segunda-feira, 29 de dezembro de 2014


Gustavo Vera (“codinome” Sergio Romero): O guru político do Papa Francisco e a velha teoria do capitalismo com “rosto humano”

Neste final de ano muito se tem falado do papel “progressista” e até mesmo “revolucionário” que assumiu o Papa Francisco desde que foi entronado no comando do Vaticano. Considerado inicialmente como um conservador que teria colaborado inclusive com a ditadura militar argentina, o novo pontífice foi aos poucos ganhando espaço e simpatia de setores da “esquerda” domesticada que agora saem a saudar com entusiasmo seu mandato “renovador” e até mesmo “subversivo” na Igreja Católica. Esta avaliação chegou a seu ápice nos últimos dias com o papel de primeira grandeza que assumiu no acordo de reatamento das relações diplomáticas entre Cuba e EUA. Além desta “proeza”, Bergoglio ganhou os noticiários da grande mídia por condenar a pedofilia na cúpula do clero, “enfrentar” os setores mais reacionários do Vaticano no Sínodo dos Bispos da Família em novembro, quando saiu derrotado e se mostrar flexível com relação a aceitação da homossexualidade entre os fiéis cristãos. O que poucos sabem é que por trás das ações políticas e midiáticas do Papa Francisco em sua magnis máxima encontra-se Gustavo Vera, ex-dirigente trotskista argentino, conhecido entre a esquerda revolucionária nos anos 1990 pelo codinome de Sergio Romero, quando era um ácido crítico “ortodoxo” de outras correntes comunistas “principistas” como a LBI, Liga Espartaquista, IG, acusando-as entre outros “pecados” de serem organizações pequeno-burguesas, oportunistas e refratárias ao chamado “trabalho operário”. De verdadeira “encarnação” de Lênin na terra, o pilantra Gustavo Vera rompeu anos depois com o marxismo, fechou as portas de seu Partido Bolchevique (PB) e passou a vender seus serviços para o então Cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio. No lastro da atual ascensão do Papa Francisco, Gustavo primeiro criou uma ONG (La Alameda) especializada em trabalho social assistencialista com financiamento da Cúria argentina e logo formou um grupo político (Bem Comum) que o fez legislador portenho (Vereador pela capital Buenos Aires). Agora, o pupilo do Papa acaba de lançar sua candidatura a chefe do governo portenho (Prefeito de Buenos Aires) assim como a deputado nacional (como permite a legislação argentina) mostrando bem que seus “apetites” políticos são tratados meticulosamente nos jantares íntimos com Francisco no Vaticano (Ver Foto). Bergoglio e Gustavo desejam construir uma corrente política internacional de “esquerda” socialdemocrata em defesa da velha teoria do capitalismo com “rosto humano” e, em sua peregrinação, combatem arduamente o marxismo e o leninismo, ao melhor estilo Carthago delenda est. Na verdade, não há nada de novo no que defendem esses senhores, trata-se da surrada cantilena da “justiça social” como uma forma de convencer aos explorados de que é possível dentro do capitalismo conviver harmonicamente as classe sociais desde que haja a “distribuição da riqueza” e não a destruição revolucionária da burguesia e seu Estado, uma crença equivalente a ilusão na existência do “paraíso” no reino dos céus!

