A “greve geral europeia” e a ausência de uma perspectiva revolucionária de poder dos trabalhadores
A semana começa “quente” na Europa. Angela Merkel acaba de fazer um pronunciamento anunciando mais cinco anos de austeridade aos trabalhadores do velho mundo, já bastante castigado pela crise econômica. O continente se prepara para mais dias de convulsão. Neste começo de semana o parlamento grego estará votando mais uma fatia (13,5 bilhões de euros) do pacote de cortes imposto ao país pela Troika para que este continue a receber a “ajuda” da UE, cujo destino é os grandes bancos, credores internacionais do falido Estado burguês grego. Já a partir desta segunda, 05/11, greves tomarão conta do país, a começar pelo setor de transportes (metrô) e pelo de energia elétrica, o que deve provocar apagões na capital a partir de hoje. A expectativa do governo direitista de Samaras (ND) é de uma vitória no Parlamento. A situação alemã está se deteriorando, embora num ritmo muito mais lento do que em países como Grécia e Espanha. Dados estatísticos disponíveis revelaram que outubro fechou com 20 mil desempregados a mais do que começou no país. Na zona do euro como um todo, essa taxa atingiu 11,6%, 18,5 milhões de desempregados. Entre os mais jovens a taxa geral subiu para 23,3%. Para a semana que vem há a expectativa de uma greve geral nos países mais atingidos pela crise (Grécia, Espanha e Portugal) com a possibilidade de adesão dos trabalhadores na Itália, Inglaterra e Bélgica. A questão colocada é quais são as perspectivas destas lutas e principalmente da jornada internacional do dia 14 de novembro, apresentada pela esquerda como o embrião da "greve geral europeia", já que está sendo organizada pelas direções sindicais ligadas a social-democracia (a Confederação Europeia dos Sindicatos - CES) que até pouco tempo gerenciava a crise nestes países e está profundamente desgastada aos olhos dos trabalhadores? Estamos vendo se formarem as bases do neofascismo na Europa?
O elemento comum que marca a convocatória da “greve geral europeia” é que ela tem um caráter claramente defensivo e foi adiada o quando as direções puderam, cujo eixo não consegue sequer defender a reposição das perdas salariais e barrar os ataques as suas conquistas sociais. Estas lutas defensivas ocorrem no marco de uma nova investida capitalista 20 anos depois da derrota histórica que o proletariado sofreu com a restauração capitalista da URSS e a queda contrarrevolucionária do Muro de Berlim, acontecimentos que abriram uma etapa de profunda ofensiva econômica, política e ideológica do capital contra os trabalhadores. O crash de 2008 veio a acentuar essa tendência. Pela ausência de um programa classista, estas paralisações massivas tragicamente não avançam um milímetro sequer do ponto de vista de suas reivindicações econômicas e, muito menos, conseguem impor uma conquista política, como a queda de um governo “neoliberal” de esquerda ou direita pela via das mobilizações populares. Pelo contrário, a burguesia tem substituído seus governos desgastados por “tecnocratas” ainda mais aliados aos mandos da troika (BCE, FMI e UE).
A política de obrigar as massas a pagarem a conta da crise financeira estimula protestos contra governos burgueses. Por sua vez, a traição das direções (CES) e, principalmente, a falta de alternativa revolucionária à esquerda pavimenta o retrocesso ideológico e o caminho da reação. O racismo e a xenofobia não estão restritos às ações da extrema-direita, são reforçadas entre as massas por suas direções que apoiam as medidas burguesas de restrições ao acesso ao emprego e à educação, principalmente contra ciganos e negros, mas também contra estrangeiros em geral. Neste marco, em meio a um processo de convulsão social, com o aprofundamento do desemprego e o recrudescimento da crise capitalista no Velho Mundo, a direta avança assumindo os governos até então sob a gerência da social-democracia e dos partidos ditos “socialistas”. A direita recrudescida como o PSD em Portugal, PP na Espanha e a ND na Grécia, volta aos governos para desferir novos ataques e impor novas derrotas. Essa tarefa é facilitada pela falta de uma perspectiva política classista por parte das direções que encabeçaram o movimento para além as reivindicações econômicas, um norte estratégico que aponte para a superação da decadente ordem burguesa que impõe a retirada de direitos e conquistas operárias. Insistimos na lição de que não haverá mobilizações, por mais multitudinárias e heroicas que sejam, como a prevista para a Jornada Internacional do dia 14/11, capazes de derrotar a burguesia e seus governos de plantão sem a adoção de uma estratégia revolucionária de luta pelo poder. Sob a direção de um programa revolucionário e de um partido bolchevique forjado no calor do combate das ruas poderemos marchar em toda a Europa para a “hora da verdade” no confronto de classe com a burguesia e vencer, caso contrário não romperemos com a onda de derrotas que estão sendo impostas aos trabalhadores.
