quarta-feira, 5 de setembro de 2018

"IV INTERNACIONAL: TROTSKISMOS, GALHOS DISPERSOS DE UMA MESMA ÁRVORE". NOSSA ÁRVORE NÃO PODE SER A MESMA DE QUEM APOIOU A CONTRARREVOLUÇÃO NA URSS E A DESTRUIÇÃO DA LÍBIA, CHAMADAS CRETINAMENTE DE "REVOLUÇÕES DEMOCRÁTICAS". UMA POLÊMICA VIGENTE COM A SOCIAL DEMOCRACIA DE ESQUERDA


A tendência "Resistência", antigo grupo "MAIS", uma das correntes internas neófitas do PSOL, publicou recentemente em seu sítio um artigo sobre os "80 da fundação da IV Internacional" cujo eixo central é tentar convencer a nova vanguarda militante que "apesar das várias tribos" (linguagem utilizada para transparecer um frescor juvenil) a IV Internacional teria uma mesma identidade programática calcada na mítica figura de Leon Trotsky e somada a uma convergência anti-stalinista, quase um sinônimo de "democrática" para os stalinofóbicos. A princípio e principalmente para os incautos o argumento do satélite intestino do PSOL parece fazer sentido, afinal se todos os "galhos" balançam ao mesmo vento que sopra do legado do "velho" Bolchevique, as diferenças políticas teriam que ser menores, quase ao sabor do "capricho" dos poucos dirigentes citados no artigo: "Pablo, Mandel, Cliff, Cannon, Moreno, Grant". Porém para nós Marxistas, Trotskistas ou não, a história da luta de classes e da própria IV Internacional não pode ser aferida com tamanha simplicidade teórica, sabemos muito bem como materialistas que cada grande divisão do campo revolucionário corresponde a interesses  históricos das classes sociais, que se apresentam na forma de  estratégias distintas apresentadas para a senda política do proletariado. Se é fato que existam idiossincrasias pessoais de cada dirigente ou mesmo coletivamente das organizações, estas mesmas são apenas um reflexo "pequeno" das linhas gerais que seguem e se depuram as Internacionais que tiveram origem no seio da classe operária, ou pelo menos de sua vanguarda política.


Para a tendência "Resistência", em seu simplório artigo sobre a IV, a existência de "caprichos" de cada corrente que reclama Trotskista explicaria a dispersão e divisão das diversas frações deste campo, acrescido de uma estranha "compulsão" auto-proclamatória para se afastar do movimento das massas. Recorrendo a uma narrativa que soa como boa música aos ouvidos da pequeno burguesia "intelectual" escrevem: "cada tribo do trotskismo desenvolveu uma ortodoxia doutrinaria, levando a auto-proclamação, a um fetichismo dogmático, e a uma disputa desproporcional e autodestrutiva entre as correntes herdeiras do legado do fundador da IV Internacional". Para início de conversa teremos que alertar aos leitores, por uma questão de honestidade e método, que se desejamos falar sobre "tribos" Trotskistas, independente do nosso juízo de valor, teremos que elencar somente os "caciques" que pelo menos se reivindicam formalmente da IV Internacional. Dos seis "caciques" citados pela Resistência como grandes "cânones" teóricos (Pablo, Mandel, Cliff, Cannon, Moreno, Grant) ao menos dois deles sequer aceitariam ser classificados de Trotskista. Tony Cliff iniciou sua militância política no final da segunda guerra mundial, vindo da Palestina para a Inglaterra logo se incorporou a seção britânica da IV, a WIL, onde posteriormente rompeu não só com a organização, mas com o Trotskismo de uma maneira abrangente. Sua nova corrente o SWP, fundada em meados dos anos 60, iniciou um processo de afastamento programático da IV, lançando as primeiras formulações de capitalismo de estado para a URSS, dando assim continuidade às ideias de Shachtman que rompera radicalmente com Trotsky nos anos 30. A atual corrente internacional do SWP, a IS, com a qual o Resistência mantém relações políticas, se define claramente como "socialista" e nunca transitou na "árvore" dos rachas e divisões das frações Trotskistas. Outro caso de "desinformação" do Resistências é a referência feita ao dirigente inglês Ted Grant(nascido na África do Sul) e fundador de uma importante ala de esquerda do Labour Party, o "Socialist Appeal". Antes mesmo do que Cliff, Ted esteve na origem da IV Internacional na Inglaterra, porém tomou um rumo político distinto do seu camarada Healy ao abandonar a organização (WIL e depois WRP) e tornar-se uma liderança na esquerda do trabalhismo britânico. Grant justificou sua "guinada" afirmando que o Trotsky seria um esquerdista contumaz, ao criticar o centrismo do POUM na guerra civil espanhola. No início da década de 80, ocupando um cargo parlamentar na alta direção do Labour Party ,Ted Grant apoiou abertamente a Inglaterra imperialista contra a Argentina, na chamada "Guerra das  Malvinas" (apesar de ser "oposição" a Margaret Thatcher), o que posteriormente provocou várias defecções em seu grupo. Antes de morrer aos 93 anos, mas ainda bem lúcido, foi internado em um asilo para velhos pelo seu secretário político, Alan Woods, que decide "refundar" o Socialist Appeal no começo da década de 90 como uma nova corrente Trotskista internacional, o CMI.

