20N: Um “paro
nacional” que consolida a ampla aliança entre a direita argentina, a burocracia
sindical mafiosa e os revisionistas do trotskismo
Neste 20 de
novembro, a CGT comandada por Moyano, dirigente de uma ala da burocracia
sindical mafiosa recentemente rompida pela direita com o governo de Cristina Fernandez
Kirchner (CFK), a CTA de Michelli em aliança com as reacionárias Sociedade
Rural e a Federação Agrária, que representam a classe dominante do campo,
chamaram um “paro nacional” de 24 horas na Argentina, o primeiro contra a uma
gestão kirchnerista desde 2003. A convocatória também teve a adesão da
arqui-direitista CGT “azul e branco” de Luis Barrionuevo e o apoio velado da
oposição burguesa conservadora (Macri, De Narváez, UCR, FAP de Binner) assim
como do Clarín e do La Nación, que estão dando uma inusual ampla cobertura a
mobilização, na medida em que o protesto desgasta o governo CFK, sendo apresentado
na mídia como uma sequência natural dos dois “cacerolazos” ocorridos
anteriormente sob a direção da direitona argentina. Os revisionistas do
trotskismo agrupados na FIT (PO, PTS, IS) assim como o MAS e outros grupos
satélites menores (LIT/PSTU, CS, LOI-DO...) desta vez apoiam unidos e
entusiasticamente a paralisação. A grande família revisionista trata de
encobrir o fato que o móvel político do protesto não é as reivindicações dos
trabalhadores (ainda que elas estejam presentes de forma extremamente
secundária entre os reclamos), mas a política de um setor da burocracia
sindical que em aliança com a direita e particularmente com a oligarquia rural pretende chantagear o governo em
benefício de seus próprios privilégios enquanto é funcional ao objetivo de
debilitar o governo nacional. Tanto que nos sindicatos que aderiram ao “paro”
não houve sequer assembleias de base para organizá-los para não haver um debate
democrático sobre os eixos do protesto. Estamos, portanto, vendo mais um
capítulo da gestação da unidade entre a oposição conservadora, a burocracia
sindical vendida e os revisionistas do trotskismo, em uma “santa aliança” de
fortalece os setores abertamente pró-imperialistas da burguesia que almejam
substituir a gestão nacional populista dos K por uma administração ainda mais
alinhada a Casa Branca, em uma disputa que já começa nas eleições regionais e
parlamentares de 2013.
Curiosamente,
em todas as entrevistas e comunicados, a burocracia sindical da CGT e CTA
ignorou a reivindicação central dos trabalhadores por um salário mínimo vital
ou outras demandas que dessem um corte mais classista ao protesto, justamente
para não desagradar seus aliados de direita da Sociedade Rural e Federação Agrária. A principal reivindicação é a
exigência de liberação imediata de 14 milhões que dizem que o governo deve as
“obras sociais” dos sindicatos, recurso controlado diretamente pelos corruptos
dirigentes. Em resumo, tentando paralisar algumas atividades chaves e fazer
bloqueios de rua para impedir o trânsito, Moyano e a direitona ruralista
pretendem fazer mais uma demonstração de força e para isto contam com o apoio
da esquerda, que sabe perfeitamente desta manobra porém avaliza o protesto. O
PO chama a “Paralisar massivamente” apesar de reconhecer que “A oposição
tradicional trabalha para levar para o seu campo a enorme insatisfação popular.
