PSOL: UM “GUARDA CHUVA” OPORTUNISTA QUE SERVIU DE ABRIGO ATÉ
PARA FASCISTAS COMO DACIOLO E AGORA TORNOU-SE “PUXADINHO DO PT” COM BOULOS
Na atual campanha presidencial existem dois candidatos que
em tese representariam extremos opostos do espectro político nacional: Daciolo
e Boulos. O ex-"bombeiro militar" incorpora o papel de porta-voz da
extrema direita fascista e evangélica, por sua vez o dirigente do MTST
encarnaria supostamente o candidatado da “esquerda radical” socialdemocrata.
Ocorre que os dois tem algo em comum: a filiação ao PSOL. A legenda é um
genuíno guarda-chuva oportunista tão amplo que foi capaz de abrigar até 2015 o reacionário
Cabo Daciolo e hoje tem como candidato a presidente da república o reformista
ligado ao PT, Guilherme Boulos. Esse malabarismo político próprio do cretinismo
parlamentar é plenamente válido e justificável para a camarilha que controla o
PSOL desde que a presença de gente desse “quilate tão eclético” lhe renda
dividendos eleitorais, mais especificamente vagas no parlamento burguês. O BLOG
da LBI em janeiro de 2015 elaborou o artigo que reproduzimos abaixo denunciando
o PSOL como um condomínio político de reformistas capaz de agrupar até mesmo
fascistas quando lhe convinha eleitoralmente. Naquele momento, quando estourou
a primeira crise com Daciolo, todas as correntes se diziam “surpresas” quando o
militar fascista começou a se aproximar publicamente de Bolsonaro. Logo alguns
setores do PSOL exigiram sua expulsão e a devolução do mandato. O que estas
correntes cinicamente não disseram à época e muito menos agora quando Daciolo
desmoraliza o PSOL é que o cabo filiou-se em maio de 2013 com o aval unânime do
conjunto da executiva estadual fluminense, quando já sabidamente “pregava” o
discurso reacionário do fundamentalismo religioso e o fortalecimento das
corporações militares assassinas da PM e do Corpo de Bombeiros, esta última no
Rio de Janeiro em particular base das milícias que dominam os morros cariocas e
impõem o terror a população pobre das favelas. Naquele momento nenhum setor do
PSOL questionou a filiação de Daciolo porque avaliavam que os votos do bombeiro
poderiam garantir a eleição de um terceiro parlamentar federal para o partido
via o coeficiente partidário, apostavam justamente em Renato Cinco, da
Insurgência! O plano eleitoreiro não deu certo porque Cinco teve menos votos
(28 mil) que Daciolo (50 mil) para a Câmara dos Deputados, este último acabou
ficando com a tão cobiçada vaga que agora serviu de base para sua candidatura
presidencial de extrema-direita! O mesmo ocorre atualmente com Boulos, o
dirigente do MTST ligado ao PT faz do PSOL um “puxadinho do PT”, tanto que não
polariza a campanha presidencial e apenas prepara o partido para apoiar no
segundo turno o candidato de Lula, Haddad, caso a Frente Popular conquiste a
vaga nessa disputa do circo eleitoral. Lembramos também aos nossos leitores que
o fascista cabo Daciolo foi convidado a ser candidato pelo PSTU mas optou pelo
PSOL em 2013. O valioso artigo abaixo é uma prova irrefutável que os Marxistas
Revolucionários denunciaram as posições de Daciolo desde o reacionário motim
dos bombeiros em 2011, enquanto apesar de defender melhores condições para o
aparato repressivo atacar o povo pobre e trabalhador, o cabo era cortejado para
filiar-se não só no PSOL mas também no PSTU!
“FORA DACIOLO, POR UM PSOL PARA AS LUTAS” OU FORA PSOL, UM
AMPLO CONDOMÍNIO PROGRAMÁTICO DE REFORMISTAS?
