terça-feira, 20 de novembro de 2012


20N: Um “paro nacional” que consolida a ampla aliança entre a direita argentina, a burocracia sindical mafiosa e os revisionistas do trotskismo

Neste 20 de novembro, a CGT comandada por Moyano, dirigente de uma ala da burocracia sindical mafiosa recentemente rompida pela direita com o governo de Cristina Fernandez Kirchner (CFK), a CTA de Michelli em aliança com as reacionárias Sociedade Rural e a Federação Agrária, que representam a classe dominante do campo, chamaram um “paro nacional” de 24 horas na Argentina, o primeiro contra a uma gestão kirchnerista desde 2003. A convocatória também teve a adesão da arqui-direitista CGT “azul e branco” de Luis Barrionuevo e o apoio velado da oposição burguesa conservadora (Macri, De Narváez, UCR, FAP de Binner) assim como do Clarín e do La Nación, que estão dando uma inusual ampla cobertura a mobilização, na medida em que o protesto desgasta o governo CFK, sendo apresentado na mídia como uma sequência natural dos dois “cacerolazos” ocorridos anteriormente sob a direção da direitona argentina. Os revisionistas do trotskismo agrupados na FIT (PO, PTS, IS) assim como o MAS e outros grupos satélites menores (LIT/PSTU, CS, LOI-DO...) desta vez apoiam unidos e entusiasticamente a paralisação. A grande família revisionista trata de encobrir o fato que o móvel político do protesto não é as reivindicações dos trabalhadores (ainda que elas estejam presentes de forma extremamente secundária entre os reclamos), mas a política de um setor da burocracia sindical que em aliança com a direita e particularmente com a oligarquia rural pretende chantagear o governo em benefício de seus próprios privilégios enquanto é funcional ao objetivo de debilitar o governo nacional. Tanto que nos sindicatos que aderiram ao “paro” não houve sequer assembleias de base para organizá-los para não haver um debate democrático sobre os eixos do protesto. Estamos, portanto, vendo mais um capítulo da gestação da unidade entre a oposição conservadora, a burocracia sindical vendida e os revisionistas do trotskismo, em uma “santa aliança” de fortalece os setores abertamente pró-imperialistas da burguesia que almejam substituir a gestão nacional populista dos K por uma administração ainda mais alinhada a Casa Branca, em uma disputa que já começa nas eleições regionais e parlamentares de 2013.

Curiosamente, em todas as entrevistas e comunicados, a burocracia sindical da CGT e CTA ignorou a reivindicação central dos trabalhadores por um salário mínimo vital ou outras demandas que dessem um corte mais classista ao protesto, justamente para não desagradar seus aliados de direita da Sociedade Rural e Federação Agrária. A principal reivindicação é a exigência de liberação imediata de 14 milhões que dizem que o governo deve as “obras sociais” dos sindicatos, recurso controlado diretamente pelos corruptos dirigentes. Em resumo, tentando paralisar algumas atividades chaves e fazer bloqueios de rua para impedir o trânsito, Moyano e a direitona ruralista pretendem fazer mais uma demonstração de força e para isto contam com o apoio da esquerda, que sabe perfeitamente desta manobra porém avaliza o protesto. O PO chama a “Paralisar massivamente” apesar de reconhecer que “A oposição tradicional trabalha para levar para o seu campo a enorme insatisfação popular. As centrais opositoras não chamaram a marchar à Praça de Maio. Tampouco dará continuidade a paralisação através de um plano de luta. Querem colocar a classe operária a reboque dos Macri, Binner ou De la Sota”. Já o PTS nos dá uma resposta reveladora a sua própria pergunta “Porque Moyano e Micheli conspiram contra o sucesso da medida chamada por eles mesmos e chama uma paralisação de forma tíbia e burocrática? Se deve aos compromissos que têm com os vários setores da oposição da oposição patronal, que não querem que se expresse a força da classe trabalhadora e seus métodos de luta. Enquanto o governo de Cristina vai se desgastando desde sua vitória nas eleições presidenciais de outubro do ano passado, as patronais preparam variante de mudança, fazendo que se faça quase impossível à 're-reeleição' ”. Como se vê estes calhordas sabem perfeitamente do móvel reacionário e direitoso do 20-N, mas apoiam o protesto justamente porque são favoráveis a unidade “de massas” com a oposição conservadora para desgastar Cristina achando que podem capitalizar eleitoralmente seu debacle, criticando apenas a burocracia sindical por ser “tímida” em seus métodos de luta! Repetem na Argentina a mesma fórmula que fizeram na Líbia e agora intervém na Síria: unidade com os “rebeldes” pró-imperialistas contra governos que tem algum grau de atrito com a Casa Branca, ainda que daí se fortaleça uma saída política ainda mais reacionária, como o “novo” governo fantoche líbio do CNT! Como declara a ultra-revisionista Izquierda Socialista: “É sabido que temos diferenças com os projetos sindicais e políticos de Moyano e Micheli. Porém agora se necessita a mais ampla unidade dos trabalhadores e dos setores populares para enfrentar o governo” (Sítio IS). Não por acaso a IS/UIT defendeu armas para os monarquistas “rebeldes” líbios e agora saúda os mercenários do ELS na Síria, em uma “ampla unidade” que inclui até mesmo a víbora Clinton e a OTAN!