As centrais opositoras não chamaram a marchar à Praça de Maio. Tampouco dará
continuidade a paralisação através de um plano de luta. Querem colocar a classe
operária a reboque dos Macri, Binner ou De la Sota”. Já o PTS nos dá uma
resposta reveladora a sua própria pergunta “Porque Moyano e Micheli conspiram
contra o sucesso da medida chamada por eles mesmos e chama uma paralisação de
forma tíbia e burocrática? Se deve aos compromissos que têm com os vários
setores da oposição da oposição patronal, que não querem que se expresse a
força da classe trabalhadora e seus métodos de luta. Enquanto o governo de
Cristina vai se desgastando desde sua vitória nas eleições presidenciais de
outubro do ano passado, as patronais preparam variante de mudança, fazendo que
se faça quase impossível à 're-reeleição' ”. Como se vê estes calhordas sabem
perfeitamente do móvel reacionário e direitoso do 20-N, mas apoiam o protesto
justamente porque são favoráveis a unidade “de massas” com a oposição
conservadora para desgastar Cristina achando que podem capitalizar
eleitoralmente seu debacle, criticando apenas a burocracia sindical por ser
“tímida” em seus métodos de luta! Repetem na Argentina a mesma fórmula que
fizeram na Líbia e agora intervém na Síria: unidade com os “rebeldes”
pró-imperialistas contra governos que tem algum grau de atrito com a Casa
Branca, ainda que daí se fortaleça uma saída política ainda mais reacionária,
como o “novo” governo fantoche líbio do CNT! Como declara a ultra-revisionista
Izquierda Socialista: “É sabido que temos diferenças com os projetos sindicais
e políticos de Moyano e Micheli. Porém agora se necessita a mais ampla unidade
dos trabalhadores e dos setores populares para enfrentar o governo” (Sítio IS).
Não por acaso a IS/UIT defendeu armas para os monarquistas “rebeldes” líbios e
agora saúda os mercenários do ELS na Síria, em uma “ampla unidade” que inclui até
mesmo a víbora Clinton e a OTAN!
De tão
escandalosa a conduta da maioria dos revisionistas tem sido criticada até por aliados. Vejamos o que nos diz o ex-morenista e fundador do PTS, Carlos
Petroni, mais conhecido na esquerda como Leon Perez: “A esquerda de todos os matizes (desde
PO, PTS e IS, componentes FIT, até o MST e o PCR) apoiam incondicionalmente a
greve e se mobilizam por ele com todas as suas forças, embora não possam
incidir sobre sua direção, nem no seu programa e implementação prática...
Altamira e o PO até mesmo trataram de teorizar. Dizem que qualquer greve, sob
quaisquer circunstâncias, deve ser apoiada e que as assembleias são secundárias
e subordinadas à ação. De fato, lembremos que quando houve uma greve em Nova
York de professores contra o controle da comunidade negra das escolas em plena
luta por direitos civis, os trotskistas não a apoiaram. Quase ninguém na
esquerda antepôs um programa alternativo ao de Moyano, contentando-se a
segui-lo e não puderam separar-se do eixo central, político, de que a
paralisação se converteu em um ato partidário da oposição, tanto pejotista de
direita como da UCR e até da Coalização Cívica por um lado e da FAP por outro”
(sítio Izquierda.info). O fato é que a esquerda revisionista atua como satélite
da burocracia sindical e dos setores mais reacionários da burguesia quando
deveria denunciar o engodo montado em torno de 20-N e chamar uma mobilização
independente, com uma claro corte de classe e com métodos próprios de luta.
Como não fazem esse combate político se limitam a reclamar que a CGT e a CTA
não chamaram um marcha a Praça de Maio... fazendo desta “polêmica” uma paródia
da verdadeira delimitação que os genuínos revolucionários deveriam fazer ante a
investida reacionária da direita, justamente para clarificar as posições em
meio a confusão que toma conta dos trabalhadores! Lembremos que Trotsky não
vacilou em alertar sobre greves reacionárias quando disse “Um sindicato
dirigido por burocratas reacionários, organiza uma greve contra a admissão de
operários negros em um determinado ramo da indústria. Apoiaremos uma greve tão
vergonhosa? Naturalmente que não. Porém, imaginemos que os patrões, utilizando
tal greve, tentem derrotar o sindicato e impossibilitar, no geral, a defesa
organizada dos trabalhadores. Neste caso, logicamente, defenderemos o
sindicato, apesar de sua direção reacionária” (Em defesa do Marxismo). Sabemos
que o 20N não chegou a esse estágio... ainda , mas a tendência política é cada vez
mais o alinhamento dos setores que o convocaram (CGT Moyano e a CTA de
Michelli) com a direita, sendo a burocracia sindical vendida no mínimo
funcional a esta!
