Diante das ameaças de bombardeios a Síria: Reafirmamos a
frente única em defesa do regime Assad assim como não assinamos um “cheque em
branco” para Obama atacar o EI
Na noite desta quinta-feira, 18 de setembro, o Senado ianque
aprovou verbas bilionárias para treinar e equipar os “rebeldes” sírios. Na
sequencia Obama anunciou que em breve irá bombardear os jihadistas do Estado
Islâmico (EI) no país. As medidas foram apresentadas como parte do plano da
Casa Branca para barrar o avanço do EI na Síria e no Iraque, mas centralmente
também estão voltadas para combater o governo Assad. O EI foi anteriormente armado
pela CIA para desestabilizar o governo sírio seguindo o mesmo script macabro
imposto na Líbia de Kadaffi. Entretanto, os “fanáticos” jihadistas islâmicos
foram derrotados em sua “missão” pelo exército nacional da Síria, que conta com
amplo apoio popular. Frente ao revés imposto na Síria, o EI acabou recuando
para o Iraque e voltando suas forças contra o debilitado e impopular governo
títere do imperialismo no Iraque. Trata-se de em um típico exemplo de quando o
“feitiço se volta contra o mestre” devido às contradições vivas da luta de
classes, que acabaram por colocar o EI em choque aberto com a marionete imposta
em Bagdá pelos EUA. Esta realidade criou um impasse na Casa Branca. Obama
perdeu o controle sobre o EI e ainda viu o fortalecimento do governo Assad no
último ano. Diante desta nova realidade, o Pentágono voltou a bombardear o EI
no Iraque no mês de agosto e anunciou que iria agir da mesma forma também na
Síria nos próximos dias. Também reafirmou que iria armar outros grupos
“rebeldes moderados” para fustigar o governo Assad e paralelamente deter o
avanço dos jihadistas. Este é o centro do “plano de guerra contra o EI”
anunciado por Obama nas celebrações dos 13 anos do “11 de Setembro”. Diante da
realidade de um conflito multifacetário, a posição dos
Marxistas-Revolucionários é rechaçar o bombardeio imperialista ao território da
Síria, não assinando nenhum “cheque em branco” para Obama atacar o EI. Ao
denunciar a agressão imperialista, no campo militar os trotskistas reafirmam a
frente única com o exército nacional comandado por Bashar Al-Assad contra os
“rebeldes” armados e financiados pela Casa Branca. Os Comunistas Proletários
militam nestas trincheiras de combate com total independência política e
militar das direções burguesas e nacionalistas para forjar uma alternativa
revolucionária de poder dos trabalhadores, guiados por um programa
internacionalista!
Frente a ameaça de uma nova intervenção militar ianque na
Síria, o vice-chanceler do país, Faisal Mekdad, reiterou que qualquer ataque em
território sírio, sob o pretexto de combater o terrorismo, sem a aprovação do
governo nacional, será considerado uma agressão à sua soberania. Al Mekdad
informou que os mesmos países que agora participam da aliança criada contra o
EI (Estados Unidos, seus aliados ocidentais e os países da região, como a
Turquia, a Arábia Saudita e o Qatar), em várias ocasiões financiaram grupos
armados que atuam na Síria. Como se observa, estamos diante de mais uma
ofensiva militar para atacar tanto o governo Assad como o EI. Após a aprovação
de mais apoio aos “rebeldes” sírios no Senado, o secretário de Estado ianque,
John Kerry, reafirmou que Washington não tem planos de coordenar com Damasco
possíveis ataques por ar (bombardeios) contra o EI na Síria: “Não haverá uma coordenação
com a Síria”, ressaltou em entrevista à CBS, concluindo que “Nós não vamos
coordenar, não há um esforço de cooperação. Se Assad nos atacar destruiremos
suas baterias antiaéreas”. O facínora fez esta declaração porque o governo
Assad tem realizado há semanas ataques aéreos contra posições dos “rebeldes”
que incluem as bases do EI em território sírio. Este último proclamou um
Califado sobre os territórios que controlam no Iraque e na Síria. Refletindo
esta realidade de duas frentes de guerra, o porta-voz do Ministério das
Relações Exteriores da Rússia, Alexander Lukashevich declarou que “O presidente
dos Estados Unidos falou diretamente sobre a possibilidade de ataques por parte
das Forças Armadas americanas contra posições do EI na Síria sem o consentimento
do governo legítimo. Essa medida, na ausência de uma decisão do Conselho de
Segurança da ONU, seria um ato de agressão, uma grave violação do direito
internacional”. Desta forma reiterou a posição russa de buscar um acordo
temporário no covil de bandidos das Nações Unidas como o alcançado em torno das
armas químicas no ano passado. Como se observa, não há “unidade de ação” entre
Assad e Obama como proclamam vários grupos revisionistas do trotskismo, com a
LIT e a UIT.
