Do fantasma golpista ao governismo envergonhado: Os passos do PCO em seu apoio “crítico” a Frente Popular
Caso algum desavisado se der ao trabalho de ler artigos
do PCO nos últimos dias terá a plena certeza que estamos às vésperas de um
golpe parlamentar da direita contra o governo Dilma Rousseff, do PT. Inúmeras
manchetes no site de Causa Operária não deixam a menor sombra de dúvidas: “As
engrenagens do golpe de estado estão sendo colocadas no lugar”, “A dosimetria
do golpe”, “Justiça está cada vez mais perto do impeachment de Dilma”, “O golpe
no julgamento das contas de campanha eleitoral do PT”, “Golpe de estado ou
democracia: o que quer o imperialismo?”, “O segredo do golpe de Estado é que
ele não se pareça com um” ... Saindo do mundo da fantasia virtual patrocinado
por Causa Operária para legitimar seu apoio envergonhado ao governo da Frente
Popular, a realidade é bastante diferente. Nos últimos dias, Dilma nomeou os
ministros que o imperialismo exigia tendo o diretor do Bradesco Joaquim Levy à
cabeça e atacou a ofensiva do tucanato e do PIG contra seu governo na recente
reunião do Diretório Nacional do PT: “Esses golpistas de hoje têm essa
característica, eles não nos perdoam por estar tanto tempo fora do poder. Temos
que tratar isso com tranquilidade e serenidade, não podemos cair em nenhuma
provocação e não faremos radicalismo gratuito, pois temos a responsabilidade de
governar” (O Globo, 29.11). Em outras palavras, escolhendo um ministério
alinhado com os rentistas e adotando um programa econômico como exige a Casa
Branca, a quarta “gerência” petista se comprometeu em fazer o mandato mais
“agressivo” do ponto de vista neoliberal entre todas as gestões estatais da
Frente Popular, sem “radicalismo gratuito” e “com responsabilidade”, sendo
esta fórmula de estabilização do regime burguês a maior “garantia” política do
PT contra uma eventual tentativa de golpe institucional, como ilusoriamente
teme o PCO. O impressionismo de Causa Operária, que no segundo turno das
eleições presidenciais escondeu o tímido chamado ao voto nulo e optou por uma
campanha agressiva contra o “perigo da direita”, proclamando de fato um voto
“crítico” na candidata do PT, nada mais é que a continuidade de sua política
vergonhosa de apoio a Copa do Mundo da FIFA no Brasil, quando chegou inclusive
a atacar os protestos contra o mundial alegando literalmente que a “campanha
‘Não vai ter Copa’ só beneficia a direita”! Como se observa, estamos diante de
uma corrente camaleônica! Depois de apoiar vários golpes contrarrevolucionários
cujo alvo eram governos adversários do imperialismo (golpe de Yeltsin contra o
PCUS em agosto de 1991 na URSS e, mais recentemente, o assassinato do coronel
Kadaffi pela OTAN na Líbia) agora passou para o extremo oposto: acabou se
tornando um agrupamento satélite da frente popular no Brasil e dos governos da
centro-esquerda burguesa!
Em sua nova fase, Causa Operária “exige” que o PT cumpra seu
programa de campanha eleitoral, somando-se ao coro de algumas correntes da
esquerda do partido que cinicamente se dizem “surpresas” pela escolha de Levy,
Monteiro e Kátia Abreu para o ministério. Segundo o PCO “O governo do PT terá
que atacar duramente os trabalhadores. Os militantes do PT devem exigir que o
PT cumpra o que foi dito na campanha eleitoral, pois já está mostrando o
oposto. É mais uma capitulação do PT diante das imposições do imperialismo”
(Contra o ‘ajuste’, site PCO, 28.11). Será que o PCO acreditou no marqueteiro
João Santana cujas peças publicitárias no horário eleitoral do PT passava a
imagem que só Marina e Aécio eram ligados a banqueiros e rentistas? Será que
Causa Operária acredita em Papai Noel e no “bom velhinho”? Pelo que vem
escrevendo, parece que sim! Vejamos a última. Em artigo intitulado “PT se
divide e intelectuais publicam manifesto contra ministério de Dilma”, o PCO sai
em defesa do “Manifesto em Defesa do Programa Vitorioso nas Urnas” assinado por
Stédile, Frei Betto, Beluzzo e outros cujo texto proclama “A proposta vitoriosa
unificou partidos e movimentos sociais favoráveis à participação popular nas
decisões políticas, à soberania nacional e ao desenvolvimento econômico com
redistribuição de renda e inclusão social. A presidenta Dilma Rousseff ganhou
mais uma chance nas urnas não porque cortejou as forças do rentismo e do atraso
