Renúncia de Ratzinger: A expressão da disputa “infernal” na mafiosa e reacionária Igreja Católica
Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, acaba de renunciar surpreendendo os seguidores da Igreja Católica pelo mundo. Esta foi a primeira vez que tal fato ocorreu nos últimos 600 anos (anteriormente somente Gregório XXII renunciara em 1415), já que o mandato papal só se encerra com a morte do Pontífice. A renúncia ocorre às vésperas da Jornada Mundial da Juventude, que irá ocorrer em julho no Rio de Janeiro, o que deixa claro que a decisão foi tomada de forma intempestiva, às pressas e por pressão dos acontecimentos. Para além da idade avançada e da alegada doença que o estava acometendo, o real motivo da renúncia do Papa é a disputa de poder institucional dentro do próprio Vaticano, uma verdadeira máfia que usa batina e crucifixo e fala em nome de um “ser divino”. Comenta-se nos bastidores da Igreja Católica, que a renúncia de Ratzinger foi uma “virada de mesa” para ele interferir diretamente na escolha do próximo Papa. É sabido que Bento XVI estava muito enfraquecido depois da prisão de seu mordomo/confidente em maio do ano passado, escândalo logo seguido pela publicação de um livro emblematicamente intitulado de “Vossa Santidade” com vários documentos secretos que o comprometiam. Obviamente estas informações sigilosas vieram de dentro do próprio Vaticano e não por iniciativa de seu funcionário. Depois do ocorrido, a alta cúpula da Igreja Católica foi obrigada a afastar seus assessores mais próximos, assim como seus comandados no Banco do Vaticano, centro de desvio de verbas milionárias, expondo a verdadeira guerra instalada entre as quadrilhas. A desmoralização de Ratzinger estava claramente minando a força dos setores mais conservadores da Igreja Católica, que com sua renúncia desejam entronar um Papa tão ou mais conservador que ele, porém com mais energia e capacidade de ação para impor sua cruzada nesta instituição ultrarreacionária e inimiga visceral dos povos.
Tudo leva a crer em um aprofundamento da guinada conservadora da Igreja Católica que ganhou força com João Paulo II e estava relativamente estancada com Ratzinger em função dos escândalos de corrupção que acometiam seu mandato e das denúncias de crimes de pedofilia que diariamente eram alvos padres e cardeais. O resultado disso foi a perda de fiéis nos últimos anos para as igrejas evangélicas que ganharam espaço entre os setores conservadores. Para reverter esta perspectiva, poderá ser escolhido o ultraconservador Cardeal Angelo Scola, arcebispo de Milão assim como o cardeal austríaco Christoph Schoenborn. Por fora, corre o africano Peter Turkson, de Gana. O papa será “eleito” em um conclave que começa em 1º de março com a participação de 122 cardeais de todos os continentes, onde todo o jogo de poder da Igreja Católica estará envolto na disputa por claros interesses políticos e materiais, muito longe do “reino dos céus”. Segundo fontes da própria Igreja Católica, o principal responsável pelas condições que geraram a renúncia de Bento XVI foi o Cardeal Tarcisio Bertone, o todo-poderoso secretário de Estado do Vaticano. Bertone demitiu ou enviou para o exílio colaboradores diretos de Ratzinger depois que vieram a público denúncias que ele estava envolvido em diversos casos de corrupção no Banco do Vaticano. A demissão fulminante de Ettore Gotti Tedeschi, membro da Opus Dei e presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o Banco Vaticano, é um exemplo da guerra instalada dentro desta máfia de batina. A verdade é que em meio a esta disputa, o Banco Vaticano está sendo submetido desde setembro passado a uma investigação judicial por lavagem de dinheiro via filial italiana do Banco Santander. Dizem estas mesmas fontes que até a morte de Bento XVI estava sendo tramada. Sem dúvida, esses escândalos corriqueiros na vasta “folha corrida” de serviço da Igreja Católica prestados à classe dominante serviram para que sua cúpula decidisse por trocar Ratzinger por um nome mais firme e vigoroso em sua cruzada reacionária, como ele mesmo atestou em sua carta-renúncia: “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino”. Não que o Bento XVI fosse um “anjo”, ao contrário... Ex-militante da juventude hitlerista e o principal artífice contemporâneo da “Congregação para a Doutrina da Fé”, a Santa Inquisição, Ratzinger, foi o responsável por liquidar o “clero progressista” e a Teologia da Libertação.
A Igreja Católica e seu papado historicamente se colocaram em defesa da classe dominante contra os explorados. Desde o declínio do império romano e a transição para a Idade Média, em 313 d.C (Édito de Tolerância, de Constantino), quando o cristianismo passa a ser reconhecido como religião do império, a Igreja começa a crescer a partir das benesses do senhorio feudal (Cruzadas como acumulação de terras, corrupção eclesial etc.) e, posteriormente, no capitalismo (acumulação primitiva de capital), sob a frondosa guarita da burguesia e a exploração do proletariado. Assim, “as enormes riquezas acumuladas pela Igreja, sem qualquer esforço da sua parte, vêm da exploração e da pobreza do povo trabalhador. A riqueza dos arcebispos e bispos, dos conventos e paróquias, a riqueza dos donos das fábricas, e dos comerciantes e dos proprietários de terras, é comprada ao preço de esforços desumanos dos trabalhadores da cidade e do campo. Qual é a única origem das dádivas e dos legados que os ricos senhores fazem à Igreja? Obviamente que não é o trabalho das suas mãos e o suor dos seus rostos, mas a exploração dos trabalhadores que trabalham sem descanso para eles; servos ontem, assalariados hoje...” (Rosa Luxemburgo, O Socialismo e as Igrejas). A Igreja Católica concentra o que há de mais retrógrado e reacionário no capitalismo em sua expressão anticomunista e obscurantista. A perseguição a teólogos “progressistas” é apenas a ponta do iceberg. Na verdade, a mola propulsora da Igreja nos últimos 100 anos tem sido o combate implacável ao socialismo e os Estados operários surgidos após a Revolução de Outubro. Este último elemento é o sustentáculo desta instituição multinacional contrarrevolucionária serviçal do imperialismo.
A renúncia de Bento XVI e a escolha do “novo” Papa responde às necessidades do aprofundamento da reacionária etapa histórica por que atravessamos no planeta, onde o imperialismo ianque deseja liquidar qualquer possibilidade de resistência às novas investidas do grande capital internacional. Lenin já nos ensinava que a luta ideológica da classe operária para romper com o garrote da religião é parte do seu combate para libertar o proletariado da escravidão capitalista. Os revolucionários bolcheviques continuam essa batalha de Lenin, denunciando não só a cruzada reacionária representada pelos papados conservadores, mas delimitando-se também com o chamado “clero progressista”, que trafica, por outra via, um programa social-democrata que representa um obstáculo à libertação dos trabalhadores através da revolução proletária.