Porém reconhecemos a legitimidade de dirigentes revisionistas como Mandel, Moreno e Pablo, apesar das grandes divergências teóricas e políticas que temos, serem listados  como "caciques Trotskistas" da "grande árvore", pelo simples fato de que estes personagens da história reivindicavam logicamente esta condição. O que talvez hoje una tanto Tony Cliff, e em menor escala Ted Grant, ao Resistência é o mesmo "status" de serem apenas socialistas simpatizantes, ou "primos distantes" do legado da IV Internacional e do Velho Bolchevique. O grupo do "cacique" Valério Arcary, operando uma inflexão lenta e gradual com suas origens, ainda no interior da LIT, se desvinculou de todos os paradigmas do Trotskismo, seja na arena estética, teórica ou programática. Quando escrevem que: " Nós viemos de longe, somos herdeiros e continuadores do marxismo revolucionário, da revolução permanente, do legado teórico e prático, de Lênin, Trotsky", cometem uma fraude contra seus próprios apoiadores. Grupos como o Resistência ou o IS, não são herdeiros do Marxismo Revolucionário por uma questão basilar que está na origem do Manifesto Comunista, a defesa da Ditadura do Proletariado, portando não há como "taxar" alguém ou um grupo de " Marxista Revolucionário" quando sequer estão de acordo com suas duas premissas básicas, a revolução socialista como processo de destruição violenta(armada)do Estado burguês e a instauração da Ditadura do Proletariado. Seguindo o roteiro do "espólio" do legado de Lenin e Trotsky, é até cômico imputar a um grupo que rejeitou o símbolo da foice e martelo(em troca de um círculo copiado do PODEMOS espanhol), que considera o centralismo democrático bolchevique como uma "aberração burocrática" e que acaba de dissolver qualquer traço do que restou de uma organização leninista(partido conspirativo que combina a luta legal e ilegal)no pântano social democrata de Boulos e Freixo, no rol do catálogo das correntes Trotskistas.

