quinta-feira, 13 de setembro de 2012


Cedendo ao “deus” mercado em única tacada Mantega anuncia mais renúncia fiscal e retração do PIB

Finalmente a equipe econômica do Planalto resolveu atender a demanda do mercado e anunciou oficialmente a redução da expectativa de crescimento do PIB para 2012. Inicialmente as projeções do governo apontavam uma elevação de 3% do PIB para o ano corrente, uma previsão já pessimista em função da crise financeira internacional. Mas o mercado não aceitou nem mesmo a tacanhez do Banco Central e protagonizou uma verdadeira campanha midiática pela redução do PIB, inserindo diariamente na imprensa novas projeções de “consultorias” privadas exigindo a retração do PIB para 2012. Por trás da campanha por um “pibinho” brasileiro, os senhores rentistas do mercado especulavam nos bolsões de apostas financeiras o índice de variação do PIB, agora parece que ganharam os rentistas que jogaram no “time” da “baixa”, ou seja, nas apostas de um PIB simétrico ao das economias europeias em colapso. Acontece que no mundo da economia real, as coisas são um pouco diferentes, as vendas de automóveis batem todos os recordes, junto com a captação da Poupança que, apesar da tungagem em seus rendimentos, continua a crescer. Para os marxistas, o melhor indicador para aferir o desempenho econômico sempre foi o do nível do emprego e da ocupação da força de trabalho. Neste caso, pelos dados minimamente confiáveis do IBGE, encontramos uma estabilidade na taxa de ocupação, com uma leve tendência ao aquecimento do mercado do trabalho nos segmentos da agricultura e serviços. Por outro lado, o setor da indústria vem oscilando frente à política cada vez mais agressiva de desnacionalização levada a cabo pelo governo da frente popular.

Como um governo subordinado aos interesses do capital financeiro internacional, que não tem o menor interesse no crescimento nacional de suas semicolônias, a equipe econômica palaciana vem tentando contrapor as pressões imperiais pela retração do PIB, com uma política de renúncia fiscal para estimular um crescimento econômico mediano. Nesta direção, o ministro Mantega, na mesma tacada, além de comunicar a nova projeção do PIB também anunciou a renúncia de mais de treze bilhões de Reais no orçamento de 2013. Serão 25 setores da economia beneficiados (23 só na indústria) com a redução de tributos na folha de pagamentos. O governo que já prorrogou a redução do IPI para a indústria automobilística parece ter muita “bala na agulha” para promover “pacotes de bondade” para a burguesia, enquanto arrocha os salários dos trabalhadores do setor público. Sentada confortavelmente em um baú estatal com mais de cem bilhões de dólares em reservas cambiais, Dilma projeta para o próximo ano um crescimento de pelo menos 4% do PIB, pavimentando assim suas aspirações de uma reeleição tranquila.

Para o desespero eleitoral da oposição de “esquerda e direita”, a hecatombe financeira que assola os países de economia mais frágil na Europa não atingiu o Brasil, ao contrário, em alguns casos até beneficiou setores da nossa burguesia. A balança de exportações brasileira continua superavitária, com a elevação da cotação de commodities agrominerais no mercado mundial. Na outra ponta, a estabilidade política que atravessa o regime burguês vem atraindo cada vez mais investidores estrangeiros, seja em projetos de infraestrutura ou de novas indústrias, seja em títulos “seguros” do tesouro nacional com taxas bastantes competitivas. Neste quadro, a crise das economias imperialistas centrais vem potenciando países periféricos como México, Índia e Brasil, por exemplo, sendo o projeto de poder da frente popular um “plus” de nossa elite tupiniquim.

Na trilha de anúncios de medidas demagógicas “espetaculosas”, como a redução da taxa de juros e agora no preço das tarifas de eletricidade, a presidenta Dilma vem consolidando uma imagem de “gerentona competente” e autônoma politicamente das tendências petistas. As classes dominantes nativas já decidiram pela continuidade de mais uma gestão da “gerentona”, sedimentada no bom desempenho da economia, não deixando a menor possibilidade eleitoral para as chamadas “oposições” consentidas, que continuam a “rezar” pela chegada da crise no Brasil. Na verdade, nosso país atravessa uma crise estrutural de suas forças produtivas há bem mais tempo do que o crash financeiro de 2008. A crise capitalista nacional não acompanha necessariamente a mesma dinâmica das bolsas de valores dos mercados imperialistas, tendo ciclos largos de ondas de expansão e retração. Na atual conjuntura, o Brasil atravessa um período econômico de expansão, devido às próprias circunstâncias e particularidades da crise capitalista mundial. Para os marxistas, que baseiam suas caracterizações no estudo do materialismo histórico e não em expectativas eleitorais oportunistas, se faz necessário preparar pela base a classe operária para uma etapa de resistência à brutal ofensiva patronal em pleno curso. Esta paciente tarefa nada tem a ver com as “profecias” da proximidade iminente do “armagedon” capitalista, realizadas por uma esquerda revisionista completamente adaptada ao circo eleitoral e ao regime da democracia dos ricos.