terça-feira, 23 de setembro de 2014


No combate à democracia dos ricos, construir os Comitês Ativos pelo Voto Nulo!

Estamos, literalmente, às vésperas das eleições gerais de 5 de Outubro. As oscilações fraudulentas das pesquisas dos “institutos de opinião” montadas em parceria com a mídia venal refletem as manipulações que a burguesia faz da vontade popular para impor seus interesses políticos e econômicos no circo eleitoral da democracia dos ricos. Os últimos levantamentos, mantendo Dilma estabilizada na frente, reduzindo o crescimento de Marina Silva e inflando novamente Aécio Neves, refletem justamente o objetivo de levar a eleição para um segundo turno extremamente equilibrado, como a LBI caracterizou já no início de 2014. No returno, a “nova e velha direita” (PSB e PSDB) se unirão contra a frente popular comandada pelo PT em um contexto onde o Tucanato tenha um peso eleitoral minimamente respeitável para “negociar” a adesão à candidatura de Marina. Estariam com força unidos no “Todos contra Dilma”, incluindo nesta empreitada reacionária figuras sinistras como o facínora Joaquim Barbosa, executor do julgamento da farsa do “mensalão” no STF contra o PT, em um ambiente propício para os donos do capital arrancarem compromissos antipopulares dos dois lados da contenda. O “escândalo” fabricado pela Revista Veja em torno dos desvios milionários na Petrobras pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa (que vinha operando desde FHC) está em compasso de espera, aguardando apenas o momento certo para haver a “quebra do sigilo” sob os holofotes da mídia “murdochiana” no segundo turno. Este “banho-maria” demonstra que tem muito “jogo para ser jogado” neste campeonato onde os candidatos a gerentes burgueses se esmeram para se credenciarem como os melhores operadores dos negócios da classe dominante a frente de seu Estado. Este é o verdadeiro sentido da disputa bilionária que vemos nas eleições presidenciais e nos estados da federação, onde os interesses dos trabalhadores serão duramente atacados “ganhe quem ganhe” ao final do embate, como a própria Dilma declarou na entrevista ao Bom Dia Brasil (Rede Globo) desta semana, dizendo que caso eleita irá reduzir os subsídios para garantir emprego e os gastos públicos com investimentos como exigem os rentistas e o imperialismo ianque, fazendo de sua contenda com Marina e Aécio apenas lances da demagogia eleitoral própria do “jogo” da enganação contra o povo explorado.

A encarniçada disputa intraburguesa praticamente anulou a campanha das candidaturas de “esquerda” (PSOL, PSTU, PCB e PCO) que não estão integradas diretamente à frente popular encabeçada pelo PT. O segundo turno dentro do primeiro, com o PT recorrendo à chantagem do “voto útil” contra Marina já em 05 de Outubro esmagou os espaços da dividida “Frente de Esquerda” (FE). Não por acaso, afora as participações de Luciana Genro nos debates televisivos galgando residualmente a simpatia de setores da pequena-burguesia “ética”, estas candidaturas de conjunto não despertaram nenhum deslocamento progressista no eleitorado. Este desempenho raquítico da “esquerda eleitoral” se deve justamente ao fato que as manifestações do ano passado não tiveram qualquer corte de classe, proletário e, portanto, não fortaleceram eleitoralmente a FE como sonhavam seus membros, juntos ou separados. Ao contrário, as “Jornadas de Junho” expressaram a “indignação” da pequena burguesia com a precariedade dos serviços estatais, mas sem ter a classe operária como vanguarda da luta contra o modo de produção capitalista, abrindo espaço inclusive para o crescimento da direita e do fascismo. Toda a “herança” das tão festejadas “Jornadas” caiu no colo de Marina Silva e sua “nova política” burguesa, servindo como combustível para derrotar Dilma no lastro de tendências políticas direitistas. As “Jornadas” foram um protesto difuso contra o regime político e seus males, muitas vezes identificando apenas o fatigado governo central do PT e seus aliados oligárquicos (Cabral no Rio) como responsáveis pelas mazelas oriundas do próprio sistema capitalista. O resultado é que a “voz das ruas” engordou o “voto na urna” de Marina e não dos apologistas de “esquerda” das Jornadas, que sequer devem chegar a 1% dos votos na disputa presidencial! Não por acaso, muitas vozes desiludidas deste espectro político começam agora a lamentar a divisão da FE para justificar seu fracasso, quando tal conclusão não passa de uma cortina de fumaça para quem não pode explicar que as “Jornadas de Junho” favoreceram a “nova direita” que patrocina o discurso contra os partidos “vermelhos” e a revolução “comunista”!

