O PSB continuará seguindo o PT em 2014 ou se abrigará no ninho Tucano?
As recentes eleições municipais revelaram uma tendência política já demonstrada em 2010 e consolidada neste pleito, o forte crescimento do PSB no mesmo nicho geopolítico do eleitorado petista, ou seja, a região nordeste. Mas o que era apenas a configuração de uma parceria dos petistas, encastelados no “poder” do Planalto, com setores da grotesca oligarquia dominante nordestina travestida de “socialista”, agora em 2012 se transformou em uma disputa aberta com hora e local para ocorrer: a sucessão presidencial de 2014. O PSB que praticamente estava à beira da insolvência quando da primeira eleição de Lula em 2002, foi soerguido pelo próprio PT com o objetivo de transformar-se em uma legenda da base fiel da frente popular, assim como ocorreu com o PCdoB. Lula pessoalmente bancou a candidatura de Eduardo Campos ao governo de Pernambuco em 2006, quando o PT estava mais forte no estado, tendo o controle da prefeitura de Recife. Lula também afiançou politicamente a transferência do então ministro Ciro Gomes do PPS para o PSB, forçando o PT cearense a apoiar a candidatura do inexpressivo Cid Gomes (irmão de Ciro) ao governo Alencarino em 2006 e, por último, no Piauí em 2010 o PT que já governava o estado passou a “caneta” para um “socialista” amigo do partido. Dos quatro governos estaduais administrados atualmente pelo PSB pelo menos três foram uma “cortesia” petista, isto sem falar da prefeitura de BH repassada de bandeja em 2008 a um “socialista” Aéciano. Mas, parece que a manobra de ressuscitar a oligarquia “socialista” como aliada política ameaça naufragar e no momento é o PSB que vem retribuindo os “favores” petistas derrotando o PT em seus próprios redutos eleitorais. O caso mais emblemático aconteceu na última disputa em Fortaleza, onde a anturragem da prefeita Luizianne Lins (DS) não aceita de forma alguma a derrota para a família Gomes, recorrendo até a justiça eleitoral e defendendo ruptura da aliança com os coronéis “socialistas” em nível estadual e nacional.
Parece que as derrotas municipais em BH e Recife já foram digeridas pelo PT na base da lei das compensações da burguesia (síncope política de Serra), apesar dos traumas causados, mas o imbróglio de Fortaleza fomenta uma crise nacional entre os chamados petistas históricos e o PSB. A denúncia de irregularidades nas eleições de Fortaleza feita pelo PT municipal carece de maior impacto político pelo simples fato de não poder abordar o fulcro da questão, ou seja, a fraude eletrônica. Como o próprio PT é signatário do “pacto de sangue” que deu origem ao nascimento da urna roubôtronica, a prefeita Luizianne fica limitada a fazer denúncias superficiais (compra de votos e utilização de camisas padronizadas), omitindo o ponto central da derrota de seu candidato, ou seja, foram fraudados os verdadeiros resultados eleitorais nos “laboratórios” do TRE controlado pelas oligarquias Jereissati e Gomes. Por outro lado, a ala mais fisiológica do PT, ligada à presidenta Dilma, já tratou de apaziguar a crise defendendo a manutenção do acordo com o PSB, incluindo a permanência dos secretários petistas no governo estadual. Lula fica mais uma vez em uma situação delicada, pois tem que assistir passivo a derrota fraudulenta de um candidato vitorioso no voto, bancado por sua iniciativa política. Dilma não se fez de rogada e em uma cerimônia no palácio do Planalto esta semana tratou de prestigiar o governador Cid, para desespero de Luizianne.
Para além das fissuras municipais, a burguesia e sua mídia “murdochiana” vem tratando de “botar lenha na fogueira” da disputa pelo botim estatal entre PSB e PT, lançando “incondicionalmente” o nome do governador Eduardo Campos à presidência da República em 2014. O quadro interno dos “socialistas” de cartucheira também não é homogêneo, no sudeste (MG e SP) estão “infiltrados” pelos tucanos e no nordeste estão divididos entre as oligarquias Campos e Gomes. O ex-ministro Ciro Gomes, o primeiro a ter pretensões nacionais, está atualmente comprimido pelo prestígio político do “colega” Eduardo Campos a frente do “exitoso” governo pernambucano. Como não são nada bobos, Cid Gomes já lançou o nome de Campos para... vice de Dilma em 2014, talvez pensando em ele mesmo abocanhar o cargo diante da recusa óbvia do neto de Arraes. Os “socialistas” de Pernambuco não querem nem ouvir falar de vice e articulam com um setor dos tucanos a cabeça da chapa à presidência para Campos. O prefeito eleito de Manaus, o tucano Artur Virgílio, abraçou a “tese” de ceder a cabeça da chapa para o PSB, sendo imediatamente desautorizado pelo senador Aécio Neves que já está em campanha pela presidência da República. Como não há consenso no plano do próprio PSB é muito pouco provável que consiga decolar uma candidatura própria ao Planalto em 2014, sem o apoio do PSDB. A tendência da conjuntura política (estabilidade social e crescimento econômico relativo) ainda aponta para a manutenção da frente popular no “modelo” que foi vitorioso em 2010, ficando a cargo da presidenta Dilma a escolha de um vice entre as camarilhas burguesas do PMDB ou PSB.
O que realmente é muito pouco abordado no meio dos debates políticos da esquerda é o futuro desenho do PT, com a prisão de Dirceu e Genuíno e a sedimentação da liderança dos neopetistas, comandados por Dilma. A figura de Lula resguardada pela burguesia com a vitória de Haddad, e de sua não inclusão na Ação Penal 479 (processo do “mensalão”), não terá maior peso nas decisões sobre as articulações políticas a próxima sucessão presidencial. Talvez uma saída “honrosa” para Lula seria a disputa do governo de São Paulo, isto é claro sempre levando em conta o imponderável quadro de seu estado de saúde. A ofensiva burguesa segue seu curso sobre um movimento de massas atomizado e sem uma alternativa revolucionária, neste marco as fissuras surgidas no seio das classes dominantes e de suas agremiações políticas não poderão ser utilizadas pelo proletariado, desprovido de seu próprio projeto de poder estatal.