quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Editorial do Jornal Luta Operária nº 242, 2ª Quinzena de Agosto/2012
No circo eleitoral da burguesia o proletariado é o verdadeiro palhaço

Passado o primeiro mês do início do circo eleitoral da democracia burguesa, com a disputa encarniçada entre os candidatos que representam os interesses das diversas frações da classe dominante no âmbito dos municípios, se verifica com mais nitidez o enorme fosso entre qualquer vestígio de soberania popular e o processo eleitoral em curso, completamente controlado pelos grandes grupos econômicos, sua mídia venal, os institutos de pesquisas e, se necessário, pela fraude através da urna eletrônica. A denúncia militante e ativa dessa verdadeira farsa é a principal tarefa dos marxistas revolucionários até o dia 07 de outubro. Trata-se de nos locais de trabalho e estudo, nas lutas e greves em curso desmascarar o engodo da democracia burguesa que recorre a todo tipo de artimanha ilusória para legitimar-se frente à população trabalhadora, cada vez mais descrente de qualquer possibilidade de mudança real através do voto. De fato, uma parte cada vez maior dos explorados sabe que estarão escolhendo aqueles que serão seus algozes nos próximos quatro anos e atacarão seus direitos e conquistas, porém não vislumbram uma saída política e social para esse impasse histórico. Justamente por essa razão, a intervenção organizada e unitária por parte da esquerda revolucionária em defesa do boicote eleitoral ativo, como defende a LBI, e da propaganda pela revolução proletária e o socialismo faz-se fundamental, ainda mais quando os partidos da chamada “oposição de esquerda” (PSOL, PSTU e PCB) estão integrados até a medula ao circo eleitoral, inclusive estabelecendo coligações com várias legendas da burguesia.

Tragicamente, ainda perduram enormes ilusões na democracia burguesa e em suas instituições, mesmo que estas estejam tremendamente desgastadas. Não houve sua superação política apesar de sua caduquice histórica, como nos ensinou Lênin. O descontentamento popular é disperso e limita-se a um repúdio passivo que, no máximo, chega à escolha pelo voto nulo ou a abstenção individual. Como a burguesia em nível mundial está em ofensiva ideológica, apesar da crise na qual o capitalismo está imerso, e apresenta a democracia como o regime político mais eficaz, dando inclusive como exemplo o “fim do socialismo” na URSS e no Leste Europeu para confirmar sua “tese”, esta classe parasitária e senil acaba por arrastar o grosso do povo para o circo eleitoral, onde o proletariado é o verdadeiro palhaço. Nesse cenário, a esquerda revisionista que apregoa aos quatro cantos que estão em curso “revoluções” no planeta, colocando-se ao lado da Casa Branca em suas investidas particularmente no Norte da África e no Oriente Médio contra as supostas “ditaduras sanguinárias”, não faz mais que fortalecer entre os explorados essa falsa “consciência” de que devemos “lutar” por democracia, no máximo afirmando que “só a luta muda a vida”, fazendo assim uma ode ao sindicalismo vulgar rebaixado. A democracia é um regime de dominação de classe que encobre a ditadura do capital, onde um punhado de grandes burgueses controla a economia e a política. Esse conceito elementar do marxismo é totalmente esquecido ou secundarizado pelo reformismo justamente porque este deseja se consolidar como gerente dos negócios da burguesia, apenas adornando esse regime com um verniz mais “popular”.

Em pleno século XXI, a defesa da revolução proletária é uma tarefa árdua devido à etapa de profundo retrocesso ideológico aprofundada desde a queda do Muro de Berlim, porém extremamente atual para impedir que o proletariado continue a ser o verdadeiro palhaço do circo eleitoral. A expropriação da burguesia, o controle dos meios de produção, dos bancos e da imprensa pelos trabalhadores através da liquidação revolucionária e violenta do atual modo de produção capitalista é uma necessidade histórica contra a barbárie que o capitalismo arrasta a humanidade. Quando Lênin escreveu “O Estado e a Revolução” em setembro de 1917 às vésperas da tomada do poder pelo Partido Bolchevique em outubro na Rússia explicou pacientemente que o Estado é produto do antagonismo irreconciliável entre as classes sociais, sendo um instrumento de exploração e dominação sobre a classe oprimida. Essa realidade mantém toda sua vigência na atual etapa histórica e ainda mais a denúncia que ele fez sobre os democratas pequeno-burgueses que esperam “mais alguma coisa” do sufrágio universal. Estes, segundo Lênin, partilham e fazem o povo partilhar da falsa concepção de que o sufrágio universal é capaz de manifestar-se verdadeiramente e impor a vontade da maioria dos trabalhadores. Os “democratas pequeno-burgueses” de hoje, desde o PT até o PSOL, continuam a propagar as virtudes da democracia, justamente encobrindo que o Estado burguês é uma força especial de repressão sobre os trabalhadores, sendo o proletariado manipulado pelos seus aparelhos ideológicos e midiáticos para que se perpetue essa realidade.

Relembramos esses conceitos caros aos marxistas para reafirmar que além de denunciarmos o circo eleitoral é preciso explicar que a época de “reformas sociais” no capitalismo já não é mais possível em sua fase imperialista. Este só nos resguarda guerras e barbárie, sendo a revolução proletária a alternativa progressista para a humanidade. No Brasil, a bolha de capital estrangeiro que mantém a economia ativa e em relativa estabilidade social não retirou do nosso país o caráter atrasado e agromineral exportador, beneficiado circunstancialmente com a crise financeira que assola os países imperialistas. Neste cenário, o governo da frente popular que sairá fortalecido em sua base de apoio político e social das eleições municipais, consegue atrair um enorme fluxo de capital internacional em forma de bolha de crédito, amortecendo a ação direta da classe operária e rebaixando suas reivindicações imediatas. A derrota da greve dos servidores federais articulada pela CUT/CTB e a inexistência das campanhas salariais (bancários, metalúrgicos, correios, petroleiros) neste segundo semestre, que devem ser jogadas para depois de 07 de outubro, são uma demonstração cabal do que afirmamos!

Aproveitemos o sentimento de repúdio instintivo dos trabalhadores com o circo eleitoral para publicitar uma alternativa de poder revolucionário dos explorados. Para romper o atual pacto social implícito imposto pela frente popular e seus agentes no movimento operário é necessário romper com o sindicalismo vulgar e corporativo que dominam as lutas em curso, patrocinado por direções governistas (CTU/CTB) e também as controladas pela “oposição de esquerda” (Conlutas/Intersindical), politizando cada combate, ligando às reivindicações específicas a propaganda do combate pelo poder proletário. Desde a LBI compreendemos que a política mais justa para a ação das massas diante do circo eleitoral passa por desenvolver uma ampla campanha nacional de boicote ativo a estas eleições, o que abarca não só chamado ao voto nulo, indo mais além no sentido de iniciativas ousadas para desmascarar o conjunto da fraude política em curso. Na medida de cada ação concreta pelo boicote eleitoral, abriremos uma trincheira de luta e mobilização permanente dos trabalhadores procurando desfazer o embotamento da consciência de classe e denunciando o engodo da política da frente popular.