Assassinato
de Chokri Belaïd desata mobilizações populares na Tunísia
Exatamente
dois anos após a queda de Ben Ali, produto da revolta popular que se iniciou na
Turquia, ocorreu o assassinato de Chokri Belaïd, dirigente do Partido Unificado
dos Democratas Patriotas (PUPD) e da Frente Popular, aprofundando a crise da
transição pactuada pela Casa Branca no país. Os protestos populares se
multiplicam e nesta sexta-feira, 08/02, a Tunísia é palco de uma greve geral
convocada pela UGTT, quando ocorre o funeral de Chokri Belaïd. O
primeiro-ministro Hamadi Jebali eleito em 2011 pelo partido islamita Ennahdha,
ligado à Irmandade Muçulmana, tenta desesperadamente formar um governo de
“tecnocratas” para manter-se em pé até a realização de eleições em meados de
2013, mas até o momento tem fracassado em seu objetivo. Na capital, milhares de
pessoas concentraram-se junto ao ministério do Interior no dia do assassinato.
A polícia atacou os manifestantes com gás lacrimogêneo e os confrontos vêm se
prolongando. Várias sedes do Ennahdha foram destruídas, já que a direção do
partido foi a mandante do assassinato através de suas milícias (Ligas de
Proteção da Revolução – LPR). A multidão cantava uma mesma canção: “O povo quer
a queda do regime”. Enquanto a polícia pôs as pessoas a correrem para abrigos
próximos dos prédios debaixo de gritos: “Não a Ennahdha” e “Ghannouchi,
assassino!”, referindo-se ao partido islâmico e ao seu líder, que dominam o
governo. A Casa Branca acompanha atenta o desenrolar dos acontecimentos e
prepara uma alternativa política ao desgastado governo do Ennahdha. Não por
acaso, a Tunísia sediará em março o Fórum Social Mundial, onde as ONGs
travestidas de esquerda, porém financiadas pelos grupos capitalistas e pela
social-democracia europeia, planejam justamente apresentar um “programa”
que dê continuidade a fantasiosa “revolução árabe”
Depois dos
últimos acontecimentos, o Ennahdha desautorizou o seu primeiro-ministro Jebali
e recusou a constituição de um governo de tecnocratas para preparar eleições.
Seu vice-presidente, Abdelhamid Jelassi, declarou que “o primeiro-ministro não
pediu a opinião do seu partido” e disse que vai “prosseguir as discussões com
outros partidos para a formação de um governo de coligação”. A posição do
Ennahdha tem o suporte do líder do partido, Rached Ghannouchi, e do Presidente
da Tunísia, Moncef Marzouki. Os partidos de esquerda agrupados em torno da
Frente Popular responsabilizam o Ennahdha pelo clima de violência e as milícias
islâmicas pelo assassinato. Lembremos que, como parte do processo de
estabilização do regime, as alternativas burguesas foram montadas para golpear
o movimento de massas que se iniciou em janeiro de 2011. A organização islamita
tunisiana Ennahdha, reprimida durante o regime de Ben Ali, foi legalizada 30
anos depois de sua fundação. A autorização foi expedida logo após a queda de
Ben Ali. O Ennahdha havia sido fundado em 1981 por Rached Ghanuchi inspirado na
Irmandade Muçulmana egípcia. No começo da era Ben Ali, em 1987, o Ennahdha era
tolerado, obtendo nas eleições legislativas de 1989 dezessete por cento dos
votos, mas depois, sofreu uma dura repressão e nos anos 90, 30.000 militantes e
simpatizantes foram detidos. Rached Ghanuchi, seu fundador, esteve exilado 20
anos em Londres, de onde voltou para a Tunísia pouco depois da queda de Ben
Ali.
Em meados de
2012, o Secretário de Defesa ianque, Leon Panetta, fez uma visita à Tunísia e
logo depois ao Egito, dois países que foram palco da (mal) chamada “revolução
árabe”. O principal objetivo da viagem foi reforçar a ofensiva política e
militar contra a Síria, aproveitando a estreita ligação do governo tunisiano
liderado pelo partido islâmico moderado Ennahdha com as monarquias
pró-imperialistas do Golfo Pérsico, que apoiam os mercenários do ELS com armas
e munições, força “rebelde” pró-imperialista. Panetta saudou o que o Pentágono
considerou uma “transição exitosa e relativamente estável para a democracia”.
Agora este processo está em xeque. Como já alertamos várias vezes, o
imperialismo ianque já vinha há algum tempo planejando tirar de cena seus
antigos títeres para garantir a estabilidade política necessária à continuidade
de seu domínio mais “legitimado” na região. Dessa forma, Ben Ali e Mubarak
apenas foram substituídos por novos gerentes do próprio staff do regime e, no
caso do Egito e Tunísia, a continuidade do poder da burguesia foi assegurada
pelo principal sustentáculo do Estado capitalista, ou seja, as forças armadas
das quais o próprio Mubarak também já fizera parte. Não houve qualquer mudança
na base econômica, nem tampouco ruiu a superestrutura do regime político. Em
outras palavras, o caráter de classe do Estado continuou o mesmo, uma máquina
de opressão e dominação da burguesia nacional e do imperialismo sobre as massas
trabalhadoras exploradas. Justamente por isto, as condições de vida e a crise
social vem se aprofundando na Tunísia, gerando séria frustração nos
trabalhadores.
Frente a esse
quadro dramático e com as manifestações em curso é necessário lutar para
colocar abaixo o governo burguês de “transição” ligado à Irmandade Muçulmana e
formar comitês de autodefesa para barrar a repressão estatal. Para conquistar
essas reivindicações, deve-se organizar uma greve geral política, com ocupações
de terra e fábrica, chamar ao armamento operário e que essas ações tenham como
norte estratégico a luta por um Governo Operário e Camponês. A classe operária
é a única força social capaz de enterrar o antigo regime em bancarrota. O
proletariado deve se colocar à cabeça das manifestações com um programa
revolucionário que supere as manobras tramadas pelos dirigentes da UGTT e os
demais partidos burgueses de “esquerda” como o PUPD agrupados na Frente
Popular, apontando uma saída independente dos trabalhadores da cidade e do
campo. Para as massas que lutaram antes contra Ben Ali e agora estão em
oposição nas ruas ao “governo de transição”, cabe construir uma alternativa
política independente dos bandos burgueses, forjar um autêntico partido
revolucionário marxista e marchar com independência política pela senda do
combate de classe pela revolução socialista.