sexta-feira, 14 de setembro de 2018

10 ANOS DO CRASH DE WALL STREET: UMA DÉCADA DO “ARMAGEDON” FINANCEIRO PUBLICITADO PELOS CATASTROFISTAS DA ESQUERDA COMO A VÉSPERA DO SOCIALISMO... ABSTRAIR AS LIÇÕES DE QUE SEM PARTIDO LENINISTA NÃO HÁ REVOLUÇÃO SOCIALISTA


A falência do Lehman Brothers e o consequente estouro da bolha imobiliária no dia 15 de setembro de 2008, há exatos 10 anos, provocou o ápice da crise financeira norte-americana e em contra-partida um importante debate veio à tona nas fileiras da esquerda mundial. A esmagadora maioria das correntes políticas que reivindicavam o marxismo, e em particular com mais ênfase as revisionistas, afirmaram que a economia capitalista sucumbiria em poucos meses em função do fulminante esgotamento do imperialismo ianque. Naquela ocasião se desenhava um horizonte de falência de grandes corporações transnacionais, com destaque na gigante automobilística General Motors. Formava-se um “caldo de cultura” bastante fecundo para o surgimento das teorias marxianas “catastrofistas”, embaladas pelo espetáculo da mídia “murdochiana” que não inocentemente espalhava o pânico do “armagedon” com objetivo de uma intervenção estatal do tipo keynesiana. Nós da LBI sustentamos, muito isolados no interior da esquerda, a impossibilidade de um autocolapso do modo de produção capitalista por piores que fossem os níveis da crise econômica planetária e, na contramão da correnteza “catastrofista”, prognosticamos que na ausência da revolução socialista o império norte-americano iria lentamente se recuperar do crash financeiro, injetando uma enorme massa de capital estatal para alavancar os setores privados que amargaram enormes perdas no cassino de Wall Street. Os Leninistas estávamos nos baseando na teoria científica das “ondas largas” de crescimento econômico capitalista (muito bem detalhada na obra de Ernest Mandel), que são entrecortadas por crises cíclicas de retração do mercado consumidor de mercadorias. Como Marx já havia apontado há mais de um século só existe uma única maneira do rompimento desta lógica de “pressurização” da economia capitalista, é a ação independente da classe operária apresentando um novo projeto histórico de sociedade. Desgraçadamente, a esquerda revisionista estava muito longe de apostar na ação revolucionária do proletariado, optando por profecias ufanistas do “fim do mundo” (onde previam o crescimento exponencial de suas organizações que nunca ocorreu) deixando a burguesia imperialista de “mãos livres” para operar de forma lenta e segura a recuperação econômica no “coração do monstro”. Dez anos depois do crash financeiro ianque nossos prognósticos se demonstram integralmente corretos. De lá para cá, Obama e depois Trump conseguiram reorganizar minimante da economia interna do imperialismo ianque baseado na política de guerra e protecionismo. A taxa de desemprego passou de quase 13% em 2009 aos atuais 7,9%, um patamar ainda muito alto para os padrões ianques, mas apontando um viés de queda. O “melhor” desempenho da recuperação imperial encontra-se na variação do PIB que saiu de uma retração no terceiro trimestre de -9% para um crescimento de 2% no mesmo período deste ano. As gigantes montadoras como GM e Chrysler à beira da falência em 2008 já registram fortes lucros nominais em seus balancetes e o sistema bancário não corre risco de “contaminação” com a instabilidade das bolsas europeias. A receita do “milagre” de conta-gotas foi bem simples, o governo Obama irrigou com cerca de um trilhão de dólares as empresas capitalistas “deficitárias”, aumentando com esta iniciativa o déficit estatal orçamentário norte-americano que já ultrapassa a casa dos quinze trilhões de dólares. Depois Trump deu início a uma política de protecionismo econômico para incrementar a indústria nacional e gerar empregos perseguindo os imigrantes e aumentando as barreiras alfandegárias. É importante registrar que mesmo no “olho do furacão” da crise internacional o Dólar nunca apresentou uma forte tendência de queda e os títulos de longo prazo do Tesouro norte-americano continuaram a ser o “porto seguro” dos rentistas (além dos principais bancos centrais de todo o mundo) que provocaram o “crash”, mas que nunca acreditaram na teoria do “colapso final”. Com a política de criar o “tsunami” monetário ianque, o FED recuperou a força do Dólar fazendo recuar seus principais concorrentes comerciais, como os BRICs, por exemplo.


A crise de 2008 serviu, na verdade, mais além de suas implicações econômicas cíclicas, para o imperialismo desatar uma enorme ofensiva global contra os povos oprimidos e o proletariado mundial, através da subtração de suas conquistas históricas. Com Obama houve a chamada “revolução árabe”, uma operação da CIA e OTAN para derrubar governos nacionalistas burgueses da região, os comandantes do Pentágono resolveram reconduzir o partido Democrata por mais uma gestão, a espera da consolidação de uma nova liderança política neofascista no final desta década. Trump é apenas uma ponte para esse objetivo. A recuperação econômica dos EUA, sob a instabilidade política da curta "era Trump", segue os mesmos passos lentos do governo Obama que teve a função histórica de "diluir" o crash financeiro para as próximas décadas com a rapinagem realizada contra as reservas de ouro físico da Líbia.

