Milhares de pessoas se aglomerando pelas ruas em blocos financiados pelas grandes empresas, escolas de samba que transformaram seus desfiles privados em negócios bilionários, “celebridades” internacionais e “estrelas” globais, muitos corpos "sarados e malhados", todos desfilam pelas telonas de TV ávidos por serem alvos dos holofotes da mídia. Começou a grande festa midiática do carnaval do mercado onde os protagonistas são os negócios que entram e pedem passagem para destruir a legítima e original cultural popular que é a festa de carnaval. Isto em uma etapa de aberto retrocesso ideológico das massas e de contrarrevolução levada a cabo pelo capital e o imperialismo sobre todos os povos do planeta. O carnaval nos moldes atuais é montado para deculturar o país, pois quem dita as regras (e verbas) são os grandes meios de comunicações da mídia “murdochiana” e seus anunciantes. Até mesmo em locais onde a festa de carnaval conservava-se como elemento de resistência à pasteurização da “axé music” como em Recife e Olinda hoje cada vez mais vem se degradando e se adaptando ao processo de mercantilização. Por exemplo, o “Galo da Madrugada” arrasta consigo quase um milhão de pessoas pelas ruas da capital pernambucana sob o patrocínio de várias empresas e com seus camarotes “vip”. O carnaval baiano tornou-se uma festa privada para poucos (mauricinhos e patricinhas) da qual só participa entre as cordas e os truculentos seguranças do bloco quem pode pagar um “abadá” de 300 reais ou mais. Rio e São Paulo concentram todas as atenções do mercado por serem os grandes centros nos quais circulam a maior quantidade de capital e se efetivam os grandes negócios ao lado dos suculentos aportes de patrocínio privado e estatal. Os chamados blocos de carnaval em sua origem desfilavam despretensiosamente de forma desordenada pelas ruas das grandes e pequenas cidades, hoje as escolas de samba são obrigadas a cumprir rígidas normas de organização e disciplina, dando mostras absolutas de sua domesticação imposta principalmente pelos padrões assépticos da Rede Globo.
Não por acaso, o carnaval do mercado abre passagem na Bahia, particularmente em Salvador, onde a autêntica cultura afro deveria ser um elemento de resistência ao lixo cultural imposto pelo imperialismo e sua indústria cultural, é o lugar que o processo de deculturação se expressa com maior virulência e sistematização mercadológica. Os trios elétricos de “axé” na capital baiana com sua “música” pasteurizada e idiotizante resume todo o processo de contrarrevolução cultural por que passa o país há alguns anos. Assim, não é de estranhar que as Ivete Sangalos e Cláudias Leites, as ditas “musas” patricinhas do “axé” abram passagem para “atrações” do esgoto imperialista como a participação de um imbecil e reacionário “rapper” sul-coreano, o Psy, trazido e amparado por multinacionais da estirpe da Samsung, Gillete etc. Na cultura afro, “axé” significa força, ânimo, vida, poder, na capoeira adquire sinônimo de resistência, luta do negro escravo contra a opressão do branco colonizador, hoje lamentavelmente está voltado para identificar todo o lixo cultural despejado sobre as grandes massas com o objetivo de aliena-las cada vez mais com uma música “esbranquiçada” e “filtrada” de seus elementos da cultura negra de enfrentamento com o establishment da elite/classe dominante branca.
O carnaval do mercado abre passagem em “fronts” nos quais ainda resistiam a industrialização da festa popular, ou seja, o carnaval de Recife. Uma festa originariamente espontânea e de saudável caos que se transformou gradativamente em um espetáculo grandioso, ferreamente controlado e armado pela burguesia e o grande capital que interverem no evento impondo caríssimos ingressos e desfiles para camarotes de “vips” destinados à “alta sociedade”. Um espetáculo voltado para aglutinar milhões de pessoas numa única passagem, o que destrói com selvageria os antigos maracatus, os clubes (abertos) carnavalescos, os papangus (desfiles de máscaras), o corso, cabloquinhos etc., os quais tendem a perder espaços a cada carnaval. Além do mais, numa multidão desta envergadura é quase impossível dançar-se o frevo, descaracterizando-o completamente, abrindo brechas inclusive para o “tecno-brega”, típico de um carnaval essencialmente comercial e que perde suas raízes culturais, não sendo estranha até mesmo a presença em destaque da paraense Gaby Amarantos no carnaval pernambucano.