Não foi à toa que os partidos de centro-direita ganharam terreno nas eleições para o Parlamento da União Europeia (UE) nos últimos anos, quando as legendas de centro-esquerda perderam quase um quarto de suas cadeiras no Parlamento europeu e também avançam a frente do controle dos governos centrais. Esta nova ofensiva imperialista está acentuando a recolonização dos países mais pobres pelas potências dominantes do continente, como a Alemanha e pelos EUA, catapultada com a restauração capitalista da URSS e do Leste europeu, quando se apropriando da força de trabalho e das riquezas dos antigos Estados operários burocratizados do leste, os capitalistas também impuseram derrotas históricas aos trabalhadores do oeste. Também vem se recrudescendo a perseguição xenófoba militarizada e internacional contra os imigrantes que são os setores mais explorados e oprimidos do proletariado europeu. Como parte dessa perspectiva, o chamado movimento dos cidadãos “indignados” que ainda tem algum fôlego na Espanha é dotado de eixos democratizantes e reacionários como “esquerda fora”, “partidos fora”, “sindicatos fora”. Essa plataforma anticomunista é a base social e política que pode permitir o crescimento de grupos fascistas e suas milícias armadas, como foi no passado na Espanha, Itália e Alemanha. Daí para atentados como os ocorridos em Oslo tragicamente se encurtam as distâncias.
Mais uma vez insistimos que durante o ápice do crash capitalista mundial de setembro de 2008, quando o conjunto da esquerda revisionista alardeava que o “fim do capitalismo” estava próximo, alertamos justamente o contrário, ou seja, que devido à ausência de direção revolucionária com peso de massas e o quadro de ofensiva ideológica imposto pelo grande capital desde a queda da URSS, a tendência era não só que a burguesia utilizasse a crise econômica para incrementar sua investida contra as conquistas operárias em todo o planeta, mas que esta situação abriria uma etapa política de ascensão de governos de direita ou extrema-direita nos países mais castigados pela débâcle financeira, como o crescimento de grupos fascistas e neonazistas. Completamente desnorteada em seu “mundo de fantasia” que alardeava em passado recente que a crise econômica capitalista gerada pelo crash financeiro de 2008 era parteira “natural da revolução” iminente, a esquerda revisionista (CIT, CMR, LIT, UIT...) está sendo obrigada pelos próprios acontecimentos, como a derrota das massas gregas, a fazer todo tipo de malabarismo político para disfarçar sua completa desmoralização “teórica”. Aos genuínos marxistas cabe a tarefa de intervir ativa e pacientemente sobre estas lutas para elevar o nível de consciência dos setores mais radicalizados, a fim de fazê-la avançar da resistência defensiva atual para a disputa pela conquista do poder político contra seus algozes, superando a criminosa influência política que a centro-esquerda reformista e seus satélites revisionistas exercem sobre o proletariado. Este combate deve estar presente ativamente na “greve geral europeia” do dia 14 de novembro. A materialização deste longo processo de evolução da consciência dos trabalhadores é a construção de um partido internacionalista e revolucionário que lute por derrotar a União Europeia imperialista, sob a qual a vida das massas converte-se em uma bárbara escravidão, para edificar em seu lugar uma Federação das Repúblicas Socialistas da Europa, apontando a única saída verdadeiramente progressista para o velho continente.