreição eminente.
Se é verdade que a atual crise tem características próprias
que a distingue parcialmente das crises anteriores devido à financeirização da
economia, também é verdadeiro que o próprio capital financeiro, na ausência da
ação direta das massas que lhe atrapalhe os planos, tem expedientes monetários
estatais para prolongar sua agônica existência. A disjuntiva socialismo ou
barbárie só será resolvida pela senda da direção revolucionária do proletariado
mundial construída pelo combate ao oportunismo e ao revisionismo e não por uma
mítica falência superestimada da própria classe dominante. Já está claro, por
sinal, que todo estardalhaço em torno da crise tem por fim justificar gordos
pacotes de investimento estatais e uma nova ofensiva para reduzir ainda mais os
direitos trabalhistas e a condição de vida das massas.
Os revisionistas jogam terra nos olhos das massas de sua
vanguarda lutadora recusando-se a armá-la com um programa que organize a luta
direta frente a ambição dos capitalistas de fazerem os trabalhadores pagarem
pela crise. O PTS caracteriza que a crise "abre novas possibilidades para
os revolucionários" (Declaração da FT, 22/12/2008). Assim, a nova ofensiva
abre uma conjuntura favorável, quanto pior, melhor. O PO anuncia “uma rebelião
mundial” (Prensa Obrera, 1067), quando o imperialismo ianque recrudesce sua
sanha belicista, com em Gaza!
Quando foi para defender a revolução política, o
revisionismo capitulou ao stalinismo, renunciando à tarefa da reconstrução das
seções trotskistas dentro dos Estados Operários, deixando o movimento operário
sem direção. Quando setores da burocracia stalinista uniram-se ao imperialismo
para restaurar o capitalismo, os revisionistas saudaram a contra-revolução como
sendo a revolução política. Agora, diante de uma nova ofensiva imperialista
eminente os revisionistas afirmam que o próprio imperialismo se autoliquidará!
No atual refluxo ideológico pós-URSS e diante do alijamento
como nunca antes visto da vanguarda em relação à classe, os discursos demagogos
dos revisionistas cada vez os confundem mais com os reformistas tradicionais
que gerenciam a crise do capitalismo. O que se apresenta para as massas hoje
como trotskismo se divide entre centristas e abertamente oportunistas. Entre os
que apóiam ou integram diretamente partidos pequeno-burgueses que se opõem aos
sovietes, a tomada revolucionária do poder pelos trabalhadores, ao armamento e
a ditadura do proletariado e, principalmente, ao partido leninista de
revolucionários profissionais, como o PSOL no Brasil, Respect na Inglaterra,
Links na Alemanha, SA na Austrália, PAC e PT-POI na França, SSP na Escócia, BE
em Portugal ou já a partidos burgueses como o Trabalhis-mo na Inglaterra, PT no
Brasil, DL e os Verdes na Alemanha, PRC na Itália, IU na Espanha, PCL no
Líbano, PRD no México, MDC no Zimbabwe, PSUV a Venezuela, PPP no Paquistão.
Para tentar aproximar-se das massas mobilizadas, os
revisionistas tergiversam, denominam de revolução todas as mobilizações, sem
organismos de duplo poder, sem programa revolucionário que reflita seus
interesses históricos, sem partido e em quase todas as últimas experiências,
sem a própria classe, como foram os levantes na Argentina em 2001 ou na Grécia
em 2008. A impotência de todo o arco pseudotrotskista diante das explosões de
fúria espontânea das massas condiz com sua extrema covardia em romper com a ofensiva
que criminaliza a luta dos oprimidos e persegue toda e qualquer ação direta
radicalizada ou armada das massas como “terrorismo”. Por isto, os revisionistas
de todo o mundo, extremamente fragmentados por suas aspirações conflitantes de
ocupar um lugar confortável no regime democrático burguês não vacilaram em
somar-se à propaganda antiterror de condenação do ataque militar sofrido pelos
EUA no 11 de setembro.
O fato das organizações guerrilheiras muçulmanas
anticomunistas serem o principal adversário do imperialismo no terreno militar
na atualidade é uma expressão extremada da crise de direção dos oprimidos do
planeta que, na carência de um programa trotskista, se apega até a mais
reacionária e teocrática das ideologias burguesas para reagir à ofensiva
imperialista. Este fenômeno tem se acentuado a partir da revolução islâmica de
1979, embora as corruptas e impotentes burguesias árabes, persas, palestinas e
o islamismo nada tenham para oferecer em favor da libertação material e
espiritual dos trabalhadores e povos oprimidos de nenhuma parte do globo.
Enquanto jogam terra nos olhos das massas, os revisionistas tratam de atacar e
isolar de forma virulenta os genuínos revolucionários que só podem ajudar as
massas a encontrar o caminho da revolução proletária apontando quais as tarefas
para superar os estreitos limites do espontaneismo e das lutas contidas pelas
direções tradicionais do movimento.
