O presidente venezuelano Hugo Chávez anunciou que nos próximos dias será submetido a uma nova operação em Havana, depois que foi localizada uma lesão de dois centímetros de diâmetro no mesmo lugar em que foi extraído um tumor cancerígeno em junho do ano passado, ou seja, na região pélvica na altura da bacia. Trata-se de um claro agravamento da doença, produto direto da extrema tensão política que o líder bolivariano atravessa em meio a campanha presidencial cujas eleições ocorrerão em outubro deste ano. O retorno ao tratamento em Cuba a apenas oito meses da eleição para presidente, governadores e prefeitos abre novamente uma crise política provocada pela ofensiva da direita. Ao contrário do que ocorreu em eleições anteriores, desta vez os “esquálidos” se apresentam com candidato único, o ex-governador Henrique Capriles Radonski. Ele foi “eleito” nas primárias da oposição de direita com o comparecimento de 3 milhões de pessoas, um patamar acima do esperado pela própria Mesa de Unidade Democrática (MUD). O candidato fascistizante da MUD liderou as agressões contra a sede da embaixada de Cuba em Caracas durante o golpe em 2002.
Vale lembrar que Chávez havia anunciado anteriormente que estava curado e que não tinham mais células cancerosas em seu corpo. Diante do revés em seu quadro de saúde, um Chávez claramente tenso afirmou em cadeia de TV: “Iremos adiante! Me operarão de novo, me extrairão essa lesão, se verificará se tem ou não relação com o tumor anterior, e com base nisso informaremos depois da operação. Desminto totalmente o que circula de que tenho metástases no fígado e não sei aonde mais, que o câncer se espalhou por todo o corpo e que já estou morrendo. Há pessoas que querem que eu morra, porque me odeiam. Que fiquem longe, eles e seus maus desejos. Durante todos esses meses se encarregaram, com muita frequência, de difundir rumores. Começam a gerar todos esses rumores para tratar de criar angústia e desestabilizar o país” (Cubadebate, 22/02). Apesar das pesquisas indicarem que Chávez tem uma ampla vantagem eleitoral sobre Capriles é evidente que seu pseudo “Socialismo do Século XXI” está extremamente fatigado pela desmoralização imposta ao movimento de massas, inclusive com revezes no campo eleitoral, como foi a última eleição parlamentar. Neste contexto, o repique do câncer do “comandante” sinaliza a extrema fragilidade que o projeto bolivariano atravessa com a direita aliada ao imperialismo ianque “salivando” para ocupar, seja pela disputa eleitoral ou mesmo diante da morte ou debilitamento da saúde de Chávez, o controle do país. Embora ainda detenha o apoio popular majoritário, Chávez vai perdendo paulatinamente sua base social para a oposição de direita que, pelo profundo desgaste de sua gestão, se lança como uma alternativa eleitoral viável para os capitalistas e, via de regra, usam as FFAA para chantageá-lo.Representantes das diversas camarilhas “bolivarianas” se preparam para se credenciar como uma alternativa burguesa diante da débil saúde de seu “comandante”, tirando as lições da própria conduta de Chávez que vem paulatinamente trabalhando para garantir sua reeleição como parte de um grande acordo com a burguesia e o imperialismo. As relações “carnais” com a Colômbia de Santos, tendo para isto Chávez sacrificado claramente seu prestígio “anti-imperialista” entre a vanguarda, são uma demonstração clara que ele e seu staff estão sempre dispostos a atacar o movimento de massas e os lutadores para conseguirem as bênçãos dos amos do Norte. A alta cúpula das FFAA, principal pilar de sustentação política do regime, que dará a palavra final da transição em comum acordo com Washington, buscará se apropriar do espólio político de Chávez de forma figurativa para comandar com mais legitimidade este processo. O certo é que todas essas frações, com interesses particulares dentro do aparato estatal, com ou sem Chávez, desejam manter o regime de exploração capitalista, seja com cores “nacionalistas” ou entreguistas. Por fim, Chávez sabe que a direita golpista está ávida para desferir um golpe letal contra seu governo. Esta manobra pode assumir a feição de uma falsa “mobilização democrática” tramada com a ajuda da CIA diante do agravamento de sua doença, com reivindicações, por exemplo, que se afaste da presidência ou abra mão de sua candidadura. O apoio do imperialismo aos ex-rebeldes na Líbia “vendidos” ao mundo como “amantes da democracia” é o modus operandi que a Casa Branca pretende usar na Venezuela para colocar em marcha a contrarrevolução.
Para os trabalhadores venezuelanos e latino-americanos, que acompanham apreensivos o debilitamento do quadro de saúde de Chávez e buscam intervir de forma independente no desenrolar dos acontecimentos, deve-se abstrair a lição de que é preciso, desde já, preparar uma alternativa política dos explorados tanto ao chavismo decadente como à direita reacionária. É necessário preparar o terreno para a construção de um genuíno partido revolucionário capaz de enfrentar a onda de reação “democrática” ou mesmo a direita fascista no caso de um novo golpe “cívico-militar”, fazendo um combate programático completamente oposto à cantilena pregada por toda sorte de revisionistas de que está em curso uma “revolução” na Venezuela, cabendo agora mais do que nunca segundo estes senhores, com a doença do “comandante”, cerrar fileiras em apoio eleitoral ao governo burguês centro-esquerdista de Chávez e sua corte.