sexta-feira, 10 de outubro de 2025

LUTA DE TENDÊNCIAS NO INTERIOR DO HAMAS: COMO OS SIONISTAS ABRIRAM CAMINHO PARA UM ACORDO PARCIAL COM A “ALA PRAGMÁTICA”

No interior do Hamas, há uma luta entre duas frações: a tendência “Teblighi”, com uma ala mais moderada e pragmática, e as correntes “radicais”, ligadas à ala militar e mais combativa. O Hamas enfrentou uma crise interna após a Operação Inundação de Al-Aqsa, em 7 de outubro de 2023, com a perda de suas principais lideranças após a campanha genocida das forças de Israel em Gaza. A divisão política entre a ala militar e a “ala pragmática” liderada por Khaled Meshaal levou a uma vitória da corrente de Meshaal após o assassinato de Yahya Sinwar.

A situação de uma guerra aberta e assimétrica na Palestina ocupada pelos sionistas dificulta uma análise marxista mais precisa das perspectivas futuras da luta interna no Hamas. O Hamas enfrenta o dilema histórico de, por um lado, retornar ao projeto regional da Irmandade Muçulmana (com proximidade ao governo turco), ou continuar, com a perspectiva do Eixo da Resistência, ao qual se reintegrou após um período de esfriamento nas relações com o regime nacionalista dos Aiatolás no Irã.

Caso se afaste do Eixo da Resistência, o Hamas perderá muito de sua capacidade de continuar o combate armado, mesmo que não considere abandonar totalmente essa opção militar. Esse debate interno remonta às disputas entre o braço palestino da Irmandade Muçulmana e o fundador da Jihad Islâmica, Fathi Shikaki, no início e meados da década de 1980. O Hamas, receoso de competir com a Jihad Islâmica, tornou-se a última organização palestina a pegar em armas contra Israel. Por outro lado, a Jihad optou pela luta armada desde sua fundação em 1987.

Existem muitos obstáculos políticos e resistência na sua base, caso a direção do Hamas decida abandonar a luta armada, assim como foi a desastrosa experiência do Fatah, que foi engolfado pela conciliação ao escolher esse caminho. A corrupta Autoridade Nacional Palestina, antiga OLP, da qual o Fatah é um componente que ainda goza de algum apoio de massas, tornou-se gradualmente uma espécie de força policial para servir Israel.

A corrente liderada por Yahya Sinwar, o dirigente por trás da operação “Aqsa Flood”, no 7 de Outubro, altamente influente na população da Faixa de Gaza, representa um obstáculo à ideia do Hamas abandonar a luta armada. Lideranças dessa tendência interna do Hamas, são majoritárias em muitos mecanismos internos que organizam as atividades do Hamas nos territórios palestinos e no exterior, bem como nas prisões israelenses. No entanto, essa fração política é menos representada na Cisjordânia, onde os militantes do Hamas estão mais alinhados com a tendência de Khaled Meshaal.

Para entender a complexidade da luta interna no Hamas, é necessário ir mais fundo na compreensão política que posiciona a fração pró-Turquia-Catar, contra a combativa tendência alinhada com o Irã-Hezbollah, pois a realidade interna da organização é muito dinâmica e ainda não está definida. Embora a fração combativa tenha conquistado enorme prestígio de massas nos últimos anos, a arrasadora destruição de Gaza após o “ 7 de Outubro” e as enormes perdas humanas na hierarquia militar do Hamas, colocaram em questão a liderança alinhada com o Eixo da Resistência. 

Agora o embate intestino no seio do Hamas está aberto, e seus desdobramentos futuros refletirão as próprias tendências da luta de classes em nível mundial, porque em última instância a luta interna nas entranhas de uma organização política representa os interesses de cada classe social em sua perspectiva histórica. Os Marxistas Leninistas estão integralmente no campo da fração política combativa, que defende a continuidade da luta armada do Hamas, embora tenhamos enormes diferenças programáticas com esse setor da organização.