(BLOG DA LBI, 4 DE JANEIRO DE 2015)
Algumas correntes revisionistas da “esquerda” do PSOL
(Insurgência, Resistência Popular Revolucionária, LSR, etc ...) vem levantando
uma campanha “Fora Daciolo, por um PSOL para as lutas”, em virtude da suposta
guinada direitista do parlamentar recém eleito. Logo após a eleição do Cabo
Daciolo a deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro (o militar que liderou o
motim reacionário dos bombeiros em 2011 e ganhou amplo destaque na mídia por
defender a escolha de um general para dirigir o Ministério da Defesa do governo
Dilma e pousar sorridente em fotos ao lado do fascista Bolsonaro na cerimônia
de diplomação dos parlamentares fluminenses), o ex-“bombeiro militar” passou a
afirmar que seu mandato seria produto de uma escolha divina. Imediatamente,
setores da chamada “esquerda” do PSOL responderam com uma campanha pelo “Fora
Daciolo do PSOL”. Renato Cinco, vereador carioca e dirigente da Insurgência
declarou “Tirar foto tietando o Bolsonaro é contra a orientação política do
PSOL. Aproveito para deixar claro que sou a favor do Daciolo sair do PSOL mas o
partido ficar com o mandato” (26.12). Já a RPR, fingindo-se indignada, foi
ainda mais longe “Exigimos o imediato desligamento de Daciolo e o mandato para
o partido, até porque ele foi eleito puxado por Jean Wyllys e Chico Alencar.
Fora Daciolo! Por um PSOL para as lutas!” (24.12). O que estas correntes
cinicamente não dizem é que Daciolo filiou-se mais de um ano antes (maio de
2013) das eleições ao PSOL com o aval unânime do conjunto da executiva
estadual, quando já sabidamente “pregava” nas manifestações que encabeçou desde
a paralisação dos bombeiros e em defesa da PEC 300 (aumento salarial nacional
para a PM) o discurso reacionário do fundamentalismo religioso e o
fortalecimento das corporações militares assassinas da PM e do Corpo de
Bombeiros, esta última no Rio de Janeiro em particular base das milícias que
dominam os morros cariocas e impõem o terror a população pobre das favelas.
Naquele momento nenhum setor do PSOL questionou a filiação de Daciolo porque
avaliavam que os votos do bombeiro poderiam garantir a eleição de um terceiro
parlamentar federal para o partido via o coeficiente partidário, apostavam
justamente em Renato Cinco, da Insurgência! O plano eleitoreiro não deu certo,
apesar da direção do PSOL-RJ ter negado espaço na TV para o bombeiro, porque
Cinco teve menos votos (28 mil) que Daciolo (50 mil) para a Câmara dos
Deputados, este último acabou ficando com a tão cobiçada vaga! Como se observa,
na condição de um amplo condomínio harmônico de reformistas, o PSOL aceita
todos as “celebridades” (até fascistas!) que lhe possam trazer algum benefício
político e eleitoral porque sua estratégia é conquistar espaços parlamentares
nas instituições de poder da burguesia para levar a frente sua plataforma de
colaboração de classes. As palavras da CST não deixam dúvidas neste sentido, já
que também os morenistas estavam interessadíssimos em ampliar as chances para
abrir uma vaga de vereador para Babá na capital fluminense, então primeiro
suplente: “Saudamos a vinda do companheiro Daciolo ao PSOL, por entender que
sua vinda ao partido, fortalece o PSOL como um partido ligado as lutas e
mobilizações, visto que este companheiro é o principal dirigente da luta dos
bombeiros, que com ousadia enfrentaram os desmandos de Sergio Cabral (PMDB).
