A farsa da Cúpula da ONU sobre o Clima: Lutar contra a
“destruição do planeta” ou para sepultar o capitalismo que destrói a humanidade?
Nesta semana ocorreu a Cúpula Mundial sobre o Clima da ONU
em Nova York. Cinicamente os porta-vozes dos governos das grandes potências
capitalistas, a começar por Obama, discursaram em “defesa do planeta” e pelo
estabelecimento de acordos globais para a redução de emissão de gás carbônico e
da preservação das florestas, em uma suposta “cruzada” contra o chamado
“aquecimento global”. Com a maior cara de pau culpam a China pelo aumento da
temperatura climática do mundo para encobrir que os monopólios imperialistas
são os principais responsáveis pela destruição das forças produtivas, a começar
pela principal delas: o homem e suas condições de vida. Além disso, o plano da
ONU para “zerar o desmatamento” foi montado por ONGs em parceria com governos
das metrópoles centrais que visam colocar as florestas, reservas minerais e
aquáticas das semicolônias sobre o controle de um “consórcio global” que fere
as soberanias formais das nações atrasadas, como o Brasil. Enquanto barbarizam
países inteiros como a Líbia ou o Iraque para controlar petróleo, água e urânio
in natura, infectam a África com o vírus Ebola para incrementar os lucros da
indústria farmacêutica ou para testes bacteriológicos de armas de guerra,
dizimando populações nativas, os representantes do capital fazem demagogia “em
defesa da natureza”. Contra esta farsa, os marxistas revolucionários denunciam
a impossibilidade de haver qualquer preservação da própria espécie humana assim
como do meio-ambiente, das florestas e das fontes aquáticas sob o tacão dos grandes
monopólios transnacionais, já que o capitalismo leva a humanidade à barbárie e
às guerras de espoliação impondo fome, miséria e desemprego. Ao mesmo tempo,
desmascaramos os charlatões que através do chamado “ecossocialismo” não fazem
mais que reforçar a tese revisionista de que o proletariado está superado como
direção política da revolução socialista apresentando as “novas vanguardas”
(verdes, luta de gênero) como eixo principal da “utopia” de uma “economia
sustentável”. Eles “esquecem” que o conceito de forças produtivas elaborado por
Marx, engloba fundamentalmente a força de trabalho, ou em outras palavras, o
proletariado, a força produtiva principal. Em uma sociedade que condena a
maioria da população, inclusive nos países imperialistas, à miséria absoluta as
forças produtivas efetivamente deixaram de crescer e só podem voltar a fazê-lo
através da Revolução Proletária para garantir a existência da humanidade em
harmonia com a Natureza em um futuro comunista.
O cinismo de Obama e Cia é flagrante! As potências
capitalistas desejam fazer destes “acordos” via ONU um instrumento de disputa
econômica com os BRICs para enfraquecer a indústria chinesa, deter a exploração
de gás da Rússia e manter o Brasil sob seu controle, usando como pretexto a
“preservação da Amazônia”. Ao lado de seus planos de guerra no Oriente Médio e
na Ucrânia usam a “defesa do planeta” para ampliar suas áreas de influência
política e econômica. Tanto que “de acordo com o resumo final divulgado pelas
Nações Unidas, foi formada uma coalizão entre governos, setor financeiro,
bancos de desenvolvimento e líderes da sociedade civil para mobilizar US$ 200
bilhões em investimentos voltados à redução das emissões de carbono até o fim
de 2015. Um dos destaques do encontro foi a criação da ‘Declaração de Nova York
sobre Florestas’, que prevê reduzir pela metade o desmatamento até 2020 e
zerá-lo até 2030” (G1, 23/09). Segundo a ONU, 150 parceiros assinaram o
documento, incluindo 28 governos, 35 empresas, 16 grupos indígenas e 45 ONGs e
grupos da sociedade civil, ou seja, os países capitalistas interessados e os
“ecologistas” que eles compraram. A armadilha foi tamanha que o Brasil não
aceitou o acordo. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, declarou que
o país não fora sequer “convidado a se engajar no processo de preparação da
declaração”. Em vez disso, segundo ela, o país recebeu uma cópia do texto da
ONU, que pediu para aprová-lo sem a permissão de sugerir qualquer alteração já
que as potências imperialistas haviam acordado entre si os termos da “partilha”
e não aceitavam contestações! Não por acaso, China e Índia sequer enviaram seus
principais líderes ao encontro. Pequim e Nova Délhi defendem que os países
capitalistas mais ricos devem pagar a maior parte da conta. Já o presidente
venezuelano, Nicolás Maduro, acusou as “potências poluentes” de procurarem se
aproveitar do aquecimento global, pelo qual seriam responsáveis, para aplicar
sua fórmula capitalista. “Querem disfarçar as mesmas fórmulas capitalistas
tomando as bandeiras dos movimentos ambientalistas”.
Antes do início da conferência da ONU ocorreram em Nova York
várias marchas contra o “aquecimento global”. Celebridades globais de Hollywood
como Leonardo de Caprio marcharam pelas ruas da cidade e depois discursaram na
sede das Nações Unida em uma comédia típica das projeções ianques. Ao lado das
“estrelas” desfilaram organizações políticas e ONGs ligadas à “ecologia”. Os
mais “radicais” defenderam uma plataforma “humanitária” que reivindicou a “mudança
do modelo econômico predatório” e a “democratização das instituições
antidemocráticas”. Seu papel foi pressionar a ONU e os governos burgueses do
planeta a incluir nos seus planos da chamada “economia verde” a participação
destas entidades para juntos gerenciarem os ataques às riquezas naturais da
terra e às condições de vida dos trabalhadores. Esta política não passa de uma
série de medidas que visam aprofundar a recolonização dos países atrasados por
meio de “metas de sustentabilidade” impostas pelas metrópoles capitalistas.