De tão escandalosa a conduta da maioria dos revisionistas tem sido criticada até por aliados. Vejamos o que nos diz o ex-morenista e fundador do PTS, Carlos Petroni, mais conhecido na esquerda como Leon Perez: “A esquerda de todos os matizes (desde PO, PTS e IS, componentes FIT, até o MST e o PCR) apoiam incondicionalmente a greve e se mobilizam por ele com todas as suas forças, embora não possam incidir sobre sua direção, nem no seu programa e implementação prática... Altamira e o PO até mesmo trataram de teorizar. Dizem que qualquer greve, sob quaisquer circunstâncias, deve ser apoiada e que as assembleias são secundárias e subordinadas à ação. De fato, lembremos que quando houve uma greve em Nova York de professores contra o controle da comunidade negra das escolas em plena luta por direitos civis, os trotskistas não a apoiaram. Quase ninguém na esquerda antepôs um programa alternativo ao de Moyano, contentando-se a segui-lo e não puderam separar-se do eixo central, político, de que a paralisação se converteu em um ato partidário da oposição, tanto pejotista de direita como da UCR e até da Coalização Cívica por um lado e da FAP por outro” (sítio Izquierda.info). O fato é que a esquerda revisionista atua como satélite da burocracia sindical e dos setores mais reacionários da burguesia quando deveria denunciar o engodo montado em torno de 20-N e chamar uma mobilização independente, com uma claro corte de classe e com métodos próprios de luta. Como não fazem esse combate político se limitam a reclamar que a CGT e a CTA não chamaram um marcha a Praça de Maio... fazendo desta “polêmica” uma paródia da verdadeira delimitação que os genuínos revolucionários deveriam fazer ante a investida reacionária da direita, justamente para clarificar as posições em meio a confusão que toma conta dos trabalhadores! Lembremos que Trotsky não vacilou em alertar sobre greves reacionárias quando disse “Um sindicato dirigido por burocratas reacionários, organiza uma greve contra a admissão de operários negros em um determinado ramo da indústria. Apoiaremos uma greve tão vergonhosa? Naturalmente que não. Porém, imaginemos que os patrões, utilizando tal greve, tentem derrotar o sindicato e impossibilitar, no geral, a defesa organizada dos trabalhadores. Neste caso, logicamente, defenderemos o sindicato, apesar de sua direção reacionária” (Em defesa do Marxismo). Sabemos que o 20N não chegou a esse estágio... ainda , mas a tendência política é cada vez mais o alinhamento dos setores que o convocaram (CGT Moyano e a CTA de Michelli) com a direita, sendo a burocracia sindical vendida no mínimo funcional a esta!

