quarta-feira, 12 de setembro de 2012


Assassinato do embaixador Stevens na Líbia: os EUA provam de seu próprio veneno

O ataque à representação diplomática dos EUA na cidade de Benghazi, cidade até então considerada segura pela OTAN, resultou na morte do embaixador na Líbia J. Christopher Stevens. A morte de um alto funcionário da diplomacia ianque, por meio de um atentado, não ocorria desde 1979 quando o embaixador do Afeganistão foi sequestrado e morto. Stevens despachava em um escritório “secreto” da OTAN em Benghazi, já que a embaixada oficial na capital Trípoli está praticamente desativada. O embaixador ianque teve um papel decisivo na operação militar que derrubou o regime nacionalista do coronel Kadaffi no ano passado. Stevens coordenou desde Benghazi a oposição pró-imperialista que durante o regime dos coronéis já estabelecia profundos vínculos com empresas transnacionais de petróleo sediadas no litoral do Magreb. O ataque à representação ianque em Benghazi surpreendeu a equipe de segurança da CIA, realizada com morteiros e lança foguetes de alta precisão, fornecidos pela OTAN aos “rebeldes” anti-Kadaffi durante a guerra civil que destruiu o país. Aproveitando-se das manifestações islâmicas contra um filme sionista, produzido na Califórnia, que denegria a imagem do profeta Maomé, um comando militar muçulmano (provavelmente ligado a Al Qaeda) atacou o prédio onde trabalhava “secretamente” a diplomacia ianque em Benghazi. Como não se encontrava em uma embaixada oficial, Stevens contava com poucos recursos de segurança para se defender do ataque, que acabou por “vitimá-lo” junto a outros três funcionários dos EUA. Inicialmente, o governo títere da Líbia tentou atribuir a autoria do “atentado” às forças ligadas ao coronel Kadaffi, mas logo depois foi forçado a admitir que a operação muito bem planejada foi obra de seus próprios aliados, ou seja, milícias fundamentalistas islâmicas que combateram junto a OTAN para depor o legítimo regime da revolução popular que destituiu a monarquia entreguista. Por ironia da história, as armas que agora assassinaram o embaixador ianque foram fornecidas pelos próprios abutres imperialistas que hoje saqueiam as riquezas do país.

A Secretária de Estado do governo Obama, madame Clinton, muito ocupada com outra empreitada imperialista, desta vez fracassada na Síria, mostrou-se surpresa com os acontecimentos na Líbia. Em uma coletiva à imprensa “murdochiana”, a Sra. Clinton se disse chocada com a ação de seus aliados: “Nós que os ajudamos a tirar o ditador (sic!) agora somos traídos!" (Fox News, 12/09). Obama também prometeu vingar seu embaixador e enviou navios de guerra para a costa líbia, ainda que não saiba em quem atirar já que seus “amigos”, os “rebeldes” contrarrevolucionários, continuam a “trabalhar” para o Pentágono em toda região do Oriente Médio. Por outro lado, a situação é bastante tensa em outros países, como Egito e Iêmen, onde as embaixadas ianques são alvos de intensos protestos por parte de organizações políticas muçulmanas. Nos EUA o candidato republicano Mitt Romney acusou a Casa Branca de priorizar as “alianças” com grupos “terroristas islâmicos” e descuidar da segurança de seus diplomatas e agentes no mundo árabe. A intervenção do imperialismo na Líbia reproduz o mesmo “roteiro” acontecido no Afeganistão há mais de vinte anos, primeiro potenciam militarmente “rebeldes” fundamentalistas para derrubar um governo nacionalista burguês, para depois verem seus “aliados táticos” protagonizarem ações “espetaculares” contra alvos ianques. O “filme” agora se repete na Líbia, com a morte de um embaixador e a perspectiva de uma nova guerra civil no país.

As forças Kadafistas que mesmo com o revés sofrido continuam combatendo o governo títere imposto pela OTAN, não tem inserção política em Benghazi, considerada a “Meca” dos grandes negócios onde é roubado o petróleo do país. A tentativa inicial de lhe imputar os ataques a representação diplomática norte-americana não conseguiram se sustentar, apesar de já terem atacado outros alvos imperialistas no interior do país. Neste quadro de crise da ocupação imperialista, que tenta inutilmente dar uma fachada democrática ao novo regime, a tendência das massas é de luta contra o embuste que prometia “liberdade”, mas acabou trazendo a fome e o desemprego para o proletariado líbio, destruindo suas conquistas sociais históricas que o colocavam no mesmo patamar de países europeus, segundo a própria ONU.

A esquerda revisionista que saudou freneticamente a aliança entre a OTAN e os “rebeldes” para derrubar a “ditadura Kadaffi”, agora presta condolências ao Departamento de Estado dos EUA, assim como fez há onze anos nos atentados do “11 de Setembro” às Torres Gêmeas (onde se localizavam os escritórios da CIA em New York) e ao próprio Pentágono. Estes revisionistas não possuem o menor critério de classe e costumeiramente se emblocam com o imperialismo “democrático” contra setores das burguesias nacionais, tradicionalmente atrasadas e conservadoras. O centro da “fúria” da esquerda revisionista está direcionado atualmente aos regimes nacionalistas “ditatoriais” e não mais ao imperialismo, principal inimigo dos povos. Por isso, correntes como a LIT/PSTU hoje se dedicam a “conspirar” junto ao Departamento de Estado ianque contra os governos de Cuba, Venezuela, Síria e Irã, deixando de lado os “socialistas e democratas” imperialistas como Hollande e Obama, não mais considerados “ditadores”... pela escória da LIT/ PSTU. O Trotsquismo nada tem a ver com esta canalha corrompida do revisionismo, os bolcheviques não nos aliamos a OTAN para “derrubar ditadores”! A classe operária líbia deverá fazer seu ajuste de contas histórico com os saqueadores imperialistas, e não será pelas mãos das milícias fundamentalistas (alimentadas pela CIA) que obterá suas conquistas de volta. Não “choramos” a morte do embaixador ianque e continuaremos a defender vigorosamente a expulsão das tropas da OTAN de toda região. Impulsionando uma frente de ação político e militar com as forças da resistência nacional Kadafista contra os saqueadores imperialistas e seus “agentes” nativos, a tarefa da construção do Partido Revolucionário Leninista se coloca mais que nunca na ordem do dia, para superar as direções burguesas vacilantes e publicitar o socialismo.