Neste sentido o PSOL e nossa corrente estão incondicionalmente do lado dos
lutadores bombeiros e na sua defesa contra as demissões e o processo judicial
que estão enfrentando” (Maio.2013). Os maiores picaretas neste caso não são os
“Daciolos” da vida que ingressam no PSOL para tentar viabilizar seus apetites
eleitorais em absoluta concordância com os planos da direção psolista mas as
correntes de “esquerda” que acreditam ser o partido um instrumento a serviço da
revolução socialista e defendem uma suposta “pureza política” de uma legenda
completamente corrompida e integrada ao regime burguês, tanto que se alia desde
a direita reacionária por um lado como no Amapá (PTB, DEM), abriga apoiadores
confessos de Marina Silva (Rede-PSB) como Heloísa Helena ou chama voto em Dilma
(PT) entusiasticamente como fizeram seus parlamentares federais no próprio RJ
no segundo turno (ironicamente a exceção foi Daciolo que declarou Voto Nulo!)
enquanto defende um programa pela moralização do Estado burguês, as assassinas
UPP´s e a democratização de suas apodrecidas instituições “republicanas”! Os
Marxistas Revolucionários denunciaram as posições de Daciolo desde o
reacionário motim dos bombeiros em 2011, enquanto apesar de defender melhores
condições para o aparato repressivo atacar o povo pobre e trabalhador, o cabo
era cortejado para filiar-se não só no PSOL mas também no PSTU! Agora, longe de
ver com alguma simpatia a campanha por “Fora Daciolo! PSOL para as lutas” como
fazem alguns pseudo “Leninistas”, denunciamos vigorosamente este partido e
todas as suas alas como partes de um aparato político pequeno-burguês a serviço
de uma orientação socialdemocrata e reformista que representa um sério
obstáculo para a evolução da consciência de classe dos trabalhadores e de sua
vanguarda classista rumo a construção de um genuíno Partido Operário e
Revolucionário em nosso país!
Em nota da Executiva do PSOL-RJ intitulada “Deputado
Daciolo, o PSOL pede a cassação de fascistas, não tira foto com eles”, a
direção do partido reclama das “novas” posições do ex-bombeiro militar,
declarando “O deputado federal eleito por nosso partido Daciolo Benevenuto
divulgou recentemente fotografia sua abraçado ao deputado fascista Jair
Bolsonaro (PP-RJ, partido da base do governo federal). Na mesma semana,
defendeu, em vídeo fartamente divulgado em redes sociais, que o governo
substitua o atual ministro da defesa por um oficial militar (já que o atual
ministro é um civil). Anunciou unilateralmente encabeçar uma campanha contra a
atual onda de assassinatos de policiais militares (sem vincular tal campanha à
necessária luta contra a violência policial contra os pobres e a
desmilitarização das polícias e da vida, bandeiras fundamentais do PSOL).
Convidado por esta Executiva estadual a conversar, informou, em carta às
Executivas Nacional e Estadual fluminense do partido, que se nega a participar
da campanha pela cassação do mandato de Bolsonaro – depois das declarações
deste dizendo que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque
esta ‘não merece’” (20.12). Ocorre que o PSOL tem um longo histórico de
dirigentes que fazem todo tipo de alianças com a burguesia e seus partidos
tradicionais, recebe dinheiro de grupos capitalistas e um programa em defesa das
assassinas UPP´s. Daciolo não é uma exceção como vendem as correntes
revisionistas da “esquerda” do PSOL mas uma regra sem disfarces! Na própria
campanha presidencial, o candidato aprovado inicialmente, Randofe Rodrigues,
era a expressão máxima da política direitista da direção do partido, um homem
que mantinha intimas relações políticas com Sarney e formava parte da base
parlamentar do governo Dilma. Randolfe desistiu e foi substituído por Luciana
Genro que logo teve a campanha financiada por empresas capitalistas. Lembremos
que o MES de Luciana havia defendido em 2010 que o PSOL apoiasse Marina Silva,
aliança que não se concretizou pela negativa da ecocapitalista de ceder espaço
para o PSOL na coligação, que acabou lançando Plínio de Arruda Sampaio, candidatura
que foi boicotada por toda a uma ala do PSOL que agora integra a REDE-PSB. O
próprio PSOL-RJ negociou com Gabeira (PV) uma aliança no Rio em 2012 que acabou
não se concretizando e agora em 2013 “namorou” com Romário para que se filiasse
ao partido, mas este voltou ao PSB e apoiou Aécio no segundo turno. Este é o
arco de alianças do PSOL, cuja direção tem a cara de pau de criticar as fotos
de Daciolo com Bolsonaro! Os supostos “exageros” de Daciolo e seu
fundamentalismo religioso reclamados pela executiva fluminense fazem parte da
vida “ordinária” de um partido que teve em 2006 Heloísa Helena (devota
fervorosa de Virgem Maria contra o direito ao aborto) como candidata a
presidente defendendo posições reacionárias como a criminalização do aborto e a
perseguição do Estado e seu aparato repressivo aos dirigentes do MSLT quando
este ocupou o Congresso Nacional, tudo em nome da defesa da Constituição
burguesa!
