Durante três dias, entre 16 a 19 de setembro de 1982, foi
desferido o mais sangrento genocídio contra o povo palestino da história. Passados
36 anos, ainda está presente na memória dos palestinos e dos revolucionários
que apoiam sua causa a ação covarde das Falanges maronitas (aliadas de Israel)
contra os campos de refugiados de Sabra e Shatila no oeste de Beirute, Líbano,
em meio à guerra civil deflagrada após o assassinato de um líder da
extrema-direita cristã. Neste contexto de guerra, Israel invade o Líbano em
junho de 1982. Poucos meses depois iria consumar um ato nitidamente inspirado
nos métodos nazistas de extermínio, um ataque surpresa a uma população
completamente desarmada, sem qualquer poder de se defender ou de reação. Os
campos de refugiados palestinos foram invadidos pelas falanges da
extrema-direita cristã explicitamente estimuladas pelo exército israelense que
“garantia a salvaguarda” dos palestinos. Guardadas as diferenças, as falanges
cristãs do passado podem ser comparadas aos “rebeldes” mercenários islâmicos de
hoje que atuam na Síria. À época, sob o comando do facínora genocida Ariel
Sharon, os sionistas forneceram armamentos pesados, sinalizadores para iluminar
os caminhos da invasão, tanques etc... o mesmo que as potências imperialistas
fazem hoje com os supostos “rebeldes” na Síria. Tanques Merkeva, que partiram
de Israel, cercavam os dois campos de (concentração) refugiados palestinos,
impediam que crianças, mulheres grávidas, idosos e outros civis escapassem do
massacre. Foram mais de 62 horas de um terror extremo, sem precedentes na
história contra uma população indefesa, cujo resultado foi o assassinato de
aproximadamente 3.500 civis que já viviam em uma situação de miséria e
abandono. Uma típica política de extermínio étnico, uma vez que se trataram de
execuções sumárias com requintes de crueldade: estupros, facadas (degola),
tiros na nuca, esquartejamentos... O pretexto para um crime desta magnitude foi
o assassinato do líder falangista Bachir Gemayel poucos dias antes supostamente
– nunca comprovado – por um palestino. O genocídio não poder ser encarado como
um fato isolado: envolveu um enorme operativo de guerra, um jogo “diplomático”
articulado desde a Casa Branca e o enclave militar de Israel. Hoje, 36 anos
depois, para que não ocorram novos massacres como o Sabra e Shatila, nossa
tarefa é defender a Síria e o Irã da agressão imperialista e dos “rebeldes”
financiados pelo enclave sionista, aliados de Israel e inimigos do povo
palestino!
O massacre ocorreu quando a minoria maronita, que expressava
os interesses da alta burguesia nacional libanesa aliada ao capital
imperialista, viu sua supremacia ameaçada pela ascensão política da maioria
muçulmana (sunitas e xiitas) e da esquerda nacionalista, que se apoiavam nas
lutas dos explorados libaneses e dos refugiados palestinos, explodiu a guerra
civil no país (1975-1989). Refugiados no sul do Líbano, espalhados em
acampamentos próximos às principais cidades, os palestinos estabelecem uma
importante aliança com a resistência dos trabalhadores libaneses em luta contra
o regime títere do imperialismo francês. Estava mais uma vez colocada a
possibilidade de uma revolução, desta vez com características nitidamente
proletárias, já que a divisão social estabelecida no Líbano, rotulada pela
imprensa mundial como sendo entre cristãos versus mulçumanos, refletia na
verdade diretamente a luta entre explorados e exploradores. Em função da ameaça
da perda do controle no Líbano, o imperialismo francês aciona seu enclave na
região, que sob o comando nazi-sionista Menahem Beguin desencadeia em junho de
82 uma operação militar de invasão do Líbano, chamada cinicamente de “paz na
Galileia”. Agindo em conjunto com os milicianos falangistas, o exército
sionista massacra mais de três mil civis nos acampamentos palestinos de Sabra e
Shatila. Durante a guerra civil a direita maronita, organizada na Falange,
aliou-se ao sionismo que financiou a criação das milícias falangistas, armadas
e treinadas pelo Exército israelense e o Mossad. Em 16 de setembro de 1982,
foram essas milícias que, cumprindo ordens do Exército sionista comandada pelo
assassino Ariel Sharon, invadiram os campos de Sabra e Shatila e chacinaram
cruelmente mais de 3.000 refugiados palestinos, a maioria idosos, mulheres e
crianças indefesas. Esse massacre, realizado ao estilo dos pogroms nazistas,
foi apresentado pelos falangistas como uma vingança pela morte de Bachir
Gemayel, que havia sido eleito presidente e assassinado naquele mesmo mês de
setembro, antes de sua posse. Substituindo Bachir, seu irmão Amin Gemayel
assumiu a presidência da república libanesa. Poucos meses antes do massacre,
Ronald Reagan mediou um acordo entre o enclave sionista de Israel e a OLP a fim
de “encontrar uma solução” para os refugiados palestinos no Líbano e a guerra
civil, com vistas a instalar um governo títere no Líbano. Pura enganação, haja
vista que o imperialismo tratava de fortificar seu domínio geopolítico na
região, ao mesmo tempo em que visava aniquilar qualquer possibilidade de
organização política palestina contra sua hegemonia, se valendo de seu cão de
guarda israelense. Após várias rodadas de negociações, a OLP aceitou sair do
Líbano, consumando uma traição sem comparativos na história da luta do povo
palestino, deixando para trás milhares de refugiados civis desprotegidos. As
bases do “acordo” foram que Israel e os EUA garantissem não atacar os
palestinos. No entanto, somente a OLP “cumpriu” sua parte... Enquanto isso,
Sharon reunia-se secretamente com partidários de Gemayel para “a necessidade de
o partido vingar-se do assassinato de Bachir” (Times, 21/2/1983) com plena
aquiescência do imperialismo ianque. Nos dias atuais a situação dos campos de
(concentração) refugiados palestinos pouco mudou, a não ser o fato de ter
aumentado o nível de penúria e opressão, não há infraestrura de água potável,
saúde, alimentação, imperando a miséria extrema.
Com o passar de 36 anos, a OLP, através da Autoridade
Nacional Palestina (ANP) de Abbas, se converteu em polícia de seu próprio povo
após reconhecer a existência de Israel. Até pouco tempo atrás, atravessávamos
um período de ofensiva militar do imperialismo no Oriente Médio com a sua
fantasiosa “Primavera Árabe”, vergonhosamente encampada pela esquerda
revisionista do trotsquismo, que avança sobre a Síria, após ter destruído com
as bombas da OTAN a Líbia, as guerras de rapina colonialista serão a tônica do
Pentágono para o próximo período que buscam eliminar todos os resquícios
nacionalistas de resistência a seu domínio político (Hezbollah, Síria e Irã).
Lembremos que no final de 2012, poucos meses depois do massacre de Sabra e
Shatila completar 30 anos, ocorreram violentos combates no campo de refugiados
palestinos de Yarmouk, localizado no sul da Damasco. Os confrontos se deram
entre os “rebeldes” financiados pelas potências capitalistas e os militantes da
Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP). O objetivo da ofensiva do
famigerado ELS foi expulsar do país os grupos palestinos que se opõem a
derrubada do governo de Bashar Al Assad pelos mercenários pró-OTAN, Israel e as
burguesias árabes servis a Casa Branca. Depois de ter devastado a Líbia, agora
submersa na barbárie econômica e pilhagem das transnacionais do petróleo, os
alvos nestes momentos chamam-se Síria e Irã, que enfrenta a mesma operação
sinistra montada pela Casa Branca no norte da África. Os chamados “rebeldes”
que são financiados e armados pela OTAN, combatem para derrubar o governo
burguês da oligarquia Assad, adversária militar do enclave sionista. A ofensiva
sobre a Síria visa debilitar o Hezbollah (aliado do regime Assad), que controla
parte do território do Líbano e na mesma “tacada” domesticar o Hamas (como
ocorreu com a OLP e a ANP), convertendo-o em um aliado dócil do gendarme
terrorista de Israel. Como demonstraram os combatentes da FPLP no campo de
refugiados palestinos de Yarmouk, a luta secular do povo palestino deve ter
como foco a derrota da chamada “revolução árabe”, que através do governo Obama
e de seus aliados na região (como os atuais governos títeres da Líbia, Qatar,
Arábia Saudita, Turquia e Egito) pretendem “limpar o terreno” para o sionismo
dominar os recursos naturais, como água, gás e petróleo, de todo o mundo árabe
e Ásia central.
Assim como na Guerra do Golfo em 91, a então OLP (ainda
íntegra nos seus objetivos contra o sionismo) soube corretamente tomar o lado
do Iraque, contra os pseudos “oprimidos” do Kuwait, que se abrigaram sob a
proteção militar do Pentágono, os combatentes da causa palestina não devem
vacilar em perfilar-se no campo militar dos regimes nacionalistas do Irã e
Síria (contra os “rebeldes” e a OTAN), como parte integrante da luta por
conquistar sua soberania e um Estado nacional. O legado histórico
internacionalista que nos deixaram a FPLP e seus heróis mortos na trincheira do
combate deve ser honrado pelas novas gerações de lutadores que não podem ser
“seduzidos” pelo canto de sereia do imperialismo e sua política de criar uma
caricatura de Estado, um bantustão para um povo segregado. Como Marxistas Leninistas
sabemos muito bem das poderosas forças centrífugas que atuam no interior da
causa palestina para liquidar o ímpeto revolucionário das massas, transformando
suas organizações de luta em instrumentos passivos diante do inimigo sionista.
Não foi por acaso que liquidaram a OLP e corromperam seus dirigentes
históricos. Agora a dupla criminosa Netanyahu/Trump pretende quebrar a
resistência de todos os grupos guerrilheiros palestinos apontando que o melhor
caminho é o da negociação, assim como o trilhado por Arafat nos acordos de
Oslo. Nada mais falso e perigoso para a estratégia revolucionária de destruição
do “porta-aviões” do Pentágono estacionado no território palestino, que atende
pelo apelido de Israel. Para vencer o imperialismo e seus “rebeldes” é preciso
impulsionar uma frente única com a resistência palestina, o Irã, a Síria e o
Hezbollah, onde as organizações marxistas revolucionárias atuem na mesma trincheira
de combate destes países e dos grupos políticos na luta contra o imperialismo,
tendo completa independência política diante do programa burguês-teocrático
destes regimes e grupos. Está colocado frente à escalada política e militar do
imperialismo em apoio aos “rebeldes” made in CIA na Síria e dando suporte a
oposição interna pró-imperialista no Irã, combater para que a luta dos povos do
Oriente Médio não sirva para o imperialismo debilitar os regimes que têm
fricções com a Casa Branca (Irã e Síria), ou mesmo como cínico pretexto para
justificar intervenções militares “humanitárias” como a que ocorreu na Líbia.
Cabe aos Marxistas Leninistas na trincheira da luta contra o imperialismo e
pelas reivindicações imediatas e históricas das massas árabes postarem-se em
frente única com os governos atacados pelas tropas da OTAN e combater os planos
de agressão das potências capitalistas sobre as nações semicoloniais da região.
Por estas razões, mais do que nunca, para honrar os mortos de Sabra e Shatila e
a miríade de palestinos trucidados ao longo do combate contra o exército
israelense e o imperialismo ianque, é necessário defendermos todos os povos
ameaçados de invasão pelas grandes potências capitalistas. Os revolucionários
devem ter como eixo programático a formação de uma frente única com todas as
forças que se enfrentam e trabalham pela derrota da OTAN e a destruição do
enclave de Israel no Oriente Médio: na Palestina, Líbia, Síria e Irã... Só há
uma saída progressista para conter a barbárie capitalista, a derrota do inimigo
número um de todos os povos do planeta, o imperialismo e a liquidação da
máquina de guerra sionista.