segunda-feira, 29 de setembro de 2014


Dilma, Marina e Aécio se unem contra o “direito ao aborto” no circo eleitoral. Luta contra a criminalização e pelo atendimento público para a mulher trabalhadora é um combate de classe e não de gênero, como advogam os reformistas do PSOL e PSTU!

Neste 28 de setembro foi celebrado o dia latino-americano e caribenho de luta pela legalização do aborto. É sintomático que esta data ocorra em meio a disputa das eleições presidenciais brasileira e os principais candidatos burgueses (Dilma, Marina e Aécio), ladeados pelos representantes do partidos nanicos reacionários se perfilem contra o “direito ao aborto” enquanto Luciana Genro (PSOL) e os demais candidatos da “esquerda” (PSTU, PCO e PCB) colocam esta questão como um simples “luta de gênero”. O mais grave é que este “debate” é traficado no circo eleitoral de forma totalmente marginal enquanto os noticiários de TV anunciaram que mais duas trabalhadoras morreram ao tentar fazer aborto sem as mais elementares condições higiênicas. Nessa empreitada, a reação burguesa conta com o apoio de Heloísa Helena, cristã e devota da Virgem Maria e representante do REDE de Marina Silva, que é ícone da cruzada burguesa reacionária contra os direitos democráticos das mulheres exercerem sua maternidade como e quando lhes convier, sem qualquer interferência do Estado. O mais escandaloso é que mesmo com todas suas posições aberrantes e sua aliança com Marina Silva, Heloísa foi chamada pelo PSTU para compor uma “frente classista” como candidata Senadora em Maceió! Enquanto a justiça burguesa e a Igreja Católica se unem ao governo da frente popular para defender a criminalização do aborto, as mulheres trabalhadoras sofrem com o desamparo à saúde pública, pelas perseguições do moralismo cristão-burguês do Estado capitalista que introduz a polícia na vida íntima da mulher, forçando-lhe, sob pena de prisão, a conhecer os “prazeres da maternidade”. Nega-se às mulheres trabalhadoras o direito democrático de disporem do seu corpo e de sua liberdade sexual, controlada pela família e Estado burguês.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil, 31% das gestações acabam em aborto. Anualmente, portanto, ocorre aproximadamente um milhão de abortos, espontâneos e inseguros, com uma taxa de 3,7 abortos para cada cem mulheres de 15 a 49 anos. É uma verdadeira carnificina já que os abortos admitidos pela legislação no país são por razões médicas e legais, conforme previsto no artigo 128 do Código Penal que trata de risco de morte para a mulher e de gestação, fruto de estupro. Esta é a democracia da desigualdade. Enquanto as filhas da classe média e da burguesia recorrem, à sombra da legislação hipócrita, às clínicas “clandestinas” sofisticadas com inteira segurança e higiene, as mulheres do proletariado sujeitam-se aos abatedouros de carne humana, já que abortam sem qualquer segurança ou auxílio profissional e em péssimas condições higiênicas, elevando as cifras de mutilações e complicações como perfurações uterinas, esterilidade, histerectomia e morte materna. Esta situação monstruosa é mais um exemplo que revela a farsa do chamado Estado democrático de Direito e sua democracia farsante a serviço dos ricos. Afinal, como dizia Lênin, toda classe dominante necessita, para garantir sua dominação, de duas funções básicas: a do carrasco, isto é, a repressão, e a do sacerdote, isto é, a ideologia. O Estado burguês, portanto, com suas instituições é um instrumento da violência organizada para manter a exploração da classe operária pelo capital.

Para combater essa realidade é preciso levantar um programa que defenda: salário igual para trabalho igual, descriminalização do aborto e direito universal sem qualquer restrição a todas as mulheres que queiram fazê-lo, realização do aborto com acesso gratuito e garantido pelo Estado nos hospitais da rede pública para as mulheres trabalhadoras, assim como o pleno direito de uso de preservativos, anticoncepcionais e pílulas do dia seguinte, distribuídos gratuitamente pelo Estado. Aposentadorias custeadas pelo Estado para donas de casa e empregadas domésticas. Criação de creches, lavanderias, restaurantes públicos e gratuitos próximos aos locais de trabalho, estudo e moradias. A erradicação completa da opressão social sobre a metade feminina do gênero humano requer a revolução socialista, liquidando o modo de produção capitalista e sua barbárie que usa o fantasma da crise para atacar as conquistas das trabalhadoras e seus companheiros de classe!

Para se opor à investida reacionária da Igreja Católica e à capitulação vergonhosa dos reformistas como Heloísa Helena e os setores que se dizem “progressistas” do governo Dilma, mas não desejam se indispor com os arquirreacionários representantes da classe dominante que sustentam a gestão burguesa de Dilma Rousseff, é necessário compreender que a luta pela descriminalização e legalização do aborto, tornando-o livre, gratuito e incondicional, soma-se a tantas outras reivindicações de caráter democrático dos trabalhadores, mas cuja realização é impossível nos marcos da senil democracia dos países atrasados. Desse ponto de vista, portanto, a defesa do aborto livre, legal e gratuito para as mulheres trabalhadoras deve ligar-se indissoluvelmente à destruição do regime capitalista e a superação de suas podres instituições. O fim da opressão feminina depende da capacidade da classe operária, mobilizada de forma centralizada e com seus próprios métodos de luta, liquidar o Estado burguês e sua exploração capitalista como parte da luta pela revolução socialista.

A luta pela libertação da mulher da opressão do machismo capitalista pressupõe um combate sem tréguas a todas as ilusões no movimento das mulheres trabalhadoras no Estado burguês, suas leis e seu aparato repressivo, guardião da ordem social justificada pela ideologia burguesa e o machismo que dela faz parte. Toda saída para o problema da opressão feminina por dentro da democracia burguesa, como defendem o reformismo e o revisionismo do trotskismo, conduz à divisão do proletariado entre gêneros distintos, ao recrudescimento e ampliação do aparato repressivo estatal contra os trabalhadores. Em outras palavras, o feminismo burguês é contrarrevolucionário porque divide o proletariado, enfraquece sua luta e fortalece a repressão de seus inimigos de classe. Para combater o governo Dilma e colocar abaixo o modo de produção capitalista é necessário construir um movimento operário feminino classista que coloque a mulher trabalhadora como vanguarda da luta sem quartel contra o regime opressor dos homens e mulheres burguesas, representado neste momento pelo governo do PT. Trata-se da unidade do conjunto da classe trabalhadora sob um programa revolucionário para derrotar a barbárie capitalista.