O crescimento das tendências fascistas no Brasil é reflexo
direto da conjuntura mundial contrarrevolucionária aberta com queda do Muro de
Berlim assim como produto da política de colaboração de classes da Frente Popular
que desarmou a resistência operária. O apoio de massas a Bolsonaro cresceu no
lastro da onda reacionária ascendente no país como expressão da própria
conjuntura marcada pela ofensiva mundial política e ideológica do
imperialismo contra os povos desatada com o fim da URSS e que deu um salto de
qualidade com intervenção militar da OTAN na Líbia. Houve claramente um
deslocamento à direita que ganhou força com o golpe parlamentar de 2016,
expressando-se em toda sua envergadura reacionária nestas eleições gerais em
curso. A chamada “onda conservadora” vem em ascendência desde 2014 e com as
manifestações pelo “Fora Dilma” em 2015, ganhando impulso com o “estelionato
eleitoral” provocado pelo governo Dilma (PT). Contradizendo tudo que havia
prometido, a Frente Popular começou a aplicar um duro ajuste neoliberal
desmoralizando sua base social e política. Era o giro de 180º do PT para
descarregar o ônus da crise econômica nas costas dos trabalhadores como exigiam
os rentistas. Sentindo-se fortalecidos com esse cenário, setores da burguesia
com o apoio do imperialismo ianque levaram adiante uma ofensiva reacionária
contra o PT e o conjunto da esquerda. A famigerada Operação Lava Jato foi
montada pelo Departamento do Estado norte-americano para caçar as lideranças
petistas, prender Lula e apoiar a escalada fascista que assistimos com toda
envergadura agora, cujo auge é a votação esmagadora de Bolsonaro no 1º turno,
varrendo inclusive políticos de centro-direita como Alckmin e Marina, além de
eleger uma forte bancada parlamentar e vários governadores que anunciaram apoio
a seu nome no 2º turno. Nesse quadro, os índices da Bolsa subiram e o dólar
caiu em patamares recordes nos últimos dias, indicando que o “Deus Mercado”
praticamente já elegeu o neofascista presidente. Tudo indica que o 2º turno
apenas vai “fechar a fatura” desmoralizando ainda mais o PT que saiu desse 07
de Outubro buscando alianças com a direita neoliberal em nome “derrotar o
fascismo” nas urnas. Para os Marxistas Revolucionários as tarefas colocas vão no sentido contrário: a base política reacionária de Bolsonaro somente pode ser detida com
uma resposta operária por fora do circo eleitoral fraudado.
Nesse movimento a Frente Popular, recorrendo ao discurso da “civilização versus a barbárie” ou “democracia contra o fascismo”, chantageia as organizações de esquerda e o ativismo classista a lhe dar um “cheque em branco”: aceitem todas as alianças, temos que nos unir para derrotar o fascista...nas urnas! Nota-se que não há nenhum chamado a classe operária para entrar em cena, ao contrário, teríamos que dar as mãos aos inimigos históricos dos trabalhadores, assumidos neoliberais e rentistas, como Alckmin, Marina e Meirelles em nome de derrotar a “extrema-direita” pelo voto, legitimando as instituições fraudadas do regime político pseudo-democrático. Nesse engodo, não faltam elogios a conduta desses senhores burgueses, os mesmos que aplicam um plano de guerra contra os trabalhadores nos governos estaduais ou são parceiros do golpista Temer na liquidação de conquistas operárias! Não há um chamado a luta direta e a resistência nas ruas, o PT pede que marchemos unidos com nossos algozes pretensamente “democráticos” para “golpear o fascismo”. Os Trotskistas da LBI denunciam que essa fórmula não é uma “frente única antifascista” e sim uma frente eleitoral neoliberal, uma aliança de colaboração de classes que não avança a resistência do proletariado, por essa razão seria uma profunda capitulação política apoiar Haddad mesmo criticamente, como acena a direção do PSTU. Caso derrote Bolsonaro, o governo de “união nacional” comandado por Haddad aplicará também o ajuste ditado pelo imperialismo. O “detalhe” é que em um quadro de profunda desmoralização do movimento de massas, exponencialmente perigoso e não de luta aberta direta contra um futuro governo abertamente reacionário sob o tacão do ex-capitão do Exército.
