domingo, 21 de outubro de 2018

CARTA ABERTA AOS EX-MILITANTES DO CGB (PLP, PFS E CORREIO DOS TRABALHADORES)
*Antonio Luiz, dirigente da Oposição Sindiágua-Ceará e da Tendência Revolucionária Sindica/LBI



Nas últimas três décadas tenho visto com profunda tristeza o processo de degeneração da quase totalidade do que foi um dia uma aguerrida e disciplinada militância comunista que reivindicava o princípio Leninista do centralismo democrático, a independência política e ideológica da classe trabalhadora, a Ditadura do Proletariado e o Socialismo como projeto de sociedade e de desenvolvimento histórico para a humanidade. Nesta semana, na manhã de quinta-feira (18/10), vimos o empresário, João Salame Neto ser preso, em sua mansão em Brasília, pela Operação Partialis da Polícia Federal (PF), sob a acusação de ter desviado mais de 2 milhões de reais de verbas federais destinadas à saúde, em fraudes de licitações quando foi prefeito de Marabá (PA) pelo PROS, entre 2013-2016. Além de Salame Neto também foi decretada a prisão do presidente nacional do PROS, Eurípides Junior, que se encontra foragido. Registre-se que o PROS, uma legenda fisiológica burguesa de aluguel, integra a coligação junto com o PCdoB e PT em apoio à candidatura de Fernando Haddad, representante da Frente Popular. João Salame também responde a outro processo onde é acusado de desviar mais de 14 milhões da previdência dos servidores municipais de Marabá. Atualmente, ele é filiado ao MDB de Temer, era Diretor do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, cargo para o qual foi nomeado em 2016, graças ao apadrinhamento da família Barbalho, e já tinha sido anunciado como futuro Secretário de Saúde de Helder Barbalho (MDB), que disputa o 2º turno com Márcio Miranda (DEM) no Pará.


Essa prisão teria sido somente mais uma operação da PF, não fosse o fato de João Salame Neto ter sido um dos principais dirigentes da mesma organização de esquerda em que militamos nos anos 80 do século passado, o Coletivo Gregório Bezerra (CGB), cuja militância se destacou pela defesa incondicional do Estado Operário Soviético, da revolução proletária e do socialismo. Mas como todas as organizações de matiz ideológica stalinista, o ex-militante do CGB e todas as suas derivações após a vergonhosa capitulação ao petismo já em 1989 (PLP, PFS, Correio dos Trabalhadores) sucumbiram à onda contrarrevolucionária que se propagou pelo mundo com a queda do Muro de Berlim (1989) e a destruição da URSS (1991), entregando-se aos encantos da democracia burguesa, muitos deles ocupando cargos de alto escalão na estrutura do Estado e, como não poderia deixar de ser, mergulhando até o pescoço no mar de corrupção inerente a essa máquina de dominação da burguesia sobre o proletariado.

A prisão de Salame Neto revela o grau de putrefação a que pode chegar todos aqueles que abandonam os princípios do marxismo, a militância revolucionária e a sua tarefa de educar e preparar as massas do povo para a revolução proletária e o socialismo. Mas esse já era um caso perdido, todos nós sabemos. O que me preocupa agora é a conduta política daqueles que ainda se dizem de esquerda (Nelson Vilela, Emiliano Aquino, Fábio Sobral, Arnobio Rocha, Acrísio Sena, Mauro Gurguel, Maurício Campos, Frederico Costa...), mas que continuam atrelados ao petismo e sua Frente Popular de colaboração de classes, mesmo depois de todas as demonstrações de que esse partido é apenas mais uma das alternativas políticas de dominação do grande capital sobre as massas trabalhadoras exploradas.

Atualmente todos esses ex-camaradas, não conheço uma só exceção, estão empenhados na defesa da candidatura burguesa de Fernando Haddad, justificando essa conduta em nome de um mal menor ou porque essa seria a única forma de derrotar a ameaça representada pelo neofascista Jair Bolsonaro. Não restará, a quem quer que tenha abandonado o objetivo socialista e os princípios revolucionários de classe, argumentos para justificar suas traições, mas nenhum deles encontrara amparo no marxismo ou sobreviverá ao exame criterioso da realidade.