Um capítulo à parte das manifestações em Nova York foi a
presença dos grupos “ecossocialistas”. Agrupados em torno da chamada “Rede
Ecossocialista Internacional” esses senhores subscreveram uma declaração em que
afirmam: “Enquanto ecossocialistas, acreditamos que a humanidade necessita de
alternativas radicais, alternativas que atacam as raízes do mal, o paradigma
capitalista de civilização. Necessitamos de um novo modo de viver, um novo
modelo de civilização, baseado em valores de solidariedade e respeito a ‘Mãe
terra’. A única ‘economia verde’ que vale é uma economia que suprime o
capitalismo e a mercantilização da água, da terra, do ar, da vida, uma economia
na qual os meios de produção e de distribuição estejam nas mãos do próprio
povo, que decide democraticamente o que deve ser produzido e consumido” (O
mundo em um impasse – Um ponto de vista Ecossocialista, setembro/2014). Esta
“teoria” não apresenta a classe operária como vanguarda da luta anticapitalista
e não passa de um embuste claramente voltado a defender reformas dentro do
capitalismo por meio de ONGs que nada tem de “anticapitalistas”, a não ser
alguma retórica caricatural. Os “ecossocialistas” buscam novas vanguardas
justamente para negar a luta de classes como motor da história e o método da
violência revolucionária e a ditadura do proletariado como únicos meios capazes
de salvar a humanidade da barbárie capitalista. Não por acaso, Michel Lowy nos
diz que “O objetivo do ecossocialismo é o de uma transformação radical, a
transição para um novo modelo de civilização, baseado em valores de
solidariedade, democracia participativa, preservação do meio ambiente. Mas a
luta pelo ecossocialismo começa aqui e agora, em todas as lutas
sócio-ecológicas concretas que se enfrentam, de uma forma ou de outra, com o
sistema. A única esperança então são os movimentos socais e aquelas ONGs que
são ligadas a estes movimentos (outras são simples “conselheiros verdes” do
capital). O movimento camponês – Via Campesina –, os movimentos indígenas e os
movimentos de mulheres estão na primeira linha deste combate; mas também
participam, em muitos países, os sindicatos, as redes ecológicas, a juventude
escolar, os intelectuais, várias correntes da esquerda. O Fórum Social Mundial
é uma das manifestações desta convergência na luta por um ‘outro mundo
possível’, onde o ar, a água, a vida, deixarão de ser mercadorias”. (Entrevista
com Michel Lowy, 24 de marco de 2012). Não há nenhuma referência ao
proletariado como classe revolucionária e a necessidade do Partido Comunista,
que é substituído por ONGs e “redes ecológicas” partidárias de um “novo modelo
de civilização”, algo bem longe do comunismo, já que esses reformistas não
querem ser identificados com Lênin e suas “fórmulas ultrapassadas”! Os “ecossocialistas”
tentam colocar-se um passo à esquerda dos “ecocapitalistas”. Segundo Lowy, “O
reformismo ‘verde’ aceita as regras da ‘economia de mercado’, isto é, do
capitalismo; busca soluções que seja aceitáveis, ou compatíveis, com os
interesses de rentabilidade, lucro rápido, competitividade no mercado e
‘crescimento’ ilimitado das oligarquias capitalistas. Isto não quer dizer que
os partidários de uma alternativa radical, como o ecossocialismo, não lutam por
reformas que permitam limitar o estrago: proibição dos transgênicos, abandono
da energia nuclear, desenvolvimento das energias alternativas, defesa de uma
floresta tropical contra multinacionais do petróleo (Parque Yasuni!), expansão
e gratuidade dos transportes coletivos, transferência do transporte de mercadorias
do caminhão para o trem, etc”. Em resumo, os ecossocialistas são os
“consequentes” defensores das reformas e da “verdadeira” cidadania, enquanto
abominam os métodos de ação direta da classe operária para impor suas
reivindicações, únicas que podem derrotar os capitalistas genocidas.
A reunião sobre o clima da ONU fracassou porque até mesmo a
demagogia em torno da “economia verde” foi rechaçada pelas principais potências
imperialistas, as mesmas que levam as guerras de rapina na Líbia, Síria, Afeganistão
e Iraque. Ao mesmo tempo foi notória a completa inutilidade da “marcha em
defesa da redução climática” como eixo de resistência à ofensiva imperialista.
Esta na verdade serviu como um amortecedor da luta de classes. Estes dois
elementos políticos que se completam apenas reforçaram nosso combate de que a
verdadeira defesa do meio-ambiente só pode ser realizada através da aliança do
campesinato pobre com o proletariado do campo e da cidade através da luta pela
revolução agrária que exproprie os latifundiários pela via da construção de
comitês de autodefesa armados, preservando a vida dos lutadores ameaçados pelo
terror dos grandes proprietários, acobertados pela frente popular. A denúncia
que fazemos tanto da farsa montada na ONU como das “marchas” que tinham na sua
liderança celebridades de Hollywood e ONGs ladeados pelo reformismo
“ecossocialista” aponta que o combate efetivo em defesa das reservas naturais,
jamais poderá ser realizado em aliança política com empresários, ONGs e setores
ligados ao imperialismo e seu projeto de “capital verde”. Somente o
proletariado mundial, urbano e rural, e seus aliados históricos como o
campesinato pobre, será capaz de travar uma luta consequente para expropriar o
latifúndio, as grandes empresas e os monopólios por meio da luta pela revolução
proletária e o socialismo!