terça-feira, 16 de setembro de 2014


Referendo na Escócia: Não está representada neste “jogo” institucional uma alternativa que sirva para avançar na luta pelo socialismo e a revolução proletária!

Ocorrerá neste dia 18 de setembro o referendo sobre a independência da Escócia frente ao Reino Unido. O avanço do “sim” entre o eleitorado nos últimos dias ganhou os noticiários da TV em todo o planeta porque o primeiro-ministro conservador David Cameron e o líder da oposição trabalhista, Ed Miliband, saíram juntos para criticar a posição como “irresponsável e catastrófica”. A eles se somaram representantes do FMI e o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, declarou que “Estamos interessados em ver a um Reino Unido que permaneça forte, sólido e unido” em uma clara chantagem pelo “Não”. Por outro lado, em busca de tranquilizar a classe dominante britânica, os dirigentes do Partido Nacionalista Escocês (SNP) defensores do “sim” se comprometeram a, em caso de vitória, reduzir os impostos sobre as empresas para ajudar os negócios dos capitalistas nativos, manter a Rainha Elizabeth como chefe do estado e a libra como moeda nacional e ainda unir-se o mais rápido possível à OTAN, além de reafirmarem seu desejo de continuarem como membros da atual União Europeia. No máximo, fazem demagogia contra a política de austeridade fiscal do governo Cameron e dos ataques à saúde pública sem sequer defender novas conquistas operárias para os trabalhadores em caso de vencer a “independência”. Os marxistas revolucionários defendem o direito democrático dos escoceses escolherem se desejam ou não ter independência da Inglaterra e rechaçam as pressões do imperialismo ianque e de seu marionete em Londres contra os eleitores do “sim” e sua decisão popular soberana. Porém, alertamos que o atual referendo, mesmo que venha a vencer o “sim”, não coloca em questão as bases para uma verdadeira independência política e social frente ao Reino Unido, já que mantém intocável a estrutura de poder burguês e o próprio capitalismo decadente, apenas remodela uma divisão de tarefas. Por isto, defendemos que a luta unificada dos trabalhadores contra a burguesia da “City” londrina e de seus “sócios” na Escócia é a melhor forma de combater pelos direitos democráticos dos explorados abrindo caminho para edificação da Federação de Repúblicas Socialistas Britânicas.

Feito este alerta no campo dos princípios políticos, reafirmamos que os leninistas apoiam o direito à independência se assim o desejar o povo escocês, apesar de seu claro conteúdo burguês, porque a autodeterminação dos povos é uma tarefa democrática que a burguesia britânica se mostrou incapaz de solucionar, como vemos também no exemplo da Irlanda, onde Londres mantém uma reacionária opressão nacional contestada historicamente pelo IRA. Esta tarefa recai nas mãos da classe operária como uma reivindicação transitória. O papel dos marxistas revolucionários não é advogar em prol da separação por princípio, mas de acordo com as tarefas que impõem a revolução proletária, em favor da unidade socialista de toda a Europa, conseguida por seus métodos de luta contra as burguesias nativas. O velho bolchevique Lenin explica desta forma o problema das nacionalidades: “os reacionários se opõem à liberdade de divórcio; dizem que deve ser ‘tratada com cuidado’, e em voz alta declaram que significa ‘a desintegração da família’. Acusar os que apoiam a liberdade de autodeterminação, quer dizer, o direito à secessão, de animar o separatismo, é tão tonto e hipócrita, como acusar aos que advogam pela liberdade de divórcio de animar a destruição dos laços familiares. Assim como na sociedade burguesa os defensores do privilégio e da corrupção, sobre o que repousa o matrimônio burguês, se opõem à liberdade de divórcio; no Estado capitalista, o repúdio do direito à autodeterminação, quer dizer, o direito das nações à secessão, não significa outra coisa que a defesa dos privilégios da nação dominante e os métodos policiais de administração, em detrimento dos métodos democráticos” (O direito das nações à autodeterminação).

Não concordamos com os termos desta pseudoindependência defendida pelo SNP. Seus dirigentes buscam apenas uma maior fatia dos lucros para o setor da burguesia escocesa representada por ele, o que seria conseguido pelo controle total do novo estado. Porém, ao mesmo tempo em que quer se livrar das garras do capital financeiro inglês, simbolizado pela “City of London”, vai pedir ingresso na União Europeia e entregará a Escócia independente a garras bem maiores, do capital financeiro alemão/francês. Defendemos que a luta pela independência se apoie nas tendências mais progressistas e para arrancar conquistas sociais e democráticas!

Devemos combater incondicionalmente o governo Cameron e seus lacaios. Ao mesmo tempo se delimitar dos nacionalistas burgueses do SNP que desejam uma “independência sem traumas”, por cima, se apoiando na vontade popular para chegar a um acordo com Obama, Cameron, a OTAN e a troika da UE. Seja qual for o resultado do referendo do dia 18, apoiamos o direito democrático do povo escocês de escolher seu futuro e vamos continuar nossa luta para derrubar o capitalismo internacional, o único caminho a seguir pela classe trabalhadora de forma unitária. Esta deve ser a perspectiva que aponte um caminho de embate contra os gerentes internos e “externos”, completamente subordinados à utopia reacionária da unificação europeia. Somente a classe operária organizada e dirigida por um partido revolucionário pode se colocar na condição de solver o problema das nacionalidades oprimidas e tomar para si as tarefas que a burguesia é incapaz de realizar em sua plenitude, tarefa possível através da formação da república socialista de todas as nações da Europa.