Já o grupo El Militante, ligado a CMI de Alan Woods, corrompido até a medula pelos governos “progressistas” na América Latina, como os petrodólares de Chávez, agora critica a “esquerda” por adotar a mesma linha que tal grupo venal aplicou na Líbia, de “ampla unidade” contra a “ditadura” de Kadaffi, por exemplo! Lembremos que na Argentina, a direitona diz que o governo de CFK faz parte de “ditadura K” iniciado pelo falecido Nestor Kirchner e, por isto, se levanta em marcha contra a possibilidade de uma “re-reeleição”. Vejamos o que nos dizem esse caras de pau que apoiaram Cristina nas eleições presidenciais, espantados com a política que eles mesmos aplicam no outro lado do planeta: “Moyano e Micheli apoiaram as reacionárias mobilizações e cacelorazos de 13 de setembro e 08 de novembro. A ‘valentia’ de Moyano e Micheli assenta-se no alento que lhes dão a patronal, os seus meios de comunicação, o espectro político à direita de Kirchner (de Macri até o Projeto Sul, com o aplauso da ‘esquerda’ sectária) e da pequena burguesia. Achamos lamentável que se utilizem de demandas legítimas da classe trabalhadora e de suas organizações para manobras políticas não confessas que vão contra os interesses da mesma, em aliança com setores patronais e políticos reacionários”. A CMI apoia a (falsa) luta contra as “ditaduras” no Oriente Médio, mas se opõe as mobilizações de direita na Argentina e na Venezuela alegando que Cristina e Chávez foram “eleitos democraticamente”. Assim escondem, por exemplo, que Chávez foi eleito respeitando as regras burguesas e por isso não adotou nenhuma medida socialista real de enfrentamento com o capital e vive chantageado pelo imperialismo por respeitar o sistema legal vigente. Chávez, o dirigente da fantasiosa “revolução bolivariana” apoiada pela CMI, sempre rebate o argumento de que não é “totalitário” porque respeita os resultados eleitorais e a Constituição, ou seja, não ousa romper com a ordem política e jurídica do regime capitalista. O mesmo faz CFK com sua “Ley de Medios”, já que ela é gerente de um governo burguês, que enfrenta bandos de sua mesma classe que desejam tomar o controle da gestão para suas próprias mãos. Macri e De Narváez almejam romper com o cinturão de governos da centro-esquerda burguesia porque sabem que o ciclo de vida destes deve acabar nos próximos anos na América Latina!

O que esta claro é a necessidade de se construir uma alternativa própria dos trabalhadores, contra os ataques do governo “nac e pop” de CFK e a investida da direita. Nesta senda, os genuínos revolucionários declaram abertamente que não entrarão pelas portas dos fundos destas mobilizações direitistas de “massas”, como o 8N ou mesmo o atual “paro nacional” de 24 horas a serviços dos interesses de classe dos setores opositores da burguesia. O combate aos ataques de Cristina ao movimento operário e sua política de colaboração de classes não se dará no terreno do apoio às iniciativas da direita e da burocracia sindical a seu serviço, abdicando da completa independência política dos trabalhadores, mas denunciando justamente que estes “cacerolazos” e “paros” patrocinados por setores de alta classe média e os “sojeros” da classe dominante rural não são uma alternativa ao populismo de Cristina. É preciso levantar as demandas dos trabalhadores e usar seus próprios métodos de luta para derrotar o CFK e a oposição conservadora, nunca aliançar-se a reação para o “derrumbe” de Cristina. Os marxistas leninistas não nutrimos a menor simpatia política pelo governo burguês da senhora Cristina mas jamais nos uniremos à escória direitista como Macri, De Narvaez ou o grupo Clarín para “derrubar” os K. Nossa tarefa é construir um campo de luta próprio e independente dos trabalhadores, denunciando vigorosamente Moyano e a burocracia sindical corrupta e mafiosa, assassina de Mariano Ferreira, como agentes patronais que não merecem nenhuma confiança dos trabalhadores, forjando uma oposição operária e revolucionária ao governo de CFK e a reação direitista.