CARTA ABERTA AOS EX-MILITANTES DO CGB (PLP, PFS E CORREIO DOS
TRABALHADORES)
*Antonio Luiz, dirigente da Oposição Sindiágua-Ceará e da Tendência
Revolucionária Sindica/LBI
Nas últimas três décadas tenho visto com profunda tristeza o
processo de degeneração da quase totalidade do que foi um dia uma aguerrida e
disciplinada militância comunista que reivindicava o princípio Leninista do
centralismo democrático, a independência política e ideológica da classe
trabalhadora, a Ditadura do Proletariado e o Socialismo como projeto de
sociedade e de desenvolvimento histórico para a humanidade. Nesta semana, na
manhã de quinta-feira (18/10), vimos o empresário, João Salame Neto ser preso,
em sua mansão em Brasília, pela Operação Partialis da Polícia Federal (PF), sob
a acusação de ter desviado mais de 2 milhões de reais de verbas federais
destinadas à saúde, em fraudes de licitações quando foi prefeito de Marabá (PA)
pelo PROS, entre 2013-2016. Além de Salame Neto também foi decretada a prisão
do presidente nacional do PROS, Eurípides Junior, que se encontra foragido.
Registre-se que o PROS, uma legenda fisiológica burguesa de aluguel, integra a coligação
junto com o PCdoB e PT em apoio à candidatura de Fernando Haddad, representante
da Frente Popular. João Salame também responde a outro processo onde é acusado
de desviar mais de 14 milhões da previdência dos servidores municipais de
Marabá. Atualmente, ele é filiado ao MDB de Temer, era Diretor do Departamento
de Atenção Básica do Ministério da Saúde, cargo para o qual foi nomeado em
2016, graças ao apadrinhamento da família Barbalho, e já tinha sido anunciado
como futuro Secretário de Saúde de Helder Barbalho (MDB), que disputa o 2º
turno com Márcio Miranda (DEM) no Pará.
A prisão de Salame Neto revela o grau de putrefação a que
pode chegar todos aqueles que abandonam os princípios do marxismo, a militância
revolucionária e a sua tarefa de educar e preparar as massas do povo para a
revolução proletária e o socialismo. Mas esse já era um caso perdido, todos nós
sabemos. O que me preocupa agora é a conduta política daqueles que ainda se
dizem de esquerda (Nelson Vilela, Emiliano Aquino, Fábio Sobral, Arnobio Rocha,
Acrísio Sena, Mauro Gurguel, Maurício Campos, Frederico Costa...), mas que
continuam atrelados ao petismo e sua Frente Popular de colaboração de classes,
mesmo depois de todas as demonstrações de que esse partido é apenas mais uma
das alternativas políticas de dominação do grande capital sobre as massas
trabalhadoras exploradas.
Atualmente todos esses ex-camaradas, não conheço uma só
exceção, estão empenhados na defesa da candidatura burguesa de Fernando Haddad,
justificando essa conduta em nome de um mal menor ou porque essa seria a única
forma de derrotar a ameaça representada pelo neofascista Jair Bolsonaro. Não
restará, a quem quer que tenha abandonado o objetivo socialista e os princípios
revolucionários de classe, argumentos para justificar suas traições, mas nenhum
deles encontrara amparo no marxismo ou sobreviverá ao exame criterioso da
realidade.
Mesmo para quem nunca conheceu um só fundamento a ciência
criada por Marx e Engels, a luta de classes já demonstrou nos últimos 80 anos,
incluindo a experiência desastrosa dos governos petistas no Brasil, a quem
serve a política de colaboração de classes de Frente Popular. Como bem
apropriadamente afirmou o revolucionário bolchevique Leon Trotsky, “as Frentes
Populares de um lado e o fascismo de outro, são os últimos recursos políticos
do imperialismo na luta contra a revolução proletária”.
