A tendência "Resistência", antigo grupo
"MAIS", uma das correntes internas neófitas do PSOL, publicou
recentemente em seu sítio um artigo sobre os "80 da fundação da IV
Internacional" cujo eixo central é tentar convencer a nova vanguarda
militante que "apesar das várias tribos" (linguagem utilizada para
transparecer um frescor juvenil) a IV Internacional teria uma mesma identidade
programática calcada na mítica figura de Leon Trotsky e somada a uma
convergência anti-stalinista, quase um sinônimo de "democrática" para
os stalinofóbicos. A princípio e principalmente para os incautos o argumento do
satélite intestino do PSOL parece fazer sentido, afinal se todos os
"galhos" balançam ao mesmo vento que sopra do legado do
"velho" Bolchevique, as diferenças políticas teriam que ser menores,
quase ao sabor do "capricho" dos poucos dirigentes citados no artigo:
"Pablo, Mandel, Cliff, Cannon, Moreno, Grant". Porém para nós
Marxistas, Trotskistas ou não, a história da luta de classes e da própria IV
Internacional não pode ser aferida com tamanha simplicidade teórica, sabemos
muito bem como materialistas que cada grande divisão do campo revolucionário
corresponde a interesses históricos das
classes sociais, que se apresentam na forma de
estratégias distintas apresentadas para a senda política do
proletariado. Se é fato que existam idiossincrasias pessoais de cada dirigente
ou mesmo coletivamente das organizações, estas mesmas são apenas um reflexo
"pequeno" das linhas gerais que seguem e se depuram as Internacionais
que tiveram origem no seio da classe operária, ou pelo menos de sua vanguarda
política.
Para a tendência "Resistência", em seu simplório
artigo sobre a IV, a existência de "caprichos" de cada corrente que
reclama Trotskista explicaria a dispersão e divisão das diversas frações deste
campo, acrescido de uma estranha "compulsão" auto-proclamatória para
se afastar do movimento das massas. Recorrendo a uma narrativa que soa como boa
música aos ouvidos da pequeno burguesia "intelectual" escrevem:
"cada tribo do trotskismo desenvolveu uma ortodoxia doutrinaria, levando a
auto-proclamação, a um fetichismo dogmático, e a uma disputa desproporcional e
autodestrutiva entre as correntes herdeiras do legado do fundador da IV
Internacional". Para início de conversa teremos que alertar aos leitores,
por uma questão de honestidade e método, que se desejamos falar sobre
"tribos" Trotskistas, independente do nosso juízo de valor, teremos
que elencar somente os "caciques" que pelo menos se reivindicam
formalmente da IV Internacional. Dos seis "caciques" citados pela
Resistência como grandes "cânones" teóricos (Pablo, Mandel, Cliff,
Cannon, Moreno, Grant) ao menos dois deles sequer aceitariam ser classificados
de Trotskista. Tony Cliff iniciou sua militância política no final da segunda
guerra mundial, vindo da Palestina para a Inglaterra logo se incorporou a seção
britânica da IV, a WIL, onde posteriormente rompeu não só com a organização,
mas com o Trotskismo de uma maneira abrangente. Sua nova corrente o SWP,
fundada em meados dos anos 60, iniciou um processo de afastamento programático
da IV, lançando as primeiras formulações de capitalismo de estado para a URSS,
dando assim continuidade às ideias de Shachtman que rompera radicalmente com
Trotsky nos anos 30. A atual corrente internacional do SWP, a IS, com a qual o
Resistência mantém relações políticas, se define claramente como
"socialista" e nunca transitou na "árvore" dos rachas e
divisões das frações Trotskistas. Outro caso de "desinformação" do
Resistências é a referência feita ao dirigente inglês Ted Grant(nascido na
África do Sul) e fundador de uma importante ala de esquerda do Labour Party, o
"Socialist Appeal". Antes mesmo do que Cliff, Ted esteve na origem da
IV Internacional na Inglaterra, porém tomou um rumo político distinto do seu
camarada Healy ao abandonar a organização (WIL e depois WRP) e tornar-se uma
liderança na esquerda do trabalhismo britânico. Grant justificou sua
"guinada" afirmando que o Trotsky seria um esquerdista contumaz, ao
criticar o centrismo do POUM na guerra civil espanhola. No início da década de
80, ocupando um cargo parlamentar na alta direção do Labour Party ,Ted Grant
apoiou abertamente a Inglaterra imperialista contra a Argentina, na chamada
"Guerra das Malvinas" (apesar
de ser "oposição" a Margaret Thatcher), o que posteriormente provocou
várias defecções em seu grupo. Antes de morrer aos 93 anos, mas ainda bem
lúcido, foi internado em um asilo para velhos pelo seu secretário político,
Alan Woods, que decide "refundar" o Socialist Appeal no começo da
década de 90 como uma nova corrente Trotskista internacional, o CMI.
