Estabilidade nas pesquisas eleitorais: “Institutos” retratam
o impasse da própria burguesia nacional
As últimas pesquisas eleitorais, pelo menos dos principais “institutos”,
permaneceram quase estáticas às vésperas da votação nacional marcada para o
próximo 05 de outubro. Após a “avalanche” Marina que até ameaçou definir a
eleição a seu favor já no primeiro turno, o quadro político se estabilizou,
praticamente definindo um segundo turno muito “apertado” entre o PT e o PSB.
Também ocorreu uma recuperação “honrosa” do candidato Tucano Aécio, que
ameaçava desabar e junto implodir o próprio PSDB. A tendência hegemônica do
momento aponta para pequena diferença entre o segundo e terceiro colocados,
garantindo Dilma como vencedora do primeiro turno, o que significa a priori uma
enorme vantagem para o PT, já que desde 1989 todos os candidatos que triunfaram
na primeira volta asseguraram sua vaga definitiva no Planalto. Porém, a
estabilidade das pesquisas fraudadas, que marotamente traficam qualquer
resultado pelas elásticas “margens de erro”, reflete uma situação de equilíbrio
de forças no campo da própria burguesia nacional. As três principais
candidaturas burguesas, PT, PSB e PSDB, repartem quase na mesma proporção das
pesquisas o apoio político obtido entre as classes dominantes do país. Como neste
regime político vigente os “principais eleitores” são na verdade as oligarquias
capitalistas, seja através do financiamento de campanha ou mesmo pelo peso
político regional que detém, estas eleições serão definidas não pelo voto
popular, mas por uma combinação de fatores inerentes ao processo de acumulação
privada de capital. Os rentistas e o setor financeiro se queixam do “intervencionismo” estatal do
PT, o agronegócio receia as ligações de Marina com os produtores rurais ianques
e a burguesia industrial não confia na capacidade dos Tucanos conterem o
movimento operário. No impasse político tupiniquim a última palavra pode mesmo
ser dada pelo imperialismo, que sinalizou com a necessidade de por um fim ao
ciclo histórico dos governos da Frente Popular, diante do esgotamento econômico do “milagre petista”. Por outro lado, a esquerda
revisionista agora começa a lamentar sua fragmentação nacional nestas eleições,
posto que percebeu que todos os seus votos somados não alcançarão a marca de um
por cento na corrida presidencial. Desde os grupos mais “radicais” como o MNN
passando pelo PCO até chegar ao neorreformista PCB, reafirmam a necessidade de
se reconstruir a Frente de Esquerda, ainda que permaneçam defendendo um
programa que legitima a farsa da democracia dos ricos. O PSTU, por exemplo,
maior organização revisionista no movimento sindical, sequer disputa com
chances de eleição uma única cadeira no parlamento, admitindo até coligar com o
PSB/REDE, como foi o caso concreto em Alagoas. Mas, diante da profunda
polarização interburguesa que se avizinha entre o PT e PSB no segundo turno, os
Marxistas Revolucionários não podem ficar a reboque político da inércia da
esquerda revisionista, é preciso colocar o movimento de massas em ação direta e
na rota de choque frontal com este regime bastardo.
O favoritismo absoluto de Dilma, candidatura que ainda conta
com o apoio das principais frações burguesas nacionais, foi profundamente
abalado com a entrada direta no cenário eleitoral do Departamento de Estado dos
EUA através da operação que resultou na morte do ex-governador Eduardo Campos.
O fato da CIA ter voltado a “operar” criminalmente no Brasil, eliminando
fisicamente um político burguês influente, revela a importância política destas
eleições para os interesses dos EUA nesta região do planeta. No quadro de uma
certa divisão das classes dominantes nacionais, gerada principalmente pela
fadiga de três gerências petistas consecutivas, o governo Obama decidiu por
intervir diretamente no processo através da candidatura Marina apesar de suas
imensas debilidades políticas.
A “onda verde” (impulsionada em aliança com a mídia “murdochiana”) que colocou Marina na dianteira de Dilma, foi parcialmente contida por “batalhões de grosso calibre” da burguesia nacional temerosa de uma possível perda do controle das concessões estatais por parte das empreiteiras locais. Acontece que a Casa Branca tem grande interesse em ter suas empresas ianques executando os chamados “projetos públicos” no Brasil. A ofensividade petista contra Marina, que a posicionou novamente em segundo lugar nas pesquisas, foi respaldada justamente pelas oligarquias regionais que aguardam uma “melhor definição” do PSB sobre questões estratégicas para o crescimento econômico capitalista.
O retorno de Dilma a uma posição de vitória apertada no segundo turno, segundo os mesmos "institutos" que promoveram sua abrupta queda, concede uma margem temporal de negociação no interior das frações burguesas. Um elemento decisivo para a definição eleitoral das classes dominantes será o nível de integração do PSDB a campanha de Marina no segundo turno. Caso o Tucanato desembarque com todo seu peso social na costura de um governo de coalizão com o PSB, as chances de um triunfo petista se reduzem consideravelmente. A única certeza para o movimento de massas, até o momento, é que o conjunto das alas burguesas estão bem alinhadas no objetivo de recrudescer a ofensiva neoliberal para a próxima etapa política.