Isso já seria mais que suficiente para um autêntico marxista
revolucionário recusar qualquer compromisso com uma clássica frente popular de
conciliação de classes. Mas o que temos diante de nós é um seguidismo cego à
candidatura dessa ampla frente democrática antifascista que se formou em torno
de Haddad, na qual se incluem representantes das mais corruptas oligarquias
burgueses. Nada, absolutamente nada, justifica esse seguidismo a não ser
enganar e trair, não as massas mais ignorantes e politicamente atrasadas
(desses os neofascistas já estão se encarregando), mas os setores mais
organizados, ativos e conscientes da classe trabalhadora.
Hoje mesmo, em plena campanha eleitoral, Haddad já se
ajoelhou e elogiou o “bom trabalho” do fascistoíde juiz Sérgio Moro na condução
da sua operação Lava Jato, a serviço do imperialismo e dos golpistas. Na hipótese pouco provável de vitória nessas
eleições, o petista Fernando Haddad, que já é atacado pelos seus próprios
aliados como fizeram os Ferreira Gomes no Ceará, será ainda mais incapaz de
enfrentar e deter os ataques das hordas neofascistas que se voltarão com todas
as forças para derrubar um frágil governo dessa frente de conciliação de
classes.
Digo isso porque – não se enganem – ao contrário do PT e
seus aliados de esquerda (Psol, PSTU, PCO e, incluindo vocês, meus
ex-camaradas!), que aguardarão docilmente por mais quatro anos para
apresentarem as massas uma nova candidatura de frente popular, os neofascistas
lutarão desde o primeiro momento pela derrubada do governo petista. Bolsonaro
já deu uma demonstração disso durante o primeiro turno quando afirmou, sob
silêncio complacente do TSE, que não aceitaria qualquer outro resultado que não
fosse a sua vitória. O candidato neofascista afirmou isso com todas as letras
porque sabe que esse processo eleitoral com suas “invioláveis” urnas
eletrônicas, contra o qual a esquerda não ousa levantar a mínima suspeita, é um
processo viciado e fraudulento. Todavia, aceita a fraude desde que seja em seu
favor.
Não poderia dizer com toda certeza, mas creio que até mesmo
o velho stalinista Luis Carlos Prestes, tendo em conta suas tradições
tenentistas, provavelmente tremaria de vergonha ao ver muitos de seus
ex-seguidores avalizando um processo eleitoral tão corrompido quanto esses, não
só pela urna eletrônica, mas também pela manipulação das massas pelos meios de
comunicação e pelo papel da justiça eleitoral.
Em vez de legitimar essa fraude, o papel dos verdadeiros
comunistas é denunciá-la por todos os meios ao seu alcance, dizendo a verdade
aos trabalhadores, elevando sua consciência de classes, denunciando tanto o neodesenvolvimentismo
neoliberal de Haddad quanto o neofascismo de Bolsonaro como duas alas do
capital financeiro, da continuidade e intensificação da exploração capitalista
e da retirada de direitos dos trabalhadores.
Dizer que votando em Haddad se derrotará o fascismo é
desarmar qualquer espírito de resistência contra a escalada neofascista. Se os
governos de Lula e Dilma pavimentaram o caminho para a ascensão de Bolsonaro,
um provável governo de Haddad só prepararia o assalto dos neofascista ao poder.
A única forma de deter e derrotar o avanço da extrema direita é por meio da
luta direta da classe trabalhadora, como greves de ocupação de fábricas, terras
e órgãos públicos, a greve geral e a organização, desde já, de comitês de
autodefesa antifascista.
Me dirigindo, portanto, àqueles que ainda guardam algum
orgulho de sua ex-militância comunista, que ainda se reivindicam de esquerda e
não desejam seguir para a vala comum dos traidores do marxismo, da revolução
proletária e do socialismo, faço um chamado para que rompam com a política de
colaboração de classes e de seguidismo ao PT e à frente popular, defendendo o
VOTO NULO nessas eleições, única posição que representa de fato uma
independência política e ideológica do proletariado diante das alternativas do
imperialismo e da burguesia nacional entreguista.