No Ceará o carnaval do mercado abre passagem para as “bundas” de forró eletrônico financiadas pelas oligarquias e por prefeituras locais que dominam impassíveis, em “paredões”, todo o interior do estado e os bairros populares de Fortaleza. Totalmente “pop” e depurado de suas raízes agrárias, este lixo nada tem a ver com o genuíno forró. Até mesmo as comemorações dos cem anos do “Rei do baião”, Luis Gonzaga, na capital cearense foram realizadas pelas famigeradas “bundas” de forró (“Garota Safada”, “Aviões do Forró”, “Lagosta Bronzeada” e por aí vão as aberrações). Basta ver (e ter paciência de suportar o som estridente e irritante) trechos destes shows que na maioria das vezes os “músicos” sempre agradecem enaltecendo as figuras abjetas de políticos locais vinculados às oligarquias mais retrógradas. Paradoxalmente, a vida cotidiana e árdua do sertanejo, muitas vezes balizada pela fome, foi completamente extirpada pelos empresários das bandas em troca de apelos à transformação do corpo da mulher em mercadoria descartável e por um consumismo desenfreado (o importante é ter um carro do ano!), enterrando sordidamente a verdadeira cultura popular da mais autêntica música nordestina.
O carnaval do mercado abre passagem nos dois maiores centros de negócios do país, Rio de Janeiro e São Paulo. Estas capitais são o centro midiático do carnaval “espetáculo” voltado exclusivamente para o mercado e impor “novos” padrões de comportamento e ideologias. Ambos os sambódromos, Rio e São Paulo, se transformaram em um imenso “espetáculo da Broadway”, com luzes, cores, mulheres saradas nuas... Sambas enredos encomendados diretamente por empresas privadas enaltecem a Alemanha, Coreia do Sul (novamente aparece o estúpido Psy), Basf, Aple, Rock in Rio, merchandisings de várias outras multinacionais no sambódromo etc. Em outras palavras, o samba simplesmente foi destruído pelo carnaval empresa que impõe suas normas e exigências para os desfiles. O carnaval ditado pela imagem obriga que vedetes globais desfilem como destaque e exponham a mulher como uma mercadoria a ser consumida e com “alto valor agregado” por ser um “destaque” em milionários carros alegóricos e trios elétricos bancados pelos cofres públicos em associação com grandes empresas. Aqui o carnaval deve ser “consumido” em massa, como bem pode ser visto durante a passagem do bloco “Cordão da Bola Preta”, para o qual afluíram cerca de dois milhões de pessoas numa única vez, provocando no final inúmeros acidentes com a população espremida entre os prédios e obstáculos da Avenida Rio Branco e entorno para virar “cartão postal da cidade maravilhosa” administrada pelo mafioso Eduardo Paes (PMDB). A massificação industrial da folia cumpre objetivos políticos bem claros, o de servir como pano de fundo para o “prestígio” de vereadores e deputados de toda estirpe política, pois esta pode ser a sua imensa “massa votante”!
O carnaval do mercado abre passagem seja na “luxúria” dos sambódromos carioca e paulista, seja nos trios elétricos, nos “paredões” que difundem o lixo cultural, no entanto, todos cumprem a mesma finalidade política de alienar as massas acerca de suas reais condições de vida (ritmos alucinantes de trabalho, arrocho salarial, exploração...), esvaziando completamente de conteúdo a alegria contestatória que deveria ser o carnaval. A mídia “murdochiana”, como produto da contrarrevolução cultural, ao lado de governos burgueses e da frente popular impõe um processo de deculturação, destruindo qualquer resquício de cultura genuinamente popular. Um povo sem cultura é muito mais fácil de ser dominado e explorado pelo capital. É necessário romper com este carnaval midiático, vazio e banal exposto nas telonas de TV. Para os revolucionários é de júbilo brincar o carnaval com o verdadeiro espírito de resistência ao lixo cultural, lutando programaticamente para forjar uma consciência de resistência do proletariado e o que representa o carnaval mercantilizado e fútil dos dias atuais, que está a serviço da submissão colonialista do imperialismo.