Porque Obama busca a restauração capitalista em Cuba no
momento do maior impasse da ofensiva imperialista?
O anúncio da retomada das relações diplomáticas entre Cuba e
os EUA, além da possibilidade futura do fim do bloqueio comercial que já dura
quase 53 anos, colocou o debate sobre a restauração capitalista na Ilha
operária no centro da pauta política da esquerda "socialista"
mundial. De imediato podemos afirmar como defensistas incondicionais do Estado
Operário Cubano que a iniciativa da Casa Branca está inserida neste momento no
contexto da própria crise que atravessa a ofensiva imperialista contra os
povos, em particular no impasse militar no "Mundo Árabe" após o êxito
inicial contra o regime Kadafista na Líbia. O empatanamento da invasão contra a
Síria e as dificuldades de iniciar a estratégica operação contra o Irã, sem
falar na impossibilidade de "dobrar" a influência militar da Rússia
na região, obrigaram o Império a voltar o "foco" do Departamento de
Estado para Cuba. Na arena diplomática os gestos de "boa vontade" do
governo Obama servem como uma luva para tentar aplacar sua própria crise interna,
desatada a partir de gigantescas mobilizações que tomaram conta dos EUA contra
o massacre do povo negro e oprimido pelo terrorismo racista do Estado policial
que vigora no país das supostas "liberdades individuais". Hoje a
"mão estendida" de Obama para o regime Castrista tem por objetivo
liberar as forças até então represadas de uma restauração capitalista no mesmo
modelo da chamada "via chinesa". Como declarou Obama no discurso que
anunciou sua decisão “Vamos discutir as diferenças diretamente - como vamos
continuar a fazer sobre as questões relacionadas com a democracia e os direitos
humanos em Cuba. Mas eu acredito que podemos fazer mais para apoiar o povo
cubano e promover os nossos valores por meio do engajamento. Afinal de contas,
estes 50 anos têm demonstrado que o isolamento não tem funcionado. É hora de
uma nova abordagem. Eu acredito que as empresas americanas não devem ser
colocadas em desvantagem, e que o aumento do comércio é bom para os americanos
e para os cubanos. Então, vamos facilitar as transações autorizadas entre os
Estados Unidos e Cuba. Instituições financeiras dos EUA serão autorizados a
abrir contas em instituições financeiras cubanas. E vai ser mais fácil para os
exportadores dos EUA para vender bens em Cuba”. O porto de Mariel em Cuba,
construído pela empreiteira Odebrecht e financiado pelo governo Dilma via
empréstimo de 800 milhões do BNDES, tem um papel importante na abertura da Ilha
para produtos do EUA. A principal agenda do governo brasileiro em Cuba é
aprofundar as relações econômicas tendo por base o processo de restauração
capitalista em curso promovido pela burocracia castrista, principalmente após o
último congresso do PCC, em que copia parcialmente a chamada “via chinesa”.
Trata-se da entrega de setores da economia para o controle de grupos
capitalistas, estreitando cada vez mais os vínculos da casta dirigente com
grandes empresas estrangeiras que investem no país, ao mesmo em tempo que se
fragiliza e ataca conquistas históricas da revolução. Na atual conjuntura
internacional o principal ponto de "travamento" da ofensiva imperial
encontra-se no receio de um enfrentamento direto com o poderio militar russo,
herdado do antigo Exército Vermelho. Putin pretendia estender a influência
militar russa para Cuba, com a instalação de uma moderna base naval no Caribe,
seria um duro golpe para o Pentágono e a OTAN que hoje sequer conseguem impor
um recuo de seus adversários no leste europeu. Com uma possível
"cooptação" de Cuba os EUA de uma só tacada podem conseguir neutralizar
a Venezuela e impedir a entrada da Rússia na geopolítica latino-americana. No
mesmo compasso Obama tentará contornar a iminência de uma derrota do partido
Democrata nas eleições presidenciais de 2016, já que os Clinton apoiam
integralmente a "jogada" de aproximação com Cuba, o que não pode ser
dito da política para o Oriente Médio onde Hillary defende uma imediata e
agressiva ação militar contra Assad. Como Trotsquistas não podemos rejeitar
possíveis manobras diplomáticas de um Estado Operário no contexto de um mundo
hegemonizado pelo capital financeiro, reconhecemos o direito de Cuba exigir o
fim do criminoso bloqueio comercial, porém não somos "ingênuos" ao
ponto de desconsiderar os objetivos estratégicos do imperialismo ianque. Como
nos ensinou Lenin que pessoalmente em sua época celebrou vários acordos
comerciais com o imperialismo europeu, é necessário aproveitar as fissuras da
crise imperialista sem "baixar a guarda" de uma política que convoque
permanentemente a mobilização do proletariado mundial contra a atual ofensiva
neoliberal contra os povos. Nesta perspectiva revolucionária não podemos
confiar plenamente na burocracia Castrista, que busca conservar o atual regime
estatal cada vez mais sob as bases de concessões econômicas e políticas. Frente a esta disjuntiva histórica, está colocado a construção do genuíno Partido Operário Revolucionário na Ilha com o objetivo de avançar nas conquistas sociais e do chamado a expropriação da burguesia mundial, se opondo a política de colaboração de classes das direções reformistas, rompendo desta forma o isolamento de Cuba por meio da vitória da revolução proletária em outros recantos do planeta!