PT: 38 ANOS DE UMA TRAJETÓRIA DE COLABORAÇÃO DE CLASSES E UM
INCERTO DESAFIO DE SER ACEITO COMO MAIS UM PARTIDO BURGUÊS NO SEIO DA ELITE
DOMINANTE
Por: Candido Alvarez
Fundador e ex-membro do diretório do PT
O PT acaba de completar 38 anos de existência política em
meio a maior crise de sua história, seu mais profundo "inferno
astral". Como fundador do partido e antigo membro de sua direção, posso
dar um testemunho vivo de toda sua trajetória de colaboração de classes, desde
o ácido debate acerca de sua plataforma fundacional, passando pela disputa das
primeiras eleições em 1982 e a vitória para uma prefeitura de capital em
1985 (Fortaleza), até o esgotamento do ciclo do gerenciamento estatal iniciado
em 2003. A direção petista acabou de realizar um ato cujo tema foi "38 anos de PT: Sonhos, Lutas e Conquistas", exatamente na tentativa de dar uma resposta para a atual crise do
partido e uma possível saída "honrosa" pela via eleitoral. Afirmamos que a resolução do
complexo impasse político do PT ainda está muito distante e o que é pior sem
garantia alguma de um desfecho minimamente razoável para o partido. Não falamos
simplesmente da expectativa dos resultados das eleições de 2016 e 2018, sem
dúvida nenhuma muito importantes para o futuro imediato da legenda, mas sim da
variante histórica de um colapso definitivo do PT caso este não consiga ser
"assimilado" no seio das classes dominantes. Este é o ponto fulcral
da profunda crise política do PT, mesmo gerenciando o Estado burguês a mais de
doze anos em favor das corporações capitalistas, não conseguiu ser admitido no
promíscuo clube dos partidos tradicionais da ordem institucional, e hoje seus
"parceiros" comerciais burgueses são caçados como "marginais e
bandidos perigosos" apesar de representarem uma fatia muito significativa
do PIB nacional. Práticas absolutamente ordinárias e seculares na relação entre
partidos burgueses e grandes empresas, as comissões ou chamadas de "propinas"
pela midiotas, hoje se firmadas pelo governo do PT representam o "maior
delito nacional": O execrável mal da corrupção! Parece que pouco adianta
Lula repetir a exaustão que é um liberal e nunca foi socialista, nem a esquerda
petista e tampouco a direita burguesa lhe dão ouvidos... Entretanto o inusitado
paradoxo que perpassa a "crise existencial" do PT é um produto
acumulado de suas próprias dubiedades ao longo de sua vida política, um partido
que estampa no nome a independência de classe e ao mesmo tempo desde sua origem
rejeita categoricamente os desafios programáticos do proletariado, como o
socialismo revolucionário. Logo nos primeiros debutes eleitorais de 1982,1985 e
1988 descartam alianças políticas com outros partidos burgueses, para em
seguida governarem municípios favorecendo grandes empresas, principalmente no
ramo do transporte urbano. Depois vieram os governos estaduais em 90, 94 e 98,
o "véu" da independência de classe caiu por completo com as gestões
voltadas para o capital em detrimento das demandas populares. Já não poderia
haver a menor sombra de dúvida que a vitória presidencial de 2002 marcaria o
início de um governo central capitalista, lastreado na política de colaboração
de classes. A Frente Popular no comando do Estado Burguês, favorecida pela conjuntura
econômica internacional impulsionou grandes negócios e créditos para a
burguesia tupiniquim, o PT entrou definitivamente no rol dos partidos que
empreendiam campanhas eleitorais milionárias (talvez bilionárias até), mas
passado o ciclo temporal do binômio "crédito/consumo" se vê agora
rejeitado como um partido burguês bastardo e ironicamente responsabilizado por
parte das elites dominantes pela "formação do caráter corrupto dos maus
brasileiros". Sem ainda entender bem o motivo de tanta "traição e ódio"
da parte dos que tanto se beneficiaram com seus governos, o PT promove
seminários e simpósios nestes 38 anos de vida inutilmente buscando uma
explicação "moral" para sua "rejeição parental", quando na
verdade a questão remonta a própria luta de classes!
Candido Alvarez, Secretário-Geral da LBI, ao lado de Antonio
Sombra,
dirigente da TRS, em campanha de rua contra a farsa da "Lava
Jato" |