Ao que parece a campanha da “esquerda” revisionista do PSOL
pelo “Fora Daciolo” encaixa-se como uma luva nas posições assumidas pelo
executiva neste momento, ela trabalha com a possibilidade de pedir a expulsão
do ex-bombeiro militar para dar a vaga a Renato Cinco da Insurgência, alegando
infidelidade porque Daciolo não cumpre o programa do partido, ação que serviria
no mínimo para discipliná-lo um pouco mais! Seria a execução do plano original
da direção do PSOL por outras vias, tendo para isso o apoio de sua ala
“esquerda” que “traficaria” cinicamente esta medida como uma expressão da
“coerência do PSOL”. As palavras do ex-BBB, Jean Wyllys, vão neste sentido:
“Prefiro não falar nada além de que estarei atento à atuação política e
legislativa dele, de modo que esta esteja de acordo com o programa e os
princípios do partido. Aliás, estaremos. Há entre nós quatro uma afinidade e,
se ele desafinar em relação a esses princípios, sofrerá as consequências
esperadas e previstas. Chico e eu temos responsabilidade maior, já que o
arrastamos, mas os outros também têm” (O Globo, 21.10). Não sabemos se esta
medida será levada adiante porque Daciolo tem ligação com as assassinas
milícias fluminenses e pode querer impedir essa manobra ao melhor estilo do
terror que se pratica nos morros do Rio de Janeiro. Por esta razão, a nota da
executiva acaba em tom conciliador declarando “Insistimos no convite para que o
deputado Daciolo venha a uma conversa franca com a direção partidária do Rio de
Janeiro, para avaliarmos juntos a sua atuação na futura bancada do PSOL a
partir de 2015”. Como no caso de Heloísa Helena e de Jeferson Moura (vereador
do PSOL no RJ) que integram o REDE mas continuam no PSOL, a tendência é que
Daciolo chegue a um “acordo de cavalheiros” com a direção do partido, já que
“sempre cabe mais um” no amplo condomínio programático de reformistas que é a
legenda!
Vale registrar que o cabo Daciolo foi também disputado pelo
PSTU para filiar-se ao partido com o objetivo de ser candidato a deputado no
RJ. Cyro Garcia participou da primeira plenária depois da eleição de Daciolo
representando o PSTU, em que o ex-bombeiro militar rezou ajoelhado em
agradecimento a Deus pelos votos recebidos, ladeado por Janira Rocha (ex-MTL).