Em um artigo recente sobre os 70 anos da IV internacional, o
dirigente do PSTU Eduardo de Almeida acusou a LBI de “seita caluniadora”
gratuitamente sem sequer dar-se ao trabalho de apontar um fato, posição
manifesta por nossa corrente ou testemunho de alguém,... nada que justificasse
a acusação que acabava de fazer: “Utilizam com frequência o método stalinista da
calúnia para atacar seus oponentes, sem nenhum compromisso com a verdade.
Grupos como a LBI e LER no Brasil tem esse conteúdo.” (IV Internacional:
nascimento, divisão e reconstrução, Prefácio do livro Documentos de Fundação da
IV Internacional, 20/09/2008). “Sem nenhum compromisso” com a comprovação da
veracidade acusação que acabava de fazer, como de praxe, a direção do PSTU-LIT,
incapaz de fazer o debate programático “leal” como reivindica, usou mais uma
vez o método habitual de arrastar a discussão para o terreno da moral, a fim de
assim criar uma cortina de fumaça que turve a visão clara do conteúdo das
divergências políticas e ideológicas, tal como assinalava Trotsky: “O centrista
sensível e suscetível acredita, diante de tudo, que os bolcheviques ‘caluniam’,
porque estes levam seu pensamento até as últimas conseqüências, o que eles são
incapazes de fazer. No entanto, somente com esta preciosa qualidade de ser
intolerante com tudo que é híbrido e evasivo, se pode educar a um partido
revolucionário para que as ‘circunstancias excepcionais’ não nos surpreendam de
improviso. A moral de todo partido deriva no fundo, dos interesses históricos
que representa. A moral do bolchevismo, que contem a devoção, o desinteresse, o
valor, o desprezo por tudo que é falso e vão - as melhores qualidade da
natureza humana! - deriva de sua intransigência revolucionária posta a serviço
dos oprimidos”. (Bolchevismo e Stalinismo, 1937).
É calúnia afirmar que a LIT esteve entre os principais
animadores do vendaval oportunista patrocinando ilusões na restauração
capitalista da URSS? Seria calúnia afirmar que para Cuba, o ponto mais alto do
desenvolvimento da luta revolucionária dos trabalhadores atingido em todo o
hemisfério ocidental, a LIT tenha abandonado por completo a defesa das
conquistas históricas da revolução sob o cretino argumento de que elas já não
existem mais? É mentira que esta corrente apresenta uma plataforma de
legalização de todos os partidos políticos, um programa democratizante idêntico
ao dos gusanos de Miami, supondo que na Ilha não existe mais do que uma
ditadura capitalista? É calúnia afirmar que o principal eixo de construção do
PSTU, a Conlutas, encontra-se em franco retrocesso, perdendo mais influência
sindical do que conquistando, por não conseguir se afirmar como alternativa
política e organizativa à CUT e a CTB? Tudo isto é verdadeiro, falsas são as
tentativa dos revisionistas atuais de envenenarem as novas gerações com
preconceitos morais para que não dêem ouvidos ao programa do genuíno
trotskismo.
POR QUE O TROTSKISMO NÃO DIRIGIU NENHUMA REVOLUÇÃO
PROLETÁRIA?
Numericamente, apesar de todo o retrocesso militante das
últimas duas décadas, as correntes que se autoproclamam da IV Internacional
reúnem de conjunto e em termos absolutos bem mais membros do que em 1938,
quando os trotskistas agrupavam cerca de 2 mil militantes pelo mundo (com 1.000
nos EUA e 300 na Bélgica), após o extermínio físico da Oposição de Esquerda nos
campos de concentração siberianos, “onde chegaram a existir cerca de 8 mil
militantes organizados” (Os trotskistas na União Soviética, Internacionalismo
#3, Lisboa, 10/1980). Mas, apesar de já terem reunido várias vezes a quantidade
de militantes que possuía na década de 1930, como na década de 1980, por
exemplo, o fator subjetivo dentro da IV Internacional foi a razão de não ter
dirigido nenhuma revolução social em seus 70 anos de existência, mesmo em
países em que foi a força política hegemônica, como no Ceilão (atual Sri
Lanka), onde os trotskistas do LSSP elegeram 14 deputados em 1947 ou foram
dirigentes do movimento operário e situações revolucionárias terem-lhes aberto
plenas possibilidades como o POR na Bolívia em 1952. O revisionismo é a causa
da destruição programática da IV Internacional a partir de seu II Congresso.
Nos demais países, por não se apresentarem como uma corrente independente e
intransigente contra o nacionalismo burguês, o stalinismo e a social
democracia, limitou-se a ser correia de transmissão dos mesmos, coadjuvantes
das traições das direções tradicionais contra o movimento operário.