Mas o roteiro do Resistência para enganar ingênuos e tolos não para por aí, com um arrazoado "nostálgico" quer nos convencer que todos Trotskistas fazem parte de uma mesma "família", que no máximo contém alguns "esquizofrênicos e egotistas". Vejamos o que dizem:"Apesar disso, as ideias de Trotsky permanecem vivas e atuais, como sendo aquelas que foram capazes de responder de forma mais adequada os questionamentos que atravessaram todo século 20, e nesse inicio de século". Chegamos sem mais delongas e proselitismos, vício recorrente dos acadêmicos dependentes dos "projetos" do CNPQ e CAPES, ao fulcro da questão, as "ideias" de Trotsky no calor dos ácidos acontecimentos da luta de classes do século passado e deste começo de décadas do atual. Poderíamos iniciar logo de cara com o pós guerra, onde surgiram mais de uma dezena de Estados Operários deformados burocraticamente desde sua gênese. Longe de ser a expressão de um "capricho" ou do "espírito sectário congênito", como quer nos convencer os seguidores do prof. Valério, a jovem IV Internacional se romperá em dezenas de frações em torno da nova questão colocada, como postar-se diante deste fato? De um lado os que advogavam que se tratava de uma mera expansão militar da burocracia stalinista (seção francesa), do outro os que faziam a apologia desta mesma burocracia como se tivesse assumido um caráter revolucionário com a derrota do nazifascistmo (Michel Pablo e Mandel). A primeira trincheira agrupava a grosso modo os dirigentes Trotskistas que sofriam pressão material e política da Social Democracia européia, e no segundo campo os que cediam as benesses da burocracia de Moscou. Existia porém um terceiro front nas fileiras da IV, um pequeno grupo minoritário norte americano que se proclamava como Tendência Revolucionária do SWP. Esta reduzida fração sustentou corretamente que o stalinismo não era a encarnação do "demônio no meio da humanidade", ao contrário possuía um caráter dual e contraditório em função de suas ligações materiais com as bases sociais do Estado Operário Soviético. Deveria então ser apoiado em seus "impulsos" de expansão e enfrentamentos militares com o imperialismo, assim como combatido vigorosamente quando se voltasse contra as conquistas operárias. Desgraçadamente este jovem setor Trotskista foi pouco conhecido mundialmente nas fileiras da própria IV Internacional, e seu dirigente ou "cacique", (Robertson) sequer é mencionado no dito artigo do Resistência, e sabemos muito bem porque...

Mas é a partir desta conclusão teórica que os genuínos Trotskistas que se orientavam no Programa de Transição e no magistral texto "Em Defesa do Marxismo", puderam ser ratificados concretamente na prova da luta de classes mais decisiva para o proletariado do século XX, a defesa incondicional da URSS diante da contrarrevolução restauracionista, guiada externamente por Ronald Reagan e internamente por Boris Yeltsin. Neste ácido teste, toda a verborragia demagógica dos revisionistas caiu por terra! O engodo distracionista do tipo: "existem trotskismos, que se diferenciam um do outro a partir de uma leitura histórica das tarefas postas e das respostas que deveriam ser dadas para elas. Existe trotskismos para todos os gostos e cores." Estas ditas cores seriam no caso específico da LIT as cores da bandeira do imperialismo ianque, que foram desfraldadas no lugar das estátuas de Lenin quando da queda da URSS. Em nome de uma suposta "revolução democrática", liderada por restauracionistas declarados, os partidários de Nahuel Moreno apoiaram a derrubada do marco operário  mais importante de toda a história do proletariado mundial: a URSS. Não seria cansativo repetir que a destruição contrarrevolucionária da URSS atingiu não somente o stalinismo, mas todas as bases sociais do Estado Operário. Podemos então em um exercício de profunda "generosidade" política considerar a LIT e afins como um membro da frondosa árvore da IV Internacional? Decididamente os que fazem alianças deste nível de caráter ideológico com o imperialismo não merecem ser considerados membros da "árvore da IV Internacional"! A atuação conjunta da LIT com a Casa Branca não parou por aí, como diz o ditado o uso contínuo do cachimbo faz a boca torta. Anos depois da queda da URSS, os Morenistas que provaram da "droga" material do imperialismo, decidiram dobrar a "dose", impulsionando em frente única militar com a OTAN, a derrubada do regime burguês nacionalista do coronel Kadafi na Líbia. O resultado da tal "revolução democrática" contra o "ditador" líbio, foi a devastação inteira de um país e de seu povo! Porém para a LIT o mais importante é o estabelecimento de "convênios" com organismos internacionais que possam financiar suas "atividades sindicais", desde que sigam é claro apoiando as "revoluções democráticas" em outros países..Como se pode constatar facilmente a divisão e dispersão fracional do Trotskismo nada tem a ver com as "manias sectárias" de seus dirigentes... só muito tolos podem acreditar nesta "lenda"...contada pela Resistência...