terça-feira, 23 de outubro de 2018

"VOTAR EM HADDAD PARA EVITAR O RETORNO DO REGIME MILITAR"?, OU A JUSTIFICATIVA ESFARRAPADA DO PSTU QUE CEDEU A ENORME PRESSÃO DEMOCRATIZANTE DA ESQUERDA REFORMISTA TEMEROSA DO CONFRONTO DIRETO ENTRE AS CLASSES SOCIAIS


Em primeiro lugar vamos logo de cara responder a questão colocada no presente artigo, regimes militares nunca foram instaurados por meio de eleições, ao contrário os golpes militares em todas as partes do planeta foram consequências diretas do fracasso de governos nacionalistas burgueses ou de curtas experiências de "poder" da esquerda reformista. São a enorme inconsistência política de governos de colaboração de classes como os de Jango, Allende, Perón e mais recentemente Lugo, Zelaya e Dilma que deram origens a golpes militares clássicos ou os "sofisticados" golpes parlamentares. Portanto se devemos nos preparar para um golpe de estado ou mesmo para o avanço de uma ofensiva fascista paraestatal, o pior caminho é o de corroborar (votar) com um novo governo de Frente Popular de conciliação de classes! A remota possibilidade de uma vitória eleitoral de Haddad, caso confirmada, empossaria um governo débil comprometido com uma "frente democrática" burguesa avalista de um programa neoliberal "light" e apologista de "reformas" supressoras de direitos sociais dos trabalhadores, em resumo uma reedição piorada do que foi a gerência Dilma, com seu fiasco responsável direta pela via de fortalecimento da "onda conservadora" que assolou o país a partir do início de 2015. Dialogando francamente com a vanguarda de esquerda que votará em Haddad para evitar o "mal maior" (retorno de um regime de eliminação das parcas liberdades democráticas arrancadas com muitas lutas), somos obrigados a advertir: apoiar a eleição de um novo governo do PT só irá acelerar a preparação de um verdadeiro golpe militar, que certamente significará uma derrota histórica "cem vezes" pior do que a eleição do fascista tupiniquim nos marcos do atual regime democratizante de exceção, instaurado após o golpe parlamentar de 2016. Como nos ensinou Trotsky e a história da luta de classes plenamente confirmou: "Os  governos de Frente Popular são a ante sala do fascismo", só não entendemos como uma corrente que se reivindica do Trotskismo vota na Frente Popular com a desculpa que "é para evitar o retorno da ditadura militar"... será mesmo que a direção da LIT não conhece o gravíssimo erro dos revisionistas chilenos (SU) que apoiaram Salvador Allende para "evitar o golpe militar" e desta forma levaram a confusão e paralisia para o seio do proletariado, abrindo a senda para o triunfo do gorila fascista Augusto Pinochet.

Para não admitir uma capitulação vergonhosa diante da trajetória de traições do PT, somada a uma brusca virada de posição política diante da conjuntura nacional, a direção do PSTU criou um "axioma" para sua militância: "Não apoiamos o PT, mas votamos 13". O PSTU tem todo o direito de dar o "cavalo de pau" em sua linha política, porém fica "feio" mentir de forma tão descarada...votar em um partido político (muito especialmente em uma eleição presidencial) significa sim!...apoiar este partido em um momento crucial da conjuntura, mesmo que este apoio for acompanhado de toda crítica e restrições programáticas. Os Marxistas Leninistas não nos negamos a estabelecer todo tipo de frente única de ação com a Social Democracia, ou mesmo com partidos burgueses que estejam contra a ofensiva fascista ou se coloquem contrários a iminência de um golpe militar, porém depositar nossos votos em apoio a uma candidatura reformista (que esteve no governo central por mais de uma década) é outra questão totalmente distinta da tática de frente única. Trotsky é cirurgicamente preciso quando analisa a situação alemã de ascensão do nazismo na década de 30 e estabelece uma vigorosa crítica a política de "zigue-zague" do partido comunista stalinizado: "Primeiro rejeitam absurdamente a necessidade de uma frente única com a Social Democracia, acusando-a  de social fascista, para depois capitularem vergonhosamente nas eleições parlamentares aos chefes da II Internacional" (Revolução e contrarrevolução na Alemanha). Parece que a "nova" liderança do PSTU (muito debilitado teoricamente após a cisão de Valério Arcary) perdeu completamente o fio da história, primeiro nega qualquer ofensiva da direita no país (chegando mesmo a se omitir diante do golpe parlamentar sofrido pelo governo do PT), para depois aderir eleitoralmente à uma candidatura que se revela completamente impotente para derrotar a escalada reacionária e neofascista em curso no Brasil.


Mais de 70 anos depois o PSTU parece repetir os titubeantes passos da III Internacional, que sob o comando de Stalin abandonou repentinamente a linha ultraesquerdista em relação a frente única operária para adotar as teses oportunistas do dirigente búlgaro Georgi Dimitrov, que defendia a formação de uma Frente Popular de colaboração de classes em apologia a democracia burguesa. Trotsky que se manteve firme em sua linha de publicitar a independência de classe do proletariado, demoliu teoricamente as duas "vertentes" do stalinismo: seja a esquerdista ou a oportunista. Enquanto que na Alemanha e Espanha o embrião da IV internacional negava a possibilidade de apoio eleitoral e parlamentar a Social Democracia ou aos Republicanos (seja porque no primeiro caso tinham hegemonia no parlamento e no segundo eram o governo central), na Inglaterra criticava um setor de seus "simpatizantes" que rejeitavam a possibilidade de votar no Labour Party, fazendo uma analogia histórica para a atualidade seria como não votar no PT em 1989 e trinta anos depois chancelar a candidatura de Haddad depois de toda experiência acumulada com os quatro governos de Frente Popular. Os Marxistas da LBI foram os primeiros a alertar o movimento de massas acerca da ofensiva imperialista (em suas duas faces: a neoliberal e a fascista) já na década de 90 com a derrubada das conquistas operárias na antiga URSS e mais recentemente, recrudescida, com o ataque militar da OTAN na Líbia que decapitou o governo nacionalista burguês do coronel kadaffi. Se o crescimento social de uma candidatura fascista ganhou esta dimensão no Brasil, mesmo comandada por um boçal energúmeno como Bolsonaro, é porque não se trata apenas de um "projeto eleitoral de ditadura", como quer fazer crer a direção do PSTU. É necessário que as organizações políticas e sindicais da classe operária organizem em frente única a resistência orgânica dos movimentos sociais para derrotar a ofensiva reacionária e neoliberal em plena ascensão no país, e esta tarefa urgente passa bem longe de depositar o "voto criticamente" em Fernando Haddad do PT.