Referendo na Escócia: Não está representada neste “jogo” institucional uma alternativa que
sirva para avançar na luta pelo socialismo e a revolução proletária!
Ocorrerá neste dia 18 de setembro o referendo sobre a
independência da Escócia frente ao Reino Unido. O avanço do “sim” entre o
eleitorado nos últimos dias ganhou os noticiários da TV em todo o planeta
porque o primeiro-ministro conservador David Cameron e o líder da oposição
trabalhista, Ed Miliband, saíram juntos para criticar a posição como
“irresponsável e catastrófica”. A eles se somaram representantes do FMI e o
porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, declarou que “Estamos interessados em
ver a um Reino Unido que permaneça forte, sólido e unido” em uma clara
chantagem pelo “Não”. Por outro lado, em busca de tranquilizar a classe
dominante britânica, os dirigentes do Partido Nacionalista Escocês (SNP)
defensores do “sim” se comprometeram a, em caso de vitória, reduzir os impostos
sobre as empresas para ajudar os negócios dos capitalistas nativos, manter a
Rainha Elizabeth como chefe do estado e a libra como moeda nacional e ainda
unir-se o mais rápido possível à OTAN, além de reafirmarem seu desejo de
continuarem como membros da atual União Europeia. No máximo, fazem demagogia
contra a política de austeridade fiscal do governo Cameron e dos ataques à
saúde pública sem sequer defender novas conquistas operárias para os
trabalhadores em caso de vencer a “independência”. Os marxistas revolucionários
defendem o direito democrático dos escoceses escolherem se desejam ou não ter
independência da Inglaterra e rechaçam as pressões do imperialismo ianque e de
seu marionete em Londres contra os eleitores do “sim” e sua decisão popular
soberana. Porém, alertamos que o atual referendo, mesmo que venha a vencer o
“sim”, não coloca em questão as bases para uma verdadeira independência
política e social frente ao Reino Unido, já que mantém intocável a estrutura de
poder burguês e o próprio capitalismo decadente, apenas remodela uma divisão de
tarefas. Por isto, defendemos que a luta unificada dos trabalhadores contra a
burguesia da “City” londrina e de seus “sócios” na Escócia é a melhor forma de
combater pelos direitos democráticos dos explorados abrindo caminho para
edificação da Federação de Repúblicas Socialistas Britânicas.
Feito este alerta no campo dos princípios políticos,
reafirmamos que os leninistas apoiam o direito à independência se assim o
desejar o povo escocês, apesar de seu claro conteúdo burguês, porque a
autodeterminação dos povos é uma tarefa democrática que a burguesia britânica
se mostrou incapaz de solucionar, como vemos também no exemplo da Irlanda, onde
Londres mantém uma reacionária opressão nacional contestada historicamente pelo
IRA. Esta tarefa recai nas mãos da classe operária como uma reivindicação
transitória. O papel dos marxistas revolucionários não é advogar em prol da
separação por princípio, mas de acordo com as tarefas que impõem a revolução
proletária, em favor da unidade socialista de toda a Europa, conseguida por
seus métodos de luta contra as burguesias nativas. O velho bolchevique Lenin
explica desta forma o problema das nacionalidades: “os reacionários se opõem à
liberdade de divórcio; dizem que deve ser ‘tratada com cuidado’, e em voz alta
declaram que significa ‘a desintegração da família’. Acusar os que apoiam a
liberdade de autodeterminação, quer dizer, o direito à secessão, de animar o
separatismo, é tão tonto e hipócrita, como acusar aos que advogam pela
liberdade de divórcio de animar a destruição dos laços familiares. Assim como
na sociedade burguesa os defensores do privilégio e da corrupção, sobre o que
repousa o matrimônio burguês, se opõem à liberdade de divórcio; no Estado
capitalista, o repúdio do direito à autodeterminação, quer dizer, o direito das
nações à secessão, não significa outra coisa que a defesa dos privilégios da
nação dominante e os métodos policiais de administração, em detrimento dos
métodos democráticos” (O direito das nações à autodeterminação).
Não concordamos com os termos desta pseudoindependência
defendida pelo SNP. Seus dirigentes buscam apenas uma maior fatia dos lucros
para o setor da burguesia escocesa representada por ele, o que seria conseguido
pelo controle total do novo estado. Porém, ao mesmo tempo em que quer se livrar
das garras do capital financeiro inglês, simbolizado pela “City of London”, vai
pedir ingresso na União Europeia e entregará a Escócia independente a garras
bem maiores, do capital financeiro alemão/francês. Defendemos que a luta pela
independência se apoie nas tendências mais progressistas e para arrancar
conquistas sociais e democráticas!
Devemos combater incondicionalmente o governo Cameron e seus
lacaios. Ao mesmo tempo se delimitar dos nacionalistas burgueses do SNP que
desejam uma “independência sem traumas”, por cima, se apoiando na vontade
popular para chegar a um acordo com Obama, Cameron, a OTAN e a troika da UE.
Seja qual for o resultado do referendo do dia 18, apoiamos o direito
democrático do povo escocês de escolher seu futuro e vamos continuar nossa luta
para derrubar o capitalismo internacional, o único caminho a seguir pela classe
trabalhadora de forma unitária. Esta deve ser a perspectiva que aponte um caminho
de embate contra os gerentes internos e “externos”, completamente subordinados
à utopia reacionária da unificação europeia. Somente a classe operária
organizada e dirigida por um partido revolucionário pode se colocar na condição
de solver o problema das nacionalidades oprimidas e tomar para si as tarefas
que a burguesia é incapaz de realizar em sua plenitude, tarefa possível através
da formação da república socialista de todas as nações da Europa.