As duas tragédias da crise grega
A Grécia foi palco de gigantescos protestos nestes últimos dias contra os duros ataques do governo contra os trabalhadores. O “novo” plano de ajuste, que prevê demissões e a redução do salário mínimo, foi aprovado no parlamento nesta segunda-feira, 13/02. A troika (UE, BCE e FMI) exigiu estas medidas para que o país receba uma nova “ajuda” de 130 bilhões de euros voltados a pagar os bancos estrangeiros. Em Atenas, milhares se mobilizaram em uma demonstração de ódio popular contra a política levada a cabo pelo governo da coalizão Nova Democracia-Pasok comandado pelo tecnocrata Lucas Papademos. Mais uma vez, a pressão sobre o parlamento não teve qualquer efeito e deputados aprovaram o corte de 15 mil empregos públicos, uma diminuição de 22% no salário mínimo, flexibilização de leis trabalhistas (para facilitar a demissão de trabalhadores) e um pacote de impostos e reformas previdenciárias.
O quadro de profunda crise econômica em que está mergulhado o país é uma tragédia social em si mesmo. Os rentistas puseram a Grécia em uma completa bancarrota, de joelhos, através de um endividamento “alavancado”, baseado no cassino financeiro internacional. Agora, esses parasitas estão impondo mais uma vez duros ataques aos trabalhadores com o objetivo de liberar o máximo do orçamento nacional para o pagamento de juros e amortizações. Como o país está complemente quebrado, a crise política vem debilitando o governo de plantão, porém não há uma alternativa política revolucionária, já que todos os partidos apóiam o plano de ajuste e o stalinista KKE joga suas fichas na pressão sobre o parlamento burguês como faz novamente agora, advogando “nenhum memorando deve ser assinado, nenhum acordo novo” (Comunicado KKE, 12/02), quando estava na ordem do dia a organização do chamado à derrubada revolucionária do governo burguês, através de uma greve geral política por tempo indeterminado com ocupações das empresas e a formação de comitês populares de autodefesa para enfrentar a repressão capitalista.
Aqui adentramos na segunda tragédia que vive a Grécia. Ao lado do avanço da barbárie social, assistimos a crise de direção política dos trabalhadores em luta. O KKE atua para desgastar eleitoralmente o governo, com vistas às eleições de abril. Sua tática distracionista está condensada no slogan “A Troika deve ir-se! Desligamento da UE” (Comunicado KKE, 12/02), mas esta impotência política tem aberto caminho para uma senda cada vez mais autoritária do regime, com as tendências fascistas ganhando força entre o povo pobre desesperado. A coligação governamental PASOK-ND tende a se esfacelar, porém em seu lugar a burguesia e o imperialismo planejam um governo puro da Nova Democracia (ND) em aliança com os partidos da extrema-direita! As pesquisas eleitorais apontam apoio popular a essa “saída”! Nesse sentido, chamando as “eleições agora! Cancelamento unilateral da dívida e desligamento da União Europeia!” (idem) o KKE não faz mais que dar fôlego à burguesia por meio das ilusões eleitorais!
Tragicamente, longe de abrir caminho para o socialismo e a revolução, como apregoavam desde o stalinismo até o revisionismo do trotskismo, a dramática situação grega está assentando as bases para a barbárie social sob o tacão da direita tradicional, que vai assumindo as rédeas do regime. Insistimos na lição de que não haverá mobilizações, por mais multitudinárias e heróicas que sejam como as que estamos presenciando na Grécia hoje, capazes de derrotar a burguesia e seus governos lacaios sem a adoção de uma estratégia revolucionária de luta pelo poder operário. Se não tirarmos estas lições para forjarmos no combate em curso a construção de um autêntico partido revolucionário, jamais romperemos com a onda de derrotas que estão sendo impostas aos trabalhadores no campo econômico e político, duas faces dramáticas dessa verdadeira tragédia grega!