Porém reconhecemos a legitimidade de dirigentes
revisionistas como Mandel, Moreno e Pablo, apesar das grandes divergências
teóricas e políticas que temos, serem listados
como "caciques Trotskistas" da "grande árvore", pelo
simples fato de que estes personagens da história reivindicavam logicamente
esta condição. O que talvez hoje una tanto Tony Cliff, e em menor escala Ted
Grant, ao Resistência é o mesmo "status" de serem apenas socialistas
simpatizantes, ou "primos distantes" do legado da IV Internacional e
do Velho Bolchevique. O grupo do "cacique" Valério Arcary, operando
uma inflexão lenta e gradual com suas origens, ainda no interior da LIT, se
desvinculou de todos os paradigmas do Trotskismo, seja na arena estética,
teórica ou programática. Quando escrevem que: " Nós viemos de longe, somos
herdeiros e continuadores do marxismo revolucionário, da revolução permanente,
do legado teórico e prático, de Lênin, Trotsky", cometem uma fraude contra
seus próprios apoiadores. Grupos como o Resistência ou o IS, não são herdeiros
do Marxismo Revolucionário por uma questão basilar que está na origem do
Manifesto Comunista, a defesa da Ditadura do Proletariado, portando não há como
"taxar" alguém ou um grupo de " Marxista Revolucionário"
quando sequer estão de acordo com suas duas premissas básicas, a revolução
socialista como processo de destruição violenta(armada)do Estado burguês e a
instauração da Ditadura do Proletariado. Seguindo o roteiro do
"espólio" do legado de Lenin e Trotsky, é até cômico imputar a um
grupo que rejeitou o símbolo da foice e martelo(em troca de um círculo copiado
do PODEMOS espanhol), que considera o centralismo democrático bolchevique como
uma "aberração burocrática" e que acaba de dissolver qualquer traço
do que restou de uma organização leninista(partido conspirativo que combina a
luta legal e ilegal)no pântano social democrata de Boulos e Freixo, no rol do
catálogo das correntes Trotskistas.
Mas o roteiro do Resistência para enganar ingênuos e tolos
não para por aí, com um arrazoado "nostálgico" quer nos convencer que
todos Trotskistas fazem parte de uma mesma "família", que no máximo
contém alguns "esquizofrênicos e egotistas". Vejamos o que
dizem:"Apesar disso, as ideias de Trotsky permanecem vivas e atuais, como
sendo aquelas que foram capazes de responder de forma mais adequada os
questionamentos que atravessaram todo século 20, e nesse inicio de
século". Chegamos sem mais delongas e proselitismos, vício recorrente dos
acadêmicos dependentes dos "projetos" do CNPQ e CAPES, ao fulcro da
questão, as "ideias" de Trotsky no calor dos ácidos acontecimentos da
luta de classes do século passado e deste começo de décadas do atual.
