Gustavo Vera (“codinome” Sergio Romero): O guru político do
Papa Francisco e a velha teoria do capitalismo com “rosto humano”
Neste final de ano muito se tem falado do papel
“progressista” e até mesmo “revolucionário” que assumiu o Papa Francisco desde
que foi entronado no comando do Vaticano. Considerado inicialmente como um conservador
que teria colaborado inclusive com a ditadura militar argentina, o novo
pontífice foi aos poucos ganhando espaço e simpatia de setores da “esquerda”
domesticada que agora saem a saudar com entusiasmo seu mandato “renovador” e
até mesmo “subversivo” na Igreja Católica. Esta avaliação chegou a seu ápice
nos últimos dias com o papel de primeira grandeza que assumiu no acordo de
reatamento das relações diplomáticas entre Cuba e EUA. Além desta “proeza”,
Bergoglio ganhou os noticiários da grande mídia por condenar a pedofilia na
cúpula do clero, “enfrentar” os setores mais reacionários do Vaticano no Sínodo
dos Bispos da Família em novembro, quando saiu derrotado e se mostrar flexível
com relação a aceitação da homossexualidade entre os fiéis cristãos. O que
poucos sabem é que por trás das ações políticas e midiáticas do Papa Francisco
em sua magnis máxima encontra-se
Gustavo Vera, ex-dirigente trotskista argentino, conhecido entre a esquerda
revolucionária nos anos 1990 pelo codinome de Sergio Romero, quando era um
ácido crítico “ortodoxo” de outras correntes comunistas “principistas” como a
LBI, Liga Espartaquista, IG, acusando-as entre outros “pecados” de serem
organizações pequeno-burguesas, oportunistas e refratárias ao chamado “trabalho
operário”. De verdadeira “encarnação” de Lênin na terra, o pilantra Gustavo
Vera rompeu anos depois com o marxismo, fechou as portas de seu Partido
Bolchevique (PB) e passou a vender seus serviços para o então Cardeal de Buenos
Aires, Jorge Mario Bergoglio. No lastro da atual ascensão do Papa Francisco,
Gustavo primeiro criou uma ONG (La Alameda) especializada em trabalho social
assistencialista com financiamento da Cúria argentina e logo formou um grupo
político (Bem Comum) que o fez legislador portenho (Vereador pela capital
Buenos Aires). Agora, o pupilo do Papa acaba de lançar sua candidatura a chefe
do governo portenho (Prefeito de Buenos Aires) assim como a deputado nacional
(como permite a legislação argentina) mostrando bem que seus “apetites”
políticos são tratados meticulosamente nos jantares íntimos com Francisco no
Vaticano (Ver Foto). Bergoglio e Gustavo desejam construir uma corrente
política internacional de “esquerda” socialdemocrata em defesa da velha teoria
do capitalismo com “rosto humano” e, em sua peregrinação, combatem arduamente o
marxismo e o leninismo, ao melhor estilo Carthago
delenda est. Na verdade, não há nada de novo no que defendem esses
senhores, trata-se da surrada cantilena da “justiça social” como uma forma de
convencer aos explorados de que é possível dentro do capitalismo conviver
harmonicamente as classe sociais desde que haja a “distribuição da riqueza” e
não a destruição revolucionária da burguesia e seu Estado, uma crença
equivalente a ilusão na existência do “paraíso” no reino dos céus!
