sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013


Assassinato de Chokri Belaïd desata mobilizações populares na Tunísia
Exatamente dois anos após a queda de Ben Ali, produto da revolta popular que se iniciou na Turquia, ocorreu o assassinato de Chokri Belaïd, dirigente do Partido Unificado dos Democratas Patriotas (PUPD) e da Frente Popular, aprofundando a crise da transição pactuada pela Casa Branca no país. Os protestos populares se multiplicam e nesta sexta-feira, 08/02, a Tunísia é palco de uma greve geral convocada pela UGTT, quando ocorre o funeral de Chokri Belaïd. O primeiro-ministro Hamadi Jebali eleito em 2011 pelo partido islamita Ennahdha, ligado à Irmandade Muçulmana, tenta desesperadamente formar um governo de “tecnocratas” para manter-se em pé até a realização de eleições em meados de 2013, mas até o momento tem fracassado em seu objetivo. Na capital, milhares de pessoas concentraram-se junto ao ministério do Interior no dia do assassinato. A polícia atacou os manifestantes com gás lacrimogêneo e os confrontos vêm se prolongando. Várias sedes do Ennahdha foram destruídas, já que a direção do partido foi a mandante do assassinato através de suas milícias (Ligas de Proteção da Revolução – LPR). A multidão cantava uma mesma canção: “O povo quer a queda do regime”. Enquanto a polícia pôs as pessoas a correrem para abrigos próximos dos prédios debaixo de gritos: “Não a Ennahdha” e “Ghannouchi, assassino!”, referindo-se ao partido islâmico e ao seu líder, que dominam o governo. A Casa Branca acompanha atenta o desenrolar dos acontecimentos e prepara uma alternativa política ao desgastado governo do Ennahdha. Não por acaso, a Tunísia sediará em março o Fórum Social Mundial, onde as ONGs travestidas de esquerda, porém financiadas pelos grupos capitalistas e pela social-democracia europeia, planejam justamente apresentar um “programa” que dê continuidade a fantasiosa “revolução árabe”

Depois dos últimos acontecimentos, o Ennahdha desautorizou o seu primeiro-ministro Jebali e recusou a constituição de um governo de tecnocratas para preparar eleições. Seu vice-presidente, Abdelhamid Jelassi, declarou que “o primeiro-ministro não pediu a opinião do seu partido” e disse que vai “prosseguir as discussões com outros partidos para a formação de um governo de coligação”. A posição do Ennahdha tem o suporte do líder do partido, Rached Ghannouchi, e do Presidente da Tunísia, Moncef Marzouki. Os partidos de esquerda agrupados em torno da Frente Popular responsabilizam o Ennahdha pelo clima de violência e as milícias islâmicas pelo assassinato. Lembremos que, como parte do processo de estabilização do regime, as alternativas burguesas foram montadas para golpear o movimento de massas que se iniciou em janeiro de 2011. A organização islamita tunisiana Ennahdha, reprimida durante o regime de Ben Ali, foi legalizada 30 anos depois de sua fundação. A autorização foi expedida logo após a queda de Ben Ali. O Ennahdha havia sido fundado em 1981 por Rached Ghanuchi inspirado na Irmandade Muçulmana egípcia. No começo da era Ben Ali, em 1987, o Ennahdha era tolerado, obtendo nas eleições legislativas de 1989 dezessete por cento dos votos, mas depois, sofreu uma dura repressão e nos anos 90, 30.000 militantes e simpatizantes foram detidos. Rached Ghanuchi, seu fundador, esteve exilado 20 anos em Londres, de onde voltou para a Tunísia pouco depois da queda de Ben Ali.
Em meados de 2012, o Secretário de Defesa ianque, Leon Panetta, fez uma visita à Tunísia e logo depois ao Egito, dois países que foram palco da (mal) chamada “revolução árabe”. O principal objetivo da viagem foi reforçar a ofensiva política e militar contra a Síria, aproveitando a estreita ligação do governo tunisiano liderado pelo partido islâmico moderado Ennahdha com as monarquias pró-imperialistas do Golfo Pérsico, que apoiam os mercenários do ELS com armas e munições, força “rebelde” pró-imperialista. Panetta saudou o que o Pentágono considerou uma “transição exitosa e relativamente estável para a democracia”. Agora este processo está em xeque. Como já alertamos várias vezes, o imperialismo ianque já vinha há algum tempo planejando tirar de cena seus antigos títeres para garantir a estabilidade política necessária à continuidade de seu domínio mais “legitimado” na região. Dessa forma, Ben Ali e Mubarak apenas foram substituídos por novos gerentes do próprio staff do regime e, no caso do Egito e Tunísia, a continuidade do poder da burguesia foi assegurada pelo principal sustentáculo do Estado capitalista, ou seja, as forças armadas das quais o próprio Mubarak também já fizera parte. Não houve qualquer mudança na base econômica, nem tampouco ruiu a superestrutura do regime político. Em outras palavras, o caráter de classe do Estado continuou o mesmo, uma máquina de opressão e dominação da burguesia nacional e do imperialismo sobre as massas trabalhadoras exploradas. Justamente por isto, as condições de vida e a crise social vem se aprofundando na Tunísia, gerando séria frustração nos trabalhadores.

Frente a esse quadro dramático e com as manifestações em curso é necessário lutar para colocar abaixo o governo burguês de “transição” ligado à Irmandade Muçulmana e formar comitês de autodefesa para barrar a repressão estatal. Para conquistar essas reivindicações, deve-se organizar uma greve geral política, com ocupações de terra e fábrica, chamar ao armamento operário e que essas ações tenham como norte estratégico a luta por um Governo Operário e Camponês. A classe operária é a única força social capaz de enterrar o antigo regime em bancarrota. O proletariado deve se colocar à cabeça das manifestações com um programa revolucionário que supere as manobras tramadas pelos dirigentes da UGTT e os demais partidos burgueses de “esquerda” como o PUPD agrupados na Frente Popular, apontando uma saída independente dos trabalhadores da cidade e do campo. Para as massas que lutaram antes contra Ben Ali e agora estão em oposição nas ruas ao “governo de transição”, cabe construir uma alternativa política independente dos bandos burgueses, forjar um autêntico partido revolucionário marxista e marchar com independência política pela senda do combate de classe pela revolução socialista.