Mesmo para quem nunca conheceu um só fundamento a ciência criada por Marx e Engels, a luta de classes já demonstrou nos últimos 80 anos, incluindo a experiência desastrosa dos governos petistas no Brasil, a quem serve a política de colaboração de classes de Frente Popular. Como bem apropriadamente afirmou o revolucionário bolchevique Leon Trotsky, “as Frentes Populares de um lado e o fascismo de outro, são os últimos recursos políticos do imperialismo na luta contra a revolução proletária”.

Isso já seria mais que suficiente para um autêntico marxista revolucionário recusar qualquer compromisso com uma clássica frente popular de conciliação de classes. Mas o que temos diante de nós é um seguidismo cego à candidatura dessa ampla frente democrática antifascista que se formou em torno de Haddad, na qual se incluem representantes das mais corruptas oligarquias burgueses. Nada, absolutamente nada, justifica esse seguidismo a não ser enganar e trair, não as massas mais ignorantes e politicamente atrasadas (desses os neofascistas já estão se encarregando), mas os setores mais organizados, ativos e conscientes da classe trabalhadora.

Hoje mesmo, em plena campanha eleitoral, Haddad já se ajoelhou e elogiou o “bom trabalho” do fascistoíde juiz Sérgio Moro na condução da sua operação Lava Jato, a serviço do imperialismo e dos golpistas.  Na hipótese pouco provável de vitória nessas eleições, o petista Fernando Haddad, que já é atacado pelos seus próprios aliados como fizeram os Ferreira Gomes no Ceará, será ainda mais incapaz de enfrentar e deter os ataques das hordas neofascistas que se voltarão com todas as forças para derrubar um frágil governo dessa frente de conciliação de classes.

Digo isso porque – não se enganem – ao contrário do PT e seus aliados de esquerda (Psol, PSTU, PCO e, incluindo vocês, meus ex-camaradas!), que aguardarão docilmente por mais quatro anos para apresentarem as massas uma nova candidatura de frente popular, os neofascistas lutarão desde o primeiro momento pela derrubada do governo petista. Bolsonaro já deu uma demonstração disso durante o primeiro turno quando afirmou, sob silêncio complacente do TSE, que não aceitaria qualquer outro resultado que não fosse a sua vitória. O candidato neofascista afirmou isso com todas as letras porque sabe que esse processo eleitoral com suas “invioláveis” urnas eletrônicas, contra o qual a esquerda não ousa levantar a mínima suspeita, é um processo viciado e fraudulento. Todavia, aceita a fraude desde que seja em seu favor.

Não poderia dizer com toda certeza, mas creio que até mesmo o velho stalinista Luis Carlos Prestes, tendo em conta suas tradições tenentistas, provavelmente tremaria de vergonha ao ver muitos de seus ex-seguidores avalizando um processo eleitoral tão corrompido quanto esses, não só pela urna eletrônica, mas também pela manipulação das massas pelos meios de comunicação e pelo papel da justiça eleitoral.

Em vez de legitimar essa fraude, o papel dos verdadeiros comunistas é denunciá-la por todos os meios ao seu alcance, dizendo a verdade aos trabalhadores, elevando sua consciência de classes, denunciando tanto o neodesenvolvimentismo neoliberal de Haddad quanto o neofascismo de Bolsonaro como duas alas do capital financeiro, da continuidade e intensificação da exploração capitalista e da retirada de direitos dos trabalhadores.

Dizer que votando em Haddad se derrotará o fascismo é desarmar qualquer espírito de resistência contra a escalada neofascista. Se os governos de Lula e Dilma pavimentaram o caminho para a ascensão de Bolsonaro, um provável governo de Haddad só prepararia o assalto dos neofascista ao poder. A única forma de deter e derrotar o avanço da extrema direita é por meio da luta direta da classe trabalhadora, como greves de ocupação de fábricas, terras e órgãos públicos, a greve geral e a organização, desde já, de comitês de autodefesa antifascista.

Me dirigindo, portanto, àqueles que ainda guardam algum orgulho de sua ex-militância comunista, que ainda se reivindicam de esquerda e não desejam seguir para a vala comum dos traidores do marxismo, da revolução proletária e do socialismo, faço um chamado para que rompam com a política de colaboração de classes e de seguidismo ao PT e à frente popular, defendendo o VOTO NULO nessas eleições, única posição que representa de fato uma independência política e ideológica do proletariado diante das alternativas do imperialismo e da burguesia nacional entreguista.