MORRE BELCHIOR: VÍTIMA DA FÚRIA ASSASSINA DO MERCADO DO LIXO
CULTURAL
Em homenagem ao grande músico e poeta Antônio Carlos Belchior,
reproduzimos um artigo do Blog da LBI de 2012, onde já denunciávamos a
verdadeira "caçada" midiática sofrida em função de sua opção ao se
afastar voluntariamente do mercado espetáculo do lixo cultural atualmente
vigente em nosso país, e em particular no estado do Ceará com a invasão das
bandas de um pseudo "forró" chamado de eletrônico.
BELCHIOR: AGORA A BOA MÚSICA BRASILEIRA É TRATADA COMO CASO
DE POLÍCIA
(BLOG da LBI, 22 DE NOVEMBRO DE 2012)
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida/Que caminha
para a morte pensando em vencer na vida/Era feito aquela gente honesta, boa e
comovida/Que tem no fim da tarde a sensação/Da missão cumprida/Acreditava em
Deus e em outras coisas invisíveis/Dizia sempre sim aos seus senhores
infalíveis/Pois é; tendo dinheiro não há coisas impossíveis (“Pequeno perfil de
um cidadão comum”). Desde domingo, 18/11, a mídia murdochiana vem promovendo uma
série de ataques a um dos maiores ícones da autêntica música popular
brasileira, o cantor Belchior, que beiram ao histerismo. Como veremos, este
tratamento não é um fato isolado ou que esteja colocado apenas para pautar
jornalecos ou programas sensacionalistas como a revista domingueira
“Fantástico”. A emissora dos Marinhos, em reportagem especial de vários
minutos, afirma que Belchior desapareceu de um hotel no Uruguai sem pagar a
dívida de hospedagem e responde por diversas outras cobranças no Brasil. Mais
uma vez, a mídia transforma em “espetáculo” um drama pessoal, obviamente não no
sentido de buscar uma solução, mas sim para raivosamente incriminar e condenar
a priori os envolvidos. Mas por que esta perseguição, que remonta desde 2009
pela também Rede Globo que afirmava na época Belchior teria desaparecido
quando, na verdade, estava na ativa preparando disco e shows? Belchior foi um
dos primeiros cantores nordestinos a fazer sucesso em todo o Brasil em meados
dos anos 70, quando participava de um grupo de jovens compositores e músicos
cearenses, ao lado de Fagner, Ednardo, Fausto Nilo, Rodger Rogério, Teti,
Cirino e outros, conhecidos nacionalmente como o “Pessoal do Ceará” que, fruto
desta parceria, compuseram o disco “Massafeira” em 1980. Nesta época
consolidou-se não apenas como um cantor, mas cresceu sobre uma proposta
(contra)cultural de crítica ao modo de vida imposto pelo regime militar
pós-golpe de 1964, lançando canções ácidas e engajadas ao mesmo tempo sensuais
do quilate de “Velha roupa colorida”, “Como nossos pais” (que sensibilizaram
inclusive Elis Regina!), “Apenas um rapaz latino-americano”, “Divina comédia
humana” e a genialíssima crônica da vida “Pequeno perfil de um cidadão comum”.
Por isto mesmo o establishment burguês trata de colocar, em tempos de reação
ideológica, na marginalidade este menestrel de tão lírica e coerente obra.