Estes dois bandos morenistas declaram respectivamente: “Não
aos planos imperialistas de atacar a Síria” e “Não aos bombardeios dos EUA no
Iraque e na Síria”. Adotaram esta posição alegando que a ação militar ianque
favoreceria... Assad! Segundo a LIT e a UIT, o EI seria uma criação da CIA e um
aliado de Assad contra a “revolução”, já que os bombardeios atingiriam os
“rebeldes” do ELS!!! Esta tese furada coloca no mesmo campo militar o
imperialismo, o EI e Assad, quando toda as declarações de Obama vão no sentido
de combater Assad e bombardear o EI no Iraque e na Síria, inclusive ameaçando o
governo sírio caso reaja a agressão militar ao território do seu país! Trata-se
de uma cortina de fumaça para justificar a proteção aos “rebeldes” que são
financiados pelas potências imperialistas e que são apresentados como
revolucionários pelos morenistas. Vejamos o que dizem literalmente estes
farsantes. A LIT declara que “O EI, que há muito tempo atua na Síria como a
‘quinta coluna’ da ditadura, pois se dedica a combater os rebeldes e não Al-Assad,
agora também se transformou na ‘quinta coluna” do imperialismo. Não há dúvida
de que estamos diante de uma criatura contrarrevolucionária em todos os
sentidos. A LIT-QI, como manifestamos anteriormente, se opõe aos atuais ataques
aéreos no Iraque e, ao mesmo tempo, rechaça qualquer plano de intervenção
militar (seja qual for sua forma) na Síria” (15/09). No mesmo tom
esquizofrênico, a UIT afirma que “ Agora, Obama anuncia que pretende avançar
com possíveis bombardeios sobre a Síria, inclusive com o aval do ditador Bashar
Al Assad, com o mesmo argumento de ‘luta contra o terrorismo’. Chamamos os
povos do mundo a repudiar esta nova intervenção imperialista. Com a intervenção
e o argumento da ‘luta contra o terrorismo’ o imperialismo pretende acabar com
os dois problemas centrais que tem na zona: a queda do regime de ocupação no
Iraque com um enorme rechaço popular e a existência de uma revolução em curso
na Síria. Para o imperialismo o problema não são as atrocidades do ISIS contra
as minorias. Enquanto o ISIS foi – e segue sendo – um instrumento a serviço do
regime de Bashar Al Assad, para enfrentar pela retaguarda a revolução, Obama
não só não disse nada sobre seus métodos como o alimentou através da Arábia
Saudita e Turquia. Os verdadeiros motivos dos bombardeios imperialistas nada
têm a ver com a luta contra o terrorismo ou a defesa dos povos iraquiano ou
sírio e suas minorias. A intervenção dos Estados Unidos acontece para tentar
evitar o declínio do regime de ocupação no Iraque e para reabilitar o regime
assassino sírio” (UIT, 29/08). Em resumo, para estes canalhas o imperialismo
teria como objetivo ao bombardear a Síria atacar os “rebeldes” aos quais Obama
acaba de anunciar uma verba bilionária para armá-los e treiná-los! Piadas a
parte, a realidade demonstra justamente o contrário: os ataques ao EI e o
armamento aos “rebeldes” do ELS visam justamente incrementar a ofensiva de um
setor “rebelde” que a Casa Branca confia plenamente na luta contra Assad.
Obviamente o EI (que foi armado no passado pela CIA com este objetivo) não está
mais seguindo as ordens do Pentágono e atua segundo suas próprias necessidades
políticas, econômicas e militares.
Não foi a primeira vez e não será a ultima que tal mudança
de posição no tabuleiro político acontece na história. Somente bucéfalos
reformistas ignoram a possibilidade de em “circunstâncias excepcionais”
(pressão da luta de classes, espoliação nacional, guerra de ocupação,
inexistência da URSS), para usar as palavras de Trotsky, grupos anteriormente
financiados pelo imperialismo para combater a URSS na década de 80 e mais
recentemente governos nacionalistas burgueses (como Assad na Síria) se voltarem
circunstancialmente contra seus antigos patrocinadores. A pressão política das
massas e seu sentimento anti-imperialista obrigam as direções islâmicas a
adotarem uma postura “radical” contra alvos imperialistas, mas sem a
consequência de uma luta internacional proletária contra o capitalismo mundial.
Esta foi a trajetória do próprio Hamas na Palestina, criado pela CIA para
combater a OLP, mas que com o passar dos anos se tornou vanguarda da luta
contra o sionismo, enquanto Arafat foi cooptado pelo imperialismo via os
acordos de paz como Oslo. Por isso, essas direções nacionalistas burguesas
oscilam em momentos históricos, ora combatendo os interesses do proletariado,
como no caso da ocupação soviética em 79, ora combatendo o imperialismo, como
na Guerra do Golfo, ou no atual enfrentamento militar com os EUA. Esta
possibilidade teórica, que se transformou em realidade no “11 de Setembro” de
2001, com a guerra do Afeganistão e agora no Iraque. Estas mudanças exigem dos
revolucionários usar o “guia para ação” que é o Marxismo para adotar uma
posição de unidade de ação com estes grupos bárbaros e reacionários que são
nossos adversários políticos, mas que se chocam com as forças do imperialismo,
o principal inimigo dos povos como dizia Lênin.