A atual ofensiva fascista é produto direto do fracasso dos
governos centrais do PT, que distribuíram farto crédito para uma parcela da
população que também teve acesso a uma certa melhoria dos serviços públicos em
geral. Mas como não deram um único passo na ruptura com o regime, quando a
bolha de crédito internacional gerada pela venda de commodities retraiu com a
desaceleração da economia, a massa despolitizada que hoje é base de Bolsonaro
se virou contra o PT. Lembremos que Dilma, atendendo a exigência dos rentistas,
colocou para comandar nossa economia um banqueiro do Bradesco para iniciar a
retirada de direitos históricos dos trabalhadores. Tanto que no início de 2015,
o “Fora Dilma” logo evoluindo para um fascismo declarado. A resposta do PT foi
sempre a pior possível para cada avanço da direita, desde nomear Temer para
comandar o gabinete político do governo em plena crise e conspiração aberta da
direita. Derrotar o fascismo, pouco tem a ver com “votar bem”, seu triunfo ou
não está relacionado a correlação de forças da luta de classes e não se Bolsonaro vai vencer ou não a corrida ao Planalto. Na verdade, um novo
estelionato eleitoral do PT com Haddad teria proporções ainda mais trágicas!
Muitos ativistas honestos questionam a LBI se agora no 2º
turno deveríamos apoiar “criticamente” o PT para derrotar eleitoralmente
Bolsonaro, denunciando as alianças de Haddad com a direita e proclamando
formalmente a “independência política” diante da Frente Popular. Respondemos
que NÃO! Os Trotskistas estão pela unidade de ação contra o fascismo e não pela
formação de um bloco político comum eleitoral com a Frente Popular, que desarma
a resistência de classe a ascensão de Bolsonaro. Leon Trotsky no artigo “O
perigo fascista ronda a Alemanha” (setembro de 1939) aponta lições importantes
nesse sentido para nós que reivindicamos seu legado. Nosso mestre Bolchevique
nos ensina que “A primeira qualidade de um autêntico partido revolucionário é a
de ser capaz de olhar a realidade frente a frente. Para que a crise social
possa ser conduzida para a revolução proletária, é necessário que, ao lado de
outras condições, se dê um decisivo movimento das classes pequeno burguesas em
direção ao proletariado. Isto daria ao proletariado a chance de se colocar à
frente da nação e liderá-la. As últimas eleições revelam uma tendência na
direção oposta. Sob o impacto da crise, a pequena burguesia tem se inclinado
não pela revolução proletária e sim pela mais radical reação imperialista,
levando consigo, nessa direção, um considerável setor do próprio proletariado.
O gigantesco crescimento do nazismo é resultado de dois fatores: uma profunda
crise social, que desestabiliza o equilíbrio das massas pequeno burguesas, e a carência
de um partido revolucionário que apareça diante das massas populares como uma
reconhecida liderança revolucionária. Se o Partido Comunista é o partido da
esperança revolucionária, o fascismo é, como movimento de massas, o partido da
desesperança contra-revolucionária. Quando a esperança revolucionária abraça as
massas proletárias por completo, isso empurra inevitavelmente no caminho da
revolução consideráveis e crescentes setores da pequeno-burguesia. Precisamente
nesse plano, as eleições oferecem a imagem oposta: a desesperança
contra-revolucionária abraça as massas pequeno burguesas com tanta força que
empurra importantes setores do proletariado… O fascismo na Alemanha tem-se
convertido num perigo real, como uma aguda expressão da posição de desamparo em
que se acha o regime burguês, do papel conservador da social-democracia nesse
regime e da impotência acumulada pelo Partido Comunista para derrubá-lo. Quem
negar isto é cego ou um fanfarrão. É certo que a social-democracia preparou,
com a sua política, o florescimento do fascismo, mas é certo também que o
fascismo supõe uma ameaça mortal primeiramente para a própria
social-democracia, cuja força está indissoluvelmente ligada às formas e métodos
democrático-parlamentares e pacifistas de governo. A crise social produzirá
inevitavelmente uma profunda cisão no seio da social-democracia. A
radicalização das massas afetará os sociais-democratas. Nós teremos que chegar
a acordos, inevitavelmente, com diversas organizações e facções
sociais-democratas contra o fascismo, colocando condições precisas aos seus