Na América Latina, por exemplo, onde as correntes principais
foram influenciadas pelos pseudotrotskistas Posadas, Mandel, Lambert e Moreno
(temos em nível regional Altamira na Argentina e Lora na Bolívia), as
organizações que se reivindicam da IV internacional já experimentaram todas as
formas de seguidismo, ao peronismo, ao castrismo, ao reformismo da UP de
Allende, ao lulismo e agora novamente como se não tivessem aprendido nada, ao
nacionalismo burguês de Chávez, Evo e Corrêa.
Os marxistas acreditam que as ideias por si só nada podem
realizar. Para realizar as ideias são necessários homens que as executem na
prática. Como poderia se realizar o programa trotskista se os que diziam
defendê-lo o renegam a cada "novidade" teórica e prática? Todas as
situações em que se lhe abriu a perspectiva revolucionária e o trotskismo teve
alguma influência no movimento de massas, seguiu a reboque das direções
tradicionais, hipotecando o apoio político da ala esquerda da vanguarda a
direções e programas contra revolucionários. Isto foi a regra. Somente um
genuíno partido do tipo bolchevique é capaz de orientar as massas à tomada do
poder e à ditadura do proletariado. Na ausência desta ferramenta, as direções
centristas e reformistas sabotam os processos revolucionários. Sob condições
excepcionais (ofensiva revolucionária das massas, boicote da burguesia ao
chamado a conformar a frente popular, pressão do imperialismo, crise econômica,
guerra etc.) os centristas seriam capazes de ir mais além de onde pretendiam
numa ruptura com a burguesia. Mas, para Moreno, por exemplo, e não por
coincidência, também para toda escola pablista, é o oposto: "a variante
que Trotsky qualificava de 'altamente improvável' é a única que tem se deu
nestes 35 anos" (‘Teses de Atualização do Programa de Transição’, 1980).
Em outras palavras, o que para Trotsky era exceção, foi tomado como regra por
Moreno.
Trotsky acreditava que seus partidários lutariam pela
independência política do proletariado, por isto nos recomenda que seria
“inútil perder-se em conjecturas” quando analisava a “variante pouco provável”.
Confiava que os futuros marxistas revolucionários combateriam de forma
intransigente a social democracia, o stalinismo, o centrismo pequeno-burguês, a
burguesia liberal-nacionalista e o imperialismo. Ao contrário do que se
esperava, a maioria dos quadros que se disseram trotskistas nos últimos 80 anos
capitularam a todas as espécies de correntes estranhas aos interesses
históricos do proletariado. Mas o mais tragicômico desta questão é que depois
de haver abandonado vergonhosamente os caros ensinamentos do Programa de
Transição, recomendam revisá-lo porque a “variante pouco provável” é a única
que se deu. Pode haver mais canalhice e cretinismo juntos?
A Liga Bolchevique Internacionalista tem aprendido a nadar
contra a maré da ofensiva anticomunista, compreende que o principal desafio da
IV Internacional ainda é superar a contradição da maturidade das condições
objetivas e a inexistência do Partido Mundial da Revolução Socialista. Desde a
morte de seu fundador até agora esta contradição, que é a mãe da crise de
direção da humanidade, só fez crescer.
A luta de classes segue carente do elemento subjetivo, do
partido que preserve a humanidade de cair na barbárie. Após 80 anos, a Internacional
fundada por Trotsky sobreviveu apesar dos “trotskistas” pela força de seu
programa. Contra os que falam da necessidade de uma nova internacional sob o
argumento de que os epígonos já mancharam excessivamente o nome da IV,
reivindicamos as palavras de seu fundador: “Não falemos em abandonar a bandeira
socialista nas mãos dos falsários! Se a nossa geração se revelou bastante débil
para construir o socialismo na terra, deixemos ao menos aos nossos filhos uma
bandeira sem mancha. A luta a sustentar transcende, de longe, em importância,
as pessoas, as frações e os partidos. O futuro da humanidade se decide. Esta
luta será dura. E longa. Os que buscam a tranquilidade e o conforto, que se
apartem de nós. Nas épocas da reação, certamente, é mais cômodo entender-se com
a burocracia do que procurar a verdade. Mas àqueles para quem o socialismo não
é uma palavra vã, para quem é o conteúdo da vida moral, avante! Nem as ameaças,
nem as perseguições, nem a violência nos deterão. Será, talvez, sobre os nossos
ossos, mas a verdade se imporá. Abrir-lhe-emos o caminho. A verdade vencerá. E
sob o golpe implacável da sorte me sentirei feliz, como nos melhores dias de
minha juventude, se conseguir contribuir para o triunfo da verdade. A maior
felicidade do homem não está, pois, na exploração do presente, mas na
preparação do futuro!” (Leon Trotsky, ‘Os crimes de Stalin’, 1937).