Por seu turno, os stalinistas representados por vários PCs
pelo mundo afora e grupos revisionistas do trotskismo completamente desorientados
afirmam que o EI é pura e simplesmente uma “criação da CIA” para combater o
governo do Iraque (que seria ligado ao Irã) e Assad. Segundo o PCB, “O ISIS é
uma operação encoberta dos EUA. É uma operação nova e melhor planejada do que o
ataque do 11 de Setembro. É o resultado da estratégia do ‘caos criativo’... A
aliança com o imperialismo contra forças reacionárias e a aliança com forças
reacionárias contra o imperialismo têm de ser severamente condenadas” (06/09).
Em resumo, deveríamos adotar o derrotismo em todos os dois casos. Desta forma,
estes reformistas rompem com o mais elementar do leninismo, que defende a
unidade de ação com forças não revolucionárias quando estas se postam em
confronto com o imperialismo. O PCB despreza o fato de Obama ter ordenado o
ataque a estes grupos islâmicos que foram inclusive treinados e financiados no
passado pela CIA e o Mossad, mas que agora ocupam de forma dispersa o papel de
resistência militar às tropas da Casa Branca. Não temos dúvidas que os grupos
que posteriormente se unificaram em torno do EI foram financiados inicialmente
pelo Pentágono para atuar na Síria como “rebeldes” contra o governo Assad. Os
mesmos que combatem Assad na Síria lutam paralelamente contra o títere
imperialista no Iraque. Na verdade, este patrocínio vem desde que a CIA treinou
e financiou os mujahedins (antecessora do Talebã e da Al Qaeda) no Afeganistão
para combater a frente popular apoiada pela URSS na década de 80. Muitos anos
depois, os mesmo protagonizaram os ataques de 11 de setembro e hoje são
considerados adversários do imperialismo ianque! A dinâmica da mudança dos
“papéis” do Taleban, da Al Qaeda e do próprio EI no tabuleiro da política
mundial e dos interesses do imperialismo é produto direto da própria evolução
da luta de classes, dos desdobramentos sociais do fim da URSS e do tremendo
retrocesso político das organizações frentepopulistas e nacionalistas. Por
isso, refutamos a tese de “colar” mecanicamente a figura política dos talebans
e do EI como uma simples “criação da CIA”. Outro exemplo que podemos usar é o
do Hamas. Este grupo fundamentalista islâmico foi uma “criação da CIA” contra a
influência da OLP na Palestina, que tinha uma orientação política laica e
simpática a URSS. No curso da história e pela intensa polarização política no
região do Oriente Médio, o Hamas, que foi armado pelos EUA com a ajuda de
Israel para se contrapor a Arafat na década de 80, tendo inclusive seu líder
(Sheik Ahmed Yassin) libertado da prisão sionista, acabou assumindo a vanguarda
da luta contra o enclave assassino, a máquina de guerra do imperialismo ianque
na região. Por sua vez, a OLP foi cooptada pela Casa Branca e hoje atua como
polícia de seu próprio povo. Como se observa, houve uma “inversão de papéis”
que só os bucéfalos políticos são incapazes de compreender!
Frente a esta rica realidade da luta de classes, reafirmamos
que na Síria nos mantemos ao lado de Assad e contra o EI, repudiando qualquer
bombardeio imperialista ao país. Diante das ameaças de bombardeios a Síria,
reafirmamos a frente única em defesa do regime Assad assim como não assinamos
um “cheque em branco” para Obama atacar o EI, sendo esta tarefa do povo sírio
que até agora resistiu às investidas dos “rebeldes” financiados pelas potências
capitalistas e as próprias ameaças de bombardeios aéreos no ano passado. Para
derrotar a ofensiva política e militar das potências abutres e de seus aliados
internos é preciso que o proletariado sírio em aliança com seus irmãos de
classe do Oriente Médio se levante em luta contra a investida imperialista na
região, travestida pela retórica de defesa dos “direitos humanos e democracia”.
Neste momento é fundamental estabelecer uma clara frente única
anti-imperialista com as forças populares que apoiam o regime nacionalista
burguês sírio, assim como com o Hezbollah para derrotar a ofensiva sobre o
país. Combatendo nesta trincheira de luta comum, os revolucionários têm
autoridade política para rechaçar inclusive as concessões feitas pelo governo
de Bashar Al-Assad a esses organismos imperialistas que pretendem subjugar o país,
forjando no calor do combate as condições para a construção de uma genuína
alternativa revolucionária as atuais direções burguesas que via de regra tendem
a buscar acordos vergonhosos com a Casa Branca.