Cedendo ao “deus” mercado em única tacada Mantega anuncia mais renúncia fiscal e retração do PIB
Finalmente a
equipe econômica do Planalto resolveu atender a demanda do mercado e anunciou
oficialmente a redução da expectativa de crescimento do PIB para 2012.
Inicialmente as projeções do governo apontavam uma elevação de 3% do PIB para o
ano corrente, uma previsão já pessimista em função da crise financeira
internacional. Mas o mercado não aceitou nem mesmo a tacanhez do Banco Central
e protagonizou uma verdadeira campanha midiática pela redução do PIB, inserindo
diariamente na imprensa novas projeções de “consultorias” privadas exigindo a
retração do PIB para 2012. Por trás da campanha por um “pibinho” brasileiro, os
senhores rentistas do mercado especulavam nos bolsões de apostas financeiras o
índice de variação do PIB, agora parece que ganharam os rentistas que jogaram
no “time” da “baixa”, ou seja, nas apostas de um PIB simétrico ao das economias
europeias em colapso. Acontece que no mundo da economia real, as coisas são um
pouco diferentes, as vendas de automóveis batem todos os recordes, junto com a
captação da Poupança que, apesar da tungagem em seus rendimentos, continua a
crescer. Para os marxistas, o melhor indicador para aferir o desempenho
econômico sempre foi o do nível do emprego e da ocupação da força de trabalho.
Neste caso, pelos dados minimamente confiáveis do IBGE, encontramos uma
estabilidade na taxa de ocupação, com uma leve tendência ao aquecimento do
mercado do trabalho nos segmentos da agricultura e serviços. Por outro lado, o
setor da indústria vem oscilando frente à política cada vez mais agressiva de
desnacionalização levada a cabo pelo governo da frente popular.
Como um
governo subordinado aos interesses do capital financeiro internacional, que não
tem o menor interesse no crescimento nacional de suas semicolônias, a equipe
econômica palaciana vem tentando contrapor as pressões imperiais pela retração
do PIB, com uma política de renúncia fiscal para estimular um crescimento
econômico mediano. Nesta direção, o ministro Mantega, na mesma tacada, além de
comunicar a nova projeção do PIB também anunciou a renúncia de mais de treze
bilhões de Reais no orçamento de 2013. Serão 25 setores da economia
beneficiados (23 só na indústria) com a redução de tributos na folha de
pagamentos. O governo que já prorrogou a redução do IPI para a indústria
automobilística parece ter muita “bala na agulha” para promover “pacotes de
bondade” para a burguesia, enquanto arrocha os salários dos trabalhadores do
setor público. Sentada confortavelmente em um baú estatal com mais de cem
bilhões de dólares em reservas cambiais, Dilma projeta para o próximo ano um
crescimento de pelo menos 4% do PIB, pavimentando assim suas aspirações de uma
reeleição tranquila.
Para o
desespero eleitoral da oposição de “esquerda e direita”, a hecatombe financeira
que assola os países de economia mais frágil na Europa não atingiu o Brasil, ao
contrário, em alguns casos até beneficiou setores da nossa burguesia. A balança
de exportações brasileira continua superavitária, com a elevação da cotação de
commodities agrominerais no mercado mundial. Na outra ponta, a estabilidade
política que atravessa o regime burguês vem atraindo cada vez mais investidores
estrangeiros, seja em projetos de infraestrutura ou de novas indústrias, seja
em títulos “seguros” do tesouro nacional com taxas bastantes competitivas.
Neste quadro, a crise das economias imperialistas centrais vem potenciando
países periféricos como México, Índia e Brasil, por exemplo, sendo o projeto de
poder da frente popular um “plus” de nossa elite tupiniquim.
Na trilha de
anúncios de medidas demagógicas “espetaculosas”, como a redução da taxa de
juros e agora no preço das tarifas de eletricidade, a presidenta Dilma vem
consolidando uma imagem de “gerentona competente” e autônoma politicamente das
tendências petistas. As classes dominantes nativas já decidiram pela
continuidade de mais uma gestão da “gerentona”, sedimentada no bom desempenho
da economia, não deixando a menor possibilidade eleitoral para as chamadas “oposições”
consentidas, que continuam a “rezar” pela chegada da crise no Brasil. Na
verdade, nosso país atravessa uma crise estrutural de suas forças produtivas há
bem mais tempo do que o crash financeiro de 2008. A crise capitalista nacional
não acompanha necessariamente a mesma dinâmica das bolsas de valores dos
mercados imperialistas, tendo ciclos largos de ondas de expansão e retração. Na
atual conjuntura, o Brasil atravessa um período econômico de expansão, devido às
próprias circunstâncias e particularidades da crise capitalista mundial. Para
os marxistas, que baseiam suas caracterizações no estudo do materialismo
histórico e não em expectativas eleitorais oportunistas, se faz necessário
preparar pela base a classe operária para uma etapa de resistência à brutal
ofensiva patronal em pleno curso. Esta paciente tarefa nada tem a ver com as “profecias”
da proximidade iminente do “armagedon” capitalista, realizadas por uma esquerda
revisionista completamente adaptada ao circo eleitoral e ao regime da
democracia dos ricos.