líderes, diante dos olhos das massas… Devemos abandonar as declarações vazias
sobre a frente única e voltar à política de frente única tal como ela foi
formulada por Lenin e sempre aplicada pelos bolcheviques em 1917”. A extensa
citação ao texto se faz necessária para apontar as tarefas dos revolucionários
nesse momento no Brasil que poderíamos sintetizar no “Marchar separados e
golpear juntos”, sendo necessário que as massas saiam às ruas para lutar. Longe
de alimentar métodos “democráticos-parlamentares” ou “pacifistas” em nome do
combate o fascismo como apregoa hoje o PT e o PSOL com seu chamado a apoiar uma
frente neoliberal “democrática” contra Bolsonaro, devemos como Trotskistas
chamar as bases do PT, da CUT e seus apoiadores a romper com a política de
colaboração de classes para combater decididamente contra a reação burguesa nas
ruas, fábricas, escolas, construir a Greve Geral! A orientação nos legada pelo fundador da IV
Internacional é justamente o oposto do que vem fazendo o PSOL e todas as
correntes revisionistas do trotskismo abrigadas na legenda. Chamam a unidade
eleitoral contra o fascismo, aceitando a “ampla frente” com os neoliberais e
rentistas, rendem-se a chantagem do PT. Esse é o caminho suicida, o mesmo que
levou ao golpe parlamentar de 2016, a prisão de Lula e a farsa eleitoral porque
não é capaz de enfrentar a reação burguesa com os métodos da classe operária,
pavimentando o sangrento caminho da derrota, como ocorreu no Chile de Allende
ou no Espanha na década de 30, para não falar da Alemanha, como pontuou
Trotsky.
A defesa da LBI em torno da campanha pela “Voto Nulo” neste
2º turno está aliada ao chamado para organizar a resistência ao plano de guerra
que Bolsonaro vai desatar contra os trabalhadores, ao mesmo tempo alertamos que
Haddad também levaria o ajuste neoliberal adiante pavimentando a ofensiva
neofascista exponencialmente, potencializando a extrema direita. Nesse quadro a
esquerda marxista e revolucionária já definiu o Voto Nulo diante das duas
candidaturas (duas alas da burguesia) do capital. Sem firulas, os revisionistas
do trotskismo no interior do PSOL, como a Resistência e afins (Insurgência,
Comuna...) embarcam de cabeça na campanha eleitoral da Frente Popular. A
história cobrará um alto preço por essa decisão, que como Trotsky nos ensinou,
reflete uma “impotência acumulada” diante das necessidades da luta de classes,
de combater o fascismo pela via da Revolução e não da capitulação ao PT, pela
sendo eleitoral!
Fazemos esse alerta porque a direção do PSTU anunciou
oficialmente que “definirá posição sobre voto no 2º turno nos próximos dias”.
Nas redes sociais militantes divulgam que “plenárias partidárias vão discutir a
questão”, alguns defendendo o Voto Nulo, outros o “apoio crítico” em Haddad e
muitos aguardando a posição oficial Morenista. O site G1 informa que “O PSTU,
de Vera Lúcia (55.762 votos no primeiro turno), anunciou que vai discutir até
quarta-feira (10) a posição pública da legenda por meio de plenárias em todos
os estados para debater com a militância. Segundo a assessoria do partido, o
PSTU pode indicar voto e Haddad e se posicionar contra o Bolsonaro, porém, sem
apoio político-programático com o PT. A decisão será anunciada na quinta (11)”.
Como podemos ler, trata-se de uma clara sinalização pública de sua direção do
voto no PT contra Bolsonaro, ainda que com toda uma linguagem de crítica a
Frente Popular e sua política de colaboração, um método distracionista a que
vêm recorrendo também todas as correntes de “esquerda” do PSOL como a Esquerda
Marxista ou mesmo a Resistência, agrupamento oriundo do recente racha do PSTU
que teve como base justamente a negativa do partido de não se opor ao golpe
parlamentar contra Dilma em 2016, com Valério Arcary comandado a debandada para
o guarda-chuva socialdemocrata do PSOL. Como fica claro, não se trata de um
debate menor nas fileiras do PSTU, uma discussão dessa importância pode
provocar um novo racha ou mesmo uma reorientação oficial na linha Morenista no
Brasil. Como a LBI foi a primeira organização política trotskista a sair
publicamente em defesa do “Voto Nulo” e nossas postagens nas redes sociais tem
servido praticamente de um “fórum de debates” sobre as diversas posições que
existem no interior do PSTU resolvemos convidar sua militância a participar
dessa discussão entre aqueles que se reivindicam trotskistas.