A dupla de farsantes argentinos (cada um a seu modo) na
verdade não pretende alimentar nenhum movimento de fato contestador e
“progressista” no interior da Igreja como foram de fato as comunidades
eclesiais de base no final da década de 60 (inspiradas nas mudanças
implementadas pelo Papa João XXIII) e que se chocavam abertamente com o poder
do latifúndio, as ditaduras militares e a reação burguesa, muito de seus
seguidores na Igreja Católica inclusive pagando com a vida pela “opção
preferencial pelos pobres”. Longe disto, Bergoglio e Gustavo pretendem
impulsionar um agrupamento político que utilizando esta demagogia social lhes
abra espaço no interior das instituições parlamentares de poder da burguesia,
demarcando pela direita claramente com o comunismo, a revolução e até mesmo com
os governos da centro-esquerda burguesa. Segundo as palavras do Papa, “Terra,
teto e trabalho. É estranho, mas se eu falo disso, o Papa é um comunista. Não
se compreende que o amor pelos pobres é o centro do Evangelho. Terra, casa e
trabalho, aquilo para o qual vocês lutam, são direitos sagrados. Exigir tais
coisas, de fato, não é algo estranho, é a doutrina social da Igreja”. Como
podemos observar, trata-se da velha teoria do capitalismo com “rosto humano” em
contraposição a revolução proletária e a expropriação da burguesia enquanto
classe pela via da violência revolucionária. Os conceitos básicos do marxismo
que o venal Gustavo Vera conhece muito bem e que agora “desconjura” demonstram
que as grandes conquistas operárias e sociais dos países capitalistas centrais
(terra, teto, trabalho) jamais podem ser implementadas nos periféricos não pela
ausência de “justiça social” mas porque estes pertencem a uma cadeia mundial de
divisão das forças produtivas onde seu papel econômico é alimentar as
metrópoles imperiais, com a rapinagem de suas riquezas naturais e também com a
mais-valia do seu proletariado urbano e rural!
Foi na própria Argentina, inicialmente como “chefe
espiritual” da oposição direitista ao governo Kirchner que o Cardeal de Buenos
Aires ganhou prestígio e notoriedade internacional. Sua posterior nomeação
tratou-se de uma grande operação político-ideológica pensada e articulada para
que o Papa Francisco se converta em um eixo de aglutinação da classe dominante
argentina e latino-americana em meio à crise por que passa o governo de
Cristina Kirchner e a centro-esquerda burguesa no continente, uma aposta no
crescimento e fortalecimento da oposição em cuja cabeça estará inapelavelmente
Gustavo Vera e seu agrupamento “Bem Comum”. Lembramos que a LBI fez parte de
uma mesma tendência internacional com o “PB” argentino por cerca de três anos,
quando resolvemos romper publicamente as relações políticas em 1998, em razão
do profundo oportunismo programático de Gustavo Vera travestido de um
“obreirismo ortodoxo”. Naquele período já delimitávamos com este falso
“esquerdismo” que advogava um giro proletário absoluto do partido em detrimento
da formação de quadros dirigentes (incluindo os de origem social pequeno
burguesa), formados no criterioso estudo da teoria do Marxismo Leninismo. Agora
vemos o mesmo “ortodoxo” Gustavo declarando que deve-se seguir o “exemplo” do
Papa Francisco para conquistar uma vaga de deputado nacional na Argentina na
formação de um bloco político burguês “alternativo” ao PRO de Macri, ao
Kirchnerismo e a Frente de Esquerda (PO, PTS, IS)! Alea jacta est! Mas esse corrupto ex-quadro revisionista do
trotskismo que agora virou o guru do Papa Francisco deve ser desmascarado, para
usar a linguagem que lhe é própria nos dias atuais, como mais um “vendilhão do
templo”, que sob as benção de “Deus”, está a serviço de manter intacta a
estrutura fundamental do modo de produção capitalista!
O “exemplo” da trajetória oportunista de Gustavo Vera tem
despertado a simpatia política de alguns “micróbios” revisionistas no Brasil.
Não foram poucos os “rasgados” elogios ao Papa que vieram de próceres da Frente
Popular. Até mesmo uma “auto-crítica” feita pelo jornalista da esquerda
petista, Breno Altman, por ter inicialmente considerado Bergoglio um “moderno
reacionário”. Mas também no campo da “ultra-esquerda” Gustavo Vera tem
granjeado apoio para sua “espetacular guinada”, este é o caso de uma tal LC (costuma
reproduzir artigos do guru papal em sua página do Facebook), que nas últimas
eleições gerais integrou a lista de candidatos do PCO. Não será surpresa que no
interior das fileiras do revisionismo em nosso país apareçam muitos
interessados em se afiliar a corrente internacional que o portenho Gustavo
pretende construir, afinal não faltarão “generosos” recursos financeiros do
Vaticano para esta empreitada. Para os Marxistas Revolucionários, apesar do
enorme retrocesso histórico na consciência das massas, não resta a menor
vacilação ideológica em manter firme a denúncia vigorosa da instituição “paraestatal”
(o Vaticano só é considerado um Estado para benefício das máfias eclesiais que
detém imunidade internacional diplomática) mais reacionária do planeta, assim
como de seu chefe maior: o Papa!