Poderíamos iniciar logo de cara com o pós guerra, onde surgiram mais de uma
dezena de Estados Operários deformados burocraticamente desde sua gênese. Longe
de ser a expressão de um "capricho" ou do "espírito sectário
congênito", como quer nos convencer os seguidores do prof. Valério, a
jovem IV Internacional se romperá em dezenas de frações em torno da nova
questão colocada, como postar-se diante deste fato? De um lado os que advogavam
que se tratava de uma mera expansão militar da burocracia stalinista (seção
francesa), do outro os que faziam a apologia desta mesma burocracia como se
tivesse assumido um caráter revolucionário com a derrota do nazifascistmo (Michel Pablo e Mandel). A primeira trincheira agrupava a grosso modo os
dirigentes Trotskistas que sofriam pressão material e política da Social
Democracia européia, e no segundo campo os que cediam as benesses da burocracia
de Moscou. Existia porém um terceiro front nas fileiras da IV, um pequeno grupo
minoritário norte americano que se proclamava como Tendência Revolucionária do
SWP. Esta reduzida fração sustentou corretamente que o stalinismo não era a
encarnação do "demônio no meio da humanidade", ao contrário possuía
um caráter dual e contraditório em função de suas ligações materiais com as
bases sociais do Estado Operário Soviético. Deveria então ser apoiado em seus
"impulsos" de expansão e enfrentamentos militares com o imperialismo,
assim como combatido vigorosamente quando se voltasse contra as conquistas
operárias. Desgraçadamente este jovem setor Trotskista foi pouco conhecido
mundialmente nas fileiras da própria IV Internacional, e seu dirigente ou
"cacique", (Robertson) sequer é mencionado no dito artigo do
Resistência, e sabemos muito bem porque...
Mas é a partir desta conclusão teórica que os genuínos
Trotskistas que se orientavam no Programa de Transição e no magistral texto
"Em Defesa do Marxismo", puderam ser ratificados concretamente na
prova da luta de classes mais decisiva para o proletariado do século XX, a
defesa incondicional da URSS diante da contrarrevolução restauracionista,
guiada externamente por Ronald Reagan e internamente por Boris Yeltsin. Neste
ácido teste, toda a verborragia demagógica dos revisionistas caiu por terra! O
engodo distracionista do tipo: "existem trotskismos, que se diferenciam um
do outro a partir de uma leitura histórica das tarefas postas e das respostas
que deveriam ser dadas para elas. Existe trotskismos para todos os gostos e
cores." Estas ditas cores seriam no caso específico da LIT as cores da
bandeira do imperialismo ianque, que foram desfraldadas no lugar das estátuas
de Lenin quando da queda da URSS. Em nome de uma suposta "revolução
democrática", liderada por restauracionistas declarados, os partidários de
Nahuel Moreno apoiaram a derrubada do marco operário mais importante de toda a história do
proletariado mundial: a URSS. Não seria cansativo repetir que a destruição contrarrevolucionária
da URSS atingiu não somente o stalinismo, mas todas as bases sociais do Estado
Operário. Podemos então em um exercício de profunda "generosidade"
política considerar a LIT e afins como um membro da frondosa árvore da IV Internacional?
Decididamente os que fazem alianças deste nível de caráter ideológico com o
imperialismo não merecem ser considerados membros da "árvore da IV
Internacional"! A atuação conjunta da LIT com a Casa Branca não parou por
aí, como diz o ditado o uso contínuo do cachimbo faz a boca torta. Anos depois
da queda da URSS, os Morenistas que provaram da "droga" material do
imperialismo, decidiram dobrar a "dose", impulsionando em frente
única militar com a OTAN, a derrubada do regime burguês nacionalista do coronel
Kadafi na Líbia. O resultado da tal "revolução democrática" contra o
"ditador" líbio, foi a devastação inteira de um país e de seu povo!
Porém para a LIT o mais importante é o estabelecimento de "convênios"
com organismos internacionais que possam financiar suas "atividades
sindicais", desde que sigam é claro apoiando as "revoluções
democráticas" em outros países..Como se pode constatar facilmente a
divisão e dispersão fracional do Trotskismo nada tem a ver com as "manias
sectárias" de seus dirigentes... só muito tolos podem acreditar nesta
"lenda"...contada pela Resistência...