e sim porque movimentos sociais, sindicatos e milhares de militantes
voluntários foram capazes de mostrar, corretamente, a ameaça de regressão com a
vitória da oposição de direita”. Diante do manifesto, Causa Operária declara
“Apesar de ultra moderado tem o valor de mostrar que a situação política
continua polarizada e que mesmo os setores ligados ao PT tendem a reagir, de uma
maneira ou de outra, aos ataques do governo Dilma”. Desta forma, o PCO une-se
aqueles que defendem “o programa vitorioso nas urnas”, um documento cínico cuja
função é encobrir que Dilma esteve desde sempre comprometida com os banqueiros,
latifundiários e as oligarquias reacionárias, setores inclusive que financiaram
a campanha eleitoral como o Bradesco, Odebrecht, Sadia, Amaggi e Friboi! Fingir
que esta não era a realidade fez parte do jogo de cena dos embusteiros petistas
para chantagear o eleitorado a votar no PT e agora serve para declarar que o
quarto mandato de Dilma será um “governo em disputa”! Quando houver nova
disputa eleitoral com a direita será a mesma cantilena, ad infinitum! O PCO se
soma a esse coro de falsários, que inclui a chamada esquerda do PT e os
“intelectuais” que fazem a política de defesa da Frente Popular contra a
esquerda revolucionária, acusando a LBI e outras correntes de “agentes da
direita”! Mais uma vez foi a própria Dilma que respondeu a seus apoiadores na
reunião do Diretório Nacional “Nós temos que tomar as medidas necessárias, sem
rupturas, sem choques, de maneira gradual e eficiente como vem sendo feito.
Temos que estar unidos. Eu preciso do protagonismo de todos vocês e neste
protagonismo destaco o PT. O PT tem maturidade e hoje, depois de todo esse
período sabe que precisamos ter legitimidade e governabilidade” (O Globo,
29.11). Em resumo, Dilma aprofundará os ajustes e os ataques contra os
trabalhadores “com vem sendo feito”! Aqueles que dizem que poderia ser o
contrário não fazem mais que patrocinar, mais uma vez, uma manobra
distracionista para respaldar o governo da Frente Popular, como agora faz o PCO.
Vão passar todo o mandato “pressionando” a “gerentona” petista por um “giro à
esquerda” que não ocorrerá a fim de colocar os trabalhadores a reboque de suas
iniciativas políticas próprias da colaboração de classes criticando apenas os
“exageros” do Planalto! A esse bando se uniu o PCO!
Se alguém tem alguma dúvida de que Causa Operária
caracteriza a quarta gerência do PT como um “governo em disputa” como fazem os lambertistas de “O
Trabalho” deixemos que seu próprio artigo responda “Ao nomear Joaquim Levy,
Dilma capitulou diante da pressão do imperialismo. Ainda resta saber até que
ponto vai a capitulação e em que medida o PT está disposto a abrir mão de seu
próprio programa, nacionalista burguês. Por isso o imperialismo comemora a
nomeação do novo ministro, mas continua temendo a ‘intromissão’ e a
‘interferência’ da presidenta eleita em seu próprio governo" (site PCO, A
avaliação do imperialismo - Está ruim mas está bom. Está bom mas está ruim,
28.11). O PCO parece acreditar que Dilma pode “domar” os apetites neoliberais
de Levy porque considera que o programa do PT seria nacionalista burguês! Nada
mais falso, o PT não adota um programa nacionalista burguês e sim “neoliberal
de esquerda”. Nos últimos 25 anos houve a completa integração do PT a
democracia burguesa e, mais particularmente em 2002, o partido de Lula assumiu
o governo central no país em compromisso direto com o imperialismo ianque e a burguesia
nativa de sustentação da ordem capitalista. O PT passou a ser um representante
de classe do grande capital apesar da sua origem no movimento operário. Nesse
sentido, deixou de ser um canal de expressão (mesmo limitado) da luta da classe
operária contra a burguesia. O pacto social celebrado pela frente popular
durante seu 12 anos de gerência é uma prova inquestionável do que afirmamos.
Impôs o esmagamento das tendências de luta do povo pobre e bloqueou a
radicalização dos combates nas ruas e locais de trabalho, optando-se por
incrementar as políticas sociais “compensatórias” para os setores mais
desorganizados e empobrecidos da sociedade capitalista e repressão a vanguarda
classista enquanto foi garantido o lucro crescente aos bancos. Não houve nenhum
choque com o imperialismo, como tiveram Chávez, Kadaffi ou mesmo o sandinismo.