No dia 15 de setembro de 2008 era anunciada como uma “bomba” a quebra financeira do quarto maior banco de investimentos norte-americano, o Lehman Brothers. Era o “alarme” do chash financeiro anunciando que a crise dos títulos “Sub-prime” que afetara o mercado bursátil de Wall Street contaminava também o poderoso setor financeiro ianque. Em poucos dias, naquele “setembro negro”, tomou conta no mundo inteiro um clima de “catástrofe” econômica que levaria pânico a todos os mercados, desde as semicolônias até os centros imperialistas. Logo os boatos davam como certa a falência de grandes complexos industriais, como a General Motors por exemplo, de imediato ocorreu uma interrupção do fluxo financeiro internacional levando a uma abrupta retração do crédito, instalando-se uma recessão global generalizada. Somente dois “ícones” do capitalismo financeiro pareciam passar incólumes pela crise de 2008, o Dólar que apresentou robustos índices de alta e os próprios títulos do Tesouro norte-americano que continuaram atrair as reservas monetárias das principais economias do planeta. Para os marxistas revolucionários era um claro sinal de que a economia imperialista dos EUA estava bem distante de “colapsar” e que o “armagedon final” tanto difundido pelos rentistas e barões da indústria era uma manobra midiática para amealhar centenas de bilhões de dólares do botim estatal ianque. A esquerda revisionista logo “comprou” a versão do iminente “apocalipse” do regime capitalista, chegando a anunciar que o imperialismo não conseguiria sobreviver (política e economicamente) até o final de 2009. Quem pode esquecer os inúmeros artigos da imprensa da LIT, UIT ou mesmo da FT (PTS argentino) anunciando que: “muito em breve nossas seções nacionais terão milhares de militantes e deverão estar preparadas para tomar o poder” (PO, 10/2008). A LBI foi a única organização marxista a caracterizar cientificamente o fenômeno do crashfinanceiro de 2008, como o momento final de uma onda larga de expansão capitalista, iniciada logo após a crise dos mercados (“tigres”) asiáticos na década de 90. Alertamos que o modo de produção capitalista ainda detinha uma série de recursos para a recomposição parcial de suas taxas de lucro, mesmo seguindo sua tendência histórica irreversível de estancamento das forças produtivas. Passados cinco anos do ápice da crise econômica, o imperialismo master mostrou que não naufragou no abismo abissal vaticinado pela esquerda revisionista, as enormes reservas financeiras do Estado capitalista funcionaram como “salvaguardas” para os trustes ianques se recomporem e até alavancarem seus negócios. Aos que ficaram “surpresos” com o papel jogado pelas instituições estatais na recuperação dos oligopólios privados, o “velho” Marx já respondia a esta questão afirmando que o “estado não passa de um comitê central dos negócios da burguesia”. Mas se a chamada política Keynesiana entrou em ação em uma época de plena apologia ao “livre mercado” e da tônica a um neoliberalismo radical, foi porque ambas políticas estatais são úteis à burguesia em momentos históricos distintos. É bem verdade que o atual Keynesianismo é mitigado com fortes doses de monetarismo e liberalismo econômico, mas não poderia ser diferente no período de crise estrutural do capitalismo. O enorme déficit do Tesouro norte-americano conseguiu suportar seu alongamento “forçado” pelo crash financeiro, ao contrário dos estados europeus, “amarrados” com um banco central único à serviço do imperialismo alemão. O FED atuou com energia e não negou “fogo” a sua própria burguesia, mas de quebra também acabou por impulsionar mercados emergentes, principalmente na América Latina, como o Brasil, avalizando o desvio de capitais especulativos para economias mais estáveis.

Com uma recuperação mediana, a economia ianque ao longo destes 10 anos ainda apresenta níveis elevados de desemprego, ainda que tenha demonstrado capacidade de elevação gradual constante do PIB. O departamento de Comércio do governo Trump informou que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu a uma taxa anual de 2,5 por cento no período de abril a junho deste ano. Também no mesmo relatório, o departamento estatal afirmou que seu índice de preços para as compras do consumidor, que é a principal medida de inflação do Federal Reserve, banco central do país, caiu a uma taxa de 0,1 por cento. Em resumo podemos concluir que a maior economia capitalista do mundo caminha “travada” com um crescimento pífio e inflação sob controle. Só não podemos dizer o mesmo dos lucros das transnacionais ianques, que acumularam cifras espetaculares de crescimento nos últimos três anos, refazendo os mesmos níveis de capitalização de antes da crise, isto tudo sem falar da “generosa” ajuda estatal a fundo perdido... Com a política dos subsídios estatais a todo vapor, o FED deve retardar o aumento de sua taxa de juros ainda por um bom período. Esta posição continua por favorecer momentaneamente a burguesia brasileira, que vem atuando como “mediadora” do Banco Central em sua escalada de retomar o viés de baixa da taxa SELIC. Com o mercado nacional “encharcado” de capitais, nossa dívida interna não para de crescer, compensando assim o corte dos investimentos públicos (política de superávit primário). Desta forma a ausência de recursos estatais para o desenvolvimento de projetos estratégicos para alavancar a economia brasileira, é substituída pela “falsa euforia” de um consumismo sem limites, onde os rentistas do mercado financeiro e a burguesia agroexportadora (commoditiesagrominerais) são os principais “pilares” do nosso tacanho crescimento, associado e dependente do imperialismo ianque.
  
Os indicadores da economia ianque apresentaram uma leve melhora nos últimos anos do governo Obama, Trump ainda se apoia nesta situação de equilíbrio para manter alguma aparência de que é de fato o presidente dos EUA, entretanto a lógica de aço da crise do capital não lhe concederá muito tempo para continuar a se "divertir" no Twitter. A burguesia imperialista ianque está consciente da gravidade da conjuntura mundial, em uma correlação de forças tendencialmente favorável à China, porém foi forçada a se utilizar de Trump como uma "ponte" necessária no sentido de espraiar o clima da "beira do abismo" com este palhaço reacionário. Um Golpe de Estado ou mesmo um impeachment caminha a passos largos nos EUA e com um idiota impotente e odiado ocupando a Casa Branca a tarefa fica obviamente bem mais fácil.