Já o grupo El
Militante, ligado a CMI de Alan Woods, corrompido até a medula pelos governos
“progressistas” na América Latina, como os petrodólares de Chávez, agora
critica a “esquerda” por adotar a mesma linha que tal grupo venal aplicou na
Líbia, de “ampla unidade” contra a “ditadura” de Kadaffi, por exemplo!
Lembremos que na Argentina, a direitona diz que o governo de CFK faz parte de
“ditadura K” iniciado pelo falecido Nestor Kirchner e, por isto, se levanta em
marcha contra a possibilidade de uma “re-reeleição”. Vejamos o que nos dizem esse
caras de pau que apoiaram Cristina nas eleições presidenciais, espantados com a
política que eles mesmos aplicam no outro lado do planeta: “Moyano e Micheli
apoiaram as reacionárias mobilizações e cacelorazos de 13 de setembro e 08 de
novembro. A ‘valentia’ de Moyano e Micheli assenta-se no alento que lhes dão a
patronal, os seus meios de comunicação, o espectro político à direita de
Kirchner (de Macri até o Projeto Sul, com o aplauso da ‘esquerda’ sectária) e
da pequena burguesia. Achamos lamentável que se utilizem de demandas legítimas
da classe trabalhadora e de suas organizações para manobras políticas não
confessas que vão contra os interesses da mesma, em aliança com setores
patronais e políticos reacionários”. A CMI apoia a (falsa) luta contra as “ditaduras”
no Oriente Médio, mas se opõe as mobilizações de direita na Argentina e na
Venezuela alegando que Cristina e Chávez foram “eleitos democraticamente”.
Assim escondem, por exemplo, que Chávez foi eleito respeitando as regras
burguesas e por isso não adotou nenhuma medida socialista real de enfrentamento
com o capital e vive chantageado pelo imperialismo por respeitar o sistema
legal vigente. Chávez, o dirigente da fantasiosa “revolução bolivariana”
apoiada pela CMI, sempre rebate o argumento de que não é “totalitário” porque
respeita os resultados eleitorais e a Constituição, ou seja, não ousa romper
com a ordem política e jurídica do regime capitalista. O mesmo faz CFK com sua
“Ley de Medios”, já que ela é gerente de um governo burguês, que enfrenta
bandos de sua mesma classe que desejam tomar o controle da gestão para suas
próprias mãos. Macri e De Narváez almejam romper com o cinturão de governos da
centro-esquerda burguesia porque sabem que o ciclo de vida destes deve acabar
nos próximos anos na América Latina!
O que esta
claro é a necessidade de se construir uma alternativa própria dos
trabalhadores, contra os ataques do governo “nac e pop” de CFK e a investida da
direita. Nesta senda, os genuínos revolucionários declaram abertamente que não
entrarão pelas portas dos fundos destas mobilizações direitistas de “massas”,
como o 8N ou mesmo o atual “paro nacional” de 24 horas a serviços dos interesses de classe
dos setores opositores da burguesia. O combate aos ataques de Cristina ao
movimento operário e sua política de colaboração de classes não se dará no
terreno do apoio às iniciativas da direita e da burocracia sindical a seu
serviço, abdicando da completa independência política dos trabalhadores, mas
denunciando justamente que estes “cacerolazos” e “paros” patrocinados por
setores de alta classe média e os “sojeros” da classe dominante rural não são
uma alternativa ao populismo de Cristina. É preciso levantar as demandas dos
trabalhadores e usar seus próprios métodos de luta para derrotar o CFK e a
oposição conservadora, nunca aliançar-se a reação para o “derrumbe” de Cristina.
Os marxistas leninistas não nutrimos a menor simpatia política pelo governo
burguês da senhora Cristina mas jamais nos uniremos à escória direitista como
Macri, De Narvaez ou o grupo Clarín para “derrubar” os K. Nossa tarefa é
construir um campo de luta próprio e independente dos trabalhadores,
denunciando vigorosamente Moyano e a burocracia sindical corrupta e mafiosa, assassina de Mariano Ferreira, como agentes
patronais que não merecem nenhuma confiança dos trabalhadores, forjando uma
oposição operária e revolucionária ao governo de CFK e a reação direitista.