quarta-feira, 5 de setembro de 2012


FHC ataca o “ponto de equilíbrio” da estabilidade do regime e recebe advertência de Dilma

Em artigo publicado no último domingo (02/09) nos “pastelões” da reação paulista e carioca (Estadão e O Globo), o ex-presidente FHC atacou violentamente o seu sucessor Lula, afirmando que Dilma “Recebeu uma herança pesada de seu antecessor”. Talvez o “príncipe dos sociólogos” pretendesse ser mais realista que o rei e no afã de solidificar uma nova aliança política com a ex-poste, avançou contra um terreno considerado “sagrado” para o conjunto da burguesia nacional, ou seja, a figura mítica de Lula como o grande fiador do pacto social de colaboração de classes responsável pela grande estabilidade do regime político vigente. FHC não pode ser considerado um quadro político inexperiente, ao contrário, foi um dos artífices teóricos da transição conservadora da ditadura militar ao atual regime democratizante, então por que esta ação desastrada que acabou por “esfriar” suas relações institucionais com o Palácio do Planalto? Na realidade, a movimentação política de FHC em atacar abertamente Lula foi “inspirada” na própria tática adotada pela anturrage de Dilma, que veladamente solapa as bases partidárias da corrente petista comandada por Lula e José Dirceu, neste sentido o “erro” de FHC foi o de queimar etapas e tentar “eliminar” antecipadamente a figura de Lula ainda na liderança do processo de consolidação de um novo projeto capitalista de país, no cenário da crise financeira internacional.

Se considerarmos o espetaculoso julgamento do mensalão em pleno curso como um “acerto de contas” dos setores mais conservadores da elite dominante contra o PT, constataremos que o mentor do esquema corrupto estatal ficou de fora, por absoluto consenso da burguesia. Se existe um acordo tácito entre governo e a “oposição de direita” de que as cabeças de Dirceu, Delúbio e Genuíno devem ser decepadas pelo STF, limpando o caminho para Dilma controlar o PT, também é unânime entre a burguesia que o nome de Lula deve ser preservado como o patrono da nova era de reacomodação das forças sociais no Brasil. A saúde do ex- metalúrgico presidente ainda é um elemento de incerteza nos prognósticos políticos para as próximas eleições, seguindo a tradição hipócrita nacional há que ter parcimônia nesta questão, tudo o que FHC parece ter ignorado nos ataques desferidos contra Lula. Neste quadro de inabilidade tucana, não restou outra alternativa a presidenta Dilma a não ser desautorizar FHC e na sequência reivindicar a “herança bendita de Lula”, passo político seguido pelo conjunto da base aliada.

O estremecimento das relações entre FHC e Dilma, que se mostrava promissora como um novo eixo de poder, já provocou desdobramentos no interior do PT que passou a cobrar da presidenta uma postura mais firme no apoio aos seus candidatos nas diversas campanhas municipais. O próprio Lula se sentiu mais fortalecido para reivindicar de Dilma uma declaração midiática em favor de seu pupilo Haddad, apesar das verbas palacianas soprarem na direção do carreirista Russomano. FHC por sua vez, percebendo a “cagada” cometida, decidiu sumir do mapa, deixando a candidatura de Serra em uma situação ainda mais delicada. O certo mesmo é que não haverá nenhum “descarte” político de Lula enquanto sua imagem emblemática for o sinônimo da grande estabilidade social conquistada pela burguesia a partir de 2003.

A classe operária continua a ter uma enorme referência eleitoral no PT, em virtude dos mais de vinte anos postado na trincheira da oposição aos governos de plantão, desde o general Figueiredo até o neoliberal FHC. Ao contrário do que sustenta a esquerda revisionista, o prestígio político do PT junto ao proletariado não foi produto dos dez anos “dourados” de gerência da frente popular. O cacife eleitoral do PT nesta última década de gestão estatal é derivado fundamentalmente das camadas sociais menos organizadas, oriundas tanto do subproletariado como da chamada nova classe média. Tentar negar esta realidade da densidade eleitoral do PT, assim como da liderança de Lula como fiador político do êxito da aparente “paz social” no “país da maravilhas”, parece que continuará a gerar crises profundas tanto no campo da oposição de “esquerda e de direita”.