Não houve uma alternativa política para a classe trabalhadora no segundo turno,
tampouco existiu na candidatura do PT traços mínimos de “nacionalismo burguês”
ou anti-imperialismo. Repetimos que o confronto eleitoral ocorreu integralmente
no campo do neoliberalismo e dos ataques as conquistas sociais do proletariado
arrancadas com muita luta. Por isto, a escolha de Levy tão repudiada por Causa
Operária é necessária para a gerência petista fazer os ajustes exigidos pelo
imperialismo e muito mais. Como já dissemos, o nome Levy não é o problema em
si, poderia ser ministro o patrão Trabuco ou qualquer outro “executivo” do
mercado, a questão fulcral é onde quer chegar o governo da Frente Popular em
seu conjunto, e ao que tudo aponta o norte parece ser Washington. Esvaziar a
parceria comercial com os BRICS e privilegiar os “negócios” com os EUA é uma
das metas da nova gerência petista, desta forma procura uma forte âncora
financeira internacional diante da recessão econômica que se avizinha. Levy
será o timoneiro perfeito para esta guinada.
Em sua tentativa desesperada de provar que o imperialismo
deseja impor um “golpe” contra o governo do PT, Causa Operária declara no
artigo “Golpe de estado ou democracia: o que quer o imperialismo?”: “Muitos
advogam a tese de que o governo do PT serviria perfeitamente aos interesses
imperialistas. Mas se é assim, por que o Brasil era um dos países mais vigiados
pelos EUA, no caso de espionagem revelado por Snowden? Se Dilma serve tão bem
aos interesses imperialistas, a serviço de quem está o PSDB, a revista Veja e
os outros órgãos da imprensa capitalista que há poucas décadas eram fieis
apoiadores do regime militar? Essa tese evidentemente não se sustenta. Assim
como todas as evidências mostram que não se sustenta a tese de que o
imperialismo não quer o golpe”. Aqui Causa Operária confunde conscientemente as
disputas intra-burguesas com um golpe de estado iminente para justificar seu
apoio envergonhado a Frente Popular! Por esta razão, enquanto Causa Operária
fala que “As engrenagens do golpe de estado estão sendo colocadas no lugar”, o
PT se aproxima cada vez mais da Casa Branca! Os Marxistas não negam a
relevância do Brasil no palco político das operações do imperialismo na região,
no entanto as seguidas “gerências” petistas nunca se posicionaram a favor de
nenhum “processo revolucionário” no continente. O único interesse
“revolucionário” dos governos petistas na região parece ser o de “impulsionar”
a covarde burguesia nacional na conquista de “novos mercados” (principalmente
com Lula) e isto desagradou o imperialismo ianque e seu capachos como a Globo e
a Veja, tanto que a NSA-CIA espionou o Planalto. Mas quando a questão é
fornecer suporte político em solidariedade as lutas anti-imperialistas do
continente, o PT logo aconselha os “governos amigos” a terem muita prudência e
jamais romperem com a ordem capitalista, por esta razão é um aliado necessário
da Casa Branca. Não por acaso, na senda capitalista de direita assumida
claramente por Dilma após sua reeleição, ela tratou logo de restabelecer plenas
relações políticas com a Casa Branca, abaladas depois de Washington ter
confessado publicamente que “grampeava” o Planalto. O vice-presidente Joe Biden
telefonou para Dilma convidando a presidente para uma visita aos EUA, o que foi
prontamente atendido pela “gerentona” neoliberal: “Parece-me extremamente
oportuno que comecemos a planejar desde já minha visita de Estado”. Por sua vez
Biden não se fez de rogado: “Fiquei muito feliz com sua vitória. A senhora é
uma grande amiga que temos na América do Sul”, declarou o chacal ianque.
Diferente do que vende o PCO, a falácia de que o governo petista poderia
representar algum contraponto as investidas imperiais na América do Sul é que
não se sustenta diante dos fatos. O papel de “moderador” das lutas sociais em
nosso continente, protagonizado pelo PT, só serve ao governo Obama para
acentuar sua escalada de combate as forças verdadeiramente anti-imperialistas
do Cone Sul. O PCO pode “aguardar sentado” o “golpe da direita” enquanto Dilma
faz o “jogo da direita” contra os trabalhadores porque é justamente do seio do
governo da Frente Popular que estão se gestando as condições para ataques mais
duros ao movimento de massas! Quem avisa são os genuínos trotskistas que
romperam com Causa Operária questionando justamente o apoio entusiasta de Rui
Pimenta e seu séquito ao Golpe de Yelstin na URSS tramado pelo imperialismo
ianque, apresentado como uma “vitória revolucionária” por toda família
revisionista do trotskismo, desde o PSTU até o PCO!