O dirigente morenista confessou “ter ‘disputado’ Daciolo com o PSOL ‘até o
último minuto’” (O Globo, 21.10), levando-o para várias atividades da Conlutas
e da Anel. Não nos surpreende a conduta do PSTU, é o mesmo partido que
conformou uma Frente de Esquerda com Heloísa Helena em Alagoas agora em 2014
mesmo sabendo de seu apoio aberto a Marina Silva e também com o MES de Luciana
Genro no Rio Grande do Sul, apesar da dirigente desta corrente ter recebido
dinheiro dos capitalistas em sua campanha para prefeita em 2012! O próprio PSTU
já abrigou Lindberg Farias quando este saiu do PCdoB em setembro de 1997 por
falta de espaço eleitoral e filou-se na legenda morenista no limite do prazo
exigido pela legislação porque ambos avaliavam que poderia ser eleito deputado
federal pelo PSTU fluminense como candidato único do partido no estado. Assim
foi feito, mas Lindberg depois de duas tentativas frustradas de volta ao
parlamento pelas mãos do PSTU (1998 e 2000), largou os morenistas em 2001 e
ingressou no PT, onde até hoje faz sua carreira eleitoral como um domesticado
político burguês! Na época a LBI denunciou essa movimentação bastante parecida
com a que hoje ocorre com Daciolo, que acabou ingressando no PSOL mas
anteriormente foi cortejado pelo PSTU “até o último minuto”. No artigo
“Lindberg ‘sai’ do PSTU e ingressa no PT: Manobra oportunista de ‘entrismo’ do
PSTU no PT ou completa desmoralização de sua política eleitoreira?”
(Agosto/2001) alertávamos que “Já em 1997 caracterizávamos que, longe de uma
ruptura de princípios com a orientação contra-revolucionária do ‘stalinismo’
social-democrata tupiniquim, responsável junto com o PT por subordinar a luta
revolucionária do proletariado brasileiro às alianças com os chamados ‘setores
progressistas e democráticos’ da burguesia nacional, a saída de Lindberg do
PCdoB e seu ingresso no PSTU seguia unicamente suas conveniências eleitorais em
um processo de reacomodação partidária no mesmo marco da frente popular.
Alertávamos, porém, que mais grave que a conduta de Lindberg era a orientação
levada a cabo pela direção do PSTU ao acolher, sem qualquer reserva ou
exigência de autocrítica profunda, uma figura de ponta do PCdoB em seus acordos
com a burguesia, procurando apagar as traições de seus antigos adversários no
momento em que estes se filiam ao partido. Em resumo, a forma como Lindberg
ingressava no PSTU acabava por tornar esse partido uma espécie de legenda de
aluguel da esquerda”. Como se observa, o oportunismo eleitoral do PSTU vem de
longe e na medida que o PSOL avança na conquista de postos parlamentares (até
Babá-CST voltou, agora é vereador carioca!), os morenistas ficam ansiosos para
também fazerem manobras de todo tipo com o objetivo de conquistar sua
“vaguinha” no Rio de Janeiro. Apesar do PSTU ter prometido receber de braços
abertos Daciolo para que este fosse candidato a deputado pelo partido diante da
total identidade programática entre ambos (apoio a greve reacionária das PM e
ao motim dos bombeiros, defesa de melhores condições para os soldados
reprimirem o povo trabalhador) o cabo acabou escolhendo o amplo PSOL, mas a
direção morenista ainda tem esperança de Daciolo e Janira Rocha (que integra a
direção nacional da Conlutas através do MTL e formalmente dirige junto com o
ex-militar a tendência “PSOL do Povo”, contrária a maioria da executiva
fluminense), lhe dê uma nova chance diante da crise instalada no interior do
PSOL! Vamos aguardar se os “esforços” de Cyro Garcia não foram em vão! Quanto
aos grupos oportunistas e revisionistas do PSOL, um destes aliado também ao
PCO, continuam a semear a nefasta ilusão de que este partido pequeno-burguês
(em rápida transição seguindo a trajetória do PT) poderá servir como
instrumento de luta revolucionária para a classe trabalhadora.