Justamente neste mesmo período tiveram timidamente início as campanhas salariais dos trabalhadores dos correios e bancários. Os primeiros, sob a direção da FENTECT, um condomínio sindical cutista que vai do PCO até a Articulação, tem sua luta fragmentada por conta das divisões da burocracia sindical “chapa branca” (CTB) e devem ser derrotados em uma greve dividida como foi no ano passado. Nesta categoria o suposto peso da “esquerda” (Causa Operária) não faz nenhuma diferença, já que o tom economicista vulgar da campanha salarial em busca de migalhas percentuais é o mesmo, com o governo oferecendo apenas 6,5% de reajuste. Os bancários iniciarão sua greve no dia 30 de setembro, às vésperas do primeiro turno. Sem dúvida, a burocracia cutista da CONTRAF vai usar a paralisação para vincular a candidatura de Marina aos “banqueiros”, particularmente ao Itaú de Roberto e Neca Setúbal. Seu objetivo é desgastar a postulante do PSB em favor de Dilma. Cinicamente, as direções sindicais governistas seguem o discurso do comando da campanha eleitoral petista e encobrem que a “gerentona” é aliada dos rentistas e seu governo garantiu ganhos bilionários ao Bradesco, Itaú, HSBC e aos tubarões da Fenaban. Ligar a luta direta dos trabalhadores por suas reivindicações mais imediatas (salário, emprego, moradia, conquistas sociais) à denúncia do circo eleitoral da democracia dos ricos é o papel dos sindicalistas revolucionários, inclusive militando em favor da radicalização dos enfrentamentos com o Estado burguês e o governo de plantão durante as greves.

Como leninistas, não temos dúvidas que a disputa eleitoral levará milhões a participarem do circo da urna “roubotrônica”, mesmo que este sirva para mantê-los como escravos modernos. Este regime político representa a Ditadura do Capital, é o que melhor serve para enganar o povo explorado porque o escraviza no terreno da consciência e da ideologia, mantendo os laços econômicos capitalistas vigentes que engordam os bolsos da classe dominante. Esta realidade se reforça porque a frente popular comandada pelo PT utiliza a “chantagem” do fim da política de “compensações sociais” por parte de Marina e do PSDB para forçar os setores populares mais pobres a engordar seu projeto eleitoral. Ao mesmo tempo, cooptou desde o primeiro mandato de Lula as direções sindicais que comandam importantes categorias para manter a luta de classes em um nível despolitizado e com pequena intensidade, a fim de garantir a estabilidade social tão necessária ao regime político burguês em um pacto social implícito sustentado pela CUT, UNE e MST. Como alternativa, a “nova direita” prega o fim da “velha política” corrupta tão rechaçada pela população através de um novo engodo: um governo dos “melhores” alinhado ao imperialismo ianque para retomar os ataques aos trabalhadores. A viabilidade desta operação política com a possível vitória de Marina (o que ainda não é certo, já que a burguesia não bateu o martelo no lance final do leilão eleitoral) tem como base o retrocesso na consciência de classe dos trabalhadores desde a década de 90, com o fim da URSS, a queda do Muro de Berlim e cooptação da frente popular brasileira e o reformismo de conjunto ao projeto de gerenciar o Estado burguês sem traumas. Manter a bandeira da Ditadura do Proletariado frente a este cenário adverso, postura de não foi levantada nem mesmo pelo PCB e o PCO que se dizem “comunistas” é parte deste desafio. Estes revisionistas do marxismo preferem defender o “Poder Popular” dentro do capitalismo e dissolução da PM pelos órgãos do próprio Estado burguês a reivindicar o armamento dos trabalhadores para destruir o aparato repressivo e edificar um poder de novo tipo sob os escombros da atual sociedade capitalista!

Cabe aos comunistas revolucionários oporem-se decididamente a esta tendência reacionária em curso. No combate à democracia dos ricos e suas candidaturas à esquerda e à direita, lutamos para construir os Comitês Ativos pelo Voto Nulo em todo o país! Estes organismos de frente única devem se estruturar para atuarem nos dois turnos eleitorais e também para intervir tanto nas lutas em curso, nas campanhas salariais (químicos e metalúrgicos ainda vão entrar em cena) e nos embates diretos da classe, como foi a luta por Moradia no centro de São Paulo, que no seu combate uniu PT (Haddad) e PSDB (Alckmin) ou mesmo contra a falta de água no Nordeste e Sudeste. Os Comitês Ativos pelo Voto Nulo devem organizar ações unitárias inclusive com correntes políticas que defendem o “Não Voto” ou o “Boicote Eleitoral”, mas delimitando-se com a despolitização e apartidarismo que muitos grupos anarquistas reivindicam. Esta dura tarefa militante deve ser desenvolvida com afinco durante o próximo mês de Outubro. Os genuínos trotskistas sabem das dificuldades de levá-la adiante, ainda mais em um quadro de recuo das lutas e de polarização política pela direita! Mas como nos legou Trotsky é preciso saber nadar contra a maré para construir o Partido Revolucionário! Em grandes parcelas do povo trabalhador há um sentimento de “não votar em ninguém”, que “todos os políticos são corruptos e vendidos”. Os comunistas devem se apoiar nesse sentimento latente dos explorados da cidade e do campo contra o conjunto do regime político burguês para politizá-lo no sentido da revolução proletária e de um programa anticapitalista, para colocar abaixo o conjunto das instituições carcomidas da democracia dos ricos!