A dupla de farsantes argentinos (cada um a seu modo) na verdade não pretende alimentar nenhum movimento de fato contestador e “progressista” no interior da Igreja como foram de fato as comunidades eclesiais de base no final da década de 60 (inspiradas nas mudanças implementadas pelo Papa João XXIII) e que se chocavam abertamente com o poder do latifúndio, as ditaduras militares e a reação burguesa, muito de seus seguidores na Igreja Católica inclusive pagando com a vida pela “opção preferencial pelos pobres”. Longe disto, Bergoglio e Gustavo pretendem impulsionar um agrupamento político que utilizando esta demagogia social lhes abra espaço no interior das instituições parlamentares de poder da burguesia, demarcando pela direita claramente com o comunismo, a revolução e até mesmo com os governos da centro-esquerda burguesa. Segundo as palavras do Papa, “Terra, teto e trabalho. É estranho, mas se eu falo disso, o Papa é um comunista. Não se compreende que o amor pelos pobres é o centro do Evangelho. Terra, casa e trabalho, aquilo para o qual vocês lutam, são direitos sagrados. Exigir tais coisas, de fato, não é algo estranho, é a doutrina social da Igreja”. Como podemos observar, trata-se da velha teoria do capitalismo com “rosto humano” em contraposição a revolução proletária e a expropriação da burguesia enquanto classe pela via da violência revolucionária. Os conceitos básicos do marxismo que o venal Gustavo Vera conhece muito bem e que agora “desconjura” demonstram que as grandes conquistas operárias e sociais dos países capitalistas centrais (terra, teto, trabalho) jamais podem ser implementadas nos periféricos não pela ausência de “justiça social” mas porque estes pertencem a uma cadeia mundial de divisão das forças produtivas onde seu papel econômico é alimentar as metrópoles imperiais, com a rapinagem de suas riquezas naturais e também com a mais-valia do seu proletariado urbano e rural!

Foi na própria Argentina, inicialmente como “chefe espiritual” da oposição direitista ao governo Kirchner que o Cardeal de Buenos Aires ganhou prestígio e notoriedade internacional. Sua posterior nomeação tratou-se de uma grande operação político-ideológica pensada e articulada para que o Papa Francisco se converta em um eixo de aglutinação da classe dominante argentina e latino-americana em meio à crise por que passa o governo de Cristina Kirchner e a centro-esquerda burguesa no continente, uma aposta no crescimento e fortalecimento da oposição em cuja cabeça estará inapelavelmente Gustavo Vera e seu agrupamento “Bem Comum”. Lembramos que a LBI fez parte de uma mesma tendência internacional com o “PB” argentino por cerca de três anos, quando resolvemos romper publicamente as relações políticas em 1998, em razão do profundo oportunismo programático de Gustavo Vera travestido de um “obreirismo ortodoxo”. Naquele período já delimitávamos com este falso “esquerdismo” que advogava um giro proletário absoluto do partido em detrimento da formação de quadros dirigentes (incluindo os de origem social pequeno burguesa), formados no criterioso estudo da teoria do Marxismo Leninismo. Agora vemos o mesmo “ortodoxo” Gustavo declarando que deve-se seguir o “exemplo” do Papa Francisco para conquistar uma vaga de deputado nacional na Argentina na formação de um bloco político burguês “alternativo” ao PRO de Macri, ao Kirchnerismo e a Frente de Esquerda (PO, PTS, IS)! Alea jacta est! Mas esse corrupto ex-quadro revisionista do trotskismo que agora virou o guru do Papa Francisco deve ser desmascarado, para usar a linguagem que lhe é própria nos dias atuais, como mais um “vendilhão do templo”, que sob as benção de “Deus”, está a serviço de manter intacta a estrutura fundamental do modo de produção capitalista!

O “exemplo” da trajetória oportunista de Gustavo Vera tem despertado a simpatia política de alguns “micróbios” revisionistas no Brasil. Não foram poucos os “rasgados” elogios ao Papa que vieram de próceres da Frente Popular. Até mesmo uma “auto-crítica” feita pelo jornalista da esquerda petista, Breno Altman, por ter inicialmente considerado Bergoglio um “moderno reacionário”. Mas também no campo da “ultra-esquerda” Gustavo Vera tem granjeado apoio para sua “espetacular guinada”, este é o caso de uma tal LC (costuma reproduzir artigos do guru papal em sua página do Facebook), que nas últimas eleições gerais integrou a lista de candidatos do PCO. Não será surpresa que no interior das fileiras do revisionismo em nosso país apareçam muitos interessados em se afiliar a corrente internacional que o portenho Gustavo pretende construir, afinal não faltarão “generosos” recursos financeiros do Vaticano para esta empreitada. Para os Marxistas Revolucionários, apesar do enorme retrocesso histórico na consciência das massas, não resta a menor vacilação ideológica em manter firme a denúncia vigorosa da instituição “paraestatal” (o Vaticano só é considerado um Estado para benefício das máfias eclesiais que detém imunidade internacional diplomática) mais reacionária do planeta, assim como de seu chefe maior: o Papa!