"VOTAR EM HADDAD PARA EVITAR O RETORNO DO REGIME
MILITAR"?, OU A JUSTIFICATIVA ESFARRAPADA DO PSTU QUE CEDEU A ENORME
PRESSÃO DEMOCRATIZANTE DA ESQUERDA REFORMISTA TEMEROSA DO CONFRONTO DIRETO
ENTRE AS CLASSES SOCIAIS
Em primeiro lugar vamos logo de cara responder a questão
colocada no presente artigo, regimes militares nunca foram instaurados por meio
de eleições, ao contrário os golpes militares em todas as partes do planeta
foram consequências diretas do fracasso de governos nacionalistas burgueses ou
de curtas experiências de "poder" da esquerda reformista. São a
enorme inconsistência política de governos de colaboração de classes como os de
Jango, Allende, Perón e mais recentemente Lugo, Zelaya e Dilma que deram origens
a golpes militares clássicos ou os "sofisticados" golpes
parlamentares. Portanto se devemos nos preparar para um golpe de estado ou
mesmo para o avanço de uma ofensiva fascista paraestatal, o pior caminho é o de
corroborar (votar) com um novo governo de Frente Popular de conciliação de
classes! A remota possibilidade de uma vitória eleitoral de Haddad, caso
confirmada, empossaria um governo débil comprometido com uma "frente
democrática" burguesa avalista de um programa neoliberal "light"
e apologista de "reformas" supressoras de direitos sociais dos
trabalhadores, em resumo uma reedição piorada do que foi a gerência Dilma, com
seu fiasco responsável direta pela via de fortalecimento da "onda
conservadora" que assolou o país a partir do início de 2015. Dialogando
francamente com a vanguarda de esquerda que votará em Haddad para evitar o
"mal maior" (retorno de um regime de eliminação das parcas liberdades
democráticas arrancadas com muitas lutas), somos obrigados a advertir: apoiar a
eleição de um novo governo do PT só irá acelerar a preparação de um verdadeiro
golpe militar, que certamente significará uma derrota histórica "cem
vezes" pior do que a eleição do fascista tupiniquim nos marcos do atual
regime democratizante de exceção, instaurado após o golpe parlamentar de 2016.
Como nos ensinou Trotsky e a história da luta de classes plenamente confirmou:
"Os governos de Frente Popular são
a ante sala do fascismo", só não entendemos como uma corrente que se
reivindica do Trotskismo vota na Frente Popular com a desculpa que "é para
evitar o retorno da ditadura militar"... será mesmo que a direção da LIT
não conhece o gravíssimo erro dos revisionistas chilenos (SU) que apoiaram
Salvador Allende para "evitar o golpe militar" e desta forma levaram
a confusão e paralisia para o seio do proletariado, abrindo a senda para o
triunfo do gorila fascista Augusto Pinochet.
Para não admitir uma capitulação vergonhosa diante da
trajetória de traições do PT, somada a uma brusca virada de posição política
diante da conjuntura nacional, a direção do PSTU criou um "axioma"
para sua militância: "Não apoiamos o PT, mas votamos 13". O PSTU tem
todo o direito de dar o "cavalo de pau" em sua linha política, porém
fica "feio" mentir de forma tão descarada...votar em um partido
político (muito especialmente em uma eleição presidencial) significa
sim!...apoiar este partido em um momento crucial da conjuntura, mesmo que este
apoio for acompanhado de toda crítica e restrições programáticas. Os Marxistas
Leninistas não nos negamos a estabelecer todo tipo de frente única de ação com
a Social Democracia, ou mesmo com partidos burgueses que estejam contra a
ofensiva fascista ou se coloquem contrários a iminência de um golpe militar,
porém depositar nossos votos em apoio a uma candidatura reformista (que esteve
no governo central por mais de uma década) é outra questão totalmente distinta
da tática de frente única. Trotsky é cirurgicamente preciso quando analisa a
situação alemã de ascensão do nazismo na década de 30 e estabelece uma vigorosa
crítica a política de "zigue-zague" do partido comunista stalinizado:
"Primeiro rejeitam absurdamente a necessidade de uma frente única com a
Social Democracia, acusando-a de social
fascista, para depois capitularem vergonhosamente nas eleições parlamentares
aos chefes da II Internacional" (Revolução e contrarrevolução na
Alemanha). Parece que a "nova" liderança do PSTU (muito debilitado
teoricamente após a cisão de Valério Arcary) perdeu completamente o fio da
história, primeiro nega qualquer ofensiva da direita no país (chegando mesmo a
se omitir diante do golpe parlamentar sofrido pelo governo do PT), para depois
aderir eleitoralmente à uma candidatura que se revela completamente impotente
para derrotar a escalada reacionária e neofascista em curso no Brasil.
Mais de 70 anos depois o PSTU parece repetir os titubeantes
passos da III Internacional, que sob o comando de Stalin abandonou
repentinamente a linha ultraesquerdista em relação a frente única operária para
adotar as teses oportunistas do dirigente búlgaro Georgi Dimitrov, que defendia
a formação de uma Frente Popular de colaboração de classes em apologia a
democracia burguesa. Trotsky que se manteve firme em sua linha de publicitar a
independência de classe do proletariado, demoliu teoricamente as duas "vertentes"
do stalinismo: seja a esquerdista ou a oportunista. Enquanto que na Alemanha e
Espanha o embrião da IV internacional negava a possibilidade de apoio eleitoral
e parlamentar a Social Democracia ou aos Republicanos (seja porque no primeiro
caso tinham hegemonia no parlamento e no segundo eram o governo central), na
Inglaterra criticava um setor de seus "simpatizantes" que rejeitavam
a possibilidade de votar no Labour Party, fazendo uma analogia histórica para a
atualidade seria como não votar no PT em 1989 e trinta anos depois chancelar a
candidatura de Haddad depois de toda experiência acumulada com os quatro
governos de Frente Popular. Os Marxistas da LBI foram os primeiros a alertar o
movimento de massas acerca da ofensiva imperialista (em suas duas faces: a
neoliberal e a fascista) já na década de 90 com a derrubada das conquistas
operárias na antiga URSS e mais recentemente, recrudescida, com o ataque
militar da OTAN na Líbia que decapitou o governo nacionalista burguês do
coronel kadaffi. Se o crescimento social de uma candidatura fascista ganhou
esta dimensão no Brasil, mesmo comandada por um boçal energúmeno como
Bolsonaro, é porque não se trata apenas de um "projeto eleitoral de
ditadura", como quer fazer crer a direção do PSTU. É necessário que as
organizações políticas e sindicais da classe operária organizem em frente única
a resistência orgânica dos movimentos sociais para derrotar a ofensiva
reacionária e neoliberal em plena ascensão no país, e esta tarefa urgente passa
bem longe de depositar o "voto criticamente" em Fernando Haddad do
PT.