A “Nota da ABMERJ em defesa do Daciolo” (22.12), a
Associação dos Bombeiros Militares do Estado do Rio de Janeiro declara que “É
contraditório um partido que defende a liberdade religiosa, e carrega a
liberdade em seu próprio nome, acusar de fundamentalismo religioso a fé que
historicamente os Bombeiros carregam desde o enfrentamento com o governo
Cabral. A fé pode ser um instrumento de libertação e impulsar a luta dos
oprimidos. Não se pode confundir jamais religiosidade com fundamentalismo. O
melhor caminho é sempre o do diálogo, da aproximação ao invés de tachar,
criticar abertamente em tom de ameaça, cogitar até uma expulsão. Somos todos
trabalhadores e estamos ao lado do povo, então vamos convergir na luta contra o
inimigo comum. Paz entre nós e guerra aos senhores. Nós queremos um bem comum,
justiça social e liberdade. Daciolo não é da bancada da bala, da evangélica ou
do agronegócio. Daciolo é da luta, do enfrentamento, da busca incessante por
direitos, dignidade e está com toda a certeza ao lado dos trabalhadores. Todos
os ruídos e briga entre nós só interessam aos opressores, a quem segura a
chibata, a quem retira nossos direitos. Juntos somos fortes!”. Como se observa,
assessorado por Janira Rocha, o cabo Daciolo reivindica justamente que o PSOL
continue a ser o que foi desde a sua fundação: um amplo condomínio programático
de reformistas que aceita todo o tipo de gente em nome de seus apetites
eleitorais. Somente correntes revisionistas que estão fora do PSOL como a LER
mas que ficaram entusiasmadas com o crescimento da legenda no RJ nas últimas
eleições podem acreditar ser “questões programáticas” que levariam a saída de
Daciolo do PSOL e não os interesses eleitorais dos grupos majoritários do
partido. Por isso os “ingênuos” da LER declaram “Daciolo tem como prioridade em
seu mandato questões dos militares, e nelas se chocará com a maioria das bases
progressistas do PSOL. Também deve vir à tona diferenças do Daciolo como a
legalização das drogas, o direito ao aborto, combate à homofobia e a violência
policial que mata mais que em guerra. Como o PSOL engolirá que em cada aspecto
de seus eixos políticos apareça um ‘Bolsonaro’ dentro de casa, com o deputado
Daciolo votando com os conservadores, direitistas e reacionários?” (Sitio da
LER, Deputado federal cabo Daciolo: um Bolsonaro dentro do PSOL? 22.12). Nada
mais falso, a defesa do “bem comum, justiça social e liberdade” como diz a nota
da ABMERJ é a base do programa socialdemocrata do PSOL e não há motivos para
Daciolo ser expulso do partido sob a acusação de “incoerência partidária”.
Desde Daciolo e Marcelo Freixo, passando por Chico Alencar, Edmilson Rodrigues
e Ivan Valente... abarcando também as correntes revisionistas da “esquerda” do PSOL
(Insurgência, Resistência Popular Revolucionária, LSR, etc ...), todos estão
unidos pela política de colaboração de classes porque o PSOL já nasceu como um
partido pequeno-burguês de carreiristas profissionais de “esquerda” que
perderam espaço dentro do PT e justamente por isto formaram a legenda. Suas
críticas pontuais ao lulismo nunca tiveram nenhum corte de classe proletário e
mais cedo do que tarde sabia-se que o PSOL iria ingressar de “corpo e alma” no
jogo eleitoral burguês. O velho Marx principista e rigoroso, se vivo estivesse
não hesitaria em classificar a história deste partido como a repetição de uma
farsa, diante da tragédia original que representou o PT para a luta de classes.
Já não temos a figura de Marx em vida, porém a LBI que reivindica a herança de
seu imenso legado teórico e metodológico pode aferir o grau de oportunismo
político trilhado pelo PSOL, que muito distante de uma organização
revolucionária que luta contra as instituições da República dos modernos barões
capitalistas